sábado, 6 de setembro de 2025

Asas da Poesia * 86 *


Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A existência é dividida
em dois extremos da idade:
um, alvorada da vida,
outro, arrebol de saudade!
= = = = = = 

Hino de 
BENTO GONÇALVES/RS

Bento Gonçalves querida,
Bordada de parreirais,
Terra estuante de vida
Origem de nossos pais.

Bento Gonçalves querida,
Bordada de parreirais,
Onde o vinho borbulhante
Jorra jorra em cascatas reais.

Salve esta terra fecunda,
Que a mão divina criou
E com trabalho e fé profunda
O imigrante desbravou.

Bento Gonçalves querida,
Meu desejo é teu progresso
É ver-te de fronte erguida, Altiva,
No tribunal do universo!

Nome de grande vulto,
Que o Rio Grande soube honrar,
Meu rincão é meu culto
Do Brasil é meu altar.

Uvas de várias castas,
Enriquecem a região,
Com teu doce vinho afastas
As mágoas do coração.

A ti meu melhor carinho,
Linda Capital do Vinho.
= = = = = =

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Chega bêbado… sequer
distingue um rosto e malogra:
dá alguns tapas na mulher
e muitos beijos na sogra!
= = = = = =

Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

Ars poética

Nesse afago do meu fado afogado
as águas já me sabem nadador.
A rês na travessia marejada
gado da grei de um mar revelador.

Vou e volto lambendo o sal do fardo
língua no labirinto, ardendo em cor
furtiva, enquanto messe temperada,
da tribo das palavras sou cantor.

Procuro em frio exílio tipográfico
o verbo mais sonoro em melodia
o ritmo para a cal de um pasto cáustico.

Sou boi e sou vaqueiro dia a dia
no laço entrelaçado fiz-me prático
catador de capins nas pradarias.
= = = = = = = = =  

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se tu buscas na partida
além do horizonte, a paz,
não fujas da própria vida,
que a vida sabe o que faz!
= = = = = =

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

A beirada do céu 
sobre a serra desceu
derramando estrelas
pelo caminho,
Que ao balançar do vento
cintilam de mansinho:
brancas, rosas e lilás.
A alma respira energizada! 
Dos anjos,
mensagens perfumadas
encharcam o coração 
de amor e muita paz.
= = = = = = = = =  

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.
= = = = = = 

Poema de
ELINALDO VENCESLAU DA COSTA JUNIOR
Manaus/AM

Gelo em chamas

Por que meus olhos marejam
A cada vez que penso em ti?
E o mundo, preto em branco
Vai colhendo, num tom brando
As belas flores do jardim

Tens ideia do quanto isso é bom pra mim?

Me perguntas, ocasionalmente:
Mas o que foi que eu te fiz?
E eu não sei, verdadeiramente...
Só sei que tu me fazes feliz!

Por que teus beijos me marcam como cicatriz?

Em mente grito sem parar
E no teu carro, eu me calo
Pois só quero aproveitar
Ao teu lado, cada embalo

Seria isso ilusão ou início de paixão latente?

Quisera eu, sinceramente
Em grandes versos, te adorar
Só que me vêm estes singelos
Mas acredite, são tão sinceros
Quanto o ar que foge de mim...
Ao te olhar.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desce a lágrima insistente,
e há sempre alguém que a maldiz!
Mas a verdade é que a gente
chora até quando é feliz!...
= = = = = = 

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

O trem

À beira da estrada férrea
Ficava nossa escolinha.
Bem alegre a garotada
Corria pra lá e vinha.

Com todo aquele barulho
eu acabava ansiosa.
Ficava sempre à espera
E às vezes até manhosa.

Barulho ensurdecedor
Com ranger de ferro e apito
 faísca  no corredor.

Da janela da salinha
Podia se ouvir o grito
Do doido que nele vinha.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Amanhece, o dia é lindo,
e o passaredo contente
faz festa ao sol, que sorrindo.
lá do céu contempla gente.
= = = = = = = = =  

Uma Lengalenga de Portugal
ECO
  
É suposto que cada frase desta lengalenga seja repetida por outra pessoa depois de uma a dizer.
 
 - Ó que eco que aqui há!
 - Que eco é?
- É o eco que cá há.
- O quê? Há cá eco?
- Há eco, há.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Estudante, deixe os livros, 
e volte-se para mim; 
mais vale um dia de amores 
que dez  anos de latim.
= = = = = = = = =  

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Avós

Dizem que avós são pais açucarados...
E deve ser verdade, com certeza!
Quantos netinhos são apaixonados
pelo doce dos velhos. Que beleza!

Isso não só em parentes mais chegados
eu vejo, em geral, e com clareza,
netos beijando avós, muito abraçados,
com amor, tal qual manda a natureza!

Infelizmente eu não senti de perto
o gosto de viver com avós. E é certo
que, isso, me marcou a vida inteira...

Meus quatro avós morreram antes mesmo
de eu ter nascido!  E não por morte a esmo;
mas na “febre amarela”  brasileira!
= = = = = =

Trova do
PADRE NEWTON PIMENTA
Juiz de Fora/MG

Sol das almas: tarde linda;
trás os montes, o sol desce...
mais um dia que se finda
na ternura de uma prece!
= = = = = = = = =  

Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Saber da água a sede 
Saber do pensamento a fonte
Saber do amor a dor
Saber da beleza a forma
Saber do sentir a razão 
Saber de ti a emoção 
Saber do abraço o alento
Saber da vida o propósito.
= = = = = = = = =  

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

“Cara-metade”, em verdade,
é uma expressão... trapaceira...
- a gente quer a metade
mas tem que “engolir”... inteira…
= = = = = = = = =  

Soneto de
FRANCISCO NEVES MACEDO
Natal/RN, 1948 – 2012

Desistir, Jamais!

Escalava a montanha novamente…
E, alpinista de amor enlouquecido,
chegaria a um lugar desconhecido,
jamais imaginado pela mente.

Eu sentia o infinito a um batente,
e, jamais eu teria desistido!
Mas, por forças humanas, impedido…
- E a chegada tão perto, um pouco à frente.

Um grande sonhador, não fica triste,
de alcançar o ideal, jamais desiste,
quer sempre ir mais à frente, e, se cansado…

Ele tenta vencer o seu limite,
buscando o inalcançável, ele admite,
que se jamais chegar… Terá tentado!
= = = = = = = = =  

Trova do
PADRE HENRIQUE PERBECHE
Ponta Grossa/PR (1918 – 2011)

Trovas? Umas são quais flores
a bailar pelas campinas;
Outras, rubis multicores,
forjadas no ardor das minas.
= = = = = = = = =  

Poema de 
MINERVA MARGARITA VILLARREAL
Montemorelos/México, 1957 – 2019, Monterrey/México

Não Tenho Com Quem Falar

O silêncio pesa, estala
O silêncio pensa
Então falarei contigo
Tu   que és o ser mais remoto
meu doce vazio
vem   apresenta-te
mesmo que não te veja
assim a forma seja negada para ti
para meus olhos de ti
minha percepção te anuncia
como um rio
que cresce de madrugada
e se desborda
A água escorre por debaixo da cama
a água leva rostos
e correntes
lírios e cédulas
e vestidos de noiva
depois tudo é sangue
Um rio com seu ninho de lobos
e nuvens de tormenta
ramos crepitando
cervos
e esta árvore
esta árvore que também és tu
muito além da noite
Há um vulto de pé
junto de minha cama
que emerge
das águas do ar.
= = = = = = = = =  

Trova do
CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES
Bueno Brandão/MG, 1928 – 2022, Maringá/PR

Santo Antônio, agradecida,
por ouvir minha oração.
Casei-me na Aparecida,
sou feliz com Sebastião!
= = = = = = = = =  

Soneto de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Extremos

Somos assim, estranhamente extremos,
gostos opostos, sonhos discrepantes,
somos canção de acordes dissonantes,
há divergência em tudo o que queremos…

Só defendemos pontos concordantes
até entender que não nos entendemos,
e esclarecendo aquilo que dissemos,
dizemos sempre coisas conflitantes…

Tu, me querendo, dizes que eu não presto,
e ao te querer, sempre de ti reclamo,
mas tu me chamas, disfarçando o gesto,

e entre protestos eu também te chamo,
pois, mesmo amando tudo o que eu detesto,
tu és na vida aquilo que eu mais amo!
= = = = = = = = =  

Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Já velho o Sansão estrila:
"Minha mulher tá caduca...
Mal cochilei e a Dalila
tosou a minha peruca!?
= = = = = = = = =  

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