Marly Rondan Pinto
Ossanha
Ossanha. Orixá
das Ervas…
Guarda as
folhas na cabaça.
Muitos
segredos preservas.
Pões sucos na
minha taça…
Orixá das
folhas, ervas:
Alecrim, Boldo
e Cidrão.
Proteje nossas
reservas.
Livra a Terra da
agressão.
É o Orixá da
cor verde.
Ossanha habita
a floresta.
Quem não a
conhece perde…
Da Natureza
essa Festa!
Senhor -
Senhora das folhas,
Comanda as
ervas sagradas.
Tira com
elixir as falhas…
Elixir que dá
vigor.
Protege nossa
saúde.
Ossanha cura esta
dor!
Ossain,
o senhor das folhas
Ossain
recebera de Olodumaré o segredo das folhas.
Ele
sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras,
a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os
acidentes.
Os
outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.
Eles
dependiam de Ossain para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô,
cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta
desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar de Ossain a propriedade das
folhas.
Falou
do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.
Explicou-lhe
que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de lroko, uma cabaça
contendo suas folhas mais poderosas.
"Desencadeie
uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.
Iansã
aceitou a missão com muito gosto.
O
vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as
árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do
galho onde estava pendurada.
A
cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os
orixás se apoderaram de todas.
Cada
um tomou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de
suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.
E,
assim, continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto.
Graças
ao poder (axé) que possui sobre elas.
–––––––––-
Ossain
é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas. A sua importância é
fundamental, pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença, sendo
ele o detentor do àse ( o poder ), imprescindível até mesmo aos próprios
deuses.
O
nome das plantas, a sua utilização e as palavras (ofo), cuja força desperta
seus poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses
iorubás.
O
símbolo de Ossain é uma haste de ferro, tendo, na extremidade superior, um
pássaro em ferro forjado; esta mesma haste é cercada por seis outras dirigidas
em leque para o alto.
Uma
história de Ifá nos ensina como “o pássaro é a representação do poder de
Ossain. É o seu mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a
cabeça de Ossain para lhe fazer o seu relato”. Esse simbolismo do pássaro é bem
conhecido das feiticeiras, aquelas freqüentemente chamada Elýe, “proprietárias
do pássaro-poder”.
A
colheita das folhas deve ser feita com extremo cuidado, sempre em lugar
selvagem, onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins
devem ser desprezadas porque Ossain vive na floresta, em companhia de Àrònì, um
anãozinho, comparável ao saci-pererê, que tem uma única perna e, segundo se diz
no Brasil, fuma permanentemente um cachimbo feito de casca de caracol enfiado
num talo oco cheio de suas folhas favoritas. Por causa dessa união com Àrònì,
Ossain é saudado com a seguinte frase: “Holá!
Proprietário-de-uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-duas-pernas!” alusão
às oferendas de galos e pombos que possuem duas patas, feitas a Ossain Àrònì,
que possui apenas uma perna.
Os
Olóòsanyìn, adeptos de Ossain, são também chamados Oníìsègùn, curandeiros, em
virtude de suas atividades no domínio das plantas medicinais. Quando eles vão
colher as plantas para seus trabalhos, devem faze-lo em estado de pureza,
abstendo-se de relações sexuais na noite precedente, e indo à floresta, durante
a madrugada, sem dirigir palavra a ninguém. Além disso, devem ter cuidado em
deixar no chão uma oferenda em dinheiro, logo que cheguem ao local da colheita.
Ossain
está estreitamente ligado a Orunmilá, o senhor das adivinhações. Estas
relações, hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram no passado
períodos de rivalidade. Algumas lendas refletem as lutas pela primazia e pelo
prestígio entre os adivinhos babalaôs e os curandeiros onixegum. Como essas
histórias são transmitidas através das gerações pelos babalaôs, não é de
estranhar que tendam a glorificar mais Orunmilá, e em conseqüência eles mesmos,
do que Ossain e os curandeiros.
Segundo
uma lenda recolhida por Bernard Maupoil, “quando Orunmilá veio ao mundo, pediu
um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado; era Ossain. Na
hora de começar seu trabalho, Ossain percebeu que ia cortar esta erva, pois é
muito útil”. A segunda curava dores de cabeça. Recusou-se também a destruí-la.
A terceira suprimia as cólicas.” Na verdade”, disse ele, não posso arrancar
ervas tão necessárias.” Orunmilá, tomando conhecimento da conduta de seu
escravo, demonstrou desejo de ver essas ervas, que ele se recusava a cortar e
que tinha grande valor, pois contribuíam para manter o corpo em boa saúde.
Decidiu, então, que Ossain ficaria perto dele para explicar-lhe as virtudes das
plantas, das folhas e das ervas, mantendo-o sempre ao seu lado na hora das
consultas”.
Uma
outra história de Ifá nos diz que,se é Ossain que conhece o uso medicinal das
plantas, é, entretanto, a Orunmilá que cabe o mérito de haver conferido nomes a
essas mesmas plantas. Os poderes de cada planta de cada estão em estreita
ligação com o seu nome e são despertados por palavras obrigatoriamente
pronunciadas no momento de seu uso. Essas palavras são indicadas pelos
adivinhos aos curandeiros, fato este que dá aos primeiros uma posição de
supremacia sobre os segundos.
Essa
superioridade é afirmada numa outra lenda, onde “Oferenda”, filho de Orunmilá,
compete com “Remédio”, filho de Ossain. Graças a um artifício imaginado por
Orunmilá, seu filho “Oferenda” é declarado vencedor de “Remédio” para mostrar
que o poder dos babalaôs é superior ao dos curandeiros. Os babalaôs afirmam
assim que, sem o poder liberador da palavra, as plantas não exerceriam a ação
curativa que possuem em estado potencial.
Ossain
é originário de Irão, atualmente na Nigéria, perto da fronteira com o ex-Daomé.
Ele não fez parte dos dezesseis companheiros de Odùduà, quando de sua chegada a
Ifé. O papel de curandeiro é assumido aí por Elésje.
Na
África, os curandeiros, chamados Olóòsanyìn, não entram em transe de possessão.
Eles adquirem a ciência do uso das plantas após uma longa aprendizagem.
Ossain
no Novo Mundo
No
Brasil, as pessoas dedicadas a Ossain usam colares de contas verdes e brancas.
Sábado é o dia consagrado a ele e as oferendas que lhe são feitas compõem-se de
bodes, galos e pombos. Seu iaôs, ao contrário daqueles de África, entram em
transe, mas nem sempre possuem conhecimento profundo sobre as virtudes das
plantas. Quando eles dançam, trazem nas mãos o mesmo símbolo de ferro forjado,
cuja descrição já foi feita anteriormente. O ritmo dos cantos e das danças de
Ossain é particularmente rápido, saltitante e ofegante. Saúda-se o deus das
folhas e das ervas gritando-se: ” Ewé Ô! ” (“Oh! As folhas!”).
Arquétipo
O
arquétipo de Ossain é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de
controlar seus sentimentos e emoções. Daquelas que não deixam suas simpatias e antipatias
intervirem nas suas decisões ou influenciarem as suas opiniões sobre pessoas e
acontecimentos. É o arquétipo dos indivíduos cuja extraordinária reserva de
energia criadora e resistência passiva ajuda-os a atingir os objetivos que
fixaram. Daqueles que não tem uma concepção estreita e um sentido convencional
da moral e da justiça. Enfim, daquelas pessoas cujos julgamentos sobre os
homens e as coisas são menos fundados sobre as noções de bem e de mal do que
sobre as de eficiência.
Fonte:
Pierre
Fatumbí Verger. Lendas Africanas dos Orixás.
Pierre
Fatumbí Verger. Orixás.
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