segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pedro DuBois /RS (Poemas Escolhidos)


MEMÓRIA

Pelo vão da porta
insiro a memória
cobro pela entrega
o gesto
desprendido do envelope
sob a porta
envelopo a série 
e na espera tenho
a sequência mnemônica
dos atrasos
a companhia alarma a casa
e sobre o assoalho 
repousa a prova na memória
avivada dos extremos.

SOBRAS

Prefiro as sobras do banquete
o vinho quente na garrafa
o azedo da salada
o restante da carne
junto ao osso

o guardanapo
usado com esforço

guardo a rolha
em confirmação: aguardo
o retorno
inserido
na minha vontade.

SURPRESA 

O elemento surpresa onde se escondem
as mudanças. O estertor com que fogo
queima o estrado e o preso se arrepende
em novo ano. Não reconheço a espera:
o esperto acreditar
no futuro: o inexplicável
alvoroço do cão: o amargo
da vida na ilusão passageira
do amigo. Folgo em me colocar
contra a janela: inocento o suspeito. Suspeito
de outras eras: chego sem ser anunciado.
Desdobro a canção dos horrores
consumidos em preitos
panelas
e tigelas. O elemento
e a presa na hora em que o circo 
pega fogo e o mundo se desmantela
no imitar do bandido ao espoucar
da pipoca: a chave em giro
mecânico na porta.

IMAGINAR 

Construo a imagem 
ao arrepio do espelho
a lâmina assusta 
o rosto que se desfaz
em gritos ante o dia
que se abre ao mito

minto cada leve dobra
do espírito: aumento
a expressão e o riso

o espelho desmente
a impostura do porte

em dinâmico gesto
destrói o sonho
onde me encontro

contruo outro corpo
e não me arrependo
na informação errônea
da identidade: quebro
o vidro e ao lado vejo 
que a estrutura mente.

CONFISSÃO 

Ao pássaro confesso minha incerteza
ao pé do ouvido grito meus pertences
e o preço pago em cada compra: vendo
a alma em desavenças. Calo
a inconsequência do canto.
Ao pássaro não ofendo o silêncio
em alardes frios de sofrimentos:
o ninho por manter
a cria por alimentar.
Incerto
encaminho a voz ao segredo
revelado em poucas palavras.

PRESENTE 

Sou visita e residente

passado aparente
em nova visita
e o de sempre

o mesmo: quem
conhece o caminho
entre o quarto
e a cozinha

vida renovada
na morte persistente

a oração em sofrimento
na brisa mensageira
da notícia

o de fora e o de dentro:

filho
pai
marido

esquento o trabalho e saio
passeio
troco de lado
e me escondo em periferias

quem vem de longe
para ver a família.

ANTES 

Saber da excelência
a véspera
antes o desdouro
nasça e se faça fonte
ao jazer na espuma ocidente
a lâmpada apagada dos ex-amantes

barcos aos cais anunciam
atracar em portos
desacostumados na avalanche
marítima das verdades

no dia anterior barulhos cessam
e na voz a surdez exala o poente.

Fontes:
O Autor
http://pedrodubois.blogspot.com.br/

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