quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Asas da Poesia * 65 *


Trova de
ANGÉLICA VILLELA SANTOS
Guaratinguetá/SP, 1935 – 2017, Taubaté/SP

A mocinha reclamou
mas o ceguinho, no baile,
passando a mão, explicou:
- A minha dança é em braile!!!
= = = = = =

Folclore Português em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

A Lenda da Moura Encantada

Na fonte serena, um canto a ecoar,
a Moura Encantada, beleza a brilhar,
com cabelos de seda e olhar de luar,
enfeitiça os corações que a vêm admirar.

Prisioneira do tempo, em magia a dançar,
nos braços da noite está sua alma a vagar,
quem a encontra, um destino a selar,
entre amor e encanto, um eterno par.

Mas há um segredo que a faz suspirar,
um amor que a espera, um sonho a flutuar,
na luz da manhã ela anseia por ser

Moura, a lenda, que não quer perecer,
e em cada sussurro, um lamento a ficar,
na bruma do passado, sua dor a guardar.
= = = = = = 

Trova de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

Que saudade dos confetes,
serpentinas e pierrôs,
colombinas, marionetes,
das vovós e dos vovôs.
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP

Sinais invertidos

Olhando a terra acima dos sentidos
um ar tristonho abate-me na entranha:
sermões abaixo aos ares da montanha
e súplicas em motes de alaridos.

Como esperar que rogação tamanha
venha a elevar as almas dos “ungidos”
pelos sinais, nas mentes, invertidos,
se trechos do alfarrábio mal arranha?

Verter em lágrimas na espera, inerte,
(açoite de cilício não reverte)
na frialdade do silêncio atroz...

é malograr-se às vestes endeusadas;
é recorrer às luzes apagadas
se Deus reside aqui... dentro de nós!!
= = = = = = 

Trova de
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

A vida é “jangada ao vento”...
  Iço a vela, aperto o laço:
  No mar do meu pensamento,
  o vento... sou eu que faço!
= = = = = = 

Poema de
DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ, 1899 -1991, Petrópolis/RJ

O beco
 
No beco escuro e noturno
Vem um gato rente ao muro.
Os passos são de gatuno.
Os olhos são de assassino.

Esgueirando-se, soturno,
Ele me fita no escuro.
Seus passos são de gatuno.
Seus olhos são de assassino.

Afasta-se, taciturno.
Espanta-o meu vulto obscuro.
Meus passos são de gatuno.
Meus olhos são de assassino.
= = = = = = 

Quadra Popular

Jurei não amar ninguém,
mas eu confesso a fraqueza,
não é tanto minha a culpa
como é da natureza.
= = = = = = 

Poema de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ

O Anel de Vidro

Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, -
Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou

Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

À noite, ó rua, constatas,
em teus silêncios tristonhos,
que, enquanto um cão vira latas,
eu vou virando os meus sonhos!
= = = = = = 

Poema de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR

Acordei

Hoje acordei...
Então vi há quanto tempo dormia
e não via a vida fluir...

Os momentos perdidos de viver
outro amor, outra vida, amores...

Eu me achava condensada
em paixão. Respirando você
que não olha e não vê esse amor
que envolve meu ser
me fazendo sofrer em anseios
de ter o meu corpo em seus braços
e sua boca, a minha, a beijar.

Acordei e deixei você ir.
Esvaziei o meu ser de você.
O meu ventre e o meu coração
nunca mais sofreram a carência
ilusão do sonhar...preencher
um vazio com ar.
= = = = = = = = = 

Trova de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902– 1987, Rio de Janeiro/RJ

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada:
amor é o sumo da vida.
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

Agradecimento

Eu agradeço a Deus tanta ventura,
que orna a minha vida, o meu caminho!
Não deixar que em meus pés, um só espinho,
os façam fraquejar pela tortura!

Enfeitar os meus dias, de ternura,
rechear minhas horas de carinho!
Nunca deixar, que ficasse sozinho,
em triste solidão, torpe amargura!

Obrigado meu Deus, pelos amigos,
que me abraçam, me livram dos perigos,
e que por Ti, estão ao meu dispor!

A todos que me dão tanta amizade,
eu desejo a maior felicidade,
muitas graças de Deus, e muito amor!
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
= = = = = = 

Soneto de 
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Policromia

Nesta profusão oculta de sentires
que aconchego e acalento com ardor,
não estranhes quando acaso descobrires,
misturada a tanta cor, a tua cor.

Se entre as ânsias de minha alma um dia ouvires
um som que possa a um lamento enfim se opor,
é tua a voz! E feliz quando me vires,
da alegria que eu sentir serás credor.

No cinzento do meu peito, mil nuanças,
cor de rosa e de esperança, tentas pôr.
Com teus olhos, as tormentas são bonanças;

por tua mão, o agudo espinho é fina flor,
A mistura policroma já não cansa
quando, em meio a tanta cor, há a tua cor…
= = = = = = 

Trova de
DALMIR PENA
Volta Redonda/RJ

Já fui comilão outrora!
Hoje, ao lembrar-me, acho graça:
vontade ainda tenho agora,
mas, como vem, logo passa!!!
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Loucura e Lucidez 

Nuances do tempo 
podem ser carícias, 
matizes do instável 

medo das lamúrias do vento,
ou apenas respostas da vida,
onde a lucidez é insuportável.
Tons do mesmo lado daquela 
moeda, o vil desdém imutável. 
= = = = = = 

Trova de 
RUI CARDOSO NUNES
Porto Alegre/RS

Por berço tive a montanha!
Sou camponês, trovador!
No universo da campanha,
meu estro virou condor!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Sinal de amor

Você é o sinal do amor de Deus por mim!
A pessoa mais doce já nascida!
Sua fragrância excede a do jasmim
e eu amo o seu sorrir, minha querida!

Você é a luz do sol em meu jardim;
a minha paz sonhada e apetecida,
você é a esposa amiga e é tudo, enfim,
que eu desejava ter em minha vida!

Se você sai de perto eu entristeço,
se não me dá notícia, eu desespero,
e até quando se cala, eu endoideço...

Mas quando você volta, eu a venero,
e se me diz “amor”, eu tudo esqueço,
e só me lembro o tanto que eu a quero!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Bem cedinho o galo canta, 
molhado ainda de orvalho. 
A roça, ouvindo-o, levanta, 
e um hino entoa ao trabalho!
= = = = = = 

Poema de
SYLVIA PLATH
Boston/EUA, 1932 – 1963, Londres/Grã-Bretanha

Espelho

Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.

Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
(Tradução de Vinicius Dantas)
= = = = = = 

Triverso de
CARLOS SEABRA
São Paulo/SP

chuva lá fora –
os pássaros, molhados,
foram embora
= = = = = = 

Poema de
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
São José dos Campos/SP

A luz dos olhos seus

Que todas as manhãs, 
por mais frio que se faça, 
nos sejam aquecidas 
por nosso respeito e amor!

Sem deixar lembranças vãs
que toda neblina se desfaça, 
nas carícias despendidas, 
com muito, muito ardor!

Que a confiança que nos enlaça, 
na fé e esperança, mantidas, 
fortaleça nossa auto-estima, 
abençoada pelo nosso amor!

Que cada um de nós veja bem, 
por si próprio, suas atitudes,
mas, saiba enxergar também
com magnitude, 
a luz dos olhos seus...
= = = = = = 

Trova de
NILTON MANOEL TEIXEIRA
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024

Meu filho só dá trabalho…
diz, na escola, o pai irado!
e o mestre olhando o pirralho…
por isto estou empregado!
= = = = = = 

Soneto de 
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Ao Coração que Sofre

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Melhor sorrir na pobreza
que ser rico na apatia,
pois fartura sobre a mesa
não enche a vida vazia!
= = = = = = 

Hino de Cidades Brasileiras
MONTES CLAROS/MG

Nas manhãs gloriosas das Bandeiras,
Nascestes protegida pela Cruz,
Plantada pela fibra de Figueira,
Ao pé dos montes, refletindo luz.
No sertão ressequido das Gerais,
O pranto inaugural dos filhos teus
Rasgou teu solo, para nunca mais
Perderes lutas nem perderes Deus.

Salve, Montes Claros! És nortestrela!
Crescendo arrojada e altaneira,
História vais fluindo de bravuras
Com o orgulho de seres brasileira.

Tu és uma cidade consagrada
Pela vez dos teus bardos e cantores,
Que centelhas de ouro, na alvorada,
Semearam, exaltando os teus primores.
Os dois irmãos alertas, lucilantes
Louvam o teu progresso, tua grandeza,
E em sintonia, nos teus horizontes,
A Liberdade brilha em realeza.

Salve, Montes Claros! És nortestrela!
Crescendo arrojada e altaneira,
Histórias vais fluindo de bravuras
Com o orgulho de seres brasileira.
= = = = = = 

Trova de
LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA
Barra do Piraí/RJ, ?? – 2009

Na inquietação que se aguça,
carrego na alma dorida,
a grande montanha russa
do sobe-e-desce da vida!
= = = = = = 

Poema de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

Final de serenata 

Guarda, meu coração, o teu segredo. 
Para que revelá-lo se termina 
a canção que sufoca, que alucina, 
que me lançou, pra sempre, no degredo? 

Ao novo seresteiro, oculte o enredo. 
Não mostre essa verdade cristalina: 
é a lei da paixão quem determina 
o qual será feliz, contado aos dedos. 

Eu cansei de cantar pra minha amada. 
Eu cansei de penar na caminhada… 
A canção foi cruel, incrível, ingrata. 

A riqueza do mundo é um problema, 
a vida, uma canção, o amor o tema, 
o tempo em que vivemos, serenata.
= = = = = =

Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Se a porta é larga, desvio,
sem luta não tem vitória.
Porta estreita é o desafio
de quem vence e faz história!
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
CAIXINHA, OBRIGADO 
(samba, 1960) 
Juca Chaves

A mediocridade é um fato consumado
na sociedade onde o ar é depravado
marido rico, burguesão despreocupado
que foi casado com mulher burra mas bela
o filho dela é político ou tarado
Caixinha, obrigado!

A situação do brasil vai muito mal;
Qualquer ladrão é patente nacional;
Um policial, quase sempre, é uma ilusão
E a condução é artigo racionado.
Porém, ladrão... isso tem pra todo o lado!
Caixinha, obrigado!

O rock'n'roll, nesta terra é uma doença,
e o futebol, é o ganha pão da imprensa
vença ou não vença, o Brasil é o maioral
e até da bola, nós já temos general
que hoje é nome de estádio municipal
Caixinha, nacional!

a medicina está desacreditada
penicilina, já é coisa superada
tem curandeiro nesta terra pra chuchu
Rio de Janeiro tá pior que Tambaú
e de outro lado, onde está o delegado
Caixinha, obrigado!

Dramalhão, reunião de deputado
é palavrão que só sai pra todo lado
Se um deputado abre a boca, é um
atentado
E a mãe de alguém é quem sofre toda vez
No fim do mês... cento e vinte de ordenado.
Caixinha, obrigado!
= = = = = = = = = = = = =

Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Vestir a carapuça”

Vestir o que mesmo, parente? Afinal, o que vem a ser “carapuça”? 

Segundo o “pai dos burros”, é uma espécie de barrete ou capuz de forma cônica e remonta ao período da Inquisição, em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos ao comparecer aos julgamentos. 

Além de usarem uma túnica com o formato de poncho, os acusados precisavam colocar sobre a cabeça um chapéu longo e pontiagudo, conhecido como carapuça. Daí a expressão "vestir a carapuça" ter se incorporado ao português escrito e falado, com o exclusivo sentido de alguém implicitamente assumir a culpa ou colocar-se como culpado, mesmo por algo não expressamente admitido. É como se a pessoa reconhecesse que uma crítica se lhe aplica, embora não lhe sendo sido diretamente dirigida. 

Nesse passo, quando alguém "veste a carapuça" – em sentido figurado e não literal – reconhece que uma responsabilidade ou acusação é procedente em relação a si mesmo. De uso rarefeito na atualidade, os adestradores de falcões ainda colocam carapuças para manter a calma nessas aves de rapina, antes que alcem voos para combater outras aves, principalmente as que adejam nos aeroportos, colocando em risco a segurança da navegação aérea. 

Famosa no universo infantil se tornou a carapuça do Saci-Pererê, o diabinho sapeca de uma perna só, imortalizado na série de livros infantis do Sítio do Pica Pau Amarelo, criação do genial escritor Monteiro Lobato, personagem que vaga solto pelo mundo aprontando das suas, com seu famoso cachimbo aceso na boca e a carapuça vermelha na cabeça.

Na musica popular surgiu o rap “Veste a Carapuça”, onde no texto poético uma dupla viola aos gritos os padrões aceitos da moralidade pública, por isso transcrevemos somente o trecho em que a expressão é mencionada:

 “Bicho sem postura e conduta no rolê,
com esses cinco mango que cê tem,
Só arruma um cd, ouve, veste a carapuça,
Vem falar bonito, finge que gostou,
Fico com a grana e finjo que acredito!..."

Em certos casos, incisivamente se pode interpelar alguém usando a contrário sensu mas com o mesmo objetivo a expressão “Se a carapuça serviu, vista!”... Dá no mesmo, pois em vez de deixar flutuando no ar para ser usada por quem de direito, nessa hipótese, já há um destinatário pré-determinado da acusação, embora continue ele agindo como se não tivesse “culpa no cartório”. 

Em outro contexto usar a expressão “Vestir a carapuça” pode ser oportuno e interessante quando a fala não tem a menor intenção de fazer crítica a outrem, ainda mais quando o dito cujo eventualmente se encontra numa reunião de amigos, mas outra pessoa resolve tomar as dores do suposto acusado. Ouvirá, possivelmente dos demais participantes: - E porque você está vestindo a carapuça, se nada tem a ver com isso?

Sobram exemplos sobre o uso dessa expressão, seja de modo expresso, seja de modo implícito. Maneco era um moleque precoce do interior, que nos anos 40 pegou o vício de fumar escondido dos pais. Juntava suas moedas para comprar cigarros a retalho nas bibocas da rua da beira. Tinha predileção pelo “Terezita”, um mata rato feito com tabaco de Bragança, cuja fábrica, na época, ficava na antiga avenida 1.º de Maio n.º 210 em Belém, famoso pela fortidão, capaz - diziam - de derrubar muriçoca a dois metros numa única baforada. 

Depois do almoço, quando a família se entregava ao deleite da sesta, furtivamente ele se trancava no banheiro e lá dava suas tragadas, em estado de pura catarse. Até que alguém dedurou e o Conselho Familiar resolveu dar um basta naquela situação. Certo dia, fingindo que ressonavam, viram quando ele se escondeu para curtir o vício, oportunidade em que se postaram à frente do improvisado fumódromo, aguardando o fim do espetáculo. Dez minutos depois, ao sair do cubículo, deu de cara com os pais, que sem nenhuma palavra ou gesto de reprovação, se limitaram a fitá-lo duramente e à densa fumaça que foi liberada com a abertura da porta. E sem poder negar o óbvio, Maneco instintivamente “vestiu a carapuça”:

- Vocês vão querer dizer que eu estava fumando aí dentro...

Há pessoas que se sentem ofendidas em face de uma conversa, por entender que o “recado” é para ela. O que podemos fazer, se a carapuça lhes serviu, por se terem identificado com o que foi dito por outrem? Qual o grande problema com as críticas, ciente que somos das nossas falhas? Ninguém nasce com o estigma da perfeição. Resta convencionado que temos 15 minutos por dia para fazer bobagens, pisar na bola, falar o que não devemos, comprar o que não precisamos e a vida toda para se arrepender. Mas convenhamos que só através das críticas, quando procedentes, é que modificamos a nós mesmos.  

Os que, encastelados em posições de mando, se julgam pequenos césares, achando-se inalcançáveis e imunes a quaisquer críticas, ainda que justas, vão sempre “vestir a carapuça” toda vez que surgirem protestos profligando suas arbitrariedades, embora sem se aperceberem que o ato de criticar se assemelha a uma auditoria gratuita ofertada, visando corrigir os excessos. 

Em qualquer situação e para cada um de nós, vale refletir sempre sobre o que foi dito, antes de vestirmos a carapuça. Se a conclusão for de que não corresponde à verdade ou não nos atinge, o barrete na cabeça não nos cabe. Entretanto, se fizer sentido, procure melhorar naquele aspecto, pois só não mudam os inanimados, presente o fato da constante mutação dos seres vivos - e na grande maioria dos casos conhecidos, felizmente para melhor. 
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Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
Fonte:
Texto e imagem enviados pelo autor

Lima Barreto (Queixa de Defunto)

Antônio da Conceição, natural desta cidade, residente que foi em vida, na Boca do Mato, no Méier, onde acaba de morrer, por meios que não posso tomar público, mandou-me a carta abaixo que é endereçada ao prefeito. Ei-la:

“Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito do Distrito Federal. Sou um pobre homem que em vida nunca deu trabalho às autoridades públicas nem a elas fez reclamação alguma. Nunca exerci ou pretendi exercer isso que sé chama os direitos sagrados de cidadão. Nasci, vivi e morri modestamente, julgando sempre que o meu único dever era ser lustrador de móveis e admitir que os outros os tivessem para eu lustrar e eu não.

“Não fui republicano, não fui florianista, não fui custodista, não fui hermista, não me meti em greves, nem coisa alguma de reivindicações e revoltas, mas morri na santa paz do Senhor quase sem pecados e sem agonia.

“Toda a minha vida de privações e necessidades era guiada pela esperança de gozar depois de minha morte no sossego, uma calma de vida que não sou capaz de descrever, mas que pressenti pelo pensamento, graças à doutrinação das seções católicas dos jornais.

“Nunca fui ao espiritismo, nunca fui aos ‘bíblias’, nem a feiticeiros, e apesar de ter tido um filho que penou dez anos nas mãos dos médicos, nunca procurei macumbeiros nem médiuns.

“Vivi uma vida santa e obedecendo às prédicas do Padre André do Santuário do Sagrado Coração de Maria, em Todos os Santos, conquanto as não entendesse bem por serem pronunciadas com toda a eloquência em galego ou vasconço.

“Segui-as, porém, com todo o rigor e humildade, e esperava gozar da mais dúlcida paz depois de minha morte. Morri afinal um dia destes. Não descrevo as cerimônias porque são muito conhecidas e os meus parentes e amigos deixaram-me sinceramente porque eu não deixava dinheiro algum. É bom meu caro Senhor Doutor Prefeito, viver na pobreza, mas muito melhor é morrer nela. Não se levam para a cova maldições dos parentes e amigos deserdados; só carregamos lamentações e bênçãos daqueles a quem não pagamos mais a casa.

“Foi o que aconteceu comigo e estava certo de ir direitinho para o Céu, quando, por culpa do Senhor e da Repartição que o Senhor dirige, tive que ir para o inferno penar alguns anos ainda.

“Embora a pena seja leve, eu me amolei, por não ter contribuído para ela de forma alguma. A culpa é da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro que não cumpre os seus deveres, calçando convenientemente as ruas. Vamos ver por quê. Tendo sido enterrado no cemitério de Inhaúma e vindo o meu enterro do Méier, o coche e o acompanhamento tiveram que atravessar em toda a extensão a rua José Bonifácio, em Todos os Santos.

“Esta rua foi calçada há perto de cinquenta anos a macadame e nunca mais foi o seu calçamento substituído. Há caldeirões de todas as profundidades e largura, por ela afora. Dessa forma, um pobre defunto que vai dentro do caixão em cima de um coche que por ela rola, sofre o diabo. De uma feita um até, após um trambolhão do carro mortuário, saltou do esquife, vivinho da silva, tendo ressuscitado com o susto.

“Comigo não aconteceu isso, mas o balanço violento do coche, machucou-me muito e cheguei diante de São Pedro cheio de arranhaduras pelo corpo. O bom do velho santo interpelou-me logo:

“- Que diabo é isto? Você está todo machucado! Tinham-me dito que você era bem comportado – como é então que você arranjou isso? Brigou depois de morto?

“Expliquei-lhe, mas não me quis atender e mandou que me fosse purificar um pouco no inferno.

“Está aí como, meu caro Senhor Doutor Prefeito, ainda estou penando por sua culpa, embora tenha tido vida a mais santa possível. Sou, etc., etc.”

Posso garantir a fidelidade da cópia e aguardar com paciência as providências da municipalidade.
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AFONSO HENRIQUES DE LIMA BARRETO nasceu em 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Era negro e de família pobre. Sua mãe era professora primária e morreu de tuberculose quando Lima Barreto tinha 6 anos. Seu pai era tipógrafo, porém sofria de doença mental. Mas tinha um padrinho com posses - o Visconde de Ouro Preto (1836-1912) -, o que permitiu que o escritor estudasse no Colégio Pedro II. Depois, ingressou na Escola Politécnica, mas não concluiu o curso de Engenharia, pois precisava trabalhar. Em 1903, fez concurso e foi aprovado para atuar junto  à Diretoria do Expediente da Secretaria da Guerra. Assim, concomitantemente ao trabalho como funcionário público, escrevia os seus textos literários.  Em 1905, trabalhou como jornalista no Correio da Manhã. Lançou, em 1907, a revista Floreal. Em 1909, o seu primeiro romance foi editado em Portugal: Recordações do escrivão Isaías Caminha. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma foi publicado, pela primeira vez, em 1911, no Jornal do Comércio, em forma de folhetim. Em 1914, Lima Barreto foi internado em um hospital psiquiátrico pela primeira vez. Se candidatou três vezes a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, recebeu dela, apenas uma menção honrosa em 1921. Morreu em 1922.
Fontes:
Revista Careta, Rio de Janeiro, ano XIII, n. 613. 20.03.1920.
Imagem criada com Microsoft Bing 

João Gilberto Noll (Dois Ingressos)

“DOIS INGRESSOS”, Pedi me abaixando um pouco, espiando as tristes feições que me atendiam. Sabia que eu estava absolutamente sozinho, mas não me contive, repeti: “Dois ingressos”. Na verdade não me importava com o filme em cartaz. Apenas deixei que o vento batesse no que me restava de cabelo, e fiquei ali, esperando que a moça me entregasse os bilhetes para o filme sobre o qual eu nem vagamente ouvira falar. Uma criança, claro, me puxava pela calça para que eu comprasse suas pastilhas de hortelã. Dizem que na eternidade todas as coisas vão se conectar umas às outras sem que nenhuma pese demais, ou seja, sem que nada chame muito a atenção sobre si para que tudo possa se encadear indefinidamente, um papo assim. Pois foi nisso que fui pensar no momento em que aguardava os bilhetes. A criança vendedora de pastilhas já não estava por ali.

Entrei. Dormi. Acordei com o filme pelo meio. Dois corpos se beijavam dentro de um carro. Depois uma batalha esquisita entrava. Numa época anterior à possibilidade histórica de um carro. Depois… depois uma sombra azeitonada cochichava ao meu ouvido um torvelinho de sílabas com uma fenda voraz em certo trecho de toda a confusão; cochichava o que não sou doido de reproduzir, pois venho desenhando em mim um homem com a mania férrea de se manter na mansidão do que pensa aparentar. Mas… mas em que ponto mesmo eu ia tocar?

Ah, precisava dormir um pouco mais. A música na tela era um tanto militar, como se saísse de um tranco de guerra, de algo que de sonífero tinha apenas um instrumento calado, constantemente a postos, preparado para entrar…

Aliás, o que eu queria mesmo era só uma pausa momentânea diante de tanta erupção sem a guarda dos fatos… Compreende ou prefere se afastar? Mas espera!, espera… O que eu queria era voltar a antes da sessão, eu com as mãos sobre o mármore frio da bilheteria, pedindo calmamente dois ingressos em plena vigência de uma sesta impossível, com aquela baboseira sobre o rigor da eternidade na cabeça, lembro… Duas, duas e meia da tarde… Ah, não sei por que volto ao plano inicial na calçada, em frente ao orifício por onde a mão passava com o dinheiro e voltava com as entradas; só sei, vocês verão, que não tenho aonde chegar – é isso… Então me levantei, fui ao banheiro do cinema.

Exatamente assim: me levantei, fui ao banheiro do cinema, justamente nessa ordem quase demencial ao panorama da hora, e soube pelo espelho que eu caçoava de mim. Língua, dentes, orelhas, tudo, tudo já não se continha em si, já expunha um outro mundo onde criaturas como ele… ele, ele sim, esse que se olhava no espelho de um cinema sujo e malcheiroso, esse que nunca ninguém mais viu, inclusive eu, se eu ainda fosse um pronome utilizável aqui onde já nem me encontro – mas calma!, pois eu dizia… dizia que inclusive eu de fato nunca mais vira aquele homem que se olhava no espelho do banheiro do cinema, a reparar que toda aquela massa orgânica até então coesa já caçoava irremediavelmente de sua própria pele, de seu próprio desconsolo até, uma vez que o tal desconsolo já não tinha realidade que o pudesse sustentar, sustentar para na primeira oportunidade poder eliminá-lo num afago quem sabe, num beijo de morte talvez, enfim!, deixa pra lá…

“Dois ingressos”, repeti. “Dois ingressos”, murmurei o mantra esfarrapado saindo do cinema – ali, bem ali naquela esquina onde eu já não podia estar…
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João Gilberto Noll (Porto Alegre/RS, 1946 – 2017) foi um escritor brasileiro, vencedor de sete prêmios Jabuti. Seu nome foi incluído entre os maiores escritores brasileiros vivos em uma enquete com especialistas realizada pelo Correio Braziliense em 2013. Cursou Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de Caio Fernando Abreu, porém concluiu os estudos na Faculdade Notre Dame do Rio de Janeiro. Nesta cidade trabalhou como jornalista e, em São Paulo, como revisor. Em 1980 publicou o livro de contos O cego e a dançarina, pelo qual recebeu diversos prêmios, tais como Revelação do ano, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Ficção do ano, do Instituto Nacional do Livro, e o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro. Um dos contos desse livro, "Alguma coisa urgentemente", foi adaptado em 1983 pelo cineasta Murilo Salles sob o título Nunca fomos tão felizes. Harmada, sob direção de Maurice Capovilla em 2003, e Hotel Atlântico, direção de Suzana Amaral em 2009, também foram adaptados para o cinema. Em 1992 escreveu o primeiro texto para teatro, Quero Sim, dirigido por Marcos Barreto. Noll também foi selecionado para figurar no livro Os cem melhores contos brasileiros do século, em 2000. Seu livro Harmada, de 1993, integra a lista 100 livros essenciais da literatura brasileira elaborada pela revista Bravo!. Foi bolsista e professor convidado da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Também foi escritor residente no King's College, em Londres, em 2004. A partir de sua experiência na Inglaterra, escreveu o livro Lorde.
Fontes:
Revista Cult. Junho de 2001. p.26 (Ficção Cult)
Imagem = http://www.devirada.com.br

Simone Pedersen (Balões Coloridos)

Um jovem casal teve seu primeiro filho, muito doente, com reduzidas chances de sobreviver. Sabendo de seus dias contados, os dois, de licença do trabalho, dividiram as vinte e quatro horas do dia de forma que ambos ficassem com o bebê e eles – apenas eles -, cuidassem do frágil recém-nascido. Com muita dificuldade para mamar, o anjinho precisava ser alimentado a cada hora do dia e da noite, com apenas alguns poucos mililitros do leite materno que a mãe produzia e cuidadosamente retirava e armazenava, num processo doloroso e demorado, pois o pequenino não tinha forças nem para mamar suas gotas de amor…

Em nenhum momento os pais reclamaram de cansaço. Em nenhum momento brigaram sobre quem teria que trocar a próxima fralda ou dar a próxima mamadeira. Nem discutiram quem se levantaria no meio da noite. Fez-me sentir uma péssima mãe… Fez-me lembrar de todos os momentos em que me sinto irritada com os tantos afazeres que a maternidade nos transfere, os familiares exigem e os amigos esperam.

A história do jovem casal mostrou-me que tudo na vida é passageiro e rapidamente desaparece, em largos passos, se nós não atentarmos a cada segundo e vivê-los intensamente. E que, no final da vida, não adiantará mais ter aprendido essa importante lição, pois o tempo passado é tempo vivido, ou tempo perdido. Não existe meio-termo. Não se vive mais ou menos.

Não se arrepende mais ou menos. Ou estamos presentes, inteiros, naquele momento, ou nunca mais poderemos alcançá-lo. E as mães sabem disso melhor que ninguém. Acompanham cada minuto da vida de seus rebentos, choram com eles suas dores, riem com eles suas traquinagens. E cuidam, com todo amor e carinho, nos momentos de doença.

No dia do velório do pequenino menino, os pais não estavam desolados. Estavam tristes, mas tranquilos. Estavam conscientes de que haviam feito o melhor que lhes era possível. Haviam amado cada segundo, cada suspiro, cada lágrima e cada sorriso daquele frágil ser. E soltaram 99 balões coloridos, um para cada dia de vida do pequeno anjo, com quem tiveram o privilégio de conviver naqueles meses. Todos os presentes olharam para o céu, refletindo quanto um momento singelo pode representar se nós o agarrarmos com unhas e dentes.

E – como o passado -, os balões ficaram inacessíveis, desaparecendo no céu azul, num piscar de olhos. Lindos, se foram. E nunca mais foram vistos, restando apenas a imagem de um inigualável entardecer, colorido como só a vida pode ser por balões que representavam cada dia vivido no amor.
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Simone Pedersen, nasceu em São Caetano do Sul/SP e se fixou em Vinhedo/SP, é formada em Direito, mestranda em Educação– Literatura infantojuvenil e escritora. Publicou  39 livros para crianças e adultos, em prosa e poesia. Tem livros no PNBE, PNAIC, Catálogo de Bolonha e Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil., além de Primeiro lugar no Prêmio da UBE – RJ nas categorias Literatura Infantil e também Contos (adultos). 

Fontes:
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2010/06/simone-pedersen-escritora-epoeta.html. Acesso em 24.02.2013 (link desativado)

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Guirlanda de Versos * 40 *

 

Silmar Bohrer (Croniquinha) 138

Li algures pequeno comentário do cineasta Roberto de Niro afirmando que "optei por viver sem coisas desnecessárias. Quanto mais tivermos, mais energia temos de gastar para manter tudo em ordem". 

Tenho também esse pensar e hábitos. Mas o mínimo é necessário. E o vital também. Bom senso!   Boa alimentação, cuidados com a "carcassa", nosso corpo, são essenciais. E quem não terá alguma necessidade básica, psicologicamente vital em semelhantes proporções?

Garantido que estou neste time da psique, do pensamento, do conhecimento e tudo que vem deles, o trio aí. Como viver longe dos alimentos do espírito -  emoções, dialogares, intimidade ligada ao espiritual, energias, livros, pensares? 

Nos dias da Idade da Pedra os básicos eram alimentação e alguma vestimenta. A cultura engatinhava. Invenção de ferramentas, surgiu a roda, o domínio do fogo, as artes rupestres...  O mundo mudou, a vida mudou, nosso "sophós" mudou, está em constância constante buscando - e por isso acumulamos.  

Cabe-nos fazer como de Niro, peneirar, joeirar, ficando com o essencial, praticando desapegos. O material pode ser apenas acessório. A essência é a frase de Juvenal vinte séculos depois - "Mens sana in corpore sano".  Aproveitar sem polarizar.
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Silmar Bohrer nasceu em Canela/RS em 1950, com sete anos foi para em Porto União-SC, com vinte anos, fixou-se em Caçador/SC. Aposentado da Caixa Econômica Federal há quinze anos, segue a missão do seu escrever, incentivando a leitura e a escrita em escolas, como também palestras em locais com envolvimento cultural. Criou o MAC - Movimento de Ação Cultural no oeste catarinense, movimentando autores de várias cidades como palestrantes e outras atividades culturais. Fundou a ACLA-Academia Caçadorense de Letras e Artes. Membro da Confraria dos Escritores de Joinville e Confraria Brasileira de Letras. Editou os livros: Vitrais Interiores  (1999); Gamela de Versos (2004); Lampejos (2004); Mais Lampejos (2011); Sonetos (2006) e Trovas (2007).
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
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Eduardo Martínez (Peladeiros)

Há alguns anos, estava passeando com a minha mulher, a Dona Irene, na linda praia de Cabo Branco, em João Pessoa, onde várias pessoas estavam praticando algum esporte. Passamos por um campo de futebol improvisado na areia, onde rolava uma partida bem disputada, mas sem aqueles passes formais, aquelas jogadas ensaiadas e nada de esquemas táticos fixos que nos causam tédio, típicos dos profissionais.

Virei para a minha amada e disse que eu gostava de ver aquilo. Ela até estranhou, talvez não acreditando em mim, pois sempre me mostro arredio quando ela me chama para assistir a algum jogo na televisão, especialmente masculino. O futebol profissional feminino até é legal de se ver, talvez porque elas ainda não estão tão presas aos esquemas táticos, que tornam o futebol televisionado tão chato.

"Ah, mas o importante é vencer!", dizia um antigo colega, chamado Jailson, fanático torcedor do Vasco. Desculpe, mas não penso o mesmo, pois não consigo ficar parado vendo um jogo igual a tantos outros e depois sair comemorando a vitória ou chorando a derrota, dependendo do resultado.

O esporte não é apenas vitória, não é mesmo! Para ser mais específico, vou relembrar uma partida que aconteceu nos idos de 1981 entre o time do Jailson e o meu Botafogo. Pois bem, eu me recordo do placar (3 x 1), que me fez sorrir muito naqueles tempos, mas a coisa que mais me marcou na partida foi justamente um drible homérico que o antigo ponta-direita cruzmaltino, o Wilsinho, aplicou sobre o zagueiro do meu time. E eu, que sempre fui peladeiro, tentei por diversas vezes aplicar aquela finta, acertando uma ou outra. 

Infelizmente, estamos cada vez mais enaltecendo o vencedor, independentemente de como se deu essa conquista. Parece que deixamos para trás aquele sentimento lúdico, inclusive quando muitos de nós nos metemos em alguns campeonatos de rua ou de bairro. Não temos mais prazer em jogar bola ou praticar qualquer outro esporte. Queremos vencer, vencer e vencer e nada mais.

Todavia, graças àqueles atletas de fim de semana, sejam meninos de 8, 15 ou 80 anos, alguns completamente fora de forma, diga-se de passagem, ainda podemos assistir a uma boa pelada, onde, a qualquer momento, pode surgir, ali mesmo, um novo drible, talvez sem aquela habilidade do Wilsinho, mas que nos faz sorrir e aplaudir. "Ganhei o dia!", pensaremos e, se formos daqueles tagarelas, contaremos o que vimos para nossos amigos, seja numa roda de bar, seja até mesmo na esquina da nossa rua.
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Eduardo Martínez possui formação em Jornalismo, Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. Editor de Cultura e colunista do Notibras, autor dos livros "57 Contos e crônicas por um autor muito velho", "Despido de ilusões", "Meu melhor amigo e eu" e "Raquel", além de dezenas de participações em coletânea. Reside em Porto Alegre/RS.
Fontes:
Blog do menino Dudu. 01.03.2022
https://blogdomeninodudu.blogspot.com/2022/03/peladeiros.html
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Laé de Souza (Coragem de Optar pela Arte)

Há quem diga que a responsabilidade maior foi do pai, que numa viagem ao nordeste o presenteou com um berimbau. Outros acham que a culpa foi da mãe que, enjoada do din-din-din-don, trocou o instrumento por um violão de plástico e cordas de náilon. Embora. muitos acreditem que ele já tenha vindo de nascença com um parafuso a menos e que essas coisas não tenham influenciado em nada. O que é certo, e concorde a todos, é que o Gertulino não tem um pingo de juízo.

Os pais, coitados, na verdade a gente sabe que fizeram de tudo para que ele se endireitasse, mas foi perda de tempo. Arrumaram uma vaga num escritório de contabilidade, mas qual nada. Na mala de boy , levava suas revistas de partituras e letras que cantarolava no ônibus e na fila do banco. No guichê, enquanto o caixa autenticava, ele tamborilava com uma bic no vidro do balcão. Não reclamava do salário, mas chiava quando tinha de catar milho na Olivetti para preencher de uma guia e também não queria nem saber de débito/crédito. O contador lhe apontava exemplos de quem entrou pequeno e agora era chefe de departamentos e ele, nem aí. Já bem crescido foi despedido por faltas. Trabalhava um, faltava dois dias. Arrumaram-lhe um emprego numa metalúrgica . Na prensa, com o pé livre batia duas vezes no chão e no do pedal batia uma, em ritmo de valsa. Puseram-no para rebitar, e o chefe o dispensou por não aguentar mais o bater compassado e a quarta batida mais forte, sempre.

Daí para a frente só fez bicos. Na maioria das vezes era encontrado em casa, fechado no quarto com seu violão, repetindo várias vezes a mesma música e descobrindo as notas de um solo. Começou tocar nuns barzinhos e até recebia acanhados aplausos. Quando perguntado pelo filho, seu Agildo, respondia que ele estava trabalhando. Mas quem ouvia os acordes vindos do quarto, dava uma risadinha e dizia que o Gertulino não tinha jeito mesmo.

Seu Agildo também achava que não era certo o proceder do filho, mas saiu a investigar se era só ele quem tinha filho doido.

O filho do padeiro era encafifado com negócio de pegar pedaços de pau e ficava horas e horas esculpindo. Às vezes até que fazia alguma coisa bonita, da qual o pai ignorava a beleza para não estimular a loucura. O filho do açougueiro era metido com coisas de teatro e vivia correndo atrás de roupas velhas. Perdia horas e horas em ensaios inúteis, fazendo cenários de papelão, perucas, narizes e, de vez em quando, junto com outros doidos dava um show na praça. O filho de um seu Geraldo ficava horas e horas como que fora do mundo, pintando um quadro. O filho da professora, era poeta e não fazia outra coisa senão rabiscar um caderno espiral de capa gasta. Assim, seu Agildo viu tantos malucos pelas noites que chegou a duvidar se era mesmo loucura.

Ele descobriu que existiam outros doidos e tentou adivinhar que espécie de doença é essa que ataca a mente, fazendo abandonar futuros planejados, por caminhos incertos. E nós, até com certa inveja, perguntamos de onde nasce essa força tão grande que faz com que alguns tenham coragem de optar pela arte.
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Laé de Souza é cronista, poeta, articulista, dramaturgo, palestrante, produtor cultural e autor de vários projetos de incentivo à leitura. Bacharel em Direito e Administração de Empresas, Laé de Souza, 55 anos, unifica sua vivência em direito, literatura e teatro (como ator, diretor e dramaturgo) para desenvolver seus textos utilizando uma narrativa envolvente, bem-humorada e crítica. Nos campos da poesia e crônica iniciou sua carreira em 1971, tendo escrito para "O Labor"(Jequié, BA), "A Cidade" (Olímpia, SP), "O Tatuapé" (São Paulo, SP), "Nossa Terra" (Itapetininga, SP); como colaborador no "Diário de Sorocaba", O "Avaré" (Avaré, SP) e o "Periscópio" (Itu, SP). Obras de sua autoria: Acontece, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Espiando o Mundo pela Fechadura, Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braille) e o infantil Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial. Projetos: "Encontro com o Escritor", "Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade". Ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil, cujo foco é o incentivo à leitura. "A importância da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano", dirigida a estudantes e "Como formar leitores", voltada para professores são alguns dos temas abordados nessas palestras. Com estilo cômico e mantendo a leveza em temas fortes, escreveu as peças "Noite de Variedades" (1972), "Casa dos Conflitos" (1974/75) e "Minha Linda Ró" (1976). Iniciou no teatro aos 17 anos, participou de festivais de teatro amador e filiou-se à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Criou o jornal "O Casca" e grupos de teatro no Colégio Tuiuti e na Universidade Camilo Castelo Branco. 
Fontes:
SOUZA, Laé de. Acontece… SP: Ecoarte, 2018.
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Nilto Maciel (Da Bola de Meia ao Rádio)

As casas me pareciam enormes, tetos muito altos, chão de tijolo. Quando chovia ou o sol esquentava demais, brincávamos de bola na sala ou nos quartos. Os chutes desajeitados levavam a bola para o forro de pano. E nem adiantava cutucá-lo com vara. Nunca mais a veríamos. A não ser quando algum pedreiro ou pintor fosse trabalhar, levasse escada e atendesse nossos rogos. Ou quando papai resolvesse trocar o forro. Mesmo assim, as bolas estariam endurecidas, mofadas, rasgadas.

Mamãe tinha horror a bolas. Menos aquelas das cartilhas. Mas como viver sempre estudando? Se tirávamos notas baixas, três dias sem bola e sem bila. Ou três dias lendo bulas. No quintal não havia lugar para jogos e brincadeiras. Somente árvores, plantas e animais domésticos. O gato caçava borboletas, ratos e passarinhos, a correr e saltar entre as bananeiras. Sumia, voltava, miava, brincava, desaparecia de novo ou para sempre. Até aparecer outro e ser adotado por nós. Um deles, Mimi, viveu muitos anos. Preto, olhos verdes, sapeca. Arranhava as bananeiras, dormia debaixo das árvores, escondia-se atrás das moitas, perdia-se por dias e dias, reaparecia a miar, faminto. Os porcos roncavam no meio da lama. As lagartas infestavam a horta.

Poucos meninos conheciam bolas de couro. Em compensação, todos tinham “bolas-de-meia” ou “bolas-de-pano”. Meia usada, furada, imprestável para o uso apropriado. O recheio podia ser de algodão, pano ou papel. Essas bolas não serviam para jogos em chão de terra. E menos ainda em dias de chuva. Jogava-se nas calçadas. Quando não o futebol, os simples chutes de um lado para outro. As paredes serviam de anteparo e ao mesmo tempo de linhas de gol. Às vezes dois jogadores de cada lado. Um chute para cada “time”. Vencia quem fizesse primeiro determinado número de gols. Ao vencedor cabia, como “castigo”, jogar, em seguida, com outro “time” ou jogador. Eu conseguia ser um dos melhores nos chutes e nas defesas. Saltava, quase voava, em busca da bola. Os outros me elogiavam. E eu me enchia de amor-próprio. Sim, quando me tornasse rapaz, iria jogar no Fortaleza. Por muito tempo sonhei ser goleiro profissional. O sonho, no entanto, cedo se desfez, e de forma melancólica. Convidado para treinar num time de futebol de salão, logo no primeiro jogo perdemos por larga margem de gols. Um fracasso! Chamaram-me de frangueiro, e nunca mais me convidaram a entrar no pequeno estádio.

Frustrado com o meu futebol, deixei o campo e me postei na plateia. De ator passei a espectador. Dediquei-me a recortar fotos de jogadores e times dos jornais e das revistas, principalmente O Cruzeiro. Recortava as “figuras” e colava num caderno velho. Dos futebolistas passei a atrizes de cinema, animais, carros, aviões, cidades.

No colégio dos padres salesianos havia um “muro” a separar os alunos internos dos externos. Aqueles vinham de outras cidades, sobretudo de Fortaleza. De famílias ricas. Nós, os da cidade, éramos quase todos pobres, filhos de comerciantes locais, como eu e meu irmão Edinardo, de funcionários públicos, etc. Nunca os dois lados se misturavam. Brincavam em pátios separados. Até na igreja, construção contígua ao colégio, a separação se manifestava. Os bancos destinados aos internos se situavam na parte mais próxima do altar. Apesar disso, fomos convidados a participar das brincadeiras e jogos de fim-de-semana no colégio. Entrávamos por um portão pequeno, que ia dar numa escolinha para crianças carentes, moradoras da periferia, como Potiú e Lages. Havia muitas mangueiras e o rio corria bem próximo a uma cerca. Os internos jogavam futebol num campo grande, com traves, rede, uniformes, chuteiras, bola de couro. Nós ficávamos ao largo, chutando uma bolinha ou outra, junto aos meninos mais pobres. A bola me pareceu excessivamente pesada. Nunca havia chutado uma bola de couro. Meus pés só conheciam as bolinhas de meia. O capim molhado e alto me feria os dedos.

O primeiro rádio em nossa casa chegou muito tarde. Depois da Copa da Suécia. Posto sobre uma mesa na sala de estar, imperava imponente no meio da pouca mobília. Media mais de meio metro. Cheio de válvulas, esquentava feito um forno. Passou a ser meu entretenimento predileto à noite. Rodava o botão para lá e para cá, à cata de novidades, músicas, notícias e jogos de futebol. Anotava tudo: nomes dos times e jogadores do Rio, de São Paulo e da Europa. Decorava e copiava letras de músicas. Quando todos iam dormir, eu continuava a manejar os botões do rádio. Mamãe se aborrecia: fosse dormir, desligasse o aparelho. Eu abaixava o volume e aproximava da tela do alto-falante um ouvido. No entanto, as ondas iam e vinham em descompasso, e ora se tornavam inaudíveis, ora cresciam.
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Nilto Maciel nasceu em Baturité/CE em 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco. Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 foi para Fortaleza/CE onde residiu até a sua morte em 2014. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil. Alguns livros publicados: Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999). 
“Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa.” (José Feldman, em Nilto Maciel o mago das almas, 18/12/2010)

Fontes: 
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Os Vampiros na Literatura

 Histórias de vampiros existem desde sempre. Mesopotâmia, Roma, Grécia… Todas as culturas antigas já apresentavam contos sobre os seres sobrenaturais que se alimentavam de sangue e tinham vida eterna. Mas o primeiro registro literário relacionado às criaturas trata-se de um poema alemão escrito em 1748 por Heinrich August Ossenfelder: Der Vampir. A partir disso temos várias obras com pelo menos alguma menção ao mito vampírico, entre elas The Bride of Corinth (1797) de Goethe e Christabel de Samuel Taylor Coleridge.

Anos e anos depois várias personagens desfilaram pela galeria dos vampiros literários, e mesmo atualmente o tema ainda rende obras variadas (e agora adaptações para o cinema também). E pensando justamente nessas obras que faço aqui uma lista de sugestões para você que gosta de histórias de vampiros, mas não quer ler Crepúsculo.

A hora do vampiro (Stephen King) – Publicado pela primeira vez em 1975, o livro conhecido como Salem’s Lot lá fora foi traduzido desse jeito no Brasil. Uma pena, porque acaba estragando a surpresa da história, já que a pessoa que compra uma obra assim obviamente já sabe que trata-se de uma história de vampiros. A questão é que Salem’s Lot começa narrando a volta do escritor Ben para a cidade onde viveu na infância, decidido a escrever um livro sobre uma mansão horripilante que preencheu seus pesadelos desde a infância. É em um momento bem adiantado do livro que o leitor tem a revelação de que a cidade está sendo tomada por vampiros – e a partir daqui a história pega fogo, sendo uma daquelas que você até pensa em dormir de luz ligada “só para garantir”.

Eu sou a Lenda (Richard Matheson) – Publicado em 1954, esse livro chegava com a idéia do vampirismo com um vírus. Por favor, esqueçam do filme que saiu com Will Smith. Em nada ele conseguiu captar o clima claustrofóbico e assustador dessa novela de Richard Matheson. Neville é aparentemente o único sobrevivente da epidemia de “vampirismo”, até porque ele é imune ao vírus. À noite ele se esconde, pela manhã ele sai para matar vampiros. O final está entre os favoritos não só das histórias de vampiros.

Entrevista com o Vampiro (Anne Rice) – A obra de 1976 conta com a tradução aqui no Brasil de ninguém mais, ninguém menos do que Clarice Lispector. Louis, o vampiro “entrevistado”, narra em sua história como tornou-se vampiro, sua vida com Lestat (o vampiro que o transformou) e com a pequena Claudia. Apesar de tender ao clichê do vampiro melancólico, o fato de apresentar Lestat como um predador que reconhece a abraça sua verdadeira natureza acaba equilibrando um pouco a história, que certamente vale a pena conferir. 

Prazeres Malditos (Laurell K. Hamilton) – em 1993 a escritora Laurell K. Hamilton deu um chega para lá na ideia do vampiro tristonho e da mocinha indefesa e criou Anita Blake, uma caçadora de vampiros bastante atípica. A narrativa toda é em primeira pessoa, e Anita tem um senso de humor ácido, o que diverte muito. A série fez tanto sucesso que já está no 17º livro. O fato de Anita Blake também ser o que eles chamam de “animator” (levanta mortos e controla zumbis) faz com que as histórias não sejam só sobre vampiros, o que também é bem interessante.

Morto até o Anoitecer (Charlaine Harris) – o livro foi publicado em 2001, mas sete anos depois, com a adaptação para a TV feita pela HBO (True Blood, começa dia 18 de janeiro aqui no Brasil) o título ficou mais “conhecido” aqui no Brasil, inclusive com traduções dos outros títulos previstas ainda para esse ano (pelo menos o segundo e o terceiro livro). Bastante sexo e muita ação, não é a toa que escolheram esse livro para transformar em série de tv. São todos divertidos da mesma maneira.

Curiosidades sobre Vampiros

1 -Lord Ruthven, o primeiro dos vampiros na literatura foi criado por John Polidori, na mesma noite e na mesma casa em que Mary Shelley iniciava Frankstein, numa singela brincadeira na casa de Lord Byron;

2 -O ex-vice-presidente da república Marco Maciel já foi vampiro, num dos livros pioneiros em terras brasileiras sobre vampiros, na obra O vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf;

3 -Drácula, só recebeu este nome quando o livro estava quase pronto. Até então, ele se chamaria Wampyr;

4 – O inglês Kim Newman escreveu um livro [Anno Dracula] sob uma ótica em que Drácula não foi derrotado, e que nesse mesmo livro estão Dr. Jekyll e o Inspetor Lestrade;

5 – Dacre Stocker, tatarassobrinho de Bram lançou em 2009 uma sequência para o romance do Conde Drácula;

6 – Paulo Coelho não pode sequer ouvir falar em vampiros, e ele mesmo autocensurou seu livro escrito com Nelson Liano Jr., o Manual Prático do Vampirismo fazendo recolher todos os exemplares

7 – Anne Rice foi a primeira autora a por os vampiros de frente aos espelhos, que por segundo a autora, se eles habitam o mundo dos homens, devem respeitar as leis da física deste mundo;

8 – Que muito provavelmente, sem os vampiros de Rice, como Lestat e Louis, não existiriam os “vampiros” da saga Crepúsculo, já que foi na obra de Rice que os vampiros começaram a ser tratados como figuras poéticas e trágicas;

9 – A cidade de Forks, onde se passa a saga Crepúsculo realmente existe, e Stephenie Meyer a encontrou no google.

10 – O personagem Conde Drácula, é o segundo mais interpretado no cinema e na televisão, ficando atrás apenas de Sherlock Holmes, cuja única vez que sai a cata de uma vampira, nada tem a ver com vampirismo.

DEZ DOS MAIS FAMOSOS VAMPIROS (AS) DA LITERATURA

1 – Drácula, de Bram Stoker:
É disparado de longe o mais famoso dentre os sugadores de sangue. Se não o pai de todos os vampiros, ele foi o responsável pela popularização do mito. A criação do Irlandês em 1897 ganhou diversas adaptações para teatro e cinema, numa época em que vampiros metiam medo, sem virar purpurina;

2 – Lestat de Lioncourt, criado por Anne Rice em Crônicas vampirescas:
Lestat, é uma das mais populares criações de Anne Rice, e no narrador de Crônicas vampirescas o vampiro revela seu lado sedutor, outra das qualidades desde seres eternos.

3 – Varney, o vampiro de James Malcolm Rymer:
Criado antes mesmo de Drácula, a grande arma desta criatura era a feiúra, de face pálida e mórbidos olhos de lata e o poder de hipnotizar.

4 – Edward Cullen, em Crepúsculo de Stephenie Meyer:
Discussões a parte, não dá pra negar que o vampiro de Meyer é diferente de tudo que se construiu sobre estes seres, e é famoso entre a galera jovem.

5 – Karmilla, criação de Joseph Sheridan Le Fanu:
Aqui está o vampirismo do bom. Karmilla precede o Conde Drácula, e esta deliciosa vampira cria de Le Fanu nos longínquos anos de 1872, com seus toques de lesbianismo sem dúvida era algo muito revolucionário para a época, e que até hoje mexe com a cabeça de nós.

6 – Sétimo, de André Vianco:
Dentre os vampiros brazucas é o mais famoso, estando presente em Os Sete, obra que iniciou o autor nas sagas vampirescas, e no homônimo em que Sétimo acorda para gerar suas crias com o intuito de dominar o Brasil.

7 – Damon Salvatore, de Diários de um Vampiro de L. J. Smith:
Bem antes de Meyer, em 1991, surgia mais um vampiro que não tomava sangue humano,: Stefan Salvatore, irmão de Damon, este sim um clássico senhor das trevas venerador de sangue e sem pudores ao matar. A saga dos livros se transformou na série de grande sucesso na TV americana.

8 – Kurt Barlow, em A hora do vampiro, de Stephen King:
Nem só de fantasmas e carros envenenados vive o mestre do terror. Em seu segundo livro King adentrou o mundo dos sanguessugas influenciado nas obras de Bram Stoker, Barlow não temia fazer o trabalho sujo, e pilhar novas vítimas aterrorizando para variar, o Maine.

9 – Lord Ruthven, de John Polidori:
Nasceu num desafio entre grandes mestres como Lord Byron e Mary Shelley e do próprio Polidori para escreverem uma história de terror. O enredo inclusive foi projetado e abandonado por Byron, no qual Polidori acabou dando continuidade, nascendo ao vampiro mais inglês de todos os sugadores de sangue;.

10 – Antonio Brás, o vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf:
Impossível nominar este carismático vampiro – não tão cruel como deveria ser é verdade – que perdeu-se em Portugal ainda como Antonio Bras, e que na nova terra assumiu diferentes identidades, sempre muito próximo dos principais acontecimentos nacionais, entre ele, a descoberta, é claro.

Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing