quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lino Sapo (A Televisão de Dona Tel)

Vou falar de uma pessoa
Que os céus dizem amém
Uma pessoa maravilhosa
Que nunca fez mal a ninguém
Simples e trabalhadora
E igual a ela não tem

Seus cabelos tá branquiados
O sorriso de antes já enrugou
Mas a gentileza é a mesma
Isso ela nunca renegou
Seu caminhar é compassado
Marca de que já trabalhou

Tem no espirito a bondade
E nas ações seu valor
De dignidade é uma fonte
Em sua vida sobra amor
As feridas que a vida fez
Ela soube vencer a dor

Dona Tel é esse anjo
Que Deus nos presenteou
Casada com seu Joatão
O homem que tanto amou
Quatorze filhos fizeram
E nenhum abandonou

De sua infinita sabedoria
A paz sempre buscou
E a ajudar ao próximo
Respeito conquistou
E um grande trabalho
A comunidade prestou

Hoje mim dar saudade
E recordo com satisfação
De sua ilustre humildade
E te tanta compreensão
Por deixar a todos nós
Assistir em sua televisão

Sem fazer diferença
Todos eram telespectador
Branco, preto ou índio.
De Vagabundo a trabalhador
Mulher, homem, menino.
De analfabeto a doutor.

Quase vinte e quatro horas
A TV não desligava
Pequenina mais potente
A galera telespectava
Preto e branco a imagem
E a população apreciava

Filmes, jornais e novelas.
Tinha seu público especial
Desenhos, shows e humor.
A meninada achava legal
Futebol, reportagem, culinária.
Era coisa sensacional

Mininos buchudos e fedorentos
Esparramado pelo chão
Os adultos no tamborete
Uma cadeira pra joatão
TEL sentada na sua poltrona
Todos diante da televisão

Gargalhadas e cochicho
E o psiu logo se ouvia
Sustos e muitos gritos
Isso sempre acontecia
Olhos bem lagrimosos
Com as cenas que se via

A novela era na sala
Uma sueca na cozinha
Os suequeiros não resistiram
A sala bem completinha
Aderiram às novelas
Abandonando as cartinhas.

Cabra errado e bigodudo
Ria-se que a chapa caia
Comentavam as cenas
E vinham no outro dia
Menino pegava no sono
Acordava dizendo arizia

O sucesso da televisão
Nunca pode se medir
Nem a entrada ao povo
TEL nunca quis impedir
Assistia todo mundo
Podiam se divertir.

As portas nunca fecharam
Era aberta até madrugada
Às vezes o dia nascia
E a negrada pegada
Nem respeitava o sono
De quem a TV doava

Durante muitos anos
A TV foi à atração
Da humilde cachoeira do sapo
Que não tinha animação
De segunda a segunda
De primavera a verão.

Na calçada os jovenzinhos
Procuravam se agradar
Era o lugar predileto
Pra começar a namorar
Banhados e perfumados
Tentavam impressionar

Foi também palco de brigas
Para na porta se escorar
Pois a sala estava cheia
Não dava mais para entrar
Imprensavam-se, e se apertavam.
Para a TV apreciar

Os filhos de dona Tel
Nunca inteferiram no divertir
Raquel, Chico, Daniele
Lú, Basto, Neide ou Joacir.
Ciço, Júlia, Zefa ou Galega
Vieram a contribuir

Janaina, Ivone, Aparecida.
Também como Mariquinha
Presenciaram muito a cena
Quando a cachoeira vinha
Sua casa sempre lotada
Do forasteiro a vizinha

O tempo se passou
As coisas melhoraram
O povo comprou sua TV
Da casa de TEL se afastaram
Esqueceram tanto favor
Que da mesma contemplaram

Dona tel ainda assisti
Só que agora TV a cores
Seu Joatão tá acamado
Não lembra mais dos amores
A casa ainda é a mesma
Aconchegante e sem odores

Eu ali muito assistir
Dona TEL muito obrigado
Jamais vou me esquecer
De seus favores abençoados
Hoje eu rezo a Deus
Para TELs ter multiplicado.

Fonte:
Lino Sapo: Vida e Obras

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