quinta-feira, 29 de junho de 2017

Silmar Bohrer (Caderno de Versos)

MEUS TRASTES

De onde tiras os trastes
daqueles teus ditos versos,
não digas que os encontrastes
nas vastidões dos universos.

Nas alturas, nas amplidões
só há pureza hialina
e comparas os teus bordões
a um Dante na relancina.

Vivências baças no mundo
jamais chegarão à luz,
compreenderás algum dia...

Este iluminar profundo
que traz vida e que seduz
só se encontra na divina Poesia.

NOITE

Dissipada a sidérea luz crepuscular
que em escuridão se vai convertendo,
um mistério sombrio está concebendo
em brumas espessas todo esse avatar.

Na calada da noite agora em repouso
a lua surge risonha atrás da colina,
invadindo o espaço todo e a campina,
que mais parece um cenário luminoso.

Repassa uma calmaria noite adentro
ouvindo-se o bulício suave do vento
a cantar para uma silente madrugada.

Nestas horas de sombras nos caminhos
os seres dormem serenos pelos ninhos
até o evolver da esplêndida alvorada.

A VOZ DO SILÊNCIO

Nas horas mais doces do teu viver
quando o interior está em bonança,
procura ao recôndito então volver,
fazendo contigo mesmo uma aliança.

Dentro do ser encontrarás solução
para criar teu mundo sem arremedo,
penetra nos escaninhos do coração,
dentro de ti mesmo está o segredo.

O divino silêncio torna soberana
essa crisálida que aciona silente
o âmago da tua consciência humana.

Nos teus vagares foventes e a sós
procura ouvir essa musa aliciante
que fala no esconso de todos nós.

POETA

Ser poeta!  Que esplêndida alegria
sentir a doçura das coisas amenas
para semeá-las nos mádidos poemas
que são versos nossos de cada dia.

Ser poeta!  Que estranha felicidade
cantar da vida as mais rudes penas,
liças. misérias, queixumes... dezenas
que abundam neste antro de maldade.

Ser poeta !  Que insólita dualidade
determinar nas rimas com harmonia
os quadros diversos da humanidade.

Ser poeta !  Qual arauto que anuncia
entre os males da vida e da bondade
um mundo eivado pela divina Poesia.

LÁGRIMAS

A nossa vida é um padecer incessante.
Em cada lágrima um mistério profundo
verte nos olhos o tormento constante
que aflige a alma humana neste mundo.

Em cada lágrima sangra com ardimento
a ferida duma paixão que silenciamos
e escorre da intimidade o sofrimento
pelo delírio do amor que alimentamos.

Em cada lágrima vivemos a desventura
dum adeus tristonho e o mais sagrado
anseio da volta esperada com ternura.

 Em cada lágrima existe uma constância
a instruir que só após termos chorado
aprendemos a ver melhor uma distância.

AS NEBULOSAS

Ôba! o solzinho trigueiro
arrebentou as nebulosas,
aquelas nuvens grandiosas
que escondiam o dia inteiro.

Pequenas nesgas de céu
na vastidão das alturas
dão conta que iluminuras
vem chegando pra dedéu.

Igualmente em nossas vidas
vivemos pedindo guaridas
com raios de esperança,

Átimos, faíscas, lampejos,
consolidando nossos desejos
de dias com mais bonança.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=43868

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