segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Asas da Poesia * 98 *


Quintilha de 
CAILIN DRAGOMIR
Timișoara, Romênia

Amanhecer

O sol se ergue no horizonte,  
pintando o céu de ouro e rosa,  
as sombras se dissipam lentas,  
amanhecer é magia,  
renovação que se apossa.
= = = = = = 

Soneto de
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ

Caricaturarte

Perdoa, amigo, mas... enquanto eu me voltava
para os encantos que movem a poesia,
não reparei o teu olhar que captava
alguns detalhes da minha fisionomia:

Nariz adunco, riso sério... um violão,
olhos puxados, uma boina italiana,
camisa simples, velha barba... um bigodão...
Como Camões, fui muito além da Taprobana.

Fiquei, confesso, tão feliz, pus na moldura
A tua arte espontânea, amiga e pura,
Para que todos possam ver que a amizade

Pode mostrar, numa bela caricatura,
O quanto a vida que às vezes é tão dura,
Faz da ternura, a luz da fraternidade.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Amor único

Amor do passado,
Do presente
Que dobra as falas do tempo
Em um origami,
Inebria-me,
Semeando em mim teu néctar
Em gotas de vento
E, com tuas cores despenteia
Meu cabelos...
Um amor único
Que enquanto
Acaricia minhas mãos
Beija-me com a doçura
Do teu sorriso...
Um amor único
Imensurável
Intenso e misterioso
Permanece
Na quietude
E, na troca de carinhos -
Centelha que inunda
A fonte dos desejos
Do amor que se fez,
Intensamente,
Belo e inesquecível...
= = = = = = 

Poema de
SAMUEL DA COSTA
Itajaí/SC

Escada para o céu

Escrevo um poema com toda a urgência
Escrevo com poesia
Sem regra e sem lógica

Preciso escrever o poema perfeito!!!
Re-produzir a vida sem regra
Re-escrever a vida
Sem crase...
Sem vírgula...
E sem ponto final

Escrever o poema perfeito
Com poética!
Milimetricamente errado
Em uma mimese
Que não imita nada

Re-produzir o vazio dentro de mim
Nas belas-letras
Sem grito
Sem sustos
E sem ponto final

Quero ver a minha poesia
Virar a página
Ganhar as ruas
Dobrar a esquina
E subir os céus
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Felicidade

“Ser rico é ser feliz...” Frase enganosa!
Pois por aí se matam opulentos,
enquanto, pobres, nós vemos aos centos
querendo vida, mesmo que impiedosa!

Felicidade é coisa caprichosa,
que vem e vai bem ao sabor dos ventos...
Jamais sossega, além de alguns momentos
em que visita... E vai-se pressurosa...

Para instigá-la dizem que a pessoa,
como fazem as flores na atração,
tem que se ornar de cores bem febris...

Se um beija-flor, em louco voa-voa,
Buscando néctar, beija um coração...
Nesse instante fará alguém feliz!
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há de partir também… nem eu sei quando!
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Num ermo triste, isolado,
eu choro minha orfandade.
Pois assim deve fazer
quem tem su'alma em saudade.
= = = = = = 

Soneto de 
JANSKE NIEMANN SCHLENCKER
Curitiba/PR

A alguém que partiu

Verso após verso eu me desfiz em pranto,
noite após noite sem poder dormir
e compreendi que te adorando tanto,
talvez não possa nunca mais sorrir ...

Destino atroz: matou aquele encanto
que eu procurava para me iludir.
Foi-se a ilusão; agora vejo o quanto
me é doloroso ver que vais partir!

É luz que morre em plena mocidade,
fazendo entrar as trevas da velhice ...
Meu louco amor, perdeste a eternidade!

Adeus! Não vás ... Eu morrerei por certo!
Nem quero a vida, já que vais embora
deixando a sombra da saudade perto ...
= = = = = = 

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP

Elogio ao amor

Neste caminho eu sigo contemplando
a Natureza exuberante e bela,
passarinhos nos ramos saltitando
entoando canções em aquarela.

Aonde quer que eu vá, eu vou cantando
a pureza do amor, pintado em tela,
que Deus o produziu, por certo amando,
para mostrar ao mundo, em passarela.

O amor? Triste de quem não tem amor,
nem sentiu nesta vida alguma dor,
nem teve uma saudade a recordar?

Pois o amor é um sublime sentimento
que ferve, vibra e invade o pensamento,
e  nos leva ao delírio para amar!
= = = = = = 

Poetrix de
AILA MAGALHÃES
Belém/PR

solitário amor

toco-me
e, em transe,
te executo
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

A magia do anoitecer
 
Caía a noite na floresta imensa,
Enquanto o lago desaparecia
Na escuridão da mata triste e densa
Dizendo adeus ao dia que partia...
 
Entristecido pela indiferença
Desta floresta, que durante o dia
Ele enfeitava com sua presença,
Fitava a luz que desaparecia...
 
Tornou-se negro, opaco e triste o lago
sem um luzeiro a espelhar-lhe a face
ou uma brisa a lhe fazer afago...
 
Então Jacy surgiu em esplendor,
e com Yara, no mais puro enlace,
Iluminou o lago com amor...  
= = = = = = 

Hino de 
Arapiraca/AL

Sob um céu de safira estrelado,
Num agreste deste imenso Brasil,
Fora um rincão pequenino fadado
A ser majestoso, soberbo e viril.

CORO
Arapiraca, Estrela radiosa,
Que fulgura sob o céu do Brasil,
Cidade sorriso, cidade formosa,
Cheia de esplendores e de encantos mil.
Arapiraca fora a inspiração
De um sertanejo cheio de fé,
Rendamos, pois, de coração
O nosso "Hosana" a Manoel André.

A cultura do fumo, a sua riqueza,
O "ouro negro", que os seus campos veste
Lhe adquirira um título de nobreza,
"cidade Galã, Princesa do Agreste".

Terra adorada, Gloriosa terra,
Crisol da Pátria, abençoada por Deus
Receba, pois, o afeto que se encerra
Nos meigos corações dos filhos teus.
= = = = = = 

Soneto de 
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 –  1920, São Paulo/SP

Noturno
 
Pesa o silêncio sobre a terra. Por extenso
Caminho, passo a passo, o cortejo funéreo
Se arrasta em direção ao negro cemitério...
À frente, um vulto agita a caçoula do incenso.
 
E o cortejo caminha. Os cantos do saltério
Ouvem-se. O morto vai numa rede suspenso;
Uma mulher enxuga as lágrimas ao lenço;
Chora no ar o rumor de misticismo aéreo.
 
Uma ave canta; o vento acorda. A ampla mortalha
Da noite se ilumina ao resplendor da lua...
Uma estrige soluça; a folhagem farfalha.
 
E enquanto paira no ar esse rumor das calmas
Noites, acima dele, em silêncio, flutua
O lausperene mudo e súplice das almas.
= = = = = = 

Poema de
MARIA LUÍZA WALENDOWSKY
Brusque/ SC

Borboleta 

Na dança da vida... 
Fui um pequeno ponto branco 
pousado entre folhas de orquídeas. 
Depois, 
uma lagarta 
em um casulo 
vem em busca 
do meu eu interior mais profundo. 
Em algum momento, comecei a voar, 
expondo toda minha plenitude 
com ideias amplas, 
sábias 
com artimanhas. 

Nesta dança da vida... 
Levando a mais sutil paz, 
a confiança de voltar para dentro de mim, 
orando, 
aprendendo, 
voando mais alto. 

Nesta dança da vida... 
Transformei-me 
na mais efêmera da natureza. 
= = = = = = = = =  

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