CAPITULO III
PRÁTICA DA TROVA EM SALA DE AULA
Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
- a Trova que mais deseja
jamais consegue escrever.
LUIZ OTAVIO
A trova vem fazendo história através dos séculos. O intercâmbio com os trovadores portugueses é freqüente, principalmente, através dos concursos anuais de trova. Fernando Pessoa, poeta, é autor do poema Psicografia, composto de três quadras de onde, a primeira estrofe, tornou-se popularizada pela imprensa trovadoresca, por estar na conceituação de trova literária. Vejamos o poema:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. (27/11/1930)
Podemos notar pelo “E” da segunda quadra ( quinto verso ) a dependência com a primeira. O mesmo ocorre com a terceira quadra (nono verso) que se “amarra” a segunda quadra com “e assim”. A primeira quadra não tem nenhuma dependência com os versos posteriores, deixando-a livre no conceito de trova literária, aceito por gramáticos e filólogos, mas, ainda, não incorporado no vocabulário da literatura brasileira. A trova é um poema autônomo, monostrófico, em redondilha maior (heptassílabo), com rimas alternadas e não tem titulação. Nesta conceituação, Luiz Otavio, em Trovas e Trovadores, ano III, nº 25, fevereiro de 1968, reporta-se ao poema Mãe de autoria de Barreto Coutinho. Vamos ler o texto jornalístico do antigo órgão oficial da UBT- Nacional?
EU VI MINHA MÃE REZANDO.
Em crônicas e introduções de livros tenho repetido que classifico a Trova quanto a sua origem em: popular (anônima), literária (também chamada erudita) e popularizada. (...) Desejo apenas relembrar que denomino de trova popularizada a que é lida,repetida, algumas vezes até modificada pelo próprio povo, e que, aos poucos, vai perdendo o nome do autor. Sofre um processo de “folclorização”.
A trova de Barreto Coutinho, por muito tempo, anônima, correu mundo, mas conforme o texto de Luiz Otávio:
Nos III Jogos Florais de Juiz de Fora, aos quais não pude comparecer, foi premiado em 3º lugar o veterano poeta pernambucano, residente em Curitiba, Barreto Coutinho e que este lhe mostrara um recorte de jornal pernambucano, no qual se lia um poemeto intitulado “Mãe” em oito quadras setissilábicas, entre as quais a quinta, era justamente a famosa trova, com o primeiro verso diferente:“Uma vez vi-a rezando”, perfeitamente compreensível, pois havia o título (“Mãe”) e as quadras anteriores falavam em mãe.
Adiante Luiz Otávio escreve
Mas o povo, que às vezes é um colaborador perspicaz e inteligente, destacou essa quinta quadra que é de tal valia, de tanta riqueza de sentimento e de força de expressão, que teria mesmo de se libertar do Poema e
criar vida autônoma, emancipada. E surgiu então, o primeiro verso modificado para: “Eu vi minha mãe rezando”. E a quadra ou quadrinha que era ligada as suas irmãs, adquiriu asas e voou... Voou... correu mundo... é admirada,querida, recitada, repetida...”
O poema editado no jornal A Província, Recife-PE, 28 de janeiro de 1912, trazia a quadra assim:
Uma vez vi-a rezando,
Aos pés da Virgem Maria...
Era uma santa escutando
O que a outra santa dizia
Com relação a primeira quadra de Autopsicografia não houve necessidade de ajuda; é autônoma por si só. A trova de Barreto Coutinho, foi “contemplada” com pequena inovação à oralidade, (Uma vez vi-a rezando’ para “eu vi minha mãe rezando”). Tornou-se autônoma e antológica. Vamos analisar a metrificação das duas:
Eu/vi/mi/nhá/ mãe/ re/zan/do ( até a última tônica, sete sílabas)
Aos/ pés/ da /Vir/gem/ Ma/ri/a (sete sílabas poéticas na tônica )
...E/ra u/ma /san/ta es/cu/tan/do (sete )
O/que a ou/tra /san/ta/ di/zi/a. (sete)
O mesmo ocorre com a quadra intacta de Fernando Pessoa:
O/ po/e/ta é um/ fin/gi/dor/
Fin/ge/ tão /com/ple/ta/men/te
Que/ che/ga a/ fin/gir /que é /dor/
A/ dor/ que/ de/vê/rãs/ sem/te.
Continua…
Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.
PRÁTICA DA TROVA EM SALA DE AULA
Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
- a Trova que mais deseja
jamais consegue escrever.
LUIZ OTAVIO
A trova vem fazendo história através dos séculos. O intercâmbio com os trovadores portugueses é freqüente, principalmente, através dos concursos anuais de trova. Fernando Pessoa, poeta, é autor do poema Psicografia, composto de três quadras de onde, a primeira estrofe, tornou-se popularizada pela imprensa trovadoresca, por estar na conceituação de trova literária. Vejamos o poema:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração. (27/11/1930)
Podemos notar pelo “E” da segunda quadra ( quinto verso ) a dependência com a primeira. O mesmo ocorre com a terceira quadra (nono verso) que se “amarra” a segunda quadra com “e assim”. A primeira quadra não tem nenhuma dependência com os versos posteriores, deixando-a livre no conceito de trova literária, aceito por gramáticos e filólogos, mas, ainda, não incorporado no vocabulário da literatura brasileira. A trova é um poema autônomo, monostrófico, em redondilha maior (heptassílabo), com rimas alternadas e não tem titulação. Nesta conceituação, Luiz Otavio, em Trovas e Trovadores, ano III, nº 25, fevereiro de 1968, reporta-se ao poema Mãe de autoria de Barreto Coutinho. Vamos ler o texto jornalístico do antigo órgão oficial da UBT- Nacional?
EU VI MINHA MÃE REZANDO.
Em crônicas e introduções de livros tenho repetido que classifico a Trova quanto a sua origem em: popular (anônima), literária (também chamada erudita) e popularizada. (...) Desejo apenas relembrar que denomino de trova popularizada a que é lida,repetida, algumas vezes até modificada pelo próprio povo, e que, aos poucos, vai perdendo o nome do autor. Sofre um processo de “folclorização”.
A trova de Barreto Coutinho, por muito tempo, anônima, correu mundo, mas conforme o texto de Luiz Otávio:
Nos III Jogos Florais de Juiz de Fora, aos quais não pude comparecer, foi premiado em 3º lugar o veterano poeta pernambucano, residente em Curitiba, Barreto Coutinho e que este lhe mostrara um recorte de jornal pernambucano, no qual se lia um poemeto intitulado “Mãe” em oito quadras setissilábicas, entre as quais a quinta, era justamente a famosa trova, com o primeiro verso diferente:“Uma vez vi-a rezando”, perfeitamente compreensível, pois havia o título (“Mãe”) e as quadras anteriores falavam em mãe.
Adiante Luiz Otávio escreve
Mas o povo, que às vezes é um colaborador perspicaz e inteligente, destacou essa quinta quadra que é de tal valia, de tanta riqueza de sentimento e de força de expressão, que teria mesmo de se libertar do Poema e
criar vida autônoma, emancipada. E surgiu então, o primeiro verso modificado para: “Eu vi minha mãe rezando”. E a quadra ou quadrinha que era ligada as suas irmãs, adquiriu asas e voou... Voou... correu mundo... é admirada,querida, recitada, repetida...”
O poema editado no jornal A Província, Recife-PE, 28 de janeiro de 1912, trazia a quadra assim:
Uma vez vi-a rezando,
Aos pés da Virgem Maria...
Era uma santa escutando
O que a outra santa dizia
Com relação a primeira quadra de Autopsicografia não houve necessidade de ajuda; é autônoma por si só. A trova de Barreto Coutinho, foi “contemplada” com pequena inovação à oralidade, (Uma vez vi-a rezando’ para “eu vi minha mãe rezando”). Tornou-se autônoma e antológica. Vamos analisar a metrificação das duas:
Eu/vi/mi/nhá/ mãe/ re/zan/do ( até a última tônica, sete sílabas)
Aos/ pés/ da /Vir/gem/ Ma/ri/a (sete sílabas poéticas na tônica )
...E/ra u/ma /san/ta es/cu/tan/do (sete )
O/que a ou/tra /san/ta/ di/zi/a. (sete)
O mesmo ocorre com a quadra intacta de Fernando Pessoa:
O/ po/e/ta é um/ fin/gi/dor/
Fin/ge/ tão /com/ple/ta/men/te
Que/ che/ga a/ fin/gir /que é /dor/
A/ dor/ que/ de/vê/rãs/ sem/te.
Continua…
Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.
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