MEMÓRIA
Pelo vão da porta
insiro a memória
cobro pela entrega
o gesto
desprendido do envelope
sob a porta
envelopo a série
e na espera tenho
a sequência mnemônica
dos atrasos
a companhia alarma a casa
e sobre o assoalho
repousa a prova na memória
avivada dos extremos.
SOBRAS
Prefiro as sobras do banquete
o vinho quente na garrafa
o azedo da salada
o restante da carne
junto ao osso
o guardanapo
usado com esforço
guardo a rolha
em confirmação: aguardo
o retorno
inserido
na minha vontade.
SURPRESA
O elemento surpresa onde se escondem
as mudanças. O estertor com que fogo
queima o estrado e o preso se arrepende
em novo ano. Não reconheço a espera:
o esperto acreditar
no futuro: o inexplicável
alvoroço do cão: o amargo
da vida na ilusão passageira
do amigo. Folgo em me colocar
contra a janela: inocento o suspeito. Suspeito
de outras eras: chego sem ser anunciado.
Desdobro a canção dos horrores
consumidos em preitos
panelas
e tigelas. O elemento
e a presa na hora em que o circo
pega fogo e o mundo se desmantela
no imitar do bandido ao espoucar
da pipoca: a chave em giro
mecânico na porta.
IMAGINAR
Construo a imagem
ao arrepio do espelho
a lâmina assusta
o rosto que se desfaz
em gritos ante o dia
que se abre ao mito
minto cada leve dobra
do espírito: aumento
a expressão e o riso
o espelho desmente
a impostura do porte
em dinâmico gesto
destrói o sonho
onde me encontro
contruo outro corpo
e não me arrependo
na informação errônea
da identidade: quebro
o vidro e ao lado vejo
que a estrutura mente.
CONFISSÃO
Ao pássaro confesso minha incerteza
ao pé do ouvido grito meus pertences
e o preço pago em cada compra: vendo
a alma em desavenças. Calo
a inconsequência do canto.
Ao pássaro não ofendo o silêncio
em alardes frios de sofrimentos:
o ninho por manter
a cria por alimentar.
Incerto
encaminho a voz ao segredo
revelado em poucas palavras.
PRESENTE
Sou visita e residente
passado aparente
em nova visita
e o de sempre
o mesmo: quem
conhece o caminho
entre o quarto
e a cozinha
vida renovada
na morte persistente
a oração em sofrimento
na brisa mensageira
da notícia
o de fora e o de dentro:
filho
pai
marido
esquento o trabalho e saio
passeio
troco de lado
e me escondo em periferias
quem vem de longe
para ver a família.
ANTES
Saber da excelência
a véspera
antes o desdouro
nasça e se faça fonte
ao jazer na espuma ocidente
a lâmpada apagada dos ex-amantes
barcos aos cais anunciam
atracar em portos
desacostumados na avalanche
marítima das verdades
no dia anterior barulhos cessam
e na voz a surdez exala o poente.
Fontes:
O Autor
http://pedrodubois.blogspot.com.br/
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