A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Para espalhar, num momento,
uma notícia qualquer,
não há melhor instrumento
que o rádio, a imprensa e a mulher...
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Não há distância entre um nada e outro nada
(Narciso Alves Pires in "Para Além do Adeus")
Não há distância entre um nada e outro nada
Já que todos os nadas são iguais
Mas o nada que dizes me dói mais
Do que a mágoa que fosse a mais pesada,
Já sei que a minha sorte foi traçada
Para morar num barco preso ao cais
Sem provar o mar chão e os temporais
E não tive, sequer, uma largada.
Ê tudo igual nos tempos que medeiam
As horas destes dias que semeiam
No meu peito uma ausência de porto.
Confinado ao tão pouco que hoje sou
Fico aqui, sei que não chego nem vou
No ponto de partida eu já estou morto.
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Triverso de
MARIA HELENA LOURENÇO TAVARES
São Vicente/SP
Lua
Só uma metade…
Quem foi que escondeu
O resto da Lua?
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
As mãos que colheram as uvas...
Feito, finas rendas que com o tempo
Tornaram-se translúcidas e, aos poucos
Desapareceram,
As mãos que colheram as uvas,
Permanecem vivas, pulsando
Nas lembranças de outras mãos
Colhendo uvas em um antiga ritual
Árduo e encantado,
Mantendo a tradição de colher com cuidado e,
Carinho, e assim extrair
Dos doces cachos, o vinho...
As mãos que colheram as uvas,
Vivas permanecem em vinícolas,
E na solitária garrafa escura, ao lado do queijo.
E também, em telas
E no olhar de quem, curioso
As observa ao alcance das mãos
Em um fim de tarde, repleta
De cores, amor e silêncio...
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Cheguei tarde para a festa...
De véu, grinalda e um sorriso,
ela é a imagem que me resta
de um pretenso paraíso.
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Poema de
PIA TAFDRUP
Copenhague/Dinamarca
Qual a Hora, Qual o Momento?
Uma falha na vida é às vezes castigada
com a morte
- veneno – gás – choque – tiros – ou enforcamento –
mas o que é a morte
senão um castigo?
Uma recompensa ou não?
Condenados a morrer
já nós estamos
- mesmo sem castigo.
Ou será a morte
apesar de tudo uma prenda
que nos impede de viver demais?
Isso sim, seria um castigo!
para nós e para os outros.
Difícil é ver a morte
como prenda
no momento de deitar fora o papel
com a morada de um amigo
que morreu,
tenho que me lembrar
de não mandar mais cartas,
não fazer mais telefonemas,
talvez desistir de conversar em sonhos…
Devo guardar o papel amarrotado
ou recordar o que ele diz?
Há silêncio
na sombra…
Destruo o endereço que ele escreveu
- mas porquê?
Porque o céu com as brasas que se erguem
brilha vermelho – Herodes –
ou porque um pica-pau neste momento
anda por um ramo de pernas para o ar
e cabeça para baixo,
mas o olhar vagueia
pelo céu matinal do abismo.
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Trova de
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
Pergunta a neta, sentida:
"Vovó, como era a mãezinha?"
- Olha no espelho, querida,
tinha esta mesma carinha...
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Vinha de Nabot
Maldito aquele dia, em que abriste em meu seio,
Cruel, esta paixão, como, ampla e iluminada,
Uma clareira verde, aberta ao sol, no meio
Da espessa escuridão de uma selva cerrada!
Ah! três vezes maldito o amor que me avassala,
E me obriga a viver dentro de um pesadelo,
Louco! por toda a parte ouvindo a tua fala,
Vendo por toda a parte a cor do teu cabelo!
De teu colo no vale embalsamado e puro
Nunca descansarei, como num paraíso,
Sob a tenda aromal desse cabelo escuro,
Olhando o teu olhar, sorrindo ao teu sorriso.
Desvairas-me a razão, tiras-me a calma e o sono!
Nunca te possuirei, bela e invejada vinha,
Ó vinha de Nabot que tanto ambiciono!
Ó alma que procuro e nunca serás minha!
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Meu momento mais doído
foi perder quem tanto adoro,
por isso eu choro escondido
para ninguém ver que eu choro!
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Poema de
AMÉRICO TEIXEIRA MOREIRA
Armamar/Alto Douro/Portugal
Como se fosse um punhal doce
Foi quando senti a tua nudez mais perto
que um cais aqueceu o meu corpo.
Foi quando tentei cantar teus olhos perdidos
que a imensidão da tua boca se fechou.
Foi quando louco e escorraçado do teu barco
que as águas do oceano vieram percorrer
com violência o silêncio da tua partida.
Foi quando vindo do infinito da tua pele inundada
que as minhas verdades se desmoronaram
e dissidentes se perderam no equilíbrio
da tua recusa em seres um pântano.
Foi quando no meio de um matagal de vozes
a minha se exasperou na fervura de tantos olhares.
Foi quando os fragmentos de um mundo irônico e
doente de sonho matou de morte o prazer das veias.
Foi quando uma tarde perdida no tempo a
inconstância quis correr mais forte e viscosa,
secreta de raiva, ainda mais sofrida de fogo
que a frescura da razão caiu em mim calada
e triste, o absoluto da solidão me trespassou
como se fosse um punhal doce.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
" O trabalho é que enobrece!"
Dizem todos ao Raul.
E ele responde: - "Acontece,
que eu detesto sangue azul!"
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Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ
Águas Passadas
Essa mulher que você vê, já foi um dia
muito mais do que é hoje em minha vida.
Já foi a musa que inspirou toda a poesia,
e a razão de cada noite mal dormida.
Essa mulher eu quis, mas nada dela tive,
a não ser toda a desilusão que virou dor,
uma dor que no meu peito ainda vive
quando alguém me pergunta sobre amor.
Essa mulher, que me olha indiferente,
que mostra que por mim mais nada sente
e se despede assim, com naturalidade,
não nota que eu procuro, e não consigo
vê-la apenas com os olhos de um amigo,
pois esse olhar é o retrato da saudade.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Na loucura dos meus versos,
e em quase todos seus traços,
há pedacinhos dispersos
do amor que tive em teus braços.
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Hino de
IBIPORÃ/ PR
Foi fundada no bruto sertão
Pouco às margens do Rio Tibagi
E crescendo tornou-se o brasão
Deste povo que vibra e sorri.
Tu exalas perfume no ar
Há em ti um gorjeio de prece
Sua história é um hino a cantar
As grandezas que a pátria enaltece.
Salve, salve Ibiporã.
Terra de audazes bandeirantes
Teus cafezais heróico afã
São teus preciosos diamantes.
Vem dos rios, vem dos lares e florestas.
Vem da alma da infância senil
Sussurrando uma brisa de festas
Ao beijar o pendão do Brasil.
Da mais bela e grandiosa matriz
Linda imagem da Virgem da Paz
Abençoa a cidade feliz
E serena-lhes os dias que traz.
Salve, salve Ibiporã.
Terra de audazes bandeirantes
Teus cafezais heróico afã
São teus preciosos diamantes
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Meu eterno namorado
Esta imensa saudade que ficou,
dos momentos felizes que vivemos,
dos planos para os filhos que tivemos,
tudo isso meu amor concretizou.
A pequenina casa ainda teremos,
onde possa lembrar o que restou,
dessa história de amor que aqui chegou
e em nossos descendentes viveremos.
Meu coração se aflige ao recordar,
aquele nosso sonho anos sessenta,
sente tua presença ali no altar.
Ouço ainda teu passo a caminhar
em cada filho nosso, após quarenta
anos o nosso sonho acalentar.
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
É um velho lar meu legado
onde o amor gerou bonança
e pôs um filho ao meu lado
multiplicando essa herança.
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