quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Odenir Follador (Apólogo: A caneta e a folha de papel)


Após um exaustivo dia de trabalho, um escritor encerra apressadamente suas atividades. Era véspera de Natal e muitos afazeres lhe cobravam o tempo restante. 

Na penumbra e sossego do escritório, tem início o diálogo entre uma caneta e uma folha de papel:

- O que você faz aí nessa mesa, pálida e preenchida com tantos rabiscos?  Pergunta-lhe a caneta com ar superior.

- Veja só quem fala! Uma simples caneta, velha e quase sem tinta, largada num canto qualquer da mesa. E eu não sou pálida, sou branca, uma folha de papel que o escritor preencheu com seu lindo conto que está produzindo.

- E daí? Se não fosse por mim, não haveria nada escrito em você; seria só uma folha branca, não serviria para nada! Quem iria pegar uma folha em branco para ler?

- E ainda por cima é petulante! Pense bem... se não fosse o escritor lhe segurar entre os dedos, e usando de suas habilidades, dando forma às letras, para que você se prestaria?

- Mas eu ainda insisto... Graças a minha forma que lhe facilita como ferramenta de escrita, meu conteúdo é que preenche os espaços, dando sentido no que ele escreve às suas linhas, ó branca e pálida folha.

- Sei, mas veja bem suacaneta ambiciosa!  Depois que nosso escritor termina o seu trabalho é a mim que ele se dirige, olhando com muita delonga, apreciando todo o texto que escreveu.

- Grande coisa! Ele também fica me segurando, me olhando e às vezes me faz coçar sua cabeça, enquanto pensa em alguma coisa para escrever.

- Ainda tem mais, escute lá! Quando fico pronta eleme carrega a muitos lugares, algumas vezes, em grandes palestras onde discursa, sendo novamente observada por ele e por grandes plateias, que no final aplaudem efusivamente. 

- Pois bem! Posso até admitir que você consiga algum sucesso... Mas, e quanto as suas irmãs, aquelas que não deram certo? Estão lá, veja! Todas amassadas, amarrotadas, jogadas na cesta de lixo!

- Isso eu também explico... Somos todas por uma e uma por todas!Portanto, uma de nós sempre estará em plena atividade junto ao nosso querido escritor. Depois somos arquivadas ou fazemos parte de um lindo livro que ficará à posteridade. E você? O que acontecerá quando acabar a sua tinta? Com certeza terminará seus dias no fundo de uma gaveta, ou até mesmo numa cesta de lixo.

Moral da história: “A solidariedade deve prevalecer sobre o egoísmo”.

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