Marcelino Freire nasceu em 20 de março de 1967 na cidade de Sertânia, Sertão de Pernambuco. Vive em São Paulo desde 1991. É autor de EraOdito (Aforismos, 2ª edição, 2002), Angu de Sangue (Contos, 2000), BaléRalé (Contos, 2003) publicados pela Ateliê Editorial, e Contos Negreiros (Contos, 2005) pela Record, livro que venceu o prêmio Jabuti. Em 2002, idealizou e editou a Coleção 5 Minutinhos, inaugurando com ela o selo eraOdito editOra. É um dos editores da PS:SP, revista de prosa lançada em maio de 2003, e um dos contistas em destaque nas antologias Geração 90 (2001) e Os Transgressores (2003), publicadas pela Boitempo.
MARCELINO FREIRE diz que escreve para se vingar. Seu novo petardo, chama-se Rasif: Mar que Arrebenta, quarto livro de contos e o primeiro desde que ganhou o prêmio Jabuti. Nesta entrevista exclusiva para Verbo21, ele fala um pouco de seu passado com a Geração 90, a moda da literatura árabe, guerras, Movimento Armorial, Mangue Beat e outros quiprocós.
Lima Trindade – Você vem publicando contos com certa regularidade. De 2000 para cá, Rasif: Mar que Arrebenta é o seu quarto livro do gênero. Como costuma ser o seu processo de gestação de um novo trabalho? Você planeja tudo, se cobra horários ou trabalha de forma livre?
Marcelino Freire – Livro meu, pode verificar, eu publico de três em três anos. O Contos Negreiros, por exemplo, é de 2005. Entre um livro outro, faço outros projetos, me envolvo em baladas literárias [Freire criou o evento Balada Literária, que reúne todo ano mais de uma centena de escritores nacionais e internacionais pelas ruas do bairro paulistano da Vila Madalena] e antologias. Nesses três anos, escrevo um conto e outro, vou juntando material. Aí vejo o que há de comum neles, que linha os une. Qual temática eu quero provocar, sei lá. Escrevo, inclusive, alguns contos especialmente para o livro que eu imaginar. E, sobre como eu trabalho, é o mais desleixadamente possível. Não tenho horários, não bato ponto para a literatura. Escrevo quando estou com vontade. Fico guardando uma frase no meu juízo por um bom tempo. Aí escrevo a partir daquela frase que fiquei matutando. Uma vez, tentei anotar o que eu ia ouvindo, o que eu ia colhendo pelas ruas. Não deu certo. Eu perdia o caderninho. Senti que eu estava “burocatrizando” o cotidiano. Desisti. Agora deixo a frase ficar perdida na memória. Até eu encontrá-la de novo.
LT – Uma característica marcante dos seus textos, a meu ver, está na escolha em retratar um universo de párias, excluídos e marginalizados, sem, no entanto, reduzir essas personagens à questão da miserabilidade existencial. O que podemos esperar de Rasif? Há uma linha-mestra conduzindo os contos?
MF – Na verdade, não são temas escolhidos por mim. Não sei bem dizer. É a forma de eu enxergar. Esse mundo pobre, doente, em que vivemos, sobrevivemos. É o mundo que temos. E a minha literatura não consegue fugir disto. A minha literatura está afetada por isto. Eu queria muito tratar de outros assuntos. Mas, quando vejo, um personagem vem gritar no meu ouvido. Sangrar à minha porta. Eu costumo dizer que eu escrevo para me vingar. De uma saudade, de um governo, de uma família. Eu preciso exorcizar alguma coisa. Não consigo ser um escritor frígido. Adoraria, um dia, escrever uma história passada no Planeta Vermelho, por exemplo. Na Cochinchina. Aguardemos... No meu novo livro, o Rasif, é a vez das guerras. Particulares e nucleares. Sempre tem alguém fodendo alguém no meu novo livro. Algum conflito sendo travado. Eu quero que o leitor, ao pegar o Rasif, tenha a impressão de estar com o fim do mundo nas mãos. É um livro quente. Fervente. Sem contar, faço questão de ressaltar e louvar, as gravuras presentes no livro. Rapaz, está bem bonita a edição. Por causa, sobretudo, da participação de Manu Maltez [artista paulistano]. Meu livro vem com as gravuras apocalípticas do Manu. Cheias de corujas, anjos nus, asas e urubus. Valerá a pena conferir. Formamos nós dois uma duplinha demoníaca, você vai ver...
LT – O título (belíssimo) é também uma clara homenagem a Recife. De que modo a cidade aparece no livro? Há nele algum traço de evocação memorialística ou você traça outros caminhos?
MF – Sim. Há uma referência recifense. E pernambucana. O nome “Recife” vem de “Arrecife”. Mas ambas palavras vêm do árabe: “Rasif” e “Arrasif”. Gostei quando soube disto. Quem me contou foi a amiga Adrienne Myrtes [também escritora, autora do livro de contos “A Mulher e o Cavalo”]. Porque eu estava falando para ela que o meu próximo livro tinha homem-bomba, tinha Afeganistão, Cabul, Sertânia [a cidade em que Freire nasceu]. Aí ela me contou isto. Eu não sabia. Adorei. Sem contar que eu quero muito ganhar dinheiro com este livro. Os livros árabes não estão vendendo feito quibe? Pois eu tenho a minha Árabia própria e nada mais justo que eu ganhe uns trocados com ela. Eu também quero colocar a minha pipa para voar. Enfim. Eu quero fazer essa provocação. E me animei com estas ligações malucas. Descobri, por exemplo, que “ciranda” é uma palavra árabe. Aí fui lá na música da lenda-viva que é a cantora Lia de Itamaracá: “estava na beira da praia / ouvindo as pancadas das ondas do mar”. Isso. Pancadas, chutes, cuspes para todo lado. Aí lembrei também do Manuel Bandeira, “num torpedo-suicida / darei de bom grado a vida”. É isso aí. Meu livro quer explodir. E tem mais: meu livro tem um subtítulo, Mar que Arrebenta. O nome “Pernambuco” vem do tupi-guarani, que quer dizer “onde o mar arrebenta”. Então vai ser isto: um livro que se lasca, se arrebenta, se lança lá do alto. E acaba sendo também um livro sobre minha terra, de forma truncada. Um livro escrito por alguém que não está mais no seu lugar de origem. Que fala outra língua. Que se sente um estrangeiro, sempre. É um livro também que coloca a questão da língua que falamos. Se entendemos mesmo o que falamos e o que ouvimos, sei lá.
LT – Tenho a impressão que todos os seus contos nasceram para serem lidos em voz alta. Você os concebe com essa intenção?
MF – Eu escrevo em voz alta, sim. Gosto da palavra falada. Como lhe disse, escrevo a partir de uma primeira frase que ouvi por aí. Não tenho história para contar. Tenho um som para rimar. Vou construindo a história a partir de um mote. O que faço é música, costumo dizer. Embolada. E eu comecei a minha trajetória escrevendo para teatro. Gosto muito do teatro. Quando escrevo, imagino sempre um ator em cena. Eu penso muito nisso. Na palavra lançada, dita para ser ouvida. E eu leio e releio muito o que escrevo. Em voz alta, pela casa. Quando algo não está claro, o ouvido denuncia. E aí eu mudo, modifico o parágrafo. Eu adoro ler os meus contos em público. Ah! Nos livros, nunca chamo meus contos de contos. Sempre os chamo de cantos, de improvisos. Agora, no Rasif, eles são cirandas, cirandinhas. É assim que os contos do Rasif soaram para mim. Cirandas à beira do mar. E o mar arrebenta, grita. E o mar está morrendo. Mas, antes de morrer, ele vai matar muita gente. Já está matando, não vê?
LT – Contos Negreiros foi encenado, não? Alcançou êxito? É verdade que Rasif terá uma montagem simultânea ao lançamento do livro?
MF – Rapaz, essa história da encenação do Contos Negreiros começou na FLIP [Festa Literária Internacional de Parati] de 2005. A cantora Fabiana Cozza, minha amiga, estava fazendo um show na cidade. E aí resolvi dar uma canja lendo um dos meus contos. Deu supercerto. Daí, a gente pensou em um espetáculo juntos. E até hoje a gente se apresenta. Sempre que convidam a gente. Já fizemos no Recife, várias vezes em São Paulo. Em Salvador, pelo interior, etc. E o espetáculo ganhou a participação do maravilhoso cantor baiano Aloísio Menezes, que você bem conhece. Lotamos a casa várias vezes aqui em São Paulo. E o Rasif – Mar que Arrebenta ganhou uma peça homônima, sim. Estreia lá no Recife no dia 30 de agosto. É com o mesmo grupo que encenou o Angu de Sangue [livro de contos publicado em 2000]. A montagem do Angu foi muito premiada e elogiada por onde passou. Os atores são muito bons [um deles é a atriz Hermila Guedes, premiada pelo filme “O Céu de Suely”]. Causaram grande impressão no ano passado no Festival de Curitiba. É uma turma da pesada. Estou supercurioso para ver o que eles aprontaram com os meus contos sobre o final dos tempos. Ah! Também tem o ator e dançarinho recifense Kleber Lourenço, que encenou o Contos Negreiros. Brilhante, brilhante. Eu fico feliz pra caralho quando vejo meu trabalho encenado. É uma forma de eu voltar aos palcos. Eu que sempre quis ser ator. Fico, neste caso, menos frustrado...
LT – Quando morou em Recife, chegou a travar conhecimento com o pessoal do Movimento Armorial? Como você avalia a importância dessa expressão artística para a contemporaneidade?
MF – Coincidentemente, na semana passada, a convite de Antonio Nóbrega, eu fui participar da homenagem que fizeram a ele aqui em São Paulo. Fui um dos oradores do evento. O cabra ganhou o título de Cidadão Paulistano, heróica e merecidamente. Nóbrega é a única ligação, indireta, que eu tenho com o Movimento Armorial. Meu primo, Wilson Freire, é parceiro do Nóbrega faz tempo. Também já estive algumas vezes com o Ariano [Suassuna]. Eu gosto mais do Nóbrega e do Ariano onde eles são mais universais. Não importa o som e a palavra que criam. Não gosto muito dessa coisa “radical”, purista, digamos. Acho um saco toda aquela discussão armorial, raízes da terra, coco genuíno, sei lá. Tenho preguiça. Embora ache divertido o discurso do Ariano. Por exemplo, quando ele fala mal do Michael Jackson. Hilário! Mas não acho graça quando, de alguma forma, alguns artistas do Recife são escanteados por lá se pensam, digamos, mais “desarmorial”. Conhece o poeta Jomard Muniz de Brito? Ele está com 70 anos e foi quem conseguiu peitar essa “ditadura armorial” no Recife. Jomard foi quem inventou o Tropicalismo, sabia? Foi conversando com o Jomard que Gilberto Gil teve a idéia tropicalista. Mas enfim. Também acho meio sacal essa coisa do Tropicalismo, Gosto mais das bananas do que da Carmen Miranda. Ah! Mas vamos mudar de assunto...
LT – E o Mangue Beat, você curte? Tem preferência por gêneros musicais? Costuma escrever ouvindo música?
MF – Não consigo escrever ouvindo música. Atrapalha-me qualquer ruído que não seja o da palavra. Eu tenho a concentração problemática. Nunca faço duas coisas ao mesmo tempo. Cagar e ler é o máximo que faço. Sobre o Mangue Beat, adoro, cabra. Festejei a chegada do Chico Science. Lembro quando ele chegou à cena no Recife. Demorou uns dez anos para estourar no Brasil. Aquela vitalidade, aquela lado caranguejo. Tomado emprestado de João Cabral de Melo Neto, de Josué de Castro. Gostava e gosto disto. Uma vez, me chamaram de “Chico Science da Literatura”. Fui ao delírio. Foi o máximo. Fiquei superarrasado com a morte do Chico. Eu teria cruzado com ele, com certeza, aqui em São Paulo. Uma pena! Sou amigo de vários companheiros dele, que continuam compondo, produzindo. E lembra como o lado armorial do Ariano caiu em cima do Chico, à época? É isso o que eu falo: há um patrulhamento que me irrita. Porém, acho que agora isso está mais calmo pelas bandas de lá. O Mangue Beat tratou de calar um pouco esse exagero feito de barro-barroco, sei lá.
LT – Recebeu estímulo artístico na casa da sua infância? Lembra do primeiro livro lido?
MF – O estímulo foi o silêncio. Explico: minha família não ficava enchendo o meu saco, perguntando demais o que eu fazia. Eu me trancava no quarto para ler Manuel Bandeira e eles me deixavam “morrer” por lá. Uma vez ou outra, minha mãe perguntava se eu estava bem, se não estava doente, enfim. Mas era mais preocupação do que censura. E eu tinha facilidade para leitura, para a escritura. Aí eu escrevia as cartas para a família inteira. E era eu quem lia as bulas de remédio. Muito pequeno, com nove anos, resolvi fazer teatro na escola. Minha mãe não sabia bem do que se tratava. Mas deixou. E ela ia ver as peças, toda entusiasmada, toda orgulhosa. Foi no teatro que tomei contato, pela primeira vez, com o texto criativo. E foi lá que conheci a atriz Ilza Cavalcanti, já falecida. Foi ela quem primeiro me deu fôlego. Quem me disse para eu continuar a escrever. Falou que eu tinha futuro, digamos. Não tenho do que reclamar. Eu me enchia de ânimo. E sempre segui à revelia. Nem adiantava a família ser contra, tenho certeza de que continuaria a fazer o que eu queria. Meu primeiro livro lido foi o Estrela da Vida Inteira, do Bandeira. O primeiro livro em prosa foi o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos.
LT – E quando pensou seriamente na possibilidade de ser um escritor pela primeira vez? Já morava em São Paulo?
MF – Eu só vim, na verdade, me tocar para isto, seriamente e verdadeiramente, quando conheci, em São Paulo, o crítico literário João Alexandre Barbosa. Foi ele quem me disse que o meu Angu tinha tempero. Conheceu o meu livro, indicou-me para publicação na Ateliê Editorial, assinou o prefácio do Angu de Sangue, publicou este prefácio na revista Cult. Sem contar as conversas demoradas que tínhamos. Ele me chamou a atenção para a feitura de um livro, a organização, o jeito, a força que um livro deve ter, sei lá. Outro que também me alertou foi o poeta mato-grossense Manoel de Barros. Leu uns contos meus, me chamou a um canto da sua casa, em Campo Grande, e falou: “você está fodido. Você é um escritor”. Isso foi sintomático para mim. Vi que a coisa não era brincadeira. Aí comecei a prestar mais atenção. E a me foder de vez.
LT – E seu contato com a Geração 90? Guarda alguma lembrança saudosa desse tempo? Imaginava que fossem chegar aonde chegaram (muitos em grandes editoras, recebendo prêmios, etc.)?
MF – Engraçada esta pergunta. Por causa do adjetivo “saudoso”. Por causa do “chegar aonde chegaram”. Sempre digo que estou construindo ainda um trabalho. E estou muito novo ainda para sentir saudades, digamos, tão grandes. Claro que tenho idéia do caminho que foi trilhado, mas há ainda muita coisa para fazer. Não posso me sentir realizado completamente. Sempre alguém chega e me fala: “você agora é um Jabuti”. Mas eu não posso me sentir um Jabuti. Nunca. Repito: estou ainda trilhando, arregaçando o cabaço. E preciso escrever muito. Escrever, escrever. Vejo alguns poucos companheiros desta “Geração” já falando cheio de boçalidade. Dá-me nos nervos. O que esse cara pensa que é? Em um país como o nosso. O cara acredita que é o dono-da-cocada. Meu Cristo! Não estou aqui querendo posar de humilde. Mas jamais posarei de rei. Argh! O melhor é a cerveja que bebo hoje. Se aprendi a beber cerveja, foi com essa “Geração”. Eu já bebia algumas, mas não o tanto que bebo agora. E olha: foi fundamental o trabalho que fez o Nelson de Oliveira quando organizou as duas antologias da Geração 90. Somos estudados aqui dentro e fora do país. Foi a porta de entrada, sim. Mas essas antologias não fizeram de ninguém escritor. Cada um que continuasse a acreditar. Escrever, escrever. E nunca perder o foco. Comparo a vida literária a futebol americano. É o cara com aquela bola dura na mão, correndo em direção a não-sei-onde. Empurram os ombros dele, dão porradas no seu capacete, mas ele não perde o foco. Agarrado à bola dura. Sigamos, sigamos.
LT – Acredita ser ainda possível hoje o aparecimento de escritores como Dalton Trevisan, distanciados do público e encarando o ofício da escrita como reclusão irrestrita?
MF – Eu não conseguiria. Adoraria ficar trancado em casa, mas sempre batem à nossa porta: via internet, via correios, por telefone. Antes de eu escrever um conto, tenho de checar os e-mails, escrever no blog [www.eraodito.blogspot.com]. Esse isolamento eu não consigo mais. Até porque essa história de autor em redoma me cansa um pouco. Acho o Dalton genial, genial! Já travei uns contatos com ele. Dalton está no tempo dele, fiel ao seu esconderijo. Nesse sentido, estou fodido. Isolo-me, sim, na hora da criação. Mas, na hora de o livro sair, eu quero berrar para o mundo a cria que eu pus na roda, ora. E eu gosto dessa circulação. De ver pessoas, de beber. Se estou em casa, escrevendo um conto, e toca o telefone e é o Joca [Reiners Terron], o Xico Sá me chamando para beber, eu largo o conto e vou beber. Mais importante que escrever é beber. Escritor em redoma, sempre falo, só serve para peidar. Eu é que não vou ficar cheirando sozinho o meu peido. Vou compartilhá-lo com os amigos. Se é para feder, que fedamos todos juntos, pode crer.
LT – Seu olhar nunca esteve reduzido exclusivamente ao eixo Rio-São Paulo, mas, de certa forma, basta ler o seu blog para constatar isso, você parece estar sempre em contato com escritores periféricos dos lugares mais diversos. Como você julga que está o Brasil em termos de produção literária?
MF – Gosto desta movimentação toda. Gosto de fazer parte dela. Sem culpas. Aí dizem que eu devia parar um pouquinho. Parar para morrer? Porra! Gosto deste furação o tempo inteiro. De saber o que anda acontecendo. Gosto de conhecer novos escritores. É claro que, um dia, vou precisar descansar um pouco. A idade não vai deixar meu juízo se movimentar tanto. Enquanto isto, estou aproveitando a putaria que aí está. Acho que sempre foi assim. Mesmo os escritores hoje recolhidos faziam parte de uma agitação medonha. Sem contar a turma que se reunia em torno de Vinicius de Moraes, por exemplo. Todos festeiros. Aí enchem o saco da gente perguntando “mas quem vai ficar dessa turma toda?”. Ora, eu sei que a gente vai ficar, sim, durinho no caixão. Todo mundo. Se querem a posteridade, fiquem com ela. Eu quero é o agora, o já. Por enquanto, está bem divertido. Quando não estiver, pulo fora, sem problemas.
LT – Por último, em que pé ficou a prometida antologia homoerótica Contos para Ler Fora do Armário? Será publicada em dois volumes? Por que uma demora tão grande para o projeto?
MF – O livro será publicado em um volume único. Vai sair só no ano que vem. Eu estou lançando o Rasif no dia 14 de agosto em São Paulo. Santiago Nazarian, que faz a antologia comigo, vai publicar livro novo também neste semestre. Resolvemos, em comum acordo, deixar a antologia gay para o ano que vem, em março. Numa boa. É bom que ela vai sair mais porreta do que estava. Estamos tendo novas idéias. Vai ser uma festa quando sair. Demoramos porque saiu uma antologia antes, lançada pelo Ruffato [Luiz Ruffato]. Aí houve uma polêmica. Mas eu estou cansado agora para comentá-la. O negócio é ir para frente. Sempre para frente. Que atrás não vem ninguém. Só o Chocottone [suposto namorado de Freire], é claro.
Fontes:
http://www.verbo21.com.br/
http://www.cronopios.com.br/
MARCELINO FREIRE diz que escreve para se vingar. Seu novo petardo, chama-se Rasif: Mar que Arrebenta, quarto livro de contos e o primeiro desde que ganhou o prêmio Jabuti. Nesta entrevista exclusiva para Verbo21, ele fala um pouco de seu passado com a Geração 90, a moda da literatura árabe, guerras, Movimento Armorial, Mangue Beat e outros quiprocós.
Lima Trindade – Você vem publicando contos com certa regularidade. De 2000 para cá, Rasif: Mar que Arrebenta é o seu quarto livro do gênero. Como costuma ser o seu processo de gestação de um novo trabalho? Você planeja tudo, se cobra horários ou trabalha de forma livre?
Marcelino Freire – Livro meu, pode verificar, eu publico de três em três anos. O Contos Negreiros, por exemplo, é de 2005. Entre um livro outro, faço outros projetos, me envolvo em baladas literárias [Freire criou o evento Balada Literária, que reúne todo ano mais de uma centena de escritores nacionais e internacionais pelas ruas do bairro paulistano da Vila Madalena] e antologias. Nesses três anos, escrevo um conto e outro, vou juntando material. Aí vejo o que há de comum neles, que linha os une. Qual temática eu quero provocar, sei lá. Escrevo, inclusive, alguns contos especialmente para o livro que eu imaginar. E, sobre como eu trabalho, é o mais desleixadamente possível. Não tenho horários, não bato ponto para a literatura. Escrevo quando estou com vontade. Fico guardando uma frase no meu juízo por um bom tempo. Aí escrevo a partir daquela frase que fiquei matutando. Uma vez, tentei anotar o que eu ia ouvindo, o que eu ia colhendo pelas ruas. Não deu certo. Eu perdia o caderninho. Senti que eu estava “burocatrizando” o cotidiano. Desisti. Agora deixo a frase ficar perdida na memória. Até eu encontrá-la de novo.
LT – Uma característica marcante dos seus textos, a meu ver, está na escolha em retratar um universo de párias, excluídos e marginalizados, sem, no entanto, reduzir essas personagens à questão da miserabilidade existencial. O que podemos esperar de Rasif? Há uma linha-mestra conduzindo os contos?
MF – Na verdade, não são temas escolhidos por mim. Não sei bem dizer. É a forma de eu enxergar. Esse mundo pobre, doente, em que vivemos, sobrevivemos. É o mundo que temos. E a minha literatura não consegue fugir disto. A minha literatura está afetada por isto. Eu queria muito tratar de outros assuntos. Mas, quando vejo, um personagem vem gritar no meu ouvido. Sangrar à minha porta. Eu costumo dizer que eu escrevo para me vingar. De uma saudade, de um governo, de uma família. Eu preciso exorcizar alguma coisa. Não consigo ser um escritor frígido. Adoraria, um dia, escrever uma história passada no Planeta Vermelho, por exemplo. Na Cochinchina. Aguardemos... No meu novo livro, o Rasif, é a vez das guerras. Particulares e nucleares. Sempre tem alguém fodendo alguém no meu novo livro. Algum conflito sendo travado. Eu quero que o leitor, ao pegar o Rasif, tenha a impressão de estar com o fim do mundo nas mãos. É um livro quente. Fervente. Sem contar, faço questão de ressaltar e louvar, as gravuras presentes no livro. Rapaz, está bem bonita a edição. Por causa, sobretudo, da participação de Manu Maltez [artista paulistano]. Meu livro vem com as gravuras apocalípticas do Manu. Cheias de corujas, anjos nus, asas e urubus. Valerá a pena conferir. Formamos nós dois uma duplinha demoníaca, você vai ver...
LT – O título (belíssimo) é também uma clara homenagem a Recife. De que modo a cidade aparece no livro? Há nele algum traço de evocação memorialística ou você traça outros caminhos?
MF – Sim. Há uma referência recifense. E pernambucana. O nome “Recife” vem de “Arrecife”. Mas ambas palavras vêm do árabe: “Rasif” e “Arrasif”. Gostei quando soube disto. Quem me contou foi a amiga Adrienne Myrtes [também escritora, autora do livro de contos “A Mulher e o Cavalo”]. Porque eu estava falando para ela que o meu próximo livro tinha homem-bomba, tinha Afeganistão, Cabul, Sertânia [a cidade em que Freire nasceu]. Aí ela me contou isto. Eu não sabia. Adorei. Sem contar que eu quero muito ganhar dinheiro com este livro. Os livros árabes não estão vendendo feito quibe? Pois eu tenho a minha Árabia própria e nada mais justo que eu ganhe uns trocados com ela. Eu também quero colocar a minha pipa para voar. Enfim. Eu quero fazer essa provocação. E me animei com estas ligações malucas. Descobri, por exemplo, que “ciranda” é uma palavra árabe. Aí fui lá na música da lenda-viva que é a cantora Lia de Itamaracá: “estava na beira da praia / ouvindo as pancadas das ondas do mar”. Isso. Pancadas, chutes, cuspes para todo lado. Aí lembrei também do Manuel Bandeira, “num torpedo-suicida / darei de bom grado a vida”. É isso aí. Meu livro quer explodir. E tem mais: meu livro tem um subtítulo, Mar que Arrebenta. O nome “Pernambuco” vem do tupi-guarani, que quer dizer “onde o mar arrebenta”. Então vai ser isto: um livro que se lasca, se arrebenta, se lança lá do alto. E acaba sendo também um livro sobre minha terra, de forma truncada. Um livro escrito por alguém que não está mais no seu lugar de origem. Que fala outra língua. Que se sente um estrangeiro, sempre. É um livro também que coloca a questão da língua que falamos. Se entendemos mesmo o que falamos e o que ouvimos, sei lá.
LT – Tenho a impressão que todos os seus contos nasceram para serem lidos em voz alta. Você os concebe com essa intenção?
MF – Eu escrevo em voz alta, sim. Gosto da palavra falada. Como lhe disse, escrevo a partir de uma primeira frase que ouvi por aí. Não tenho história para contar. Tenho um som para rimar. Vou construindo a história a partir de um mote. O que faço é música, costumo dizer. Embolada. E eu comecei a minha trajetória escrevendo para teatro. Gosto muito do teatro. Quando escrevo, imagino sempre um ator em cena. Eu penso muito nisso. Na palavra lançada, dita para ser ouvida. E eu leio e releio muito o que escrevo. Em voz alta, pela casa. Quando algo não está claro, o ouvido denuncia. E aí eu mudo, modifico o parágrafo. Eu adoro ler os meus contos em público. Ah! Nos livros, nunca chamo meus contos de contos. Sempre os chamo de cantos, de improvisos. Agora, no Rasif, eles são cirandas, cirandinhas. É assim que os contos do Rasif soaram para mim. Cirandas à beira do mar. E o mar arrebenta, grita. E o mar está morrendo. Mas, antes de morrer, ele vai matar muita gente. Já está matando, não vê?
LT – Contos Negreiros foi encenado, não? Alcançou êxito? É verdade que Rasif terá uma montagem simultânea ao lançamento do livro?
MF – Rapaz, essa história da encenação do Contos Negreiros começou na FLIP [Festa Literária Internacional de Parati] de 2005. A cantora Fabiana Cozza, minha amiga, estava fazendo um show na cidade. E aí resolvi dar uma canja lendo um dos meus contos. Deu supercerto. Daí, a gente pensou em um espetáculo juntos. E até hoje a gente se apresenta. Sempre que convidam a gente. Já fizemos no Recife, várias vezes em São Paulo. Em Salvador, pelo interior, etc. E o espetáculo ganhou a participação do maravilhoso cantor baiano Aloísio Menezes, que você bem conhece. Lotamos a casa várias vezes aqui em São Paulo. E o Rasif – Mar que Arrebenta ganhou uma peça homônima, sim. Estreia lá no Recife no dia 30 de agosto. É com o mesmo grupo que encenou o Angu de Sangue [livro de contos publicado em 2000]. A montagem do Angu foi muito premiada e elogiada por onde passou. Os atores são muito bons [um deles é a atriz Hermila Guedes, premiada pelo filme “O Céu de Suely”]. Causaram grande impressão no ano passado no Festival de Curitiba. É uma turma da pesada. Estou supercurioso para ver o que eles aprontaram com os meus contos sobre o final dos tempos. Ah! Também tem o ator e dançarinho recifense Kleber Lourenço, que encenou o Contos Negreiros. Brilhante, brilhante. Eu fico feliz pra caralho quando vejo meu trabalho encenado. É uma forma de eu voltar aos palcos. Eu que sempre quis ser ator. Fico, neste caso, menos frustrado...
LT – Quando morou em Recife, chegou a travar conhecimento com o pessoal do Movimento Armorial? Como você avalia a importância dessa expressão artística para a contemporaneidade?
MF – Coincidentemente, na semana passada, a convite de Antonio Nóbrega, eu fui participar da homenagem que fizeram a ele aqui em São Paulo. Fui um dos oradores do evento. O cabra ganhou o título de Cidadão Paulistano, heróica e merecidamente. Nóbrega é a única ligação, indireta, que eu tenho com o Movimento Armorial. Meu primo, Wilson Freire, é parceiro do Nóbrega faz tempo. Também já estive algumas vezes com o Ariano [Suassuna]. Eu gosto mais do Nóbrega e do Ariano onde eles são mais universais. Não importa o som e a palavra que criam. Não gosto muito dessa coisa “radical”, purista, digamos. Acho um saco toda aquela discussão armorial, raízes da terra, coco genuíno, sei lá. Tenho preguiça. Embora ache divertido o discurso do Ariano. Por exemplo, quando ele fala mal do Michael Jackson. Hilário! Mas não acho graça quando, de alguma forma, alguns artistas do Recife são escanteados por lá se pensam, digamos, mais “desarmorial”. Conhece o poeta Jomard Muniz de Brito? Ele está com 70 anos e foi quem conseguiu peitar essa “ditadura armorial” no Recife. Jomard foi quem inventou o Tropicalismo, sabia? Foi conversando com o Jomard que Gilberto Gil teve a idéia tropicalista. Mas enfim. Também acho meio sacal essa coisa do Tropicalismo, Gosto mais das bananas do que da Carmen Miranda. Ah! Mas vamos mudar de assunto...
LT – E o Mangue Beat, você curte? Tem preferência por gêneros musicais? Costuma escrever ouvindo música?
MF – Não consigo escrever ouvindo música. Atrapalha-me qualquer ruído que não seja o da palavra. Eu tenho a concentração problemática. Nunca faço duas coisas ao mesmo tempo. Cagar e ler é o máximo que faço. Sobre o Mangue Beat, adoro, cabra. Festejei a chegada do Chico Science. Lembro quando ele chegou à cena no Recife. Demorou uns dez anos para estourar no Brasil. Aquela vitalidade, aquela lado caranguejo. Tomado emprestado de João Cabral de Melo Neto, de Josué de Castro. Gostava e gosto disto. Uma vez, me chamaram de “Chico Science da Literatura”. Fui ao delírio. Foi o máximo. Fiquei superarrasado com a morte do Chico. Eu teria cruzado com ele, com certeza, aqui em São Paulo. Uma pena! Sou amigo de vários companheiros dele, que continuam compondo, produzindo. E lembra como o lado armorial do Ariano caiu em cima do Chico, à época? É isso o que eu falo: há um patrulhamento que me irrita. Porém, acho que agora isso está mais calmo pelas bandas de lá. O Mangue Beat tratou de calar um pouco esse exagero feito de barro-barroco, sei lá.
LT – Recebeu estímulo artístico na casa da sua infância? Lembra do primeiro livro lido?
MF – O estímulo foi o silêncio. Explico: minha família não ficava enchendo o meu saco, perguntando demais o que eu fazia. Eu me trancava no quarto para ler Manuel Bandeira e eles me deixavam “morrer” por lá. Uma vez ou outra, minha mãe perguntava se eu estava bem, se não estava doente, enfim. Mas era mais preocupação do que censura. E eu tinha facilidade para leitura, para a escritura. Aí eu escrevia as cartas para a família inteira. E era eu quem lia as bulas de remédio. Muito pequeno, com nove anos, resolvi fazer teatro na escola. Minha mãe não sabia bem do que se tratava. Mas deixou. E ela ia ver as peças, toda entusiasmada, toda orgulhosa. Foi no teatro que tomei contato, pela primeira vez, com o texto criativo. E foi lá que conheci a atriz Ilza Cavalcanti, já falecida. Foi ela quem primeiro me deu fôlego. Quem me disse para eu continuar a escrever. Falou que eu tinha futuro, digamos. Não tenho do que reclamar. Eu me enchia de ânimo. E sempre segui à revelia. Nem adiantava a família ser contra, tenho certeza de que continuaria a fazer o que eu queria. Meu primeiro livro lido foi o Estrela da Vida Inteira, do Bandeira. O primeiro livro em prosa foi o romance São Bernardo, de Graciliano Ramos.
LT – E quando pensou seriamente na possibilidade de ser um escritor pela primeira vez? Já morava em São Paulo?
MF – Eu só vim, na verdade, me tocar para isto, seriamente e verdadeiramente, quando conheci, em São Paulo, o crítico literário João Alexandre Barbosa. Foi ele quem me disse que o meu Angu tinha tempero. Conheceu o meu livro, indicou-me para publicação na Ateliê Editorial, assinou o prefácio do Angu de Sangue, publicou este prefácio na revista Cult. Sem contar as conversas demoradas que tínhamos. Ele me chamou a atenção para a feitura de um livro, a organização, o jeito, a força que um livro deve ter, sei lá. Outro que também me alertou foi o poeta mato-grossense Manoel de Barros. Leu uns contos meus, me chamou a um canto da sua casa, em Campo Grande, e falou: “você está fodido. Você é um escritor”. Isso foi sintomático para mim. Vi que a coisa não era brincadeira. Aí comecei a prestar mais atenção. E a me foder de vez.
LT – E seu contato com a Geração 90? Guarda alguma lembrança saudosa desse tempo? Imaginava que fossem chegar aonde chegaram (muitos em grandes editoras, recebendo prêmios, etc.)?
MF – Engraçada esta pergunta. Por causa do adjetivo “saudoso”. Por causa do “chegar aonde chegaram”. Sempre digo que estou construindo ainda um trabalho. E estou muito novo ainda para sentir saudades, digamos, tão grandes. Claro que tenho idéia do caminho que foi trilhado, mas há ainda muita coisa para fazer. Não posso me sentir realizado completamente. Sempre alguém chega e me fala: “você agora é um Jabuti”. Mas eu não posso me sentir um Jabuti. Nunca. Repito: estou ainda trilhando, arregaçando o cabaço. E preciso escrever muito. Escrever, escrever. Vejo alguns poucos companheiros desta “Geração” já falando cheio de boçalidade. Dá-me nos nervos. O que esse cara pensa que é? Em um país como o nosso. O cara acredita que é o dono-da-cocada. Meu Cristo! Não estou aqui querendo posar de humilde. Mas jamais posarei de rei. Argh! O melhor é a cerveja que bebo hoje. Se aprendi a beber cerveja, foi com essa “Geração”. Eu já bebia algumas, mas não o tanto que bebo agora. E olha: foi fundamental o trabalho que fez o Nelson de Oliveira quando organizou as duas antologias da Geração 90. Somos estudados aqui dentro e fora do país. Foi a porta de entrada, sim. Mas essas antologias não fizeram de ninguém escritor. Cada um que continuasse a acreditar. Escrever, escrever. E nunca perder o foco. Comparo a vida literária a futebol americano. É o cara com aquela bola dura na mão, correndo em direção a não-sei-onde. Empurram os ombros dele, dão porradas no seu capacete, mas ele não perde o foco. Agarrado à bola dura. Sigamos, sigamos.
LT – Acredita ser ainda possível hoje o aparecimento de escritores como Dalton Trevisan, distanciados do público e encarando o ofício da escrita como reclusão irrestrita?
MF – Eu não conseguiria. Adoraria ficar trancado em casa, mas sempre batem à nossa porta: via internet, via correios, por telefone. Antes de eu escrever um conto, tenho de checar os e-mails, escrever no blog [www.eraodito.blogspot.com]. Esse isolamento eu não consigo mais. Até porque essa história de autor em redoma me cansa um pouco. Acho o Dalton genial, genial! Já travei uns contatos com ele. Dalton está no tempo dele, fiel ao seu esconderijo. Nesse sentido, estou fodido. Isolo-me, sim, na hora da criação. Mas, na hora de o livro sair, eu quero berrar para o mundo a cria que eu pus na roda, ora. E eu gosto dessa circulação. De ver pessoas, de beber. Se estou em casa, escrevendo um conto, e toca o telefone e é o Joca [Reiners Terron], o Xico Sá me chamando para beber, eu largo o conto e vou beber. Mais importante que escrever é beber. Escritor em redoma, sempre falo, só serve para peidar. Eu é que não vou ficar cheirando sozinho o meu peido. Vou compartilhá-lo com os amigos. Se é para feder, que fedamos todos juntos, pode crer.
LT – Seu olhar nunca esteve reduzido exclusivamente ao eixo Rio-São Paulo, mas, de certa forma, basta ler o seu blog para constatar isso, você parece estar sempre em contato com escritores periféricos dos lugares mais diversos. Como você julga que está o Brasil em termos de produção literária?
MF – Gosto desta movimentação toda. Gosto de fazer parte dela. Sem culpas. Aí dizem que eu devia parar um pouquinho. Parar para morrer? Porra! Gosto deste furação o tempo inteiro. De saber o que anda acontecendo. Gosto de conhecer novos escritores. É claro que, um dia, vou precisar descansar um pouco. A idade não vai deixar meu juízo se movimentar tanto. Enquanto isto, estou aproveitando a putaria que aí está. Acho que sempre foi assim. Mesmo os escritores hoje recolhidos faziam parte de uma agitação medonha. Sem contar a turma que se reunia em torno de Vinicius de Moraes, por exemplo. Todos festeiros. Aí enchem o saco da gente perguntando “mas quem vai ficar dessa turma toda?”. Ora, eu sei que a gente vai ficar, sim, durinho no caixão. Todo mundo. Se querem a posteridade, fiquem com ela. Eu quero é o agora, o já. Por enquanto, está bem divertido. Quando não estiver, pulo fora, sem problemas.
LT – Por último, em que pé ficou a prometida antologia homoerótica Contos para Ler Fora do Armário? Será publicada em dois volumes? Por que uma demora tão grande para o projeto?
MF – O livro será publicado em um volume único. Vai sair só no ano que vem. Eu estou lançando o Rasif no dia 14 de agosto em São Paulo. Santiago Nazarian, que faz a antologia comigo, vai publicar livro novo também neste semestre. Resolvemos, em comum acordo, deixar a antologia gay para o ano que vem, em março. Numa boa. É bom que ela vai sair mais porreta do que estava. Estamos tendo novas idéias. Vai ser uma festa quando sair. Demoramos porque saiu uma antologia antes, lançada pelo Ruffato [Luiz Ruffato]. Aí houve uma polêmica. Mas eu estou cansado agora para comentá-la. O negócio é ir para frente. Sempre para frente. Que atrás não vem ninguém. Só o Chocottone [suposto namorado de Freire], é claro.
Fontes:
http://www.verbo21.com.br/
http://www.cronopios.com.br/
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