Poema de
WASHINGTON DANIEL GOROSITO PÉREZ
Irapuato, Guanajuato, México
Pesadelo
Luz plana,
você espalha sua sombra contida,
pedaços de jornais,
junta marés de objetos inúteis
que o vento recicla amorosamente.
Intrincado labirinto urbano.
É noite,
está ficando tarde,
as pessoas se dispersam.
Os prédios se fortalecem,
grandes formas caminham em direção ao céu,
cobertas pela enorme escuridão.
O tempo desliza
no silêncio da noite.
Lá, onde a eternidade afunda
sem deixar rastros,
apenas fragmentos de imagens.
Cascos de navios emergem da névoa turva,
naufragados sem terra.
Grandes luas e
céus nublados passarão.
Sóis com olhos insones,
não despertarão o homem
do pesadelo de caminhar
à deriva.
(tradução do espanhol por José Feldman)
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Trova de
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG
Nosso motel não tem cama,
mas tem rede ... Vão topar?
E o jovem casal exclama:
- Nós não viemos pescar...
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Soneto de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP
Felicidade
Ela veio bater à minha porta
e falou-me, a sorrir, subindo a escada:
"Bom dia, árvore velha e desfolhada!"
E eu respondi: "Bom dia, folha morta!"
Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia (quando, pouco importa!)
houve canções na ramaria torta
e houve bandos de noivos pela estrada...
Então, chamou-me e disse: "Vou-me embora!
Sou a Felicidade! Vive agora
da lembrança do muito que te fiz!"
E foi assim que, em plena primavera,
só quando ela partiu, contou quem era...
E nunca mais eu me senti feliz!
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Trova Premiada de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Que bom seria um enlace
entre a mente e o coração:
o que a gente desejasse
também quisesse a razão!
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Poema de
LUIZ EDUARDO CAMINHA
Florianópolis/SC, 1951 – 2015, Blumenau/SC
Imprecisões
Quem sou eu,
este ser inerme,
que faz da voz,
arma contusa?
Quem sou eu,
este ser inerte,
que mexe, remexe,
látego impiedoso?
Quem sou, afinal,
este ser sereno,
que num ímpeto se faz,
irascível mordaz.
Oh, cruel, inominado e controverso ser,
Verso, reverso, homo erraticus et perdidit!
Acaso uma criatura?
Erro da Criação,
insigne animal,
pedestal de areia?
Quiçá um dia,
de tanto me procurar,
alcance, almejo,
lugar pra descansar.
Desta busca infindável,
deste contínuo rebuscar.
Neste dia, quiçá, porvir,
Deus se ponha a me perdoar.
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Haicai de
MÁRIO ZAMATARO
Curitiba/PR
Lua
Perto do horizonte,
a grande lua amarela…
e o vento parado.
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Poema de
ANTÓNIO BOTTO
Concavada/Abrantes/Portugal, 1897 – 1959, Rio de Janeiro/RJ
A Julieta do Beco das Cruzes
Aos arrancos, lá vai ela
Despedir-se do amante
Nesta manhã de Janeiro!
Coitada, morre por ele!
- Foi o seu primeiro amor
E será o derradeiro.
Todas as tardes, risonha,
Ela falava com ele
Num beco escuro de Alfama.
Era ali que ela morava;
- Até que uma noite foram
Pernoitar na mesma cama.
Estou a vê-la!, cingida
Ao corpo delgado e quente
Desse esbelto carpinteiro!
E vejo-a, dias depois,
nervosa, afastar-se dele
Chamando-lhe: trapaceiro.
Mais tarde ia procurá-lo
À oficina e chorosa
Seguia-o sem que ele a visse;
E naquela perdição
Adoeceu porque um dia
Com outra o viu, - mas, sorriu-se...
Soube-lhe bem ser «mulher»
Do homem que apenas teve
Um desejo passageiro!
Mas, agora, - cruel preço!
Dos olhos fez duas fontes
E do amor um cativeiro.
Adoeceu gravemente.
Nunca mais saiu à rua,
Sempre a tossir e a sofrer...
E era a mãe que, mendigando,
De porta em porta arranjava
Qualquer coisa pra viver.
Hoje, constou-lhe que a Guerra
O chamara para as linhas
Do combate, - e combalida,
Vai ao embarque levar-lhe
No silêncio de um olhar
Os restos da sua vida.
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Poema de
DIOGO BERNARDES
Ponte da Barca/Portugal, 1530 – c.1605, Lisboa/Portugal
Já não posso ser contente
Já não posso ser contente,
Tenho a esperança perdida,
Ando perdido entre a gente,
Nem morro, nem tenho vida.
Prazeres que tenho visto
Onde se foram, que é deles,
Fora-se a vida com eles
Não me a vira agora nisto,
Vejo-me andar entre a gente
Como coisa esquecida,
Eu triste, outrem contente,
Eu sem vida, outrem com vida.
Vieram os desenganos,
Acabaram os receios;
Agora choro meus danos,
E mais choro bens alheios;
Passou o tempo contente,
E passou tão de corrida,
Que me deixou entre a gente
Sem esperança de vida.
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Aldravia de
FLÁVIA GUIOMAR FERREIRA DA SILVA ROHDT
Anastácio/MS
chamou-me
lua
desde
então
tenho
fases
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Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS ,1923 – 2009, Joaçaba/SC
Soneto alexandrino
Se queres praticar soneto alexandrino,
esquece do relógio em primeiro lugar.
É uma composição, que por não ser vulgar
põe rimas de cetim em versos de ouro fino.
Elegância ao dizer… Luzir de sol a pino…
Sonoras locuções num alto patamar…
Um verso a colorir o verbo “conjugar”
usando tons sutis, de beijos sem destino.
Quando ele escolhe “amor” por núcleo do poema,
“saudade” passa a ser um mero estratagema
que o engenho em si dispõe para aquecer as almas.
E, sendo alexandrino, adquire um tal conceito,
que a nossa língua o faz artístico e perfeito.
Para um soneto assim… até Deus bate palmas!…
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Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG
A Natureza retrata
seus pendores imanentes:
no verde calmo da mata,
na limpidez das correntes.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
Intuição
Enquanto meu eco
levita com sutileza
sobre os corrimões,
ouço sons, talvez meras ilusões
que emaranhados entre os vãos,
tentam livrar-se de seus grilhões.
Fitando um soalho bem cuidado,
sinto vida em outras dimensões.
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Sextilha de
DELCY CANALLES
Osório/RS, 1931 – ????, Porto Alegre/RS
O amor, em verdade, encerra
o verdadeiro viver!
Quem ama e se faz amado,
sabe, ao outro, compreender
e vive uma vida plena,
num contínuo renascer!
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Soneto de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937
Beijos no Ar
No silêncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrância feminina assoma
e tentadoramente me desperta.
Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.
De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnólia em flor, em fevereiro,
se exala esse cálido desejo?
Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Longe dos meus campos,
das outonais primaveras,
não há pirilampos!
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
(Verso de José Barreto)
Sinto o sangue gelar-se-me nas veias
Quando no peito morre uma esperança
Ou se solta um cabelo de uma trança
Onde o ouro brilhava sem ter peias;
E quando a luz que havia nas ideias
Se extingue sem deixar qualquer herança
Que no futuro seja uma lembrança
Dos povos que cantaram epopeias.
E o meu corpo minado pelo frio
Ganha a dureza gélida de um rio
A que os polos dão alma de glaciar.
Sou branca massa de água deslizando
Que sobre um mar de mágoa abominando
Onde eu não sou capaz de me afogar.
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Soneto de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Spinoza
Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante ideia.
E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.
Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas
Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.
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Poema de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Espera
É na tua ausência que desfolho tristezas
e acaricio lembranças.
É nas horas de solidão
que ganho asas, te bebo e te navego.
Nos meus sonhos te encontro rarefeito,
envolto na volátil presença da noite que te engole.
O sonho passa, mas meu corpo refeito
é um profundo oceano à espera das tuas redes.
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
Aceitação
É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas,
nem as formas do mar, nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
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Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e mal amar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
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Soneto de
LAÉRCIO BORSATO
Poços de Caldas/MG
A orquídea
Na entrada da casa, a orquídea abriu
Seu vasto sorriso, lilás e amarelo.
O verde das folhas também aderiu,
Esbanjando um quadro, nobre e mui belo!
Da sacada eu contemplo de perfil
Essa obra que Deus. De modo singelo,
Mormente nos recantos de meu Brasil,
Faz da graça e da beleza um forte elo!
Quem passar por ali sentirá a candura
Dessa flor, que com delicadeza pura,
Indelével toca o coração humano...
Nesse meditar a minha alma cogita.
Meu ser acende, se rende e acredita,
Isso só é possível, com o toque soberano!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Havia à noite um poema:
as luzinhas em cardumes...
Hoje sequer no cinema
pisca-piscam vaga-lumes.
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Quadra Popular
AUTOR ANÔNIMO
Saudade consumidora,
eterna sócia de amor,
serás minha companheira,
irás comigo onde eu for.
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Soneto de
PATATIVA DO ASSARÉ
(Antonio Gonçalves da Silva)
Assaré/CE, 1909 – 2002
O burro
Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.
Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.
Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,
É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.
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Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
Perdão no amor que se apruma
sem guardar mágoas, constrói.
É flor que enfeita e perfuma
as mãos de quem o destrói.
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Décima de
ÚRSULA A. VAIRO MAIA
Belo Horizonte/MG
Mulher-peixe
Um segredo quero contar
Muitos pensam em mim
Como uma habitante plena do mar
Sou mulher-peixe a suspirar
Durante o dia me ponho a nadar
Ao cair da noite, me banho ao luar
Tenho a lua e o mar como habitat
Sou do dia, sou da noite
Sou do mar , sou do luar
Sou de quem, em sonhos , me desejar
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Poema de
BENJÚNIOR
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)
Porto União/SC
Canção guerreira
Quero fazer uma canção triste
que seja como vento ligeiro...
Uma canção para o povo
como um canto de esperança!
Quero fazer uma canção guerreira
que luta para que voltem à vida
aqueles que declararam sua guerra!
Quero fazer uma canção para
animar os que caem...
Quero fazer uma canção de amor
que seja a de todos os tempos
e para sempre...
E que todos se levantem
e levantem suas bandeiras,
acima de seus corpos e cabeças;
levando todos os sonhos,
a todos os povos da terra
que vivem, amam e sofrem
e ainda esperam
uma canção guerreira…
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal
Paz
Vem de dentro para fora
caminho seguro de pés descalços
imune aos cardos crescendo descontrolados
Sábio silêncio do homem que não cala a voz
isolado de guerras inúteis
ecos de palavras ocas
Nobre missão em cruzada atemporal
na luta sem decreto nem cartel
contra o inimigo invisível e cruel
Tecida pelos mais alvos fios solidários
jardim cultivo de amor e justiça, onde
nardos de esperança florescem no mais pleno viço
Só na presença da tua asa suprema
se tranquiliza da desordem o meu coração.
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Glosa* de
ANTÓNIO ALEIXO
Vila Real de Santo António/Portugal, 1899 — 1949, Loulé/Portugal
Onde nasceu a ciência e o juízo
MOTE
Onde nasceu a ciência?…
Onde nasceu o juízo?…
Calculo que ninguém tem
Tudo quanto lhe é preciso!
GLOSA
Onde nasceu o autor
Com forças pra trabalhar
E fazer a terra dar
As plantas de toda a cor?
Onde nasceu tal valor?…
Seria uma força imensa
E há muita gente que pensa
Que o poder nos vem de Cristo;
Mas antes de tudo isto,
Onde nasceu a ciência?…
De onde nasceu o saber?…
Do homem, naturalmente.
Mas quem gerou tal vivente
Sem no mundo nada haver?
Gostava de conhecer
Quem é que formou o piso
Que a todos nós é preciso
Até o mundo ter fim…
Não há quem me diga a mim
Onde nasceu o juízo?…
Sei que há homens educados
Que tiveram muito estudo.
Mas esses não sabem tudo,
Também vivem enganados;
Depois dos dias contados
Morrem quando a morte vem.
Há muito quem se entretém
A ler um bom dicionário…
Mas tudo o que é necessário
Calculo que ninguém tem.
Ao primeiro homem sabido,
Quem foi que lhe deu lições
Pra ter habilitações
E ser assim instruído?…
Quem não estiver convencido
Concorde com este aviso:
— Eu nunca desvalorizo
Aquele que saber não tem,
Porque não nasceu ninguém
Com tudo quanto é preciso!
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* Glosa, estrofe onde é recuperado e explicado um determinado tema apresentado num mote que é colocado no início do poema e do qual pode repetir um ou mais versos em posição certa, como um refrão.
A glosa prolifera como estrutura formal da poesia lírica do séc. XV, designando as estrofes da poesia obrigada a mote, que desenvolviam o tema proposto por este. Inicialmente fazia parte de composições poéticas breves, como o vilancete, que apresentava uma ou mais glosas de sete versos, ou como a cantiga, que apresentava uma glosa de oito ou dez versos. O verso utilizado era o heptassílabo e, menos frequentemente, o pentassílabo. No entanto, segundo Le Gentil, progressivamente, a glosa deixou de ser exclusivamente composta a partir de um mote de dois ou três versos, podendo retomar uma cantiga, um vilancete inteiro.
O poeta devia repetir e explicar sucessivamente cada verso de uma destas composições, criando um novo poema de tamanho variável. Em cada estrofe da nova composição poética, podiam reaparecer um ou dois desses versos, colocados em qualquer posição, com a condição desse local permanecer fixo até ao seu final. Normalmente, citavam-se dois versos por estrofe, um no meio e outro no fim, podendo existir outras combinações, como por exemplo, um verso no princípio e outro no meio, ou os dois no fim. Quando apenas um verso era retomado, podia surgir em qualquer posição da estrofe, embora fosse mais usual o seu reaparecimento no final. Deste modo, a extensão da glosa dependia do modelo selecionado pelo poeta e do número de versos da composição glosada.
O hábito de realizar glosas implementou-se em todas as cortes do ocidente latino europeu, constituindo um dos principais passatempos dos serões do paço onde praticamente todos os participantes eram simultaneamente produtores e ouvintes deste tipo de composições sujeitas a um mote. Os temas abordados eram essencialmente de sentido amoroso ou satírico, visando geralmente pessoas conhecidas por todos. A improvisação e o amadorismo dos seus intervenientes tornaram algumas destas composições artificiais e dignas de pouco interesse, sendo frequente a repetição exaustiva de ideias, vocábulos e rimas
A glosa continuou a sofrer transformações durante a Renascença, começando a ser constituída por um mote de quatro versos que lhe servia de introdução e quatro estrofes de dez versos cujo último verso era a repetição de cada um dos versos do mote inicial, mantendo a medida velha. Mais tarde, especialmente em Espanha, durante o Século de Ouro, a glosa continuou a ser uma forma poética bastante utilizada, através da qual os poetas demonstravam grande perícia intelectual e verbal, combinando conceitos subtis e figuras de retórica .
Tendo sido ignorada pelo Romantismo, esta forma de discorrer sobre um determinado tema acabou por chegar até aos nossos dias, continuando alguns poetas populares a glosar diversos assuntos.
(Carlos Ceia. E-Dicionário de Termos Literários. http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=115&Itemid=2)
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