CAILIN DRAGOMIR
Timișoara, Romênia
Ter Fé
No peito, a chama acesa,
um caminho a seguir,
mesmo nas noites escuras,
ter fé é acreditar sempre
que a luz vai ressurgir.
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/ RJ
E eu nem pude visitá-lo
(Para Artur da Távola)
Meu amigo morreu e eu nem pude visitá-lo...
Estava ocupado em viver para o trabalho;
A morte é cruel e nem procura algum atalho...
Constato que estou vivo e ele se foi... eu... só... me calo.
Meu amigo morreu e eu nem pude...... confortá-lo...
Estava absorto em fantasias de poeta;
Agora a minha vida se tornou mais incompleta...
Meu amigo se foi e nem sequer pude abraçá-lo...
A vida entretanto é resistente, a experiência
Mais uma vez mostrou, irretocável, que a ciência
Jamais há de matar ou destruir um sentimento...
Maior que essa dor cruel da própria consciência
É essa letargia arbitrária, cuja essência
Repousa na mudez da solidão de um pensamento.
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Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR
Lacrimosa
"No meu leito, durante a noite, busquei
aquele que meu coração ama."
(Ct. 3,1)
A tu'alma é triste
Qual funéreo sino,
Que traça o destino,
Soluçando a sorte;
Ao cair da tarde,
Terríveis anseios
Oprimem teus seios
Com odor de morte.
A tu'alma é triste
Como a mãe ferida,
Que já vê perdida
Sua filha amada;
Ao cair da tarde,
Transpassada em dores,
Carente de amores,
Padece calada.
A tu'alma é triste
Tal como o violino,
Que gagueja um hino
Com falhada voz;
Ao cair da tarde,
Só restam escolhos,
Que teus tristes olhos
Avistam a sós.
A tu'alma é triste
Tal como o condor,
Que o vil caçador
Expulsou do ninho;
Ao cair da tarde,
A tu'alma cora,
Consternada chora
Por um só carinho.
A tu'alma é triste
Como o bandolim,
Que chorou por mim
Triste despedida;
Ao cair da tarde,
São os teus cabelos
Do triste salgueiro
Ramagem caída.
A tu'alma é triste
Como o som da gaita,
E com balalaica
Acentuou seu choro;
Ao cair da tarde,
Faça uma oração,
Que os anjos irão
Abençoar-te em coro.
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Poema de
MARIA LUÍZA WALENDOWSKY
Brusque/SC
Vendaval
Olho para o céu,
percebo as nuvens negras.
O medo começa a tomar conta de mim.
Já sinto o vento...
Não é como uma brisa,
mas estou cercada
de outras árvores-irmãs.
Agora
o vento forte nos balança,
nossas folhas são levadas para longe.
No desespero grito.
- Não me abandonem!!
Vamos ficar juntas!!
Não me ouvem,
e cada uma segue seu caminho.
Sinto o balançar intenso
passando por entre os galhos,
quebrando-os,
partindo em pedaços...
Assim está meu coração.
Ah! Vou resistir!
Tenho tronco e raízes profundas...
Ao longe
estão as outras árvores-irmãs,
algumas no chão,
outras ainda em pé, mas longe de mim.
O vento impiedoso
começa a arrancar minhas raízes,
soltando da terra,
já não quero mais resistir!
Deixo-me levar para longe,
sem destino…
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Meu amor
eternamente
envelopado
acho
que o carteiro
esqueceu
de entregar.
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Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
A Menina e o Elefante
Uma menina travessa, no campo a brincar,
encontrou um elefante, que estava a chorar.
“Por que estás tão triste, amigo elefante?”
“O homem me caça, e o futuro é horripilante.”
A menina, firme, decidiu ajudar,
com coragem no coração, não ia hesitar.
Juntos partiram, para lá longe, na cidade,
a menina gritou: “Vamos parar essa insanidade!”
Com astúcia e bravura, alertaram a nação,
e os caçadores mudaram, por sua ação.
O elefante agradeceu, com um toque gentil,
e a menina sorriu, seu coração era sutil.
A coragem em defesa dos fracos não é em vão,
uma voz pode mudar o mundo, trazendo compaixão.
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Quadra Popular
Rouxinol canta de noite,
de manhã a cotovia;
todos cantam, só eu choro
toda a noite e todo o dia!
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Bálsamo
Pelas insípidas tardes vagueio
Acinzentado, o jardim m'entristece
Dos rouxinóis não mais ouço o gorjeio
Nada mais brilha... Minh' alma fenece
De fel e dor, asseguro, estou cheio
Um brado ecoa, plangente, qual prece
O sentimento sufoca, alardeio:
"Ah, se teus beijos de novo tivesse..."
Envolto em manto espinhoso reclamo
Aqueles sons, vesperal sinfonia
Aquelas cores prazentes, vivazes
Oh, meu amor, quanta falta me fazes!
Só tu dissipas ess' acre agonia
Contigo é certo que o peito balsamo
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Poema de
GONÇALVES DIAS
Caxias/MA, 1823 – 1864, Guimarães/MA
Doce amor
Doce Amor — a sorrir-se brandamente
Em sonhos me falou com tal brandura,
Que eu só de o escutar vida mais pura
Senti coar-me n'alma fundamente.
Depois tornou-se o tredo fogo ardente
Que o instante, o ano, a vida me tortura.
Bem longe de gozar tanta ventura,
Cresta-me o rosto agora o pranto quente.
Homem, se homem és no sentimento,
Não zombes, não, de mim tão desditosa,
Nem seja o teu alívio o meu tormento.
Deixa-me a teus pés cair chorosa,
Soltar no extremo pranto o extremo alento,
Que eu morrendo a teus pés serei ditosa.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Estro perdido
Quem encontrar algum estro perdido,
me conte por favor, que irei buscá-lo;
pois deve ser o meu, que anda sumido,
feito coisa que foge pelo ralo.
Ele é fácil de ser reconhecido;
só basta vê-lo e ouvi-lo e num estalo,
os trejeitos e a voz desse bandido
vão logo denunciar de quem eu falo:
A sua timidez é inconfundível,
o seu cantar é bem desafinado
e seus poemas têm cadência horrível...
Mas assim mesmo prende o meu amor,
como um milagre a ser inda explicado...
E sem meu estro, eu morro em meio à dor!
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Trova Funerária Cigana
Dorme, dorme, meu bom pai,
descansa onde a estrela brilha,
que ao trono de Deus irão
as preces de tua filha.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Reencontro
Suspiros ao vento
traduzem a calma
do achado perfeito.
Gaivotas assistem um lindo deleito,
o sol deslizando devagarinho pelos
braços do horizonte, sensível afeito.
No abraço matutino engrandece, as
andorinhas tímidas, saúdam o feito.
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Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP
Angústia
Não sei de onde vem tanta tristeza
Que sem motivo aperta o coração.
Será lembrança de lágrimas escondidas
Desta inútil talvez fútil razão.
Será o tempo que passou perdido
Esperando um amor que não voltou.
Quem sabe, a procura envelhecida,
Não deu vazão para encontrar alguém.
De onde virá então tanta ansiedade,
Se o coração a tempo está em repouso?
Querendo doar somente ao semelhante
Amor fraterno, refletindo paz.
Inquieto agora insurge e quer gritar?
Encontrar a resposta certa
Para a alma tão dilacerada.
Será culpada a nuvem que desaba
Suas gotas pesadas de repente...
Até voltar um raio de sol que beija
A solidão que gorjeia
Como pássaro fechado na gaiola.
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Hino de
Crato/CE
Flor da terra do sol
Ó berço esplêndido
Dos guerreiros da "Tribo Cariri"
Sou teu filho e ao teu calor
Cresci, amei, sonhei, vivi
Ao sopé da serra, entre canaviais
Quem já te viu, ó não te esquece mais!
Para te exaltar, ó flor do Brasil
Hei de te cantar, meu Crato gentil
Ó coração do Ceará
Comigo a nação te cantará!
No teu céu lindo brilha estrela fúlgida
Que há cem anos norteia o teu porvir
Crato amado, idolatrado
Teu destino hás de seguir
Grande e forte como nosso verde mar
Bendita sejas, ó terra de Alencar!
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