Marly Rondan
Oxóssi
Percorre a floresta
escura.
Sob a luz do
luar… caça!
Traz pra Terra
a fartura.
Põe mel em
nossa cabaça.
Protege a
nossa floresta.
Revela novos
perigos…
Transforma
esta vida em festa
e os Orixás em
amigos.
Oferendas vou
levar.
Refresco de
cambuci,
tucuxi vindo do
Mar…
Guerreiro e
bom caçador,
Pai Oxossi,
sua Benção!
Receba o nosso
louvor…
OXÓSSI
Okê!
Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os
iorubas.
Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos
Inhames.
Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-e no pátio.do seu palácio.
Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda,
seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os
tambores soavam para saudá-lo.
As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.
Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.
O pássaro voava à direita e voava à esquerda ... Até que veio pousar sobre o
teto do palácio.
A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras, furiosas porque não foram também
convidadas para a festa.
O pássaro causava espanto a todos! Era tão grande que o rei pensou ser uma
nuvem cobrindo a cidade. Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua
asa esquerda cobria o lado direito do palácio, as penas do seu rabo varriam o
quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
As pessoas assustadas comentavam:
"Ah! Que esquisita surpresa?"
"Eh! De onde veio este desmancha-prazer?"
"lh! O que veio fazer aqui?"
"Oh! Bicho feio de dar dó!"
"Uh! Sinistro que nem urubu!"
"Como nos livraremos dele?"
"Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino."
De ldô, trouxeram Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas.
Oxotogun afirmou:
"Que me cortem a cabeça se eu não o matar!"
E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas.
Oxotogí afirmou:
"Que me condenem à morte, se eu não o matar!"
E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta
flechas". Oxotodotá afirmou:
"Que exterminem toda a minha fanulia, se eu não o matar".
Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma
flecha só". O rei lhe ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
Oxotokanxoxô afirmou:
"Que me cortem em pedaços se eu não o matar!"
Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido
consultar um babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único
filho.
"Ah! - disse-lhe o babalaô.
"Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a
morte tomar-se-á riqueza."
E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse às feiticeiras.
A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi, rápido, colocar
na estrada, gritando três vezes:
"Que o peito do pássaro aceite este presente!"
Foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro. Ele quis receber
a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então. A flecha de
Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito. O pássaro caiu pesadamente, se debateu e
morreu.
A notícia espalhou-se:
"Foi Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só", que matou o
pássaro!
O Rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse! Ele ganhará a metade da sua
fortuna! Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será
dada a Oxotokanxoxô!
" Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa, Oxotogun, o
"Caçador das vinte flechas", ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de
búzios; Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas", ofereceu-lhe
quarenta sacos; Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas",
ofereceu-lhe cinquenta. E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô:
"Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
"O caçador Oxo é popular!"
E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowui!! Oxowusi!!!
Fontes:
Marly Rondan
Pinto. Poesias para evocar os Orixás. São Paulo: Sol, 2011.
Pierre Catumbi
Verger. Lendas Africanas dos Orixás. Salvador: Corrupio, 1997.
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