artigo por Ana Lucia Santana
Nesta bela história o autor exercita a criação dos ancestrais romances de formação. Aqui é Ilídio que protagoniza uma intensa e dramática jornada existencial, permeada pela constante presença da literatura. Sua infância é marcada pelo abandono; a mãe parte e o deixa só em uma via pública, aos 6 anos, espiando o livro confiado por ela a suas mãos e espreitando o tempo que passa veloz e logo converte a luz do sol nas sombras da noite.
Este evento dá início à primeira parte da obra, que retrata a infância e a juventude do protagonista, seus traumas, o encontro com o pedreiro Josué, amigo da mãe, que o acolhe e educa, e a posterior paixão pela doce Adelaide. O autor também apresenta o leitor ao amigo mais intimo do protagonista, Cosme; a um jovem singelo que toma conta do irmão portador de deficiência e de um bando de pombos, Galopim; e Adelaide, a dona do coração de Ilídio, a qual vive com a tia, proprietária do estabelecimento comercial da vila.
No início da trama os caminhos dos dois jovens se entrecruzam e se perdem no percurso entre Portugal e França. A tia de Adelaide, disposta a impedir o romance, a força a partir para Paris. Aí a protagonista desembarca com um livro nas mãos, lembrança de Idílio, a mesma que sua mãe lhe legou quando ainda era um menino.
Em terras francesas a garota, profundamente infeliz, se une em matrimônio a outro homem; seu esposo, porém, supostamente se interessa mais pelos acontecimentos políticos do que por ela, embora os dois tenham se aproximado novamente graças a um livro.
Mesmo assim, ambos alimentam a esperança de se rever, e o protagonista vai para a França à procura de Adelaide, abandonando seu pai adotivo, Josué. Mas é sinuosa a jornada empreendida pelo herói na tentativa de rever a mulher que roubou seu coração. Como nos contos de fadas, os obstáculos se multiplicam ao longo do caminho. Cartas são extraviadas, demandas não se concretizam e paixões atingem um alto grau de complexidade.
A segunda parte desta obra relembra o leitor do significado de seu título; o livro não é um mero artefato, é igualmente o narrador, o fio condutor da história. Ele é filho da jovem Adelaide, e esse é seu nome de batismo. Nesta etapa final o personagem recorre excessivamente ao recurso da metaliteratura, o que converte esta narrativa em um instrumento quase lúdico.
José Luis Peixoto nasceu em Galveias, Portugal, no ano de 1974. Ele cursou línguas e literaturas modernas – inglês e alemão – na Universidade Nova de Lisboa. Em 2001 foi agraciado com o Prêmio José Saramago por seu livro Nenhum Olhar. Sua obra foi vertida para aproximadamente vinte línguas.
Fonte:
http://www.infoescola.com/livros/livro/
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