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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Oliver Friggieri (Poesias Sem Fronteiras: Malta)

poesias traduzidas do maltês ao espanol por Alfredo Cauchi e traduzidas do espanhol para o português por José Feldman
SOMOS ÁGUA VIVA

Nossa história deve terminar algum dia
Como água do manancial que ao remanso chega
Ou pedra que rola até deter-se,
Como um pêndulo de relógio que ao fim se imobiliza.
Cada dia ao anoitecer, em nossas casas
Quando nossos filhos perguntam o que está passando
Trocamos de tema ao não ter resposta
E cantamos o estranho hino de nossa idade:

“Somos água viva e nada a bebe
Porque nas ondas se encontra o sal da destruição.
Somos pedras eliminadas dos altares
De Deuses enfermos que iam mortos desesperados
Em uma luta contra eles mesmos. Pêndulo somos
Que está a ponto de gastar o seu vigor.”

SERÁ CASUALIDADE ?

Seguro que te ocultas em alguma parte, Senhor.
Te busquei em minha velha rua, mas disseram
Que pouco antes retornaste a esquina.
Me despertei ao amanhecer e te persegui ao ar livre
E à luz do dia, até que me perdi
Em um beco sem saída, e se fez de noite.
Te esperei em cada cidade que me disseste
Na solidão de meu quarto, e me disseram
Que te vieram chamar à porta
Dos vizinhos rancorosos.

Será casualidade que até agora jamais
Nos encontramos, ou te esqueceste, Senhor, do número
de minha porta e do nome raro de minhas senhas?
Se vens, por favor, chega antes do anoitecer,
Porque de noite me fecho bem com chave na casa
E me assusta abrir.

* * * * *

TEU OLHAR PURPÚREO CANTA

E talvez teu olhar mirada tulipa desaparece
Das paredes desta habitação vazia,
E talvez se cobrem apenas com areia
Teus olhos, mar tranquilo, teus olhos a onda
Que de memória conhece minha poesia,
Sino no velho campanário, fala-me,
Cada sílaba que conhece este campo negro,
Estas rochas torcidas, e nesta hora,
Sim, se hão detido os ponteiros do relógio
E o coração não palpita, compreende este silencio
E caminha descalço comigo, a ferrovia
Nos antecede, é um trem solitário,
E nos recebe a cidade, muda a multidão,
Os rostos espantados e teu olhar purpúreo canta
As canções deste Canal, a melodia,
Desafinada melodia nesta hora,
E amanhã igualmente amanhecerá, segue a viagem
Porque teu olhar, tulipa, cedo se desperta,
E cedo dirige seu canto até este planeta
Testemunho de outro sol inútil que havia se levantado
E outro cigarro daqueles se havia desgastado
Porque doce é a tulipa, esta enfermidade.

* * * * *

A NOVA ESTAÇÃO AGORA ÉS TU

A nova estação agora és tu, pomba,
Que ontem comes-te de minha mão, solitária,
Como o sol que sobre mim desliza e geme sobre ti,
Furtivamente fala-me neste silêncio
de uma mente usada que se abriu em catacumbas
Diante tu e para que caminhes descalça - entra.
Agora és um piano calado e em ti há
A melodia purpúrea que escreverá
Com as notas que tu me prometeste.  Uma poesia,
Agora tu és minha grande poesia,
As palavras que se encontram em um dicionário
E os ritmos choram, as sílabas gaguejam
Porque tu, muda és, nova solidão.
Ó, andorinha que bebes dos charcos
E conta os anéis que me agrada desenhar
Todas as tardes com o arremesso de uma pedra,
Filha das almas caladas, tú só as folheias
E lês os tristes livros do poeta.

* * * * *

UMA ESTROFE SEM TITULO

Dá-me as palavras de teus olhos, a noite escreve
Uma estrofe purpúrea sobre teu bonito rosto,
Brilha o orvalho, tuas bochechas um branco universo
De onde nada dá um passo descalço sem dor,
Toca estas mãos e sente o despedaçado coração
E nota o sangue quente, o pranto solene.
Pomba, não voes distante  come de minhas mãos,
Este é o grão que não mata, água pura.
Monótono o sino que dá a hora
Para que te vás desta janela entreaberta
Por mim para ti, monótono o suspiro
Gravado como ilusão que vem e vai.
Não voes distante, e diga comigo esta oração:
“Há raios de luz de lanterna enfocados em mim,
Há uma humilde estrela que brilha só para mim,
Há uma flor selvagem que se abre em meu peito,
Há uma chama de vela vacilante só para mim.”

* * * * *
AGORA PISOTEIAS

Talvez eu seja o tapete que pisoteias
Cada vez que caminhas descalça, pisoteias agora
Minha brandura, mulher dos tanques,
Reconheço teus pés úmidos, e mantenho
Em mim a pegada pesada de cada dedo de teus pés
Talvez seja um novo calendário, o ano
Com horas e meses sem estações desordenadas
Um arco-íris sem cores em teus braços abertos
Sobre um universo que pela última vez obscurece,
Este universo jamais voltará a despertar-se
para ver um sol que caprichoso se levanta
sobre uma multidão adormecida, caminha descalça sobre mim
E teus pés sentem logo minha brandura,
As noites todas para ti e uma vela vacilante
No suporte de uma janela entreaberta da esquina
De onde segue vigiando o farol de ontem
Te vá a esperar, teus passos caem
Na argila deste coração, o nicho vazio
Que todavia espera a um santo que não chega
E todavia quer adiante um ramo de flores.
E talvez quando eu caia, uma uva seca
De uma velha parreira, chorará por mim
E com atraso escreverás esta obscura elegia
Cuja métrica e ritmos não são tal como desejava.

Esta não é uma tristeza nova, pisoteias
A cidade caída de onde morreram as sementes
E a última planta se enterrou na lava
deste vulcão que dormiu para despertar-se
Alguma vez no silêncio, talvez depois a pegada
De teu pé descalço viverá depois de mim,
O suicídio é só para adultos, basta
Para mim uma morte tranquila no meio de uma noite
Solene, porque solene é tua pegada
E assim morrem os jovens como eles sabem,
Desastres de uma estação que desaparece como veio
Porque talvez eu seja um tapete que pisoteias.

* * * * *
   
O AMOR

O amor: um par de olhos que em ti descansam,
uns lábios que bocejam esperando tua resposta,
umas bochechas que se coram ao pedir-te uma carícia,
uma boca calada que te urge abri-la completamente.
O amor: uma mulher, dela procede o universo
E quando morrer, será o fim do mundo.

                                    * * * * *                   
       
MANHÃ PARA TI
Manhã, vou e comigo levo
Um jarro de água para apagar tua sede.
Manhã, vou ao jardim e recolho
O mais bonito ramo de flores para ti.

Manhã, dou uma volta por minha parreira
E te corto todos os cachos.
Manhã, arranco o coração de meu peito
E te presenteio.  Manhã, eu me morro.
   
    * * * * *   
       
AH, TALVEZ!

Ah, talvez! Sou um romântico que nasceu
Para viver desejando um século que não me pertence.
Ah, talvez! Não sou mais que outra pessoa
Que debaixo da pele derrama sangue e agua.
Ah, talvez! Sou um aluno sempre suspendido,
O último passageiro em um avião já lotado,
Um número de mais no resultado de uma soma,
Talvez um erro, uma brincadeira, ou talvez
Uma luz que pisca em uma igreja deserta
onde Deus não escuta e ninguém reza.
Ah, talvez! Este não é meu mundo
Porque ninguém me conhece e eu a ninguém conheço,
Tenho perdido o caminho e devo voltar a começar.
* * * * *
Fonte:
Colaboração do Prof. Dr. Thomas Bonnici
(Maringá/PR)