Da minha janela
Da minha janela vejo a ponta da Catedral. Já passei por tantas janelas, mas tenho a sorte ou a graça de Deus de sempre vislumbrar parte deste Sputinik de concreto. Hoje, cá onde me encontro, só vejo a cruz. Este símbolo católico me persegue e a cada dia o defino de uma maneira. Já me rebelei com a ostentação e já me emocionei com a fé construtora desta comunidade.
Fiz da Catedral a representação maior do meu amor por Maringá. E, como contraponto, ao ver esta imponente armação de cimento, me culpo por não buscar novos caminhos.
Os anos passam e estes pensamentos antagônicos estão comigo. Tantas janelas, ângulos, olhares. Importantes e parcas vitórias, derrotas providenciais e uma luta diária igual a muitas outras de muitos outros. Um céu de paradoxos me invade.
Meus olhos já não enxergam tanto como antes, mas hoje me atenho mais a detalhes. Os horizontes ainda estão lá. A cidade cresceu e pela minha janela não posso descortinar tantas possibilidades. Mas elas ainda existem. Penso em aumentar meu campo de visão, mas esta paisagem encanta, conforta e acomoda. Dia, noite, sol, néon, roncos, silêncio, chuva, grama, asfalto, árvores, flores, carros, casas, muros, placas. Tudo confusamente ordenado. Uma natureza feliz com a invasão.
Da minha janela vejo a ponta da Catedral, os prédios, o verde. Vejo uma cidade que buzina, acelera, avança. Cidade clara e obscura. Planejamento, estética, beleza física. Cidade desorganizada de idéias e objetivos, o espírito coronelista ainda a rondá-la, resquícios da ”fazendola iluminada”, expressão utilizada nos anos 70 para chamá-la de provinciana. Maringá canção, artística, pólo, vigorosa. Da minha janela vejo Maringá com mil olhos sem saber quais são verdadeiros.
Da minha janela vejo gente que nasce e morre, ri da vida e chora pela morte, comemora e sofre, conta vantagens e percalços. Gente que ama e odeia, que sonha e tem os pés no chão. Gente do bem e do mal. Gente nem tão boa e nem tão má assim. Gente que me completa e me esvazia, que me faz ser doce e amargo, sereno e turbulento.
Da minha janela vejo esta vida passar como deve ser, na essência, a paisagem de todas as janelas de todos os lugares. Concluo que aqui ou em qualquer outro “lá” não intensificaria ou reduziria minhas emoções. Posso ter outros campos de visão, mas o eu que me leva não vai me deixar porque os mil olhos vão estar sempre atentos. Seja onde for, o antagônico e o paradoxo vão estar comigo. Vai sempre existir a ponta de uma Catedral.
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Da minha janela vejo a ponta da Catedral. Já passei por tantas janelas, mas tenho a sorte ou a graça de Deus de sempre vislumbrar parte deste Sputinik de concreto. Hoje, cá onde me encontro, só vejo a cruz. Este símbolo católico me persegue e a cada dia o defino de uma maneira. Já me rebelei com a ostentação e já me emocionei com a fé construtora desta comunidade.
Fiz da Catedral a representação maior do meu amor por Maringá. E, como contraponto, ao ver esta imponente armação de cimento, me culpo por não buscar novos caminhos.
Os anos passam e estes pensamentos antagônicos estão comigo. Tantas janelas, ângulos, olhares. Importantes e parcas vitórias, derrotas providenciais e uma luta diária igual a muitas outras de muitos outros. Um céu de paradoxos me invade.
Meus olhos já não enxergam tanto como antes, mas hoje me atenho mais a detalhes. Os horizontes ainda estão lá. A cidade cresceu e pela minha janela não posso descortinar tantas possibilidades. Mas elas ainda existem. Penso em aumentar meu campo de visão, mas esta paisagem encanta, conforta e acomoda. Dia, noite, sol, néon, roncos, silêncio, chuva, grama, asfalto, árvores, flores, carros, casas, muros, placas. Tudo confusamente ordenado. Uma natureza feliz com a invasão.
Da minha janela vejo a ponta da Catedral, os prédios, o verde. Vejo uma cidade que buzina, acelera, avança. Cidade clara e obscura. Planejamento, estética, beleza física. Cidade desorganizada de idéias e objetivos, o espírito coronelista ainda a rondá-la, resquícios da ”fazendola iluminada”, expressão utilizada nos anos 70 para chamá-la de provinciana. Maringá canção, artística, pólo, vigorosa. Da minha janela vejo Maringá com mil olhos sem saber quais são verdadeiros.
Da minha janela vejo gente que nasce e morre, ri da vida e chora pela morte, comemora e sofre, conta vantagens e percalços. Gente que ama e odeia, que sonha e tem os pés no chão. Gente do bem e do mal. Gente nem tão boa e nem tão má assim. Gente que me completa e me esvazia, que me faz ser doce e amargo, sereno e turbulento.
Da minha janela vejo esta vida passar como deve ser, na essência, a paisagem de todas as janelas de todos os lugares. Concluo que aqui ou em qualquer outro “lá” não intensificaria ou reduziria minhas emoções. Posso ter outros campos de visão, mas o eu que me leva não vai me deixar porque os mil olhos vão estar sempre atentos. Seja onde for, o antagônico e o paradoxo vão estar comigo. Vai sempre existir a ponta de uma Catedral.
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Escrever é viver
Escrever é tortura e terapia, trabalho e divertimento, sofrimento e comemoração. É a vontade de mostrar a alma e expor as idéias. Escrever é poetar, declarar, orar, protestar e sonhar.
Escrever é participar, interferir, informar, comentar, repensar, apontar alternativas, ousar, facilitar e complicar. É vagar, descompromissar-se do estabelecido tendo a vontade como compromisso. É querer ser livre, ordenando as palavras de modo que elas levem a mensagem. Formas e estilos variados de enviá-las.
Escrever é marcar posição, é sentir-se inserido, responsável e útil. É tirar pensamentos dispersos e discipliná-los no papel. É fotocopiar frases do coração. O som das teclas é a alma em ebulição despejando letras.
A razão nem sempre está em primeiro lugar. Nem poderia. Desprendimento nem sempre combina com racionalidade. E como é salutar sufocar a razão de vez em quando e deixar a emoção comandar!
Escrever é destilar prazer, buscar no âmago a idéia, fazendo a criação a partir da primeira palavra, exteriorizar esta idéia. Tirá-la da prancheta da mente. Um dolorido e feliz parto. Parir o pensamento e entregá-lo ao mundo.
Escrever é desligar-se deste mundo para nele se concentrar. É concretizar o abstrato, materialização de influências e experiências. Escrever é arte, profissão, passatempo e desabafo.
É a catarse, a devolução da pressão e repressão acumuladas diariamente. É escapismo e engajamento. Tudo ao mesmo tempo. Quem escreve é egoísta e narcisista, mas também é tímido e solitário. É o companheiro que quer estender o seu raio de ação e entende que a escrita é a melhor maneira de atingir a meta.
Escrever é um ato de amor e de coragem. É a divertida tortura que leva ao prazer. É o sofrido trabalho sinônimo de terapia. Escrever é viver.
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Amor em cada esquina
Viver é exercitar o amor nas suas mais variadas formas e buscar em cada uma a sua plenitude. Encontre o amor na mulher que abre corpo e alma para seu homem, que por sua vez o devolve na mesma medida, e na primeira visão do pai para o filho ainda envolto no cordão umbilical.
Encontre o amor na velha que conduz a colher à boca do netinho, no velho pai que abraça o filho moço, nas crianças que brincam como se o mundo fosse uma eterna infância. Encontre o amor na mãe que embala o seu bebê, na mãe que se desespera nas madrugadas tendo como cenário o quarto vazio. E naquela que chora com a filha a reprise do sofrimento.
O amor na vida que chega e o amor que fica, deixado por quem entrou em nova dimensão. Encontre o amor nas mãos que trocam adeus ou nos abraços efusivos da chegada. No beijo demorado do casal que sonha. No homem de preto que diz sim à mulher de branco e vice-versa, enquanto todos dizem amém. E com a mão direita, um homem de bata traça uma cruz imaginária abençoando o amor.
Nos cárceres, tente encontrar o amor. Nas lágrimas de saudade e junto daqueles que querem libertar a alma. Encontre o amor nos cartazes de fé, nas bíblias manchadas e nos rostos clementes. Ele vai estar na mão estendida, no pão repartido, na família reunida para comemorações ou lamento. No brinde e no choro. Entre paredes ou na natureza, encontre o amor.
Encontre o amor na solidão dos santuários e no burburinho da multidão nas ruas, nas flores que se abrem e nos pássaros a flanar. Na beleza, no perfume e no canto, o amor vai estar presente. Encontre o amor no coração, gestos e pensamentos, na visão positiva diante da vida, na força de lutar, na noite que vem e no dia que se abre. Encontre o amor. Deus vai estar lá.
Fontes:
TV Clipping Maringá . http://www.tvcm.com.br/
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