domingo, 15 de junho de 2025

José Feldman (Os Rabugentos na Feira)


Numa manhã de sábado, Arlindo e Eulália estavam se preparando para uma missão: ir à feira..

— Olha só, Eulália! — começou Arlindo, ajustando seu chapéu. — Eu não quero saber de ir nessa feira lotada. Esses jovens estão cada vez mais insuportáveis!

— Insuportáveis? — Eulália respondeu, com um sorriso irônico. — E você, Arlindo, não é bem o exemplo de paciência! Lembra da última vez que você quase brigou com aquele feirante por causa de um tomate?

— O tomate estava muito caro! — Arlindo defendeu-se. — E eu não sou de brigar, só defendo meu direito de consumidor!

— Direito de consumidor? Você só queria um tomate maduro! — Eulália riu. — Vem cá, vamos logo antes que a feira fique mais cheia!

Os dois começaram a caminhar em direção à feira, e logo se depararam com a agitação do local. Gente falando alto, crianças correndo e o cheiro de frutas frescas no ar.

— Olha isso! — Arlindo exclamou, passando pela barraca de verduras. — Esses alfaces parecem mais murchos que a sogra do Vicente!

— E você acha que o seu cabelo está mais saudável? — Eulália provocou. — Olha que você está parecendo um pé de alface também!

Arlindo fez uma careta. — A diferença é que eu não quero ser uma salada!

— Pode crer! — Eulália respondeu, piscando. — Mas você é mais fácil de temperar!

Chegando à barraca de frutas, Arlindo olhou para as maçãs e disse: — Olha só, essas maçãs estão mais feias que um filme de terror! E o preço? Um assalto!

— Ah, mas você já viu a sua cara de manhã? — Eulália riu. — Essa maçã é um luxo comparado a você!

— Luxo é um exagero! — Arlindo respondeu, balançando a cabeça. — E quem é que coloca preço em fruta? Deveriam fazer uma promoção: “Compre uma, leve outra de graça!”

— E você acha que o feirante vai querer dar maçã de graça para a sua cara amarrada? — Eulália perguntou, com um sorriso maroto.

— Quem não gostaria? — Arlindo disse, fazendo um gesto exagerado. — “Olha, o famoso Arlindo está aqui! Vamos dar maçãs de graça!”

— E o que você faria com tantas maçãs? — Eulália perguntou. — Fazer uma torta e convidar a vizinhança? Você não sabe nem fritar um ovo!

— Fritar um ovo? — Arlindo fez uma expressão de indignação. — Eu sou um chef na cozinha! Olha, eu até sei fazer mingau!

— Ah, mingau! — Eulália exclamou. — Você quer dizer aquela coisa que parece mais uma massa de modelar? Nunca vi alguém queimar mingau!

— Não queimei! Ele só ficou um pouco... mais consistente! — Arlindo tentou se defender, mas não conseguiu convencer.

Continuando a caminhada, passaram pela barraca de peixes. O cheiro era forte, e Arlindo fez uma careta.

— Ih, Eulália, isso aqui está cheirando mais que o pé do Aparecido! — disse ele, tapando o nariz.

— E você, que não se importa com nada, já está acostumado com esse cheiro! — Eulália respondeu, rindo. — Se bem que o pé do Aparecido é uma experiência única!

— Única como sua habilidade de reclamar! — Arlindo retorquiu. — Você sempre acha um jeito de tornar a vida mais interessante!

— E você, Arlindo, é o rei da reclamação! — Eulália disse, com um sorriso. — Se não fosse por você, eu não saberia o que é uma feira!

— Ah, você me ama, não me negue! — Arlindo provocou. — Vou até me sentir especial agora!

— Especial? Você é um rabugento especial! — Eulália respondeu, rindo. — Vamos, vamos acabar nossas compras!

Finalmente, chegaram à barraca de queijos. Arlindo olhou para os preços e começou a reclamar novamente.

— Olha só, Eulália! Isso aqui é um assalto! Um queijo que custa mais do que meu último par de sapatos!

— E quem foi que disse que você tem um bom gosto para sapatos? — Eulália disparou.

— Boa, Eulália! — Arlindo respondeu, levantando a mão em sinal de rendição. — Você venceu! Vamos levar um queijo, mas só se for o mais barato!

— Combinado! — Eulália disse, com um sorriso. — E eu vou escolher, porque você só sabe escolher alfaces murchas!

Com uma sacola cheia de compras, os dois rabugentos deixaram a feira, prontos para enfrentar mais um dia com suas discussões. Afinal, a amizade era a melhor compra que podiam fazer.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, trovador, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, Alba Krishna, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul e Gralha Azul Trovadoresca. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou de sua autoria 4 ebooks. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

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