sexta-feira, 25 de julho de 2025

Asas da Poesia * 57 *


Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Torna-se longo o momento
da mais breve despedida,
se atormenta o pensamento
no decorrer de uma vida.
= = = = = = = = =  

Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Para Telmo Vergara

Era uma rua tão antiga, tão distante
que ainda tinha crepúsculos, a desgraçada...
Acheguei-me a ela com este velho coração palpitante
de quem tornasse a ver uma primeira namorada

em todo o seu feitiço do primeiro instante.
E a noite, sobre a rua, era toda estrelada...
havia, aqui e ali, cadeiras na calçada...
E o quanto me lembrei, então, de um amigo constante,

dos que, na pressa de hoje, nem se usam mais
como essas velhas ruas que parecem irreais
e a gente, ao vê-las, diz: "Meu Deus, mas isto é um sonho!"

Sonhos nossos? Não tanto, ao que suponho...
São os mortos, os nossos pobres mortos que, saudosamente,
estão sonhando o mundo para a gente!
= = = = = =

Trova de
SELMA PATTI SPINELLI 
São Paulo/SP

Com tanta delicadeza,
um regato a serra desce...
E eu tenho quase certeza
que a própria serra agradece!
= = = = = =

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Um salgueiro que espiava sobre o rio
Mario Quintana in "A rua dos Cataventos", p. 50

Um salgueiro que espiava sobre o rio
Viu passar meu barquinho de papel
De lágrimas tão cheio, mas de mel
E de sonhos seguia tão vazio.

Sentiu nesse momento um arrepio
Vendo que a dor ao leme do batel
Tinha traçado rugas a cinzel
No rosto refletido no baixio.

Fiquei parado à beira do destino
E vi que a brincadeira de menino
Não poderia mais ser repetida.

Mata-me o que de mim já me roubou
A vida que ao passar me transformou
Na barca que nas águas vai perdida.
= = = = = = = = =  

Trova de
JUNQUILHO LOURIVAL 
Natal/RN (1895 – ????)

Oh perfeita entre as perfeitas,
eu tenho invejas estranhas
da cama em que tu te deitas,
da água com que te banhas!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Poético abandono

As folhas de hera cobrem tuas paredes,
Portas, janelas e varandas,
Lembrando verdes demãos
de tintas,
Afagos a protegê-la das
intempéries...
A escada com nove degraus, ainda,
Preserva parte do mármore,
A porta principal, já sem a dourada
Maçaneta é aberta com facilidade,

E a cada passo, sinto a solidão -
Um silêncio especial espreita-me
Nos gastos tapetes, no piano
Deixado à própria sorte,
Sonhando com Debussy...
A alma da casa abandonada
Refugia-se em imagens e sons
Do passado -
Continuo minha aventura -
Caminhada, sem pressa, com o olhar
E, curiosa, abro mais uma porta,
Encontrando, janelas sem vidros
Que deixam o canto dos pássaros
Mais próximos, fazenda parte
Da linda, mas esquecida, adega
As garrafas de vinho,
Sem rótulos e rolhas
(Nuas - vazias)
Ocupam prateleiras
Como se livros fossem -
Lunetas encantadas
Intocáveis,
Umas sobre as outras
Cobertas por camadas de poeira
Lembram uma segunda pele
Imagino diálogos entre
As garrafas e as partículas de pó,
E a sonolenta cadeira, sem palhas,
A observá-las...
Ah. esse aconchego da passagem
Do tempo, tatuando objetos e sonhos -
Tempo, que tudo desgasta, esmaece,
(Enferruja)
Leva os sorrisos e, aos poucos
Ávida desaparece...
Choro com ela, sinto
Na casa adormecida
Um poético abandono,
Quem sabe,
Ela despertará
Em uma futura aquarela,
Quem sabe?
= = = = = = 

Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Aquele que sempre joga
o lixo em qualquer lugar
é o desleixado que roga:
“ – Venha, dengue,  me atacar!”.
= = = = = = 

Poema de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

Saudade

"Saudade, palavra triste...”
que tanto inspira a dura dor.
"Saudade não tem idade”,
não tem vaidade e não tem cor. 

Saudade nasce da vida ainda em flor...
A flor murcha e morre,
enquanto, o vento corre,
a ressuscita na mesma cor.

Saudade vive na alma,
que, ainda calma, transforma em dor.
Às vezes ela vem do nada,
do infinito ou de um grande amor. 
= = = = = = = = = 

Trova de
BENEDITO MADEIRA
Porto Alegre/RS

Um fato triste, por certo,
não convém ser relembrado…
Jamais conserve por perto
as tristezas do passado!
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

O Avô

Este, que, desde a sua mocidade,
Penou, suou, sofreu, cavando a terra,
Foi robusto e valente, e, em outra idade,
Servindo à Pátria, conheceu a guerra.

Combateu, viu a morte, e foi ferido;
E, abandonando a carabina e a espada,
Veio, depois do seu dever cumprido,
Tratar das terras, e empunhar a enxada.

Hoje, a custo somente move os passos...
Tem os cabelos brancos; não tem dentes...
Porém remoça, quando tem nos braços
Os dois netos queridos e inocentes.

Conta-lhes os seus anos de alegria,
Os dias de perigos e de glórias,
As bandeiras voando, a artilharia
Retumbando, e as batalhas, e as vitórias...

E fica alegre quando vê que os netos,
Ouvindo-o, e vendo-o, e lhe invejando a sorte,
Batem palmas, extáticos, e inquietos,
Amando a Pátria sem temer a morte!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Numa caminhada inglória, 
com minha alma enternecida; 
pude ver a minha história 
no retrovisor da vida.
= = = = = = 

Poema de 
CONSUELO TOMAS
Bocas del Toro/Panamá

Eu era uma casa

Eu era uma casa que quase se fechava
Antiga memória de beijos
Carícia no exílio
Mar calmo e já de volta

Então foste tu
abrindo minhas janelas
Colocando os passos da mirada
música da ternura em tua doce mão
espantando o pó do desengano
uma ou outra palavra e o abraço

ilusão imperfeita
um minuto de vida
oportunidade serena
para ensaiar o amor e suas rupturas

Agora tenho que esquecer-te e não sei como
Recuperar o mecanismo da calma, a música do mar
E sua cumplicidade imensa
O perfeito equilíbrio do que foi conquistado

De qualquer forma antes que a noite chegue
Aqui sempre haverá lugar para teu rosto
Um espaço vazio para que teus braços preencham ou a lembrança
Um silêncio estendido para que teu canto voe ao mais elevado
Aqui.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

No seu biquini apertado, 
Maria me deixa mudo, 
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
= = = = = = 

Poema de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Palavras Tristes
 
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
 
És a estrela gentil das minhas noites,
Noites que mudas no mais claro dia.
Não tenho medo aos gélidos açoites
Da escuridão se a tua luz me guia,
Ó estrela gentil das minhas noites!
 
Quando eu deixar a terra, dá-me flores
Boiando à tona de um sorriso teu;
Que os risos das crianças são andores
Onde os anjos nos levam para o céu...
Quando eu deixar a terra, quero flores!
 
Flores e risos me tecendo o manto,
Manto celeste feito de esperanças...
Quando eu daqui me for, não quero pranto,
Só quero riso, preces de criança:
Flores e risos me tecendo um manto!
 
Anjo moreno de alma cor de lírio,
Mais branca do que a estrela da Alvorada...
Meu coração na hora do martírio
Pede o consolo de uma prece amada,
Anjo moreno de asas cor do lírio!
 
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Este amor que em mim fervilha,
quando estamos sempre a sós...
se for bem feita a partilha,
será eterno entre nós!
= = = = = = 

Hino de
SÃO CAETANO/SP

São Caetano pequeno gigante
Sob um céu estrelado e de anil
És cidade, trabalho, és progresso
És infante do nosso Brasil.

Do passado nos resta lembrança
De heróis que souberam te erguer
Para frente, para frente
São Caetano, tu tens que crescer.

Do triângulo, joia rara
Dá exemplo de teu vigor
E tua luta não para
É grande o teu valor. (Bis)

Mais e mais chaminés se levantam
Apitos fazem-se ouvir
Do trabalho é tua glória
De grandeza será teu porvir.

No futuro será monumento.
Brasil saberá te eleger
Para frente, para frente
São Caetano, tu tens que crescer.

Do triângulo, joia rara
Dá exemplo de teu vigor
E tua luta não para
É grande o teu valor. (Bis)
= = = = = = = = =  

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A idade é, por excelência, 
a grande mestra do amor. 
– É no outono da existência 
que a paixão tem mais calor!
= = = = = = = = =  

Poema de
YEDA PRATES BERNIS
Belo Horizonte/MG

Quando o amor se achega

Quando o amor se achega
e, no outro, não encontra
espaço aberto,
ele, humilde, se aconchega
a si mesmo. E descoberto
se agasalha com pesado manto
do temor, dúvida e espanto.

E a tempo pede
que o acalente,
à desventura
que o sustente
não mais que o prazo certo,
e a um vento
inexistente que o leve
em momento brando e breve.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Mineira com mil louvores, 
Paulista por adoção,
dois estados, dois amores, 
dividindo um coração.
= = = = = = = = =

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Domingo de sol 

Domingo cheio de sol!
Mar agitado e espumante,
a rugir feito um gigante
invade a areia e o arrebol.

As crianças a brincar
jogando bola na areia.
Vai lá, vem cá e volteia,
plateia  a observar.

De repente ouviu-se um grito!
Parecia muito aflito,
veio com as ondas do mar.

O salva-vida aplaudido
saiu da água agradecido
fez uma filha respirar.
= = = = = = = = =  = = = = 

Aldravia de 
MATUSALÉM DIAS DE MOURA
Vitória/ES

paradoxo:
frente
fria
aquece
minha
alma
= = = = = = = = =  

Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGA DOS ANIMAIS

Tenho um cãozinho
Chamado Totó
Que me varre a casa
 E limpa o pó.
 
Tenho um gatinho
Chamado Fumaça
Que me lê histórias
E come na taça.
 
Tenho uma vaquinha
Chamada Milu
Que me limpa os móveis
E cuida do peru.
 
Tenho um periquito
Chamado Piolho
Que me limpa a chaminé
E coze o repolho.
 
Tenho um peixinho
Chamado Palhaço
Quando vai às compras
Usa sempre um laço.
 
Tenho uma porquinha
Chamado Joana
Que lava a louça
E me faz a cama.
 
Um dia escorregou
E caiu no chão
Oinc… oinc… oinc…
Que grande trambolhão!
= = = = = = = = =

Trova de
ROZA DE OLIVEIRA
Curitiba/PR

Não cresceu... Ficou baixinha,
tem, da tesoura o viés
porque a língua, coitadinha,
corre mais do que os seus pés!...
= = = = = = = = =  

José Feldman (Ecos da Solidão)


Em uma pequena cidade, onde as ruas são tranquilas e o tempo parece fluir de maneira diferente, vive Alessandro. Aos 75 anos, ele se tornou uma sombra do homem vibrante que um dia foi. Com seu fiel cachorro, Tico, como única companhia, ele habita uma casa que já foi cheia de risos e histórias, mas que agora ecoa um profundo silêncio.

A solidão é uma visita constante, e, para Alessandro, ela se torna cada dia mais pesada. Ele se lembra de seus irmãos quando eram pequenos, correndo, trazendo vida e alegria ao lar. Mas, à medida que o tempo passou, suas vidas tomaram rumos diferentes. A distância se transformou em abandono, e a casa, uma fortaleza vazia.

Caminhando pelas ruas, observa as famílias passando, as crianças brincando, os avós sendo abraçados. Ele sorri ao ver a alegria dos jovens, mas em seu coração uma dor silenciosa se instala. O descaso da sociedade para com os idosos que vivem sozinhos é um tema que muitas vezes não é discutido. Os dias se arrastam, e a presença de Tico se torna o único consolo em meio à solidão.

Muitos não veem o valor que um idoso pode trazer. A sabedoria acumulada ao longo de décadas, as histórias de vida que poderiam iluminar as novas gerações, tudo isso é frequentemente ignorado. Alessandro, em suas conversas com Tico, fala sobre os tempos antigos, sobre as dificuldades que enfrentou e as lições que aprendeu. Mas, na ausência de ouvidos atentos, suas palavras se perdem no ar.

A solidão não afeta apenas a mente, mas também o corpo. Ele sente a falta de energia, a falta de motivação. Ele gostaria de plantar flores no jardim, de preparar um bolo para as visitas que nunca vêm. O cachorro, com sua lealdade inabalável, é seu único alicerce, mas até mesmo a alegria que ele traz não é suficiente para preencher o vazio.

É essencial que as famílias acolham seus idosos com carinho. Cada um deles trilhou um longo caminho de experiências, de conquistas e derrotas. A vida os moldou, e eles têm tanto a oferecer. Um simples telefonema, uma visita inesperada, podem fazer toda a diferença. É nesse carinho que reside a esperança de um futuro mais humano.

No final de cada dia, Alessandro se senta na varanda, olhando para o céu que se pinta de estrelas. Ele ainda acredita que ao menos Tico o entende. E, embora a solidão possa ser uma companheira cruel, seu coração guarda a expectativa de que um novo dia traga uma mudança. Com um sorriso triste, ele acaricia a cabeça do cachorro e murmura: “Ainda temos muito para viver, não é, meu amigo?”

A verdade é que, enquanto houver amor e empatia, a solidão pode ser suavizada. A experiência dos idosos é um tesouro que devemos valorizar. Eles não são apenas lembranças do passado; são pilares de uma sociedade que precisa aprender a ouvir. E, quem sabe, ao acolhê-los, possamos também descobrir um pouco mais sobre nós mesmos.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, trovador, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba, Ubiratã e Maringá. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul e Gralha Azul Trovadoresca. Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”

Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Renato Benvindo Frata (O Preço da Velhice)


Quando eu estiver bem velho, calva branca com uma faixa de cabelos a lhe dar moldura, acho que serei um sábio, porque ao que se conta, à medida que a idade chega traz consigo uma braçada por vez de sabedoria que se acumula em camadas, como bolo fofo e saboroso. Não importa que a essa época já não possua firmeza nas pernas, que os passos não sejam apressados, que minha jarda tenha se encolhido, mas a idade permitirá que eu siga devagar escorregando solas no asfalto alisado, nas saliências da terra nua que continuará quente ao meio-dia, ou arenosa, ou barrenta, ou fofa, ou pedregosa, mas fértil e produtiva porque, penso, os homens a terão tratado com o devido respeito. 

Também não terá importância se minha visão não permita enxergar com nitidez as cores com nuanças dos contornos sutis das montanhas se sobressaindo do horizonte, e me limite a vislumbrar um barrado sem cor definida, e nem consiga enfiar a linha na fina agulha. Com a minha idade, já terei formado em meu cérebro todas as cores e derivados, e todas as formas, e poder dar às coisas as que quiser, ora mais salientes e vistosas ou brilhantes e resplandecentes, opacas ou desbotadas. 

Os músculos que já não se sobressairão dos bíceps, serão flácidos, em pelancas e, já que não tive a propensão de atleta de academia, continuarei tendo o sedentarismo como hábito, tal como quem gosta de cerveja, vinho, queijo, quitutes, delícias da culinária. Apenas o espinhaço, pressinto, terá se curvado a criar cartilagem e me deixará curvado, os ombros pendentes em sinal de que a pressa e a vontade de seguir na longa caminhada se manteve. Os dentes que já foram alvos, brilhantes e alinhados, terão sido substituídos, mas continuarão a aparecer em cada sorriso ou cumprimento aos passantes, pois do que mais gostarei será sorrir ao cumprimentar, e assim, assumindo a aparência de velho, seguirei trôpego sem a preocupação com o dinheiro que hoje me agita e angústia, sabendo que a velhice traz a despreocupação como ter.

A vaidade cede lugar à razão e os parcos recursos da aposentadoria injusta e ingrata deverão servir para o suprimento das necessidades básicas, menos aos remédios que compõem a excrecência da indústria química onde o lucro vive da morte, e não da cura. Os extratos bancários com sinais de mais e menos, causadores de náuseas e insônia já terão perdido importância e não passarão de simples tiras que o vento levará. Como a ofensa de orgulhosos em soberba que receberei pelo fato de ser velho, de quem se julga importante e se esquece que um dia poderá sê-lo. Essa será absorvida com a facilidade que a sabedoria se mutará em paciência; afinal, ''orgulho e vaidade têm vida de borboleta. Dura um nada."

Esse texto é de julho de 1976, escrito com um estado de espírito tão ruim que me levou a fazê-lo e, o relendo, embora não esteja tão velho quanto a predição, algum acerto há, especialmente na aparência, musculatura, andar impreciso, visão opacada, sorriso espontâneo, saldo bancário controlado e em especial, o valor da aposentadoria em relação ao preço de remédios que, tanto na época, como agora e no futuro, continuará sendo excrecência em relação à realidade, a desiquilibrar qualquer pagante.

Não há aposentado que não sinta nojo e dor no estômago diante de uma farmácia, mal que o persegue dos primeiros aos últimos passos, em que o velho paga com o que não tem, sabendo que deixa mais ricos os já ricos, e os remédios, invés de curarem, alongam a jornada em falsa esperança!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Renato Benvindo Frata nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.
Fontes:
Renato Benvindo Frata. Crepúsculos outonais: contos e crônicas.  Editora EGPACK Embalagens, 2024. Enviado pelo autor.
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Alex Giostri (O Ator e o Autor)

Tudo se inicia no texto. Na realidade tudo se inicia no pensamento do autor. O autor tem uma ideia, pensa sobre essa ideia, formula questões, analisa possibilidades e constrói uma trama pensando na figura do ator. Sem um texto, o ator não pode criar nada, assim como sem o ator o autor não verá sua obra representada. Ambos são criadores. Um da sua própria obra e outro da visão, do entendimento da obra alheia.

É fundamental ao ator que tenha a consciência de que ao se utilizar das palavras do autor a sua função é transformá-las em impressões. Em impressões para os espectadores. Na mesma medida em que ao ator cabe a transformação das palavras do autor em impressões, cabe-lhe também ocultar o homem por trás de si apresentando apenas a personagem, sua ação e a fala.

A relação entre esses dois ofícios é muito próxima uma vez que ambos, autor e ator, iniciam seus trabalhos através de pesquisas e ambos doam seus espaços internos às figuras desconhecidas, irreais. O primeiro interlocutor do autor é o ator enquanto o do ator é o público. E mesmo sendo obra do autor a que está sendo apresentada pelo ator, passa a ser de sua autoria também a concepção, a leitura do que apresenta. É como se dentro do universo do autor o ator criasse a sua melhor maneira de dizer aquilo que se quis dizer.

Sendo também um criador, o ator fica muito mais completo uma vez que deixa de ser mera marionete para oferecer ao universo do autor seus pontos de vista e suas experiências de vida a respeito da personagem em questão. Há sempre o que aprender; o que observar de um outro ângulo. E por isso é fundamental que as duas pontas criadoras estejam sempre em sintonia e que ambas compreendam o que a outra quer falar.

Há uma corrente que diz que o autor é uma ferramenta social e que sua função é tornar a vida das pessoas menos dolorosa, é trazer um pouco de esperança para o mundo, é fazer com que os conflitos sejam expostos de modo não tão duro como a vida expõe. É uma corrente com razão. De fato essa é a função do autor. Há no ofício da escrita essa função social. E há também a mesma função no ofício do ator. E de uma maneira muito mais visível quando se trata de obra teatral, televisiva ou cinematográfica.

Por essa razão é mais que urgente que os atores jovens tenham a compreensão de que suas bases profissionais e emocionais sejam construídas sobre alicerces concretos para que possam levar seus discursos adiante de maneira digna. Essa consciência fará do ator um ator muito mais amplo, mas profundo e com mais responsabilidade em seu ofício.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Alex Giostri é paranaense. Mudou-se para São Paulo, ainda criança. Viveu no Rio de Janeiro (1996-2008) e retornou a São Paulo. Formou-se em Cinema, fez algumas pós-graduações, e também inúmeros cursos profissionalizantes, colaborador de jornais impressos, como Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa, trabalhou como diretor de filmes publicitários. Idealizou e coordenou o Projeto Novo Autor (2004) - projeto de fomentação dramatúrgica que apresentou autores, atores e diretores teatrais para a sociedade carioca. Idealizou seu próprio selo editorial Giostri, em 2005, no Rio de Janeiro. Logo ampliou os trabalhos e apresentou ao mercado o selo RAG e o selo infantil Giostrinho, todos da Giostri Editora Ltda. (giostrieditora.com.br). Em 2007, publicou o livro “Meninos”, com treze contos. Teve dois livros utilizados como bibliografia básica em dezenas de Universidades no país até hoje: Seis ferramentas para a construção de um texto e Do pensamento para o papel. Até 2018 teve 13 obras escritas de sua autoria e 7 obras que organizou, além das mais de 1.000 que atuou como editor responsável. Em 2008, o foco foi para o universo das relações ao publicar Afeto, Amor e Fantasia, um livro voltado às pessoas interessadas em saber mais sobre o universo das relações. Na dramaturgia, Alex foi premiado nacionalmente em um concurso de dramaturgia no ano de 2005 com um de seus textos autorais, Quase, que fala sobre a solidão do Natal. Alex tem uma obra teatral com quatorze textos autorais e duas adaptações de obras literárias. Como roteirista, escreveu roteiros de curtas e longas-metragens, todos em captação de recursos. Além de séries e seriados que possui, todos escaletados. Atuou por conta própria em algumas ONGS, empresas, Secretarias de Cultura e Educação. Desde 2015 está à frente da Oficina literária - A Formação do EU, nas dependências da Penitenciária Industrial de Joinville - SC, onde idealizou e coordena toda a ação, que privilegia apenados e constrói, a partir da criação, uma nova maneira de pensar e conviver com a vida em cárcere. Obteve um prêmio nacional, pelo Instituto Pró-livro, como fomentador de cultura e cadeia produtiva e foi consultor editorial do livro que se intitulou A didática no cárcere, obra essa publicada pela Giostri em 2017.

Fonte:

quinta-feira, 24 de julho de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos * 37 *)

 
 

Leonardo da Vinci (A Cotovia)

Era uma vez um velho eremita que morava numa floresta com apenas um companheiro, um pássaro, uma cotovia.

Um dia dois mensageiros foram procurar o velho eremita para pedir-lhe que os acompanhasse ao palácio de seu amo, que estava gravemente enfermo.

O velho, seguido pela cotovia, partiu com os mensageiros e fizeram-no entrar imediatamente no quarto do homem doente. Quatro médicos balançavam a cabeça, fazendo comentários em voz baixa entre si.

— Não há mais nada a fazer. - murmurou o que parecia ser o mais importante. – Infelizmente ele está morrendo.

O velho eremita em pé junto à porta, observava a cotovia, que pousara no peitoril da janela e olhava fixamente para o doente.

— Ele vai viver. - disse o eremita.

— Mas como pode este camponês fazer uma afirmação dessas? - exclamaram os médicos em coro.

O doente abriu os olhos, viu a cotovia olhando-o fixamente e esboçou um sorriso. Pouco a pouco a cor foi voltando ao seu rosto, suas forças retornaram e, para assombro de todos os presentes disse: — Estou me sentindo um pouco melhor.

Tempos depois, o nobre do palácio, totalmente recuperado, foi à floresta para agradecer ao eremita.

— Não agradeça a mim, disse o eremita. – Foi o pássaro quem o curou. A cotovia, acrescentou ele, é um pássaro muito sensível. Ao ser colocada junto a uma pessoa doente, se ela virar a cabeça e não olhar para o doente, isso significa que não há esperança. Mas se olhar para o doente, como olhou para o senhor, quer dizer que o paciente não vai morrer. Na realidade a cotovia, através do olhar ajuda a recuperação.

Assim como a sensível cotovia, o amor da virtude não olha para coisas vís, sombrias, mas procura tudo o que é nobre e honrado. O pássaro habita o bosque florido, e a virtude habita o coração nobre.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Leonardo de Ser Piero da Vinci nasceu em 1452 na Itália e morreu em 1519, na França, era para seus contemporâneos um personagem discutido e controvertido. Como pintor era mal visto, porque jamais terminava as obras iniciadas; como escultor despertou suspeitas por não ter forjado em bronze o monumento equestre a Francisco Sforza; como arquiteto era perigosamente ousado; como cientista era de fato um louco. Sobre um ponto, no entanto, seus contemporâneos viam-se obrigados a concordar: Leonardo era um argumentador fascinante, um polido conversador, um contador de histórias “mágico” e fantástico, um gênio da palavra acompanhada da mímica.Falando da ciência, fazia calar os cientistas; argumentando sobre filosofia, convencia os filósofos; inventando fábulas e lendas, conquistava os favores e a admiração das cortes. Sempre, e em qualquer lugar, Leonardo era o centro das atenções. E jamais decepcionava seu auditório porque tinha sempre, alguma história nova para contar. As fábulas e lendas de Leonardo têm um objetivo e finalidade moral, algumas foram traduzidas por Bruno Nardini e publicadas no Brasil em 1972. O único personagem constante dessas fábulas e lendas é a natureza: a água, o ar, o fogo, a pedra, as plantas e os animais têm vida, pensamento e palavras. O homem, pelo contrário, aparece como instrumento inconsciente do destino, e sua ação, cega e implacável, destrói vencidos e vencedores.
“O homem é o destruidor de todas as coisas criadas”, escreveu Leonardo no “Livro das Profecias”; e nunca, como hoje em dia, na longa história de nosso planeta, uma asserção foi mais verdadeira e tão tragicamente atual..

Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Sammis Reachers (Eles nunca subiram em árvores)

Eles não sobem em árvores. Bom, nem nós. Mas neles é pior, o baú da memória está nu: eles nunca subiram. Não há essa função em seus smartphones, ou app dedicado no play store. Nem game de escalada em árvores temos, embora haja até game que simule fábrica de cupcakes.

Cresci numa área periférica, miscigenada entre o puramente rural e o deficitariamente urbano. A árvore era uma amiga e uma certeza de qualquer ponto da paisagem.

Subir em árvores era manobra natural, filha primogênita da peraltice que fere toda criança. Claro, havia o subir por puro lazer, esportivo, e havia o utilitário: a coleta de frutas, ou desemaranhar uma pipa agarrada. Mangueiras, goiabeiras, jaqueiras, jambeiros e cajazeiros, e o que mais Deus propusesse de frutas nativas ou exóticas (exótica é a que veio de fora de nossa pátria, e Deus, ah, é um imenso proponente). Havia hierarquia arbórea: Dividíamos as árvores em fáceis, médias, difíceis e impossíveis de subir. Mas, as impossíveis tinham lá seus Quixotes: os moleques especializados em escalada arborescente. Aqui tínhamos quem subisse até em coqueiros e palmeiras, como a macaúba, cujo coquinho-catarro era iguaria bem disseminada e apreciada na região. No mais, o instinto gregário e de divisão laboral prevalecia: Eu, mau escalador, quantas vezes ficava no solo, só aparando as frutas que os hábeis lançavam lá de riba? De uma vez que quase morri aparando tentando aparar jacas (!) dá uma crônica daquelas hilárias. Outra hora.

Há pouco mais de uma década, fazendo uma caminhada com meus sobrinhos de então uns 13 e 10 anos, respectivamente, indaguei sobre o tema. Embora criados na mesma região que eu, o peso geracional carregou a mão sobre os moleques, e eles nunca haviam subido em sequer uma árvore na vida. Havia um pequeno pé de jamelão no caminho (caminhávamos de Tribobó a Maria Paula), e, ao incentivá-los, percebi a verdade do relatado, na imperícia desconcertante dos moleques.

Outro dia vi um texto desses que circulam em grupos de Zap ou páginas de coroas do Facebook, que despejava uma verdade no leitor: Você não vê mais crianças com gesso. Hô, espere aí: Isso é bom, isso é ótimo. Certo? E isso é bastante ruim. Gesso remedia fraturas, fraturas demandam tombos, tombos demandam movimento, risco. Vivência fora da(s) ilha(s) de conforto e eletrotecnia.

Posso subir sobre uma de minhas árvores diletas, sempre ele, o pé de jamelão, e apregoar sobre a necessidade urgente de reconectar nossas crianças com a natureza crua (leia-se: não mediada), mas isso é chover no molhado.

E como subir numa árvore que não existe? A suburbana cultura da árvore no quintal deixou de existir, substituída por funcional concreto, palmeiras e coqueiros interditados à escalada, a piscina ou a área de churrasqueira – vendida pelas empreiteiras de forma padronizada, pouco importa se o cliente aprecie – ou vá fazer uso – da tal churrasqueira. As empreiteiras vendem suas casas conjugadas/geminadas dentro do padrão de máxima utilitariedade e mínima espacialidade. Tal cultura não-arborizada meio que se espalhou pela mentalidade geral, nos subúrbios de algumas de nossas principais cidades e metrópoles. Você pode andar por lugares como o distrito maricasense de Itaipuaçu, com casas instaladas em terrenos de tamanho regular, numa configuração ideal para suportar de um ipê a uma mangueira, passando por toda a inumerável família de árvores e arbustos menores. Mas é possível caminhar por quarteirões sem ver quase copa alguma. Somente telhados coloniais e concreto. Quintais perfeitamente mortos – e funcionais. A Terra paga o preço, e o homem. E as crianças.

Há toda essa coisa das gerações e suas peculiaridades. Baby Boomers, Z, X, Alpha etc. Por sinal, neste 2025 nasce justamente uma nova: a geração Beta. Sim, delimitações úteis – mas até certo ponto: isso tem muito de simples presepada (ah, você já imaginava, hum?), muita coisa conceituada a nível “beta” (provisório/experimental). Assim como – fruto, reflexo? – as incansáveis delimitações e segmentações de problemas mentais que pululam e fazem explodir de páginas os manuais de psiquiatria, e de grana os editores, psicólogos e expedidores-de-laudos em geral. Saiu uma nova atualização há pouco, também.

Voltemos ao tema, vamos de uma polêmica por vez. Precisamos de árvores e de trepadores.

A internet trouxe luz, com perfis de amantes de árvores e frutas, nativas ou exóticas, que trocam informações e vendem mudas, via SEDEX, para todo o Brasil. Sim, quase toda fruta que você (não) conhece pode ser adquirida em muda, chegando embalada no seu portão. Outro dia vi um colecionador brasileiro de frutas (bem, para brincar disso você precisa ter um sítio ou fazenda) que foi à Indonésia em busca de conhecer novas espécies (sul e o sudeste asiático são um dos hotspots fruteiros da Terra). Há empresas como a Safari Garden (@safarigardenplantas) e a Colecionando Frutas (https://www.colecionandofrutas.com.br/), que vendem fruteiras sortidas pelo correio. E há perfis como o do botânico e paisagista Ricardo Cardim (@ricardo_cardim), atualmente badalado, e que ensina, em curtos vídeos no Instagram ou Tik Tok, noções de arborização, paisagismo e botânica aplicada aos temas citados.

Iniciativas fundamentais para resgatarmos a cultura da árvore, e isso, os manuais não vão lhe ensinar, passa pelo moleque e pela moleca, pela construção, neles, da familiaridade que demanda experiências. Leve-os ao parque da cidade, àquele sítio que cobra por diária. Uma trilha, uma caminhada na mata. A árvore na pracinha.

No mais, é restituir o que o progresso dinamitou, a árvore ou arbusto em seu quintal, na calçada, no terreno baldio em frente. Compre. Plante. Eles entregam embalado, em seu portão. Muitas prefeituras distribuem mudas gratuitamente.

Como escrevi num poema, as árvores são “playgrounds patamarizados”. Mas eles, os alfas e betas, precisam descobrir, transitar entre os patamares, arriscar o tombo. E ela, a árvore, precisa ser re-introduzida na sociedade, em seus solos e convívios, feito um parente que passou tempo demais no exílio. Fazer as pazes conosco e ser apresentada a nossos rebentos.

Estou pensando em inaugurar uma “oficina de escalada de árvores”. A cada quinzena, numa APA ou Horto Botânico. Para horror de algumas mães e avós, médicos e autoridades. Bem, é preciso empreender e isso acontece – e prospera – no solo do risco.

Falando em risco, este sim protuberante, o geoterror climático, assevera: É urgente nos reconciliarmos com as árvores, e salvar o(s) que pudermos.
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Sammis Reachers Cristence Silva nasceu em 1978, em Niterói/RJ, mas desde sempre morador de São Gonçalo/RJ, ambos municípios fluminenses. Sammis é poeta, escritor, antologista e editor. Licenciado em Geografia atua em redes públicas de ensino de municípios fluminenses. É autor de dez livros de poesia, três de contos/crônicas e um romance, e organizador de mais de cinquenta antologias.  Aos 16 anos inicia seus escritos e logo edita fanzines, participando do assim chamado circuito alternativo da poesia brasileira, com presença em jornais e informativos culturais. Possui contos e poemas premiados em concursos do Brasil, bem como textos publicados em antologias e renomadas revistas de literatura.

Fontes:
Mar Ocidental. 15.06.2025
https://marocidental.blogspot.com/2025/06/eles-nunca-subiram-em-arvores-cronica.html
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