sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Vereda da Poesia = 124 =


Semi-Soneto de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

Solidão (3)
 
Oh, solidão, que na alma se adensa, 
teus laços frios me prendem em grilhões, 
um mar de silêncio, onde a vida é tensa, 
e as lágrimas bailam em corações. 

Nos sussurros da brisa, sinto a falta, 
de risos, de abraços, de companhia, 
mas mesmo sem voz, a dor não se exalta, 
e a paz, em sua forma, se anuncia. 

Em cada instante, a vida se ressignifica, 
e o ser que sou, se entrega ao que é…
Solidão, tu és minha amiga antiga. 

No teu abraço, o tempo não é só maré, 
e mesmo só, a dor se modifica, 
transformando a tristeza em fé. 
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

No seu biquini apertado,
Maria me deixa mudo,
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Leveza

Tu te concretas na leveza dos meus sonhos...
Sou um poeta: deixo o vento me levar,
Meu coração, de pensamentos tão tristonhos
Ainda sabe, como flor, o que é sonhar.

Tu polinizas meu amor, quando diluis,
Na tua luz, meu coração que é tão carente
De emoção... e eu já nem sei mesmo onde pus
A minha dor mais arbitrária e incoerente.

Para a escrever, a pena é mero instrumento...
Cada momento é um reflexo do ser
E eu, por viver a insensatez de um sentimento,
Louvo o momento que me faz sobreviver.

Eu me protejo no teu beijo mais carente,
O amor pressente o que o sonho proporciona,
Por isso, quando um coração diz o que sente,
A pulsação a dois dilui-se... e emociona.

Quando a razão nos diz que não, o amor revida,
O amor convida o coração dançar
E se o salão de um coração é uma avenida,
Faço da vida o meu momento de sonhar.

Se és meu par, põe nos meus ombros, o calor
Das tuas mãos, deixa a canção nos embalar,
Pois na penumbra é que a Lua faz amor
Com o sonhador que sempre a quer admirar.

Tu te projetas, não és mero holograma,
És uma chama carinhosa que flutua
E me sorri... mostrando um rosto que me ama,
Ante o olhar mais sedutor da luz da lua.

És tão concreta... e irreal, mas... se te evoco,
Tu sempre vens e me aconchegas no teu seio
E eu, tão menino, a cada vez que eu te toco,
Retoco a calma mais feliz... de um devaneio.
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Trova  Premiada em Irati/PR, 2023

SILVÂNIA MARIA COSTA 
Campo Mourão / PR

Feito rocha, sê bem forte, 
resistente à desventura. 
Mesmo estando à própria sorte, 
na alegria encontre a cura.
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Soneto de 
ENY SANTOS JÚDICE
S. Fidélis/ RJ

 Carta para o amor ausente 

Nesta manhã nevoenta de fumaça
estou morrendo de saudades tuas;
há na minha alma convulsões de luas,
há no meu peito a angústia que amordaça.

Amor, estou sorvendo a amarga taça,
a taça amarga das verdades cruas;
e busco em vão no retinir das ruas,
sufocar este amor que me desgraça.

Inútil! . . . E a obsessão dos teus abraços?!
Sinto em mim ainda as mãos do teu carinho,
dedilharem as cordas dos meus braços,

e a tua ausência, e o teu silêncio enorme,
vivem cantando para mim baixinho,
ninando esta saudade que não dorme!
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Trova Popular

Quando o sobreiro der baga
e a cortiça for ao fundo,
só então se hão de acabar
as más línguas deste mundo.
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Poema de
DORA DIMOLITSAS
São Paulo/SP

Poetas em sarau

Da sacada do prédio ao lado
Vejo poetas em deliciosos saraus,
Muita gente circulando
Bebendo as palavras poéticas,
Vejo os rostos das pessoas
Que na noite deixam a alma falar
Transitando nos corredores.

Paro e me pergunto
A poesia é sonho ou é real?
Chego à conclusão:
Bem vivida a vida é poesia
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Trova de
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Neste mundo de conflitos
o Poder faz e desfaz...
E os povos seguem aflitos
com a esperança de paz!...
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Poema de
J. G. DE ARAÚJO JORGE
(José Guilherme de Araújo Jorge)
Tarauacá/AC (1914 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

De  Mãos  Dadas 

Ando na vida de mãos dadas
com a tua lembrança...

- E para que falar em esperança?

Não sei onde me levará esta ansiedade,
ou esta melancolia
cheia de umidade,
a me envolver como uma cerração...

Para a loucura?
Para a felicidade?
Ou para este morrer de cada dia
de quem vai tateando em noite escura ...
cego do coração?

Que fazer?  Ando na vida
como quem anda
- perdido, andando em vão...

Ando na vida de mãos dadas
com a tua lembrança,
a fazer roda em silêncio... numa triste ciranda
sem canção…
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Trabalha no vestiário
onde o marido é roupeiro,
e, pra aumentar seu salário,
“dá bola”... pro time inteiro!
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Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Minhas Quatro Estações

Foi plena Primavera a minha infância
vivida com carinhos de meus pais,
sentindo sempre, em toda circunstância,
que o amor dos dois é o que valia mais!

Na juventude tive a incrível ânsia
de tudo ver bem rápido demais!
E abrasador Verão, em discordância
ao que hoje sei que não terei jamais!

E todo o Outono meu, de certa forma
foi de pacata vida cidadã:
fiel marido e pai, dentro da norma...

E agora neste inverno em que convivo
com as dores próprias de minha alma anciã,

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Trova do 
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ (1916 -1977) Santos/SP

Brinquedo de porcelana
na mão de criança arteira...
Assim é a ventura humana,
tão frágil... tão passageira...
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Poema de
DORA TAVARES
(Maria Auxiliadora Tavares Duarte)
Pedro Leopoldo/MG

Solidão

Exceto o coração
Tudo se acalma
E faz-se preciso o silêncio.

Há muito não se sobe a escada
E o último táxi entregou em domicílio
Um retardatário da noite.

Por que a queixa
Se não há ouvidos
E esta dor é tão antiga
Como o poder de chorar?

O que nos resta é sorver um chá
Como se nada houvesse
E aconchegar na noite
Em que os pés são frios.
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Trova Funerária Cigana

Aqui descansam os restos
de meu filhinho adorado:
— Botão de flor de minh'alma,
tão rudemente arrancado.
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Soneto de 
ENOCH LINS
(dados desconhecidos)

Você

Você é para mim a síntese da vida!
O espírito que eleva; a matéria que prende,
o gozo que nos põe em perenal subida
e as nossas ilusões pelo infinito estende.

É o tédio que caminha á trágica descida
e o orgulho do prazer impiedoso que ofende;
você é para mim essa lição comprida
que a gente, sem saber, rapidamente aprende.

Só você me faz bem e é todo o meu encanto!
Só você, quem de longe o meu pesar ouvindo
vem depressa e num beijo aniquila o meu pranto.

Só você quem me espera os minutos contando...
Só você, quando eu chego, abre a porta sorrindo,
só você quando eu vou... fecha a porta chorando!
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Trova Hispânica de
LIBIA BEATRIZ CARCIOFETTI
Santiago del Estero/Argentina

Mirando pasar el tiempo
nos damos cuenta en la vida
que el amor no es pasatiempo
sino una lucha aguerrida.
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Poema de 
GERALDO CARNEIRO
Belo Horizonte/MG

O espelho

do outro lado um estranho
faz simulações como se fosse
um demônio familiar
é sempre noite, um assassino sonha
com mulheres assassinadas em série
sob as palmeiras de Malibu
o mundo é só uma ficção plausível
a imagem que baila ao rés-da-lâmina
é um último improvável vestígio
da existência de Deus
os restos são ecos de outras faces
gestos de espanto e despedida
a música dos relógios, a morte
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Trova de
LÓLA PRATA
Bragança Paulista/SP

De mãos dadas com o amor,
vencemos as horas más,
sabendo que o Criador
nos dá coragem e paz!
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Soneto de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

Sacrifício

Inda lembro os botões daquela blusa,
à noite, a provocar meu pensamento…
Desviava o olhar, mas, no momento,
a voz da tentação dizia: – Abusa!

Imaginava o tom de uma recusa,
um afastar-se por acanhamento.
Deveria frear o atrevimento,
não queria perder a minha musa.

Que sacrifício nos impõe a vida!
(Já não retornam mais tantas venturas).
Investir e travar essa investida,

colocar o chapéu em boa altura,
aguardar ser a mão bem recebida
pra não causar transtornos, desventuras.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Destino, fado ou o que for... 
isso tudo é só brinquedo. 
– Na história real do amor, 
cria o amor seu próprio enredo. 
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Soneto de
EUCLIDES DIAS
(Belém/PA)

Viver dormindo 

Beijava-te. . . e beijando-te na face
oh! que doce prazer então sentia...
Se, assim, feliz, eu sempre assim sonhasse...
Se, assim, sonhando me passasse o dia...

Apertava-te ao peito em doce enlace,
com suave e terníssima alegria...
Se assim, sonhando, eu sempre te abraçasse
oh! que noites felizes eu teria!

E se eu te visse, assim, sempre a meu lado,
pálpebras roxas, colo perfumado,
lânguida, terna, e boa, e feiticeira,

eu quisera sonhar sempre, dormindo,
e, se sempre, a sonhar, te visse rindo,
passar dormindo a minha vida inteira.
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Teu amor... tal força tinha,
que a saudade me conduz
e esta penumbra só minha
ainda é cheia de luz!
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Hino de 
Icapuí/CE

Salve terra de um povo que é grande
Generoso e feliz de verdade
Que no afã do trabalho se expande
A grandeza sem par da cidade

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra dos verdes coqueiros,
Que se embalam aos ventos dos mares,
Hoje a ti, todos nós, altaneiros,
Elevamos os nossos cantares.

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra! Pela autonomia
Esperavas com fé renovada.
Os teus filhos ergueram-se um dia
E tornaram enfim libertada.

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra tão bela e querida
Nós saudamos a tua vitória.
Haverás de crescer forte e unida
E terás um futuro de glória!

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal

Salve terra de praias e dunas,
Pelas quais o teu mapa é bordado!
Tu és livre entre livres comunas
Para o bem e o progresso do estado.

Estribilho
Icapuí, rincão ditoso
Do Ceará torrão natal,
Há no teu seio esplendoroso,
Icapuí, nosso ideal
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Trova Humorística de 
RICARDO FERRAZ
Caçapava/SP

Espanta ver como é,
a preguiça do Caipira
que ao tentar coçar o pé,
coça a bota mas não tira.
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Poema de 
JÂNIA SOUZA
Natal/RN

Noturno

Orfeu abandonou-me em plena alcova
A ouvir o burburinho instigante da cama
Com suas falas lúgubres, interrompidas
Pelo estridente cicio da noite desnorteada
Acreditando ser verão em vez de primavera.
Ouço da noite mornas confidências
Verdades, mentiras, ilusão de vagos sonhos
Não compreende o próprio vagar entre  montanhas.
Procuro ignorar insistente convite
Mas suas quimeras prendem-me numa teia
De desejos inconfessáveis de fogo.
Ininterruptamente me fala seus deleites, fraquezas
Queixumes irrequietos de dores paridas.
Seus róseos sentidos arrancam-me gemidos
No frescor da caliente brisa florida dos trópicos
Tocando os leques das mamonas, plumas
De avestruzes em meu corpo semi-adormecido.
Ó noite irrequieta, voraz, que tens a revelar-me?
Será que não percebes meus navegares ensandecidos
Em douradas linhas de pensamento, embalo
De teimosos versos incontroláveis, sedentos
Da língua da lira rouca em meu profundo peito?

Arquejo, engasgada nos anéis das letras
Sopradas do ninho de prazer d'Orfeu adormecido.
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Trova premiada em Irati/PR – 2023
ANA WELTER 
Toledo / PR

Na rocha dura da vida,
esculpi dores e risos.
Hoje fico agradecida
pelos traços imprecisos.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O raposo e os perus

De cidadela uma árvore servia
A perus, contra assaltos do raposo.
Tendo o velhaco dado volta aos muros,
Visto cada peru em sentinela:
«E zombará de mim tal raça? Os únicos
Serão que à lei comum escapem? — Logro!
Voto aos numes do céu...» Cumpriu palavra.
Brilhava a lua, como que quisesse
Amparar a ninhada perueira
Contra o velhaco. Ele não sendo novo
No mister de assaltadas fraudulentas,
Recorre ao saco das maldosas manhas.

Dá visos de trepar; com os pés se guinda,
Faz-se morto; ressurge. Arlequim mesmo
Tais papéis não faria, e tão de molde.
Alta a cauda, cambiava-lhe os reflexos;
Mil outras trejeitos... Nesse entanto
Tosquenejar nenhum peru ousava,
Cansando-os o inimigo, e assim cravando-lhes
Sempre a vista no brilho. A pobre raça
Encadeada ao fim, vinha caindo.

Tantos caídos, tantos apanhados,
Fazem monte. Mais de a metade cai;
E o marau foi depô-los na despensa.
A sobeja atenção fita nos perigos
Nos faz neles cair bastantes vezes.

Recordando Velhas Canções (Madalena)

(samba/carnaval, 1951) 

Compositores: Ari Macedo e Aírton Amorim

Chorar, como eu chorei
Ninguém deve chorar
Amar, como eu amei
Ninguém deve amar

Chorava que dava pena
Por amor a Madalena
E ela, me abandonou
Diminuindo num jardim
Uma linda flor

Ela, que para mim
Era um anjo de bondade
Partiu, me deixando saudade
Eu que era feliz
Tornei-me um sofredor
Porque perdi, um grande amor

A Dor de um Amor Perdido em 'Madalena'
A música 'Madalena', é uma expressão lírica da dor e da intensidade do amor perdido. A letra revela a profundidade do sofrimento do eu-lírico, que chora e ama com uma força que considera incomparável. As frases 'Ninguém pode chorar' e 'Ninguém deve amar' sugere que o amor vivido foi tão profundo que ultrapassa os limites do que é comum ou aconselhável.

A personagem Madalena é retratada como um ser quase divino, um 'anjo salvador', indicando que o amor que o eu-lírico sentia por ela tinha um caráter de adoração e dependência. A perda desse amor é sentida como um abandono devastador, que deixa o eu-lírico à deriva, comparado a um 'barco sem timão perdido em alto mar'. Essa metáfora reforça a ideia de desorientação e desamparo que o fim de um relacionamento pode causar.

A canção, portanto, não apenas fala de amor, mas também da fragilidade humana diante da perda e da solidão. Transmite através de 'Madalena' uma emoção universal que ressoa com qualquer um que já tenha sentido a dor de um amor que se foi.

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 59: Vivendo e aprendendo

 

Dicas de escrita (O Conto de Fadas)


O conto de fadas passou por uma evolução significativa ao longo dos séculos, refletindo mudanças culturais, sociais e literárias. Aqui estão alguns dos principais aspectos dessa evolução:

Começaram como histórias orais, transmitidas de geração em geração. Essas narrativas muitas vezes continham ensinamentos morais e eram utilizadas para entreter e educar.

No século XVII e XVIII, com a escrita, autores como Charles Perrault e os irmãos Grimm começaram a coletar e formalizar essas histórias. Perrault, em particular, adaptou contos como "Cinderela" e "Chapeuzinho Vermelho", acrescentando uma moral explícita.

Nos primeiros contos de fadas escritos, a moralidade era um aspecto central. As histórias frequentemente traziam lições sobre virtudes e comportamentos desejáveis.

No século XIX, durante o Romantismo, os contos de fadas passaram a explorar temas mais profundos, como a psicologia dos personagens e a luta interna entre o bem e o mal. Autores como Hans Christian Andersen introduziram elementos mais sombrios e complexos.

Nos séculos XX e XXI, com o advento do cinema e da televisão, os contos de fadas foram reinterpretados em novas mídias. Disney, por exemplo, transformou muitos contos clássicos em animações, suavizando temas sombrios e enfatizando finais felizes.

Nos últimos anos, muitos autores têm reimaginado contos de fadas, subvertendo suas narrativas tradicionais. Obras como "Ferro e Sangue" de Philip Pullman e "A Rainha Vermelha" de Victoria Aveyard oferecem novas perspectivas e críticas sociais.

Contos de fadas de diversas culturas começaram a ganhar destaque, mostrando a riqueza e a diversidade das narrativas ao redor do mundo. Isso levou à inclusão de novas vozes e experiências na tradição dos contos de fadas.

A análise feminista trouxe uma nova luz aos contos de fadas, questionando as representações de gênero e propondo versões que empoderam as personagens femininas, como em "As Crônicas de Nárnia" de C.S. Lewis.

A evolução dos contos de fadas reflete não apenas as mudanças nas expectativas e valores sociais, mas também a adaptação dos contos às novas realidades e à diversidade cultural. Essa forma literária continua a se reinventar, mantendo sua relevância ao longo do tempo.

São profundamente influenciados por elementos culturais específicos de diferentes regiões do mundo. Aqui estão alguns dos principais fatores que moldam essas narrativas:

1. Tradições e Mitos Locais
Contos de fadas frequentemente incorporam mitos e lendas locais. Por exemplo, os "Contos de 1001 Noites" refletem a rica tradição oral do Oriente Médio.

2. Valores e Moralidades
Os valores culturais, como respeito à família, honra e coragem, são frequentemente refletidos nas lições morais dos contos. Na cultura africana, muitos contos enfatizam a sabedoria dos anciãos.

3. Religião e Espiritualidade
Elementos de crenças religiosas podem aparecer, como em contos europeus que incluem figuras como fadas ou demônios, muitas vezes simbolizando o bem e o mal.

4. Estruturas Sociais e Hierarquias
A representação de classes sociais e papéis de gênero varia amplamente. Em muitos contos ocidentais, princesas são frequentemente salvas por príncipes, enquanto contos de outras culturas podem apresentar heroínas mais ativas.

5. Clima e Ambiente Natural
O ambiente natural também influencia o desenvolvimento das histórias. Contos nórdicos, por exemplo, frequentemente incluem elementos da natureza rigorosa, como florestas densas e invernos rigorosos.

6. História e Política
Eventos históricos, como guerras ou colonizações, muitas vezes moldam as narrativas. Contos de fadas da Europa medieval refletem as tensões sociais e políticas da época.

7. Interação Cultural
A globalização e a troca cultural levaram à adaptação de contos de fadas. Por exemplo, versões ocidentais de contos orientais podem incorporar elementos de diferentes tradições.

8. Estilo e Forma Literária
Diferentes regiões têm estilos únicos de contar histórias. A oralidade é mais prevalente em algumas culturas, enquanto outras possuem uma rica tradição escrita.

9. Simbolismo e Arquétipos
Certos símbolos, como a maçã em "Branca de Neve", podem ter significados variados em símbolos, como a maçã em "Branca de Neve", podem ter significados variados em diferentes culturas, refletindo crenças e valores locais.

Esses elementos culturais não apenas enriquecem os contos de fadas, mas também ajudam a transmitir a identidade e a moral das sociedades em que essas histórias são contadas. A diversidade dos contos de fadas ao redor do mundo é um testemunho da criatividade humana e da complexidade das experiências culturais.

Escritores que abordam os Contos de Fadas

Charles Perrault (1628-1703)
Introduziu a forma escrita dos contos de fadas. Suas histórias, como "Cinderela" e "Chapeuzinho Vermelho", são conhecidas por suas lições morais e finais didáticos.

Irmãos Grimm (1786-1859, 1789-1863)
Coletaram e adaptaram contos populares da tradição oral alemã. Suas versões, como "Branca de Neve" e "Rapunzel", frequentemente contém elementos sombrios e moralidades complexas.

Hans Christian Andersen (1805-1875)
Conhecido por suas histórias poéticas e emocionais, como "A Pequena Sereia" e "A Rainha da Neve". Seus contos muitas vezes exploram temas de amor, sacrifício e transformação.

Oscar Wilde (1854-1900)
Escreveu "O Príncipe Feliz" e outros contos que misturam humor e crítica social, apresentando personagens trágicos e reflexões sobre a natureza humana.

Monteiro Lobato (1882-1948)
Criou contos de fadas adaptados ao contexto brasileiro, como "A Menina do Narizinho Arrebitado". Suas histórias combinam elementos da cultura popular com críticas sociais.

Ana Maria Machado (1941-)
Autora contemporânea que escreveu contos de fadas modernos, como "O Mágico de Oz" adaptado. Suas narrativas muitas vezes incorporam temas de empoderamento e diversidade.

Ruth Rocha (1931-)
Escreveu contos que misturam fantasia e realidade, como "A História de Páscoa". Seus textos são acessíveis e educativos, com foco em valores como amizade e solidariedade.

Lia Zatz (1944-)
Conhecida por suas adaptações e criações originais de contos de fadas que abordam questões sociais e emocionais, trazendo uma perspectiva contemporânea para a narrativa.

Como escrever um conto de fadas

Escrever um conto de fadas envolve a combinação de elementos clássicos com criatividade e originalidade. Aqui estão algumas etapas, exemplos e dicas para ajudar nesse processo:

1. Escolha um Tema Central
Exemplo: O amor verdadeiro, a coragem, ou a luta entre o bem e o mal.

Dica: Defina a mensagem ou moral que você deseja transmitir. Por exemplo, um conto sobre coragem pode contar a história de um personagem que enfrenta seus medos.

2. Crie Personagens Arquetípicos
Príncipe, princesa, vilão, ajudante mágico.

Dica: Utilize arquétipos clássicos, mas adicione profundidade. Por exemplo, crie uma princesa que não espera ser salva, mas que luta por seu próprio destino.

3. Estabeleça um Mundo Mágico
Florestas encantadas, castelos, reinos distantes.

Dica: Descreva o ambiente de forma vívida. Um reino pode ser cercado por uma névoa mágica que esconde perigos e maravilhas.

4. Introduza um Conflito
Um vilão que ameaça o reino ou um encantamento que precisa ser quebrado.

Dica: O conflito deve ser claro e motivar a jornada do protagonista. Por exemplo, uma bruxa que sequestra a irmã do herói.

5. Desenvolva a Jornada do Herói
 O herói deve superar desafios e aprender lições ao longo do caminho.

Dica: Inclua ajudantes e testes. Por exemplo, o herói pode encontrar um animal falante que lhe dá conselhos ou um objeto mágico que o ajuda em sua missão.

6. Inclua Elementos Mágicos
Feitiços, objetos encantados, criaturas mágicas.

Dica: Use a magia para avançar a trama e criar surpresas. Um espelho mágico que mostra o futuro pode ser um ótimo recurso.

7. Conclua com uma Resolução Clara
O bem triunfa sobre o mal, ou o herói aprende uma importante lição.

Dica: A conclusão deve oferecer satisfação e reforçar a moral da história. Por exemplo, a princesa se torna rainha e governa com justiça após derrotar a bruxa.

Dicas Finais

Use uma linguagem simples e poética: Contos de fadas muitas vezes têm um ritmo lírico.

Incorpore repetição: Frases repetidas podem criar um efeito encantador.

Seja criativo com a moral: Evite lições óbvias; busque nuances que convidem à reflexão.

Seguindo essas etapas e dicas, você pode criar um conto de fadas envolvente e significativo que ressoe com leitores de todas as idades.
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EXEMPLO DA ESTRUTURA DO CONTO ABAIXO:

Título: A camundonga corajosa

Tema: Coragem e autoafirmação.

Personagens:
Camundonga Matilda (protagonista)
Bruxa Maligna Clotilde (vilã)
Corvo Tomás (sábio)

Mundo: Um reino cercado por uma floresta mágica e misteriosa.

Conflito: A Bruxa Maligna lança um feitiço que transforma os animais em pedra.

Jornada: Matilda decide enfrentar a bruxa. Na floresta, ela encontra o corvo Toby, que lhe dá um conselho. Ela enfrenta desafios, criados pela bruxa.

Resolução: Com coragem, Matilda derrota a bruxa. Ela aprende que a verdadeira força vem de dentro,.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: IA Poe.  Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

José Feldman (Conto de Fadas) A Camundonga corajosa



Nota: Veja a estrutura do Conto de Fadas no texto acima.
Era uma vez...
Em um reino distante, havia uma pequena aldeia cercada por uma floresta mágica e misteriosa. Nessa aldeia, vivia uma camundonga chamada Matilda. Embora fosse pequena e frequentemente ignorada, Matilda tinha um coração valente e sonhava em fazer grandes coisas.

O Problema
Certa manhã, os habitantes da aldeia acordaram assustados. Uma bruxa malvada chamada Clotilde havia lançado um feitiço, transformando todos os animais da floresta em pedras. Ela estava furiosa porque os animais não a acatavam e decidiu punir a aldeia por sua desobediência.

Matilda, percebendo que seus amigos, como o sábio corvo Tomás e a gentil raposa Flora, estavam petrificados, decidiu que era hora de agir. Com coragem, ela se aproximou do ancião da aldeia e perguntou como poderia ajudar.

A Jornada
O ancião contou que a única maneira de quebrar o feitiço era encontrar o Cristal da Coragem, escondido na montanha mais alta do reino. Matilda sabia que a jornada seria perigosa, mas não podia deixar seus amigos assim.

Com um pequeno manto feito de folhas e um pedaço de queijo na mochila, Matilda partiu em direção à montanha. No caminho, encontrou Tomás, que, mesmo petrificado, ainda podia falar.

"Se você deseja quebrar o feitiço, não se esqueça de ser corajosa e gentil", aconselhou o corvo. Matilda prometeu que não se deixaria abalar, e continuou sua jornada.

O Encontro com a Bruxa
Ao chegar à montanha, ela encontrou a entrada de uma caverna escura. Com o coração acelerado, ela entrou e se deparou com Clotilde, que estava guardando o Cristal da Coragem.

"Quem ousa entrar em meu domínio?" gritou a bruxa, com um olhar maligno.

"Eu sou Matilda, e vim quebrar o feitiço que você lançou sobre os animais", respondeu a camundonga, tremendo, mas determinada.

Clotilde riu. "Você, uma simples camundonga? O que pode fazer contra um feitiço poderoso?"

Matilda respirou fundo e, em vez de medo, falou com firmeza: "Eu posso mostrar que a verdadeira coragem vem do coração, não do tamanho."

O Desfecho
A bruxa, intrigada pela bravura de Matilda, decidiu testá-la. "Se você realmente tiver coragem, enfrente três desafios, e então eu considerarei libertar os animais."

Os desafios eram perigosos: atravessar um rio cheio de crocodilos, resolver um enigma mágico e, por fim, encontrar uma flor rara que crescia em uma montanha íngreme.

Com a ajuda de sua astúcia e a coragem que brotava de seu coração, Matilda superou cada desafio. Ela usou seu pequeno corpo para se esgueirar entre os crocodilos, pensou cuidadosamente para resolver o enigma e, com determinação, escalou a montanha até encontrar a flor.

Impressionada, Clotilde finalmente entregou o Cristal da Coragem a Matilda. Com um gesto gentil, a camundonga quebrou o feitiço, e todos os animais voltaram à vida.

Matilda voltou à aldeia como uma heroína, e Clotilde, ao ver a bondade e coragem da pequena camundonga, decidiu mudar seu comportamento. Ela não mais usou magia para causar medo, mas sim para ajudar a aldeia.

E assim, a aldeia aprendeu que a verdadeira coragem não é medida pelo tamanho, mas pela força do coração.

Moral: 
A coragem e a bondade podem superar até mesmo os maiores desafios.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.