Trova de
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA
Florianópolis/ SC
Tento fugir da rotina,
conquistar um novo espaço...
mas minha tristeza assina
seu nome por onde passo...
= = = = = =
Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Tão leve estou que já nem sombra tenho
Mário Quintana in "A rua dos Cataventos", p. 48
Tão leve estou que já nem sombra tenho
Como nuvem que passe transparente
No céu dos dias onde é sempre ausente
A cor forte do velho e nobre estanho.
Sou como o traço fino de um desenho
Magro e sumido, um corpo em seu poente
Que viva da palavra e se alimente
Do verso que estiver de bom tamanho.
Tão leve, qualquer dia eu me evaporo
Deste corpo onde quase já não moro
Por castigo ou capricho do destino.
Mas por graça da suma divindade
Subirei através da claridade:
Vou ser eternamente e só menino!
= = = = = = = = =
Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
O sol, silencioso, desce,
e é mais um dia a morrer;
mas do outro lado, uma prece
lhe agradece o renascer.
= = = = = = = = =
Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Faço-me lágrima
Quando àquelas distantes
nuvens
Nublam teu olhar
(Abraço teus tons
de gris)
Abro e
fecho
parênteses
E inebriada, silencio-me
Faço-me lágrima
Para deslizar dos teus cílios,
Alongando desejos
De te beijar
E desaguo no cantinho
Dos teus lábios
E, assim desperto uma pontinha
Do teu sorriso...
= = = = = =
Trova de
MAURÍCIO NORBERTO FRIEDRICH
Porto União/SC, 1945 – 2020, Curitiba/PR
Num relógio, vendo a hora,
no outono de minha lida,
vejo que não há demora
no ocaso de minha vida!
= = = = = =
Soneto de
LAÉRCIO BORSATO
Poços de Caldas/MG (via Port Hope, Canadá)
... Às margens do Lago Ontário
Andando às margens do lago Ontário
Por alguns instantes, após o sol posto.
Dia vinte e seis deste lindo mês de agosto.
Como o sol, havíamos cumprido o itinerário...
Nessa tarde sentia-me feliz e disposto,
Caminhava e tinha em mente, involuntário
Desejo de voltar. Via naquele cenário,.
O espelho das águas, esculpir o meu rosto...
Desviei o olhar nas orlas do horizonte
Ataviadas em cores róseas. Vi o monte
Exibindo um verde que não vira, até então.
Nesse devaneio ao meio a lindas flores,
Vi estrelas mostrando seus resplendores;
E a saudade invadiu de vez meu coração.
= = = = = = = = =
Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Incontentado
Paixão sem grita, amor sem agonia,
Que não oprime nem magoa o peito,
Que nada mais do que possui queria,
E com tão pouco vive satisfeito...
Amor, que os exageros repudia,
Misturado de estima e de respeito,
E, tirando das mágoas alegria,
Fica farto, ficando sem proveito...
Viva sempre a paixão que me consome,
Sem uma queixa, sem um só lamento!
Arda sempre este amor que desanimas!
Eu, eu tenha sempre, ao murmurar teu nome,
O coração, malgrado o sofrimento,
Como um rosal desabrochado em rimas.
= = = = = =
Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
O papel que eu desempenho
na poesia, não tem preço;
pelos amigos que eu tenho…
Ganho mais do que mereço!
= = = = = =
Poema de
JOSÉ FARIA NUNES
Caçu/GO
Poesia e liberdade
A caneta do poeta
rebela-se
ante a injustiça
do poder.
E faz-se poder
na liberdade
do ato de pensar.
Quando o poder
em seu império de força
impõe-se
sobre a caneta do poeta
então este carece
de ser mais que poeta:
dele se exige
a engenharia dos deuses
na construção mágica
do amor.
= = = = = =
Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Na briga que o meu cabelo,
e a careca estão travando
lamento ter que dizê-lo,
a careca está ganhando...
= = = = = =
Poema de
TERESINKA PEREIRA
Ohio/Estados Unidos
As portas
Não podemos aceitar
todo o sofrimento
que nos impõe o desconhecido.
Para cada porta fechada
haverá mais de cem portas abertas
na história da nossa vida.
Nossa mente fará a jornada
se permitirmos que nos deve
mais uma vitória
neste vertiginoso romance
com as pessoas que nos amam
o suficiente para entender-nos.
= = = = = =
Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/ SP
As bandeiras desfraldadas..,
O povo em vai-vem nas ruas...
e as esperanças sonhadas
são minhas... e também tuas!
= = = = = =
Hino de
BODOCÓ/ PE
No sopé dessa serra planalto
Bodocó se afirmou e cresceu
E é hoje o destaque mais alto
No cenário erudito e plebeu
Já contando alguns anos de vida
Desde que por lei se emancipou
É a nossa cidade querida
A quem rendemos nosso louvor
A cidade sempre adolescente
Com orgulho costuma mostrar
Sua juventude inteligente
Que estuda e quer prosperar
O seu povo é muito ordeiro
Pois aqui só se pensa em crescer
E o exemplo há de ser pioneiro
Do progresso e do bom conviver
= = = = = = = = =
Soneto de
MÁRCIA SANCHEZ LUZ
São Paulo/SP
Bilhete de Julieta
Por que você partiu sem me contar
que o fim estava próximo e que nós
não poderíamos nos ver após
a cotovia, lúgubre, cantar?
Não foi de fato amor de acarinhar,
nem foi de fato amar de amor feroz.
Da forma como veio, assim veloz,
partiu e me deixou sem me acordar.
E agora o que fazer sem seu carinho
para acalmar a febre em sonhos meus?
Não quero mais ninguém em nosso ninho.
Eu sei – a vida é assim –, dirá quem ler,
mas não sei mais o que fazer, meu Deus!
Como é difícil deste amor morrer!
= = = = = = = = = = = = =
Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Não diga adeus por favor,
me deixa assim , iludida.
Quero pensar que este amor
não tem porta de saída.
= = = = = = = = =
Décima do
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN
O sertão
No sertão tem poesia,
tem o preá no serrote
tem mocó dando pinote
e tem cabra dando cria;
tem coalhada na bacia
tem fogueira de São João,
tem festa de apartação
tem porteira e passadiço;
quem nunca viu tudo isso
não sabe o que é sertão!
= = = = = = = = =
Trova Humorística do
LACY JOSÉ RAYMUNDI
Sananduva/RS, ???? – 2014, Garibaldi/RS
É mentira ou é verdade?
É verdade ou é mentira?
Se a mulher disser a idade
não acredite: confira!…
= = = = = = = = =
Martelo Agalopado do
PROFESSOR GARCIA
(Francisco Garcia de Araújo)
Caicó/RN
Minha avó também teve competência,
com seu fuso na mão, foi de primeira,
também tinha uma roca de madeira
que lhe deu o sustento, e deu vivência.
Enedina, um sinal de resistência,
não sentia o torpor da nostalgia,
na pobreza do campo onde vivia
resistiu aos insultos da escassez,
mas viveu com ternura e sensatez
encantada com tudo que fazia!
= = = = = = = = =
Aldravia da
JUÇARA REGINA VIEGAS VALVERDE
Rio de Janeiro/RJ
respingos
do
ontem
nublam
o
hoje
= = = = = = = = =
Soneto Alexandrino de
MARIA JOÃO BRITO DE SOUZA
Oeiras/Portugal
Memórias do mar
Sei duma vozinha que contava estórias,
Dizia segredos que só eu escutava
E que, tantas vezes, me deliciava
Quando me falava de velhas memórias...
Sempre que contava das antigas glórias
Nos tempos remotos em que navegava
Uma caravela que então procurava
As suas conquistas, as suas vitórias
Nessa descoberta das terras douradas,
Da canela em pau, do café em grão,
Das madeiras nobres e do açafrão,
De mil coisas lindas para ser usadas,
Coisas requintadas, coisas que só são...
Porque o mar me disse que as teve na mão!
= = = = = = = = =
Poema de
SILVIAH CARVALHO
(Sílvia Helena de Carvalho)
Manaus/AM
A menina do Rio Amazonas
Fiquei na margem do rio,
Desanuviando minha mente,
Meditando na constância das águas,
No desapego da alma, neste vazio...
Vi pessoas passarem às margens,
E notei, cada um faz seu próprio rio!
E navegam em suas esperanças,
Levando as lendas em suas lembranças.
Vi a menina sentada à beira do rio,
Sonhando com a felicidade,
Esperando o boto... Não sei!
Que a tire da beira e, se faça seu rei.
Na espera inútil à tristeza vem à tona,
Não há encantamento... Eu chorei!
Vendo a tristeza nos olhos da menina
Do rio amazonas...
Eu a vi partindo só e com frio,
Deixando nas margens o fim do seu rio,
Eu a vi sofrer por um conto infantil,
Eu soube que ela nunca mais sorriu.
E eu! Ainda espero só,
Na margem do rio,
Do meu rio...
= = = = = = = = =
Epigrama de
JOÃO SALOMÉ QUEIROGA
Serro/MG, 1810 – 1878
Oh, deste patrono a musa,
Diz o povo, não se entende,
Pois quando defende, acusa,
E quando acusa, defende…
(a um advogado no júri)
= = = = = = = = =
Écloga de
MIGUEL TORGA
(Adolfo Correia da Rocha)
São Martinho de Anta, 1907 – 1995, Coimbra
Na ribeira que secou
Bebia o gado que eu tinha;
Quando chegava à noitinha,
A voz das águas chamava,
E o rebanho que pastava
Deixava os tojos e vinha.
Eu próprio molhava as mágoas
Na pureza da nascente;
Metia as mãos docemente
Na limpidez da frescura,
E as caricias da corrente
Davam-me paz e ternura.
O gado, farto, bebia;
E eu deixava-me correr
Naquele suave prazer
Que me levava consigo...
Eu não tinha que fazer,
E o gado tinha pascigo (1).
´
A noite, então, vinha mansa
Cobrir a lã das ovelhas;
Era um telhado de telhas
Furadas ou embutidas
De luzes muito vermelhas
Por todo o céu repartidas.
E aquela viva irmandade
Do rebanho e do zagal (2)
Era ali tão natural
Que apagava dos sentidos
A saudade do curral
Feita de sono e balidos.
´
Mas a ribeira secou.
Não sei que praga lhe deu
Que no leito onde correu
Há pedras e maldição...
E o meu rebanho morreu
De sede e de mansidão.
=======================
(1) Pascigo = lugar onde o gado pasta.
(2) Zagal = pastor
= = = = = = = = =
Soneto de
JOSÉ ALBANO
Fortaleza/CE, 1882 – 1923, Montauban/França
Soneto da dor
Mata-me, puro Amor, mas docemente,
Para que eu sinta as dores que sentiste
Naquele dia tenebroso e triste
De suplício implacável e inclemente.
Faze que a dura pena me atormente
E de todo me vença e me conquiste,
Que o peito saudoso não resiste
E o coração cansado já consente.
E como te amei e sempre te amo,
Deixa-me agora padecer contigo
E depois alcançar o eterno ramo.
E, abrindo as asas para o etéreo abrigo,
Divino Amor, escuta que eu te chamo,
Divino Amor, espera que eu te sigo.
= = = = = = = = =
Aldravia de
ILDA MARIA COSTA BRASIL
Porto Alegre/RS
uma
palavra
inúmeras
faces
vários
escritos
= = = = = = = = =
Poema de
SILVINO POTÊNCIO
Natal/RN
O tempo é breve!…
(Poema numero 8)
O tempo é breve... Já vou andando,
Descendo por escadas em poeira.
Vou caindo pra morada derradeira,
Que existe na terra guardando,
Pra sempre os restos de um corpo,
Do mundo,... já se vai porque está morto!
Sinto náuseas fedorentas,
Em contato ao pensamento.
Sinto passos de almas lentas!!!???...
- Ah!... mas já não me fazem tormento!.
Saudades não levo nem deixo.
Tristezas!?... morreram já há algum tempo.
Concordem que não fui contratempo,
E só porque já não me queixo,
Não pisem no meu mausoléu...
Se alguém o ergueu para o céu!
= = = = = = = = =
Poema do Príncipe dos Poetas Paranaenses
EMILIANO PERNETA
Curitiba/PR, 1866 – 1921
Oração da manhã
Amanheceu. A luz de um claro e puro brilho
Tem a frescura ideal de uma roseira em flor :
Antes de tudo o mais, ajoelha-te, meu filho,
Ajoelha-te e bendize a obra do Criador.
Ajoelha-te aqui, e sorvendo esse aroma
De feno, e rosa, e musgo, e bálsamo sutil,
Que vem do seio azul dessa manhã, que assoma,
Na radiosa nitidez de uma manhã de Abril,
Bendize a força, a graça, a seiva, a juventude,
A hercúlea robustez daqueles pinheirais,
Que resistem, de pé, dentro da casca rude,
Aos mugidos do vento e aos rijos temporais.
Ama essa terra como um fauno que por entre
A silva agreste vive; ama tudo o que vês;
Todos somos irmãos, filhos do mesmo ventre,
Filhos do mesmo amor e da mesma embriaguez.
Abraça os troncos nus, beija esses ramos de ouro,
Ajoelha-te aos pés dos que te querem bem :
Que riqueza, Senhor, que límpido tesouro!
Que grande coração que o arvoredo tem!
Pede a Deus que conhece os bons e maus caminhos
Que conhece o passado e conhece o porvir,
Que te aponte de longe os cardos e os espinhos,
E que te estenda a mão, quando fores cair...
= = = = = = = = =
Décima de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
(Francisco José Pessoa de Andrade Reis)
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Palhaço
A vida se nos faz meros palhaços...
sorriso solto num choro prendido,
querer que é dado nunca agradecido
saltar ao vento sem pisar os passos.
Tragar o fumo dos prazeres baços
embebedar-se tanto pra esquecer,
sentir-se ser alguém, mesmo sem ser,
no picadeiro, o aplauso, a falsa glória,
imagem tão real quanto ilusória
pranto da morte rindo pra viver!
= = = = = = = = =
Trova do
LUIZ OTÁVIO
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ, 1916 -1977, Santos/SP
Ele cai... não retrocede!...
Continua... até sozinho...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho…
= = = = = = = = =
Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES
Chuva e saudade
Cai a chuva… é triste o dia…
A manhã é cinzenta e baça…
E eu mudo vejo a chuva fria,
A correr de leve na vidraça…
E a chuva cai… cai e não passa…
Nem sequer a chuva estia…
Para que um pouco se desfaça,
A saudade de quem eu tanto queria!…
Qual essa vidraça, está meu rosto…
E meus olhos não querem desanuviar…
É por demais sofrido o meu desgosto…
Aumenta a chuva e com ela a minha dor…
Soluço qual criança perdida, sem cessar,
Na incerteza de ao menos rever-te amor!…
= = = = = = = = =