Tinha
cabelo grisalho, barba grisalha. Trajava uma camisa verde claro da cor dos
olhos. Um indivíduo sem dúvida muito charmoso.
Eu estava sentada no restaurante do lago. Logo que cheguei com minha família,
não consegui mais desviar o olhar daquele homem que me atraía por seu semblante
acolhedor e tranquilo. Degustava com toda calma azeitona preta, bebia um gole
de cerveja e voltava o olhar ao lago. O dia estava quente e ensolarado, mas
apesar disso, no terraço do restaurante, havia muitas pessoas sentadas à mesa.
Só ele estava sozinho, certamente à espera de alguém. Fixava o lago, o seu
olhar se perdia no horizonte e voltava ao lago onde gansos brancos desfilavam
silenciosamente.
Observei melhor aquela figura tão interessante, sentada a poucos metros de
distância e vi que tinha uma profunda ruga na fronte. Não sei explicar o porquê
da atração por aquela pessoa que me era estranha. Um sentimento de calma e
confiança se apropriou de mim e não conseguia disfarçar. Olhava também, o lago,
os gansos, as árvores que circundavam o local. Tudo muito bonito, mas meu olhar
recaía sobre ele.
Fiquei imaginando o impossível. Seria eu a protagonista desta espera? Chegar de
mansinho e abraçá-lo. Podia ser a esposa ou a amante. Por que não? Travar com
ele um diálogo amoroso, de carinho e afeto; falar sobre viagem, projetos,
sonhos e muito mais.
Com certeza o estranho estava esperando por alguém muito importante e saboreando
o encontro, tinha estampado no rosto um leve sorriso de satisfação. Uma espera
confiante, sem estresse.
O tempo parecia ter parado, meu filho tinha feito o pedido e na espera vinha
tomando refrigerante. Eu ficava observando atentamente os acontecimentos que
envolviam o ambiente. Um pássaro naquela hora tinha pousado no pilar da cerca
ao lado da pessoa desconhecida e temendo que me pegassem na minha obsessão
falei para minha neta: – “Olha aquele pássaro, faz tempo que está parado, ele
não tem medo das pessoas”. Meu filho então ouvindo minha observação, retrucou:
-“Ele está acostumado a este ambiente”.
Verdadeiramente era muito agradável estar à beira daquele lago, transmitia
calma e serenidade.
O nosso almoço foi servido e me distraí. Quando levantei os olhos, uma senhora
risonha tinha se sentado ao lado do estranho e com ela um adolescente.
Conversavam animadamente com alegria. Na distância em que a gente se encontrava
não dava para ouvir o diálogo, mas logo tirei minhas conclusões, pensando: –
“Que bom, ele tem uma boa companhia, afinal merece. Estava muito charmoso para
ficar sozinho”.
Na beira do lago ficaram os meus verdes sonhos deslizando junto aos gansos, sem
meta a ser conquistada.
Fonte:
Elisa Alderani. Flores do meu jardim. Ribeirão Preto: Legis Summa, 2008.
Elisa Alderani
nasceu
em 22 de fevereiro de 1938 em Como, Itália.Formada em técnico de Química
Industrial, trabalhou no laboratório de uma Fábrica Têxtil até se casar.
Mudou-se Ribeirão Preto, em 1978.
Ao se aposentar entrou na escola de terceira idade frequentando as oficinas
culturais do Sesc.
Membro da Casa do Poeta, cadeira n. 15,e da Galeria das Letras. Membro da União
Brasileira de Escritores, participa também da União Brasileira dos Trovadores e
as oficinas doa União dos Escritores Independentes.
Tem participação em várias antologias do Brasil e de Ribeirão Preto como Ave
Palavra e Frutos da Terra. Foi premiada no concurso da ALUMIG de Belo
Horizonte, nos Jogos Florais de Ribeirão Preto, Jogos Florais de Santos.
Na comunidade da Igreja Santo Antônio de Pádua, frequenta a Associação da
Legião de Maria, visitando pessoas doentes e levando a elas conforto da Sagrada
Comunhão.
Em 2008 publicou seu primeiro livro Flores do meu jardim - Fiori del mio
Giardino, bilingue, produção independente, com o qual ganhou o premio Ruben
Cione de Literatura, na Feira do Livro de 2009.
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