sábado, 16 de agosto de 2008

Como "não se deve" fazer trovas

(o bom humor é meu, a interpretação é sua)

Muitos especialistas na matéria vivem ensinando como fazer trovas, orientando-se, é claro, pelos princípios básicos da UBT.

Pois hoje eu quero ensinar-lhe "como não se deve fazer trovas". E garanto-lhe, de antemão, que é muito mais fácil e, de quebra, com toda certeza irá lhe render muitos troféus na estante. Se amanhã ninguém se lembrar de alguma trova sua, o que importa? Ali estarão seus troféus, como testemunhas palpáveis e permanentes de suas conquistas.

Bom, comecemos pelas "lírico/filosóficas". Independente de qual seja o tema, sua trova deve conter a palavra "saudade". Em torno dela tente compor as demais 25 ou 26 sílabas poéticas que irão coroar sua obra de arte. E tente ser o mais convincente possível. Porque se o julgador perceber que você está "forçando a barra", isso poderá lhe ocasionar uma desclassificação, o que seria lamentável para suas pretensões. Se ainda assim tiver dúvidas, pegue qualquer livro de resultados e dê uma geral. Você irá se surpreender com a lógica destas afirmações...

O termo que concorre quase em plano de igualdade com "saudade" é "sonho". Use e abuse do seu direito de sonhar. Também não corre risco de despencar no IBOPE. Caso queira variar, então você pode utilizar "solidão", "esperança", "tristeza" (eu conheço uma certa "a tristeza que me invade" que é recordista em galardões!)... Mas faça sempre uma referência, mesmo que de forma velada, ao "amor", que é o carro-chefe de toda a guarnição. Mas "desamor" também é bom. Para concluir, veja se ficou parecida com alguma trova famosa que você já conhece. Se ficou, melhor ainda: o sucesso está garantido!

E resta ainda a alternativa das frases, que podem ser provérbios ou mesmo citações bíblicas e filosóficas. Não vá se distrair e colocar o nome do verdadeiro autor, porque esse descuido também gera desclassificação. Para todos os efeitos é uma criação sua. Muito bem, passemos agora às trovas humorísticas. Continua valendo o exemplo anterior: independente do tema, seu único trabalho será escolher um personagem: "vizinho" tem boa cotação; "português" também é ótimo aperitivo mas o alvo preferido (porque o retorno é garantido) é "sogra". Fora isso tem "amante", "corno", viúva", "gordo"... Porém o que nos últimos anos vem fazendo um estrondoso sucesso, com efeitos "magníficos", é adaptar piadas do anedotário, transformando-as em trovas. Digo e explico: a maioria das pessoas encarregadas de votar não costuma ler almanaques de piadas e também não sabe que os princípios básicos que regem a UBT recomendam que se evite essa tática. Isso virou "uma mina de ouro". Pode fazer, que dá certo. Ultimamente até aquelas piadas mais manjadas estão sendo aproveitadas. Como se diz na minha terra: é "mamão com açúcar"!

Agora, um último recurso: se mesmo assim, depois de esgotadas todas as tentativas, você continuar na galeria dos que nunca conseguem perfilar entre os laureados, só resta uma saída: pegue aquelas trovas com as quais você premiou há muito tempo atrás, lembra-se? Dê uma boa requentada nelas ou então troque apenas umas palavras, incluindo a palavra-tema (tem gente que não troca nada mas é muito arriscado) e pronto: ei-lo de volta ao pódio. Com o mesmo glamour de outrora.

Não se preocupe, já sei o que você quer me perguntar: é claro que várias pessoas irão perceber o que está acontecendo mas ficarão com pena de você e apenas farão aquela familiar expressão de "não vi nada, não sei de nada", "tô nem aí", etc. E você continuará sendo amado e festejado. E desta vez também será aplaudido. Chega de aplaudir, somente.

Não me agradeça, por favor, se ocorrer essa mudança em sua vida trovadoresca. Afinal, "se não vivemos para servir, não servimos para viver". OBS: essa frase é minha, mas pode encaixá-la numa trova, se assim o desejar.

E, encerrando, há as trovas religiosas: mesmo que você não creia em Deus, use-o em seus trabalhos, porque a comissão julgadora crê, e irá levar muito a sério as suas palavras. Quando você morrer, e for por Deus cobrado, diga que "foi só uma brincadeirinha, magina"! Que você não tinha intenção!...

Fonte:
Portal Movimento das Artes
http://www.movimentodasartes.com.br/trovador/pop_081/080420a.htm

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