ODE À POESIA
Cantei o poeta e os mais altos louvores
Do criador de mundos ignorados,
Que flutua em hipóteses de amores,
Dos mais distantes mares vislumbrados.
Não cantei da Poesia seus fulgores
De rainha dos nobres cadenciados
Versos de gama e gema multicores,
Dos gregos aos romanos, decantados...
Peço perdão, com a mente genuflexa,
Pelo tempo perdido e indiferente
A tão augusta musa sem rival.
Safo quedou-se pasma, mas perplexa
Ante tua grandeza resplandescente...
Dos séculos serás Deusa imortal!
ESTELIONATO LITERÁRIO
De tudo existe neste velho mundo,
Até quem faça crônica qualquer
Sem ter um pensamento ou idéia sequer:
Furta o mérito alheio – o mais fecundo.
Estelionato, crime assaz oriundo
De todo mau caráter, faz mister
O Escrutor denunciá-lo, e assim, requer
A Lei contra esse engodo vil e imundo.
Mas pula esse insensato carreirista
No talento do mais bondoso artista,
Posando de notável escritor...
Assim, tem grande fama de letrista,
Até que um dia o cínico golpista
É descoberto... e o santo cai do andor.
BALADA DO ONTEM E DO HOJE
Eu já cantei o amor e o afável vento,
A tristeza, a saudade e a comoção;
A dor, a fria morte e o sentimento
Desfolhei rosas rubras da paixão...
Joguei-as lá no caos do esquecimento
E colhi-as no enlevo da oração;
Mas chega tão pungente o desalento
E dói na alma e tritura o coração.
Se acaba do passado tal tristeza
Brilha o sol e sorri a natureza
Chovem dourados pingos pelo chão.
Eis a dança de dois, após a luta
Do hoje sobre o ontem; tudo assim exulta
A inigualável paz do coração!
A PORTA
Ao poeta Clóvis Lima
A porta é aberta no fruir da vida.
Porém, fechando ao mundo, vem a paz.
E, à solitude do meu leito, traz
Com a noite, um doce abrigo, após a lida.
Porto seguro, firme e assim sentida
É refúgio, se a calma satisfaz;
Às vezes, a alma chora... chora... mas
Chorando, é quando grita a dor sofrida.
Na clausura, é cerrada a liberdade;
Se abre aos amantes, gozo e amenidade,
Se a porta bate à cara, ò dor cruel!
Ao rico empobrecido, só saudade...
Pois fecha a porta ao pobre com maldade.
Nada se iguala à porta, a do amigo fiel.
O TOLO
"Les sots, depuis Adan, sont en majorité."
Delavigne
O tolo sempre quer glória e poder
Sem atentar no absurdo que ele sonha;
E, por mais alto que o desejo ponha,
Mais cresce o seu desejo de querer.
Não vê nada sombrio... só quer ver
A vida pela face mais risonha,
E nem pensa que existe o desprazer,
Que isto ser-lhe-ia a máxima vergonha.
Esta não é uma visão sofista,
Ao contrário, revela uma realista
Quer, deste jeito, louva a grande sorte...
Mas, ai do tolo! Em sua pobre vida,
Não receia da morte a despedida
Porque ignora, sequer, que exista a morte.
O DESERTO E A LOUCURA
A Carvalho Filho
Antes a poética loucura
do que a sanidade dos medíocres.
No seu deserto há lua cheia,
na sua loucura há preamar.
O seu deserto é povoado de idéias,
de imagens belas e profundas.
A sua loucura é a lucidez dos puros
que vêem paisagens infinitas.
É o conflito dos extremos
na busca da unidade.
É o ser finito buscando
a infinita coerência do existir.
ENGANO E VAIDADE
A Treu
Ambos erramos. Eu, quando o deixei,
Mas sentindo a constância da saudade.
Tu, quando fiquei só e, por vaidade,
Não me perdoaste, e, livre, retomei.
Tentei debalde; nunca mais amei...
Tomei-me pária, errante, na orfandade,
Buscando uma suposta afinidade.
Ó leda fantasia que sonhei!...
Vivendo assim, cansados de sofrer:
Distantes – penso em ti e tu, em mim.
Como é triste o refúgio sem nos ver...
Este é o látego amargo de perder
O verdadeiro amor, esse festim
De dois, unidos para florescer.
TUDO E NADA
Já cantei Tudo o que senti e vislumbrei:
Mulher, homem, céu, terra, fogo e o vasto mar;
E os sentimentos – dor, saudade do luar,
O amor, a nostalgia e o mundo que sonhei.
A esperança, a bondade e as rosas que plantei
No meu jardim querido, onde fico a cismar...
Penso que esqueço e sei que estou a recordar...
E o pensamento vai e volta, se o busquei.
A vida é o sonho do nosso bem ou do mal;
Essa felicidade eterna é uma ilusão
Que acalenta o inocente em pleno vendaval.
Maior dádiva é amar a vida doce e sã.
O Tudo e o Nada em nossa mente estão!
O Hoje é o Ontem, lembrado e o Porvir do amanhã.
A CASA DA COLINA
Reflete o Rio Preto a casa da colina,
Branquinha com varanda em redor e o jardim
Com rosa perfumada e orquídeas e jasmim,
Lembrando a minha infância airosa de menina.
A baixo, corre a negra água, tal serpentina,
Fecundando o sopé do morro até o fim...
Do alto, avista-se o céu, alua e tudo assim;
E à tarde o adeus do sol à estrela vespertina.
Do meu jardim de inverno, olho sempre a paisagem
Que me fez recordar os meus amados Pais
Que a contemplavam como a esplêndida miragem.
Eles partiram... Mas ela nada mudou...
Ronda-a freqüente o triste eco dos nossos ais:
Esta saudade eterna – e o vento não levou...
A MATURIDADE
É a fase da razão e do senso maduro.
Planeja-se o amanhã e o bem que delibera
Com tal filosofia... eis o fIm da quimera,
E da esperança que só vislumbra o futuro.
O sentido se aguça e o passo é mais seguro;
Surge o equilíbrio e a paz suave que acelera
Esta maturidade amena que se espera...
Sobrevém à paixão, frio amor de Epicuro.
Mas a Mulher aos trinta, esplende a formosura
E a madureza bela, elegante e outonal,
Exibindo ainda a flor da graça e da candura.
Hosana à plenitude hígida e exuberante,
Que se mantém alegre, ardente e jovial!
É a dádiva divina -o prêmio triunfante.
Fontes:
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