terça-feira, 5 de agosto de 2008

W.S.Maugham (1874-1965)

William Somerset Maugham, escritor inglês nascido em Paris em 1874 e falecido em 1965, foi talvez um dos mais populares e bem sucedidos autores do século XX. Prolífico, escreveu tanto para o teatro como para a literatura em geral, consagrando-se como um excelente contador de histórias, o que fez com que o colocassem no mesmo nível do francês Guy de Maupassant ou do seu conterrâneo Graham Green, um globetrotter tão popular e mundialmente conhecido quanto ele. Maugham foi um homem de letras do império, suas histórias se passavam tanto nos salões e encontros para o chá em Londres como numa choupana dentro de uma floresta numa remota ilha dos Mares do Sul, locais onde ele descrevia os seus personagens com grande desenvoltura.

Um contador de histórias

"Eu nunca pretendi ser algo mais do que um contador de historias. Eu me divirto contando historias e escrevi muitas delas. Para mim é um infortúnio o fato de contar uma história somente pelo motivo dela em si é uma atividade que não conta com o favor da intelligentsia. É um infortúnio que tento escutar com fortaleza".
S. Maugham - Creatures of circumstance, 1947

Em 1938, aos 64 anos de idade, universalmente consagrado pelos leitores mas não pela crítica, Maugham resolveu entregar ao seu imenso público um “resumo” das suas atividades como escritor e uma crônica do que ele pensava sobre a arte de escrever e outras observações interessantes sobre a vida cultural e literária em geral. Intitulou-o de The Summing Up (traduzido para o português por Mário Quintana como “Confissões”, Editora Globo, P.Alegre, 1951) Maugham, ainda quando jovem médico, atormentado pela gagueira, decidiu-se a ser escritor aos 18 anos de idade. Atividade para qual ele sempre sentiu-se vocacionado, nunca sendo para ele um tormento começar uma página ou encerrar uma novela, entendendo-se assim como ele facilmente tornou-se um requintado mestre da narrativa, um dos melhores da prosa inglesa contemporânea.

Filho de diplomata britânico sediado em Paris, ficando órfão quando mal alcançara os 10 anos, teve o francês como língua da infância e, mais tarde, ao enviarem-no para Heidelberg, dominou o alemão com facilidade. Em verdade ele teve que aprender tudo em inglês. Ao fazer incontáveis anotações em blocos e cadernos percebeu que precisava dedicar-se inteiramente na busca do significados das palavras que ele não entendia, passando a revirar dicionários e enciclopédias da língua inglesa com ardor, freqüentando o Museu Britânico com constância. Uma feliz combinação de fatores ajudou-o no inicio da carreira.

Novos tipos no teatro

Maugham começou escrevendo para o teatro. Logo entendeu que os dramas envolvendo os nobres e seus próximos, como era tão comum no teatro londrino naquela época de final do século XIX, já começara a entediar o novo e crescente público urbano originado da classe média. As pessoas queriam doravante ver personagens que lhes fossem mais próximos, que lhes tocassem os sentimentos mais de perto. As confusões ou sofrimentos das altas figuras e dos barões só lhes provocavam bocejo.

A essa mudança de temática, que ele, autor com faro para o sucesso, soube atender, juntou-se ainda um outro fator: quando ele ainda estudante de medicina, era obrigado a percorrer os arrabaldes soturnos de Londres para atender à sua cota de partos, tarefa que proporcionou-lhe um contato direto com a realidade das classes pobres e com um mundo extremamente diversificado de pessoas e situações, condição a que ele, rapaz de berço, descendente do patriciado britânico, jamais se veria se não lhe tivessem incumbido da missão de ser eventual parteiro do proletariado. Portanto, foi nos duros subúrbios da grande cidade que ele teve formada a sua escolaridade de autor realista, detestando o supérfluo, o adjetivo exagerado, a frase rebuscada, a permanência do rococó enfim. Além disso sentiu-se atraído pelo exotismo do mundo extra-europeu, quando por exemplo, empolgou-se com a vida de Gauguin na polinésia, retratando-a na pequena obra-prima The Moon and Six pence, 1919 (Um gosto e seis vinténs, Globo P.Alegre).

Um autor popular

Desde o principio Maugham, mesmo sendo um homem refinado, votou enorme desprezo por aquilo que então passava por alta cultura na sua época. Achou a maior parte dos escritores que circulavam no seu meio como um bando de pedantes e de entediados. A seu ver eles não tinham nenhuma abertura para o mundo das emoções e vibrações apaixonadas que girava ao redor deles. Nos livros deles, segundo ele, respirava-se “morta e pesada atmosfera”, onde as pessoas sentiam que “era indecoroso falar acima num tom acima do sussurro”. Era como se fosse escrita dentro de salas de antigos casarões, onde o autor e os seus inquilinos faziam questão de viver encerrados, inibidos, sequer abrindo os postigos para a entrada de um vento fresco ou permitindo-se dar uma ousada mirada para a paisagem que os cercava.

Haviam palavras sim, abundantes, bem colocadas, mas elas não produziam vida nem sensações: eram plantas de estufa. Isto fez com que Maugham se decidisse desde cedo trilhar o caminho de uma literatura comprometida com as coisas do mundo, simples, mundana sem ser vulgar. Atitude que lhe valeu a incompreensão e o descaso com que sua obra foi tratada pela intelligentsia e pela critica literária em geral ao longo do século XX. Mas não do público. Desde os começos, a partir do primeiro exemplar vendido da sua novela “O pecado de Lisa”, editado em 1897, claramente inspirado nas suas atividades de obstetra dos pobres, pisando com suas botinas no lo do dos slums, dos bairros miseráveis, o público nunca deixou de ter enorme consideração para com ele.

Se bem que Maugham tenha dito que bastava-lhe passar umas horas na presença de alguém, na companhia de uma pessoa de razoável interesse, para que ele conseguisse extrair material suficiente para escrever uma boa história, ele tratou desde cedo de tratar das questões do estilo e da técnica da prosa. Maugham, paradoxalmente, considerou a tão afamada Bíblia do Rei James, que fixou a estrutura do idioma inglês para todo o sempre, exerceu uma influência negativa para os escritores ingleses. A razão que ele aponta é um tanto exótica: para ele a Bíblia “ é um livro oriental” ( sic), acrescentando que “ aquelas hipérboles, aquelas metáforas sumarentas são estranhas ao nosso gênio”. Tudo isso teria contribuído para que a chã e honesta fala inglesa fosse “ sobrecarregada de ornamentos”. Viu-se, pois como alguém que procurou restaurar um inglês escrito como se fora “um telegrama imensamente longo”, desprovido de metáforas bíblicas e da moral daí decorrente.

Por isso, ou talvez por isso mesmo, pelo seu propositado afastamento da escrita com fins morais, seus críticos o apontaram como um cínico incorrigível. Foi veemente também na condenação, fosse ela resultado da negligência ou do capricho, da prosa obscura, aquela que, pretendo-se profunda, só confunde e embaraça, com sua nebulosidade estudada, o leitor desavisado. Para ele, na maioria dos casos, como ocorria com os seguidores do simbolista Guillaume Apollinaire, tais “contorções de linguagem disfarçam verdadeiros lugares-comuns”, fazendo com que somente “ os tolos descobrissem nelas um sentido oculto”. Assim, nada de estranhar-se ele considerar Voltaire, de longe, o melhor prosador da idade moderna, sendo que para ele das suas páginas as histórias fluíam com a maior naturalidade. No dizer dele “se puderdes escrever claramente, simplesmente, eufonicamente, e ainda com vivacidade, escrevereis perfeitamente: escrevereis como Voltaire”.

Entre os prosadores ingleses a sua admiração centrou-se em Thomas More, em Swift, em Dryden, em Hume, em Shelley, no dr. Johnson, devotando reiterados agradecimentos ao Dictionary of Modern English Usage de Henry Fowler que, segunde ele, “amava a simplicidade, a retidão e o bom-senso”, não aconselhando que os escritores se deixassem tiranizar pelas difíceis regras da gramática inglesa. Ao contrário, o bom prosador era um infrator nato, alguém que podia se permitir, volta e meia, a certas liberdades desde que elas dessem maior fluidez e harmoniosa continuidade ao texto escrito, atingindo a tão por ele apreciada eufonia.

O escritor comercial

Quanto aos que o criticavam por ser um escritor de sucesso, um autor de livros bem digeridos pelo mercado, Maugham reclama por tolerância. Para ele nenhum escritor sério escreve por dinheiro. Se bem que a pressão seja grande, o que realmente o move é a paixão por escrever, é a paixão pelo trabalho, a dedicação integral ao seu métier, porque em geral, o que ele recebe em troca de um livro poderia ser alcançado fazendo qualquer outra coisa. É claro que qualquer um gosta de ser lido pelo maior número de pessoas possíveis e nenhum autor aceita considerar que o seu livro não foi bem escrito ou tinha pouca coisa capaz de agradar, preferindo acreditar na ingratidão ou na ignorância do público. Dito isso, as concessões que muitas vezes um homem de letras é constrangido a fazer não significa adesão ao mercantilismo da arte. Se é um fato que muitos autores precisam ser pressionados à escrever, “precisam de espora”, não o fazem, porém, por dinheiro.

Maugham se felicitava em ser alguém que tinha a seu favor as potencialidades do mercado da língua inglesa. Graças a isso, ao dispor de um dos maiores públicos leitores do mundo, ele se tornara um homem de letras profissional, consagrando-se totalmente à escrita pela vida a fora. Somente autores de países pequenos e de idiomas poucos conhecidos, ponderou ele, é que precisavam manter uma segunda profissão, tendo que despender energias em ganhar o pão longe das amadas letras. Os que tinham o inglês como ferramenta, se bem sucedidos, estavam livres disto. Tais reclamos por indulgência, entretanto, não o livraram de que os críticos o considerassem brutal (quando ele tinha vinte anos), irreverente (ao atingir os trinta), cínico (aos quarenta), ou superficial (depois dos cinqüenta). Apesar dele mesmo considerar-se um preguiçoso, deixou copiosa obra. Ocorre que ele, disciplinado, comprometeu-se por toda a vida, logo ao levantar-se pela manhã, só dedicar-se a outras coisas do dia desde que antes escrevesse religiosamente uma só página sobre um tema qualquer. Que, segundo ele, nunca lhe faltaram. No final do ano ele sempre tinha uma maço de mais de trezentas folhas prontas para o prelo. Material suficiente para um, dois ou três livros.

Obra seleta de Somerset Maugham
Liza of Lambeth (o pecado de Lisa), 1897
Mrs. Craddock (Mrs. Craddock), 1902
A man of honour (Um homem de honra), 1903
The magician (O mágico), 1908
Penelope, 1909
Lady Frederick. 1912
Jack Straw, 1912
Mrs Dot, 1912
Of human bondage (servidão humana), 1915
The moon and sixpence ( um gosto e seis vinténs), 1919
The circle, 1921
Sadie Thompson (a chuva), 1921
The trembling of a leaf (histórias dos mares do sul), 1921
East of Suez, 1922
On chinese screen(o biombo chinês), 1922
Our betters, 1923
The painted veil (o véu pintado) , 1925
The constant wife, 1925
The casuarina tree (a casuarina), 1926
The letter (a carta), 1927
The sacred flame, 1928
The Ashenden (o agente britânico), 1928
The breadwinner, 1930
Caces and ale, 1930
First person singular, 1931
Collected plays (seis novelas), 1931-34
The narrow corner, 1932
For services rented, 1932
Collected plays, 1933
Sheppey, 1933
Ah king ( ah king), 1933
Cosmopolitans, 1936
The theatre, 1937
The summing up (confissões), 1938
Christmas holiday(férias de natal), 1939
The mixture as before, 1940
Up at the villa, 1941
Strictly personal, 1941 the hour before the dawn, 1942
The razor's edge (o fio da navalha), 1944
Then and now (maquiavel e a dama), 1946
Creatures of circumstances, 1947
Catalina (catalina), 1948
A writer's notebook (diário de um escritor), 1949
The complete short stories (29 histórias), 1951
The vagrant mood, 1952
Selected novels, 1953
Ten novels and their authors, 1954
Far and wide, 1955
Best short stories, 1957
Points of view, 1958
Looking back, 1962
Selected prefaces and introductions, 1963
Seventeen lost stories, 1969
Seventeen lost stories, 1969
A traveller in romance, 1984

Fonte:
http://educaterra.terra.com.br/

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