quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Sebastião de Magalhães Lima (Estrelas e nuvens)


Vou contar um romancezinho de amores — amores singelos, amores de aldeia.

É tão simples a nossa história, como a verdade que encerra, tão natural, como um sorriso de uma criança gentil, tão cândida, como a pombinha do deserto.

Ouvi-a, por uma noite de julho, sentado à margem de saudoso regato.

Foi uma hora solene: um momento augusto e santo!

A brisa que envolvia com o perfume da noite, foi segredá-la às florzinhas do vergel, e estas enviaram-na ao céu.

Na terra repercutiu-se o coro dos anjos, lamentando a desditosa sorte de seus adorados irmãos.

Por um momento, eclipsou-se o brilho das estrelas; deixou de refletir-se a lua no seu espelho de prata.

As avezinhas não tiveram gorjeios, cessou a viração no seu curso veloz.

Silêncio sepulcral! Sublime idílio! Majestoso quadro!

Falta-nos o pincel de Corregio; não possuímos os tesouros de Petrarca, nem tampouco a eloquência de Demóstenes.

E é pena, na verdade!...

Cada apóstolo tem a sua missão a cumprir sobre a terra.

Sublimar a desventura, prantear a miséria do mundo — nada mais grandioso, e tão sinceramente edificante!

É uma evangelização despretensiosa e nobre.

Choremos, corações ternos; choremos e choremos muito; não tenhamos pejo de assim fazer.

Levantemos os olhos ao céu e, com a fronte descoberta, ouçamos a fúnebre narrativa de dois mancebos desventurados!...

Quem não conheceu Maria, a flor das lavadeiras?

Quem não repararia naquele formoso querubim que, ao sol posto, ia todo engrinaldado de rosas e lírios, encher o seu cântarozinho de barro à fonte da terra?...

Oh!... Decerto ninguém poderia esquecer tão prontamente a linda morena, o anjo bendito?!...

Não sabe, leitor amigo, não se lembra já daquela casinha térrea, silenciosamente circundada de festões e madressilvas, que existe em Sintra, lá para as bandas do Castelo?...

Pois olhe, aí mesmo nasceu aquela rolinha, lá, coitadinha! Desferiu aos ecos a inocente lenda de seus amores e, por fim, lá agonizou também, sem que ninguém desse por ela, nem tão pouco imaginasse socorrê-la.

Pobre desgraçada!...

E eu não saber mais cedo a sua história!...

O prazer, como tudo o que é efêmero, tem seus encantos, as lágrimas também os têm.

Maria, muito prazenteira e jovial, vira um dia Gregório, que a esperava, junto da fonte, sempre à mesma hora, de súbito, anuviou-se aquele rosto, profundamente celestial e gentil, contraíram-se-lhe os músculos da face.

O amor havia penetrado em sua alma!

Desde esse momento nunca mais se tornou a divisar um raio de esperança e consolação naquele horizonte, outrora tão límpido e sereno.

E Gregório, o pobre lavrador, lá se foi triste e pensativo, a caminho da aldeia, sem outra ideia que não fosse Maria, sem outro cismar que não fosse a felicidade.

E tinha razão!...

Era jovem! Tinha aspirações!...

Assim decorreram dois anos — dois anos, cheios de muita esperança, e entrecortados por aflitivos suspiros!...

Gregório era tão ambicioso!...

O amor é muitas vezes caprichoso e louco!...

E quem o havia de imaginar?!...

Gregório queria ser rico, queria ver a sua amada reclinada num trono de esmeraldas!...

Entre as flores queria vê-la rainha! Entre os anjos, serafim! Entre as mulheres, majestade!

E com esta ideia, e com o demônio da ambição, lá se foi ele a terras longínquas, á cata de grandes haveres!

E a pobre Maria ficou só, sozinha, com as suas lágrimas!...

Ao menos... tinha esperança!...

Ai! Como é triste e pavorosa a ausência daqueles que amamos!...

Pobre Maria!...

Que saudades se lhe não avivaram na mente enlouquecida!...

Gregório tinha partido, havia dez anos, sem dar notícias!...

Teria naufragado o triste Gregório?...

Porem não, não era possível!

Maria queria torná-lo a ver junto de si.

Uma Virgem não abandona a súplica de outra virgem!

Mas, apesar de tudo isso, a rosa ia murchando a olhos vistos.

De dia para dia se desfolhava uma pétala, secava uma folha, até que, por fim, caiu de todo a haste, vergada apenas pela branda viração do crepúsculo!

O resto... levou-o o vento!...

Eram passados três mesas.

Quem observasse atentamente aquela pousada, onde estivera aninhada, por tantos anos, a terna andorinha, deveria reconhecê-la desguarnecida e quase em ruínas.

Um vulto, trajado de preto, percorria aqueles restos sem cessar.

Era Gregório, o pobre lavrador, que havia voltado rico, com o único fim de tornar Maria venturosa sobre a terra.

Chegara, porem, tarde o maná do Senhor!...

Um mês, mais tarde, ao lado do túmulo de Maria existia outro, igualmente modesto e lúgubre.

Gregório, tomado de incurável loucura, depois de haver arrojado toda a sua fortuna a um abismo, por ele cavado, para que ninguém mais a pudesse descobrir e gozar, foi por si mesmo procurar naquele precipício uma morte desastrosa e terrível!

O mais... só Deus o sabe!…
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Sebastião de Magalhães Lima nasceu em Santos/SP em 1850 e faleceu em Lisboa/Portugal em 1928. Foi advogado, jornalista, político, escritor, fundador da Liga Portuguesa dos Direitos do Homem e dos jornais "O Século" e "Comércio de Portugal". Republicano, maçon e pioneiro do socialismo português, fez parte da Geração de 70 e dirigiu os periódicos republicanos "A Folha do Povo" e "A Vanguarda". Em 1909 foi indicado para o Prémio Nobel da Paz e em 1919 foi Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Foi grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, com o mais longo mandato na história maçónica portuguesa, de 1907 até 1928. Magalhães Lima estreou-se como escritor publicando, durante os seus anos iniciais de estudo em Coimbra, um conjunto de obras de pendor romântico, com títulos como Miniaturas românticas, Martírio de um anjo, Amour et Champagne ou Um drama íntimo. Tais obras, inseridas na corrente tardia do romantismo português, não faziam adivinhar o apologista do republicanismo revolucionário em que o seu jovem autor se transformaria.

Fontes:
Sebastião de Magalhães Lima. Miniaturas românticas. Publicado originalmente em 1871. Disponível em Domínio Público.  
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José Feldman (Passarinho na gaiola)

 
Privado da liberdade
lindo pássaro cantador,
na gaiola, de saudade,
canta triste a sua dor…
Maria Helena Ururahy C. Fonseca
(Angra dos Reis/RJ)

Oprimido na gaiola,
lamentando a escravidão,
o sabiá cantarola
para o algoz sem coração.
Ruth Farah Lutterback +
(Cantagalo/RJ)

Paulo era um homem solitário que encontrava alegria em um pequeno passarinho que mantinha em uma gaiola. O passarinho, um canário de penas amarelas brilhantes, era sua companhia mais fiel. Paulo gostava de ouvir seu canto suave e melodioso, especialmente nas manhãs ensolaradas, quando a luz do dia filtrava-se pela janela, iluminando sua pequena casa.

Todos os dias, ao acordar, se aproximava da gaiola e falava com o passarinho, que respondia com seu canto. Para Paulo, aquele som era como um alívio à solidão que o cercava. Ele acreditava que, mantendo o passarinho preso, estava garantindo sua segurança e, assim, poderia desfrutar de sua música sempre que quisesse.

Certa tarde, Ricardo, um amigo de Paulo, decidiu visitá-lo. Eles conversaram sobre a vida, sobre as lembranças de antigamente e, é claro, sobre o passarinho. 

– Você tem um passarinho lindo, Paulo. Deve ser maravilhoso ouvir seu canto. - comentou Ricardo, tomando um gole de café.

– É verdade! - respondeu Paulo, com um sorriso. – Ele é minha companhia. Eu gosto de ouvi-lo cantar.

Ricardo franziu a testa, surpreso. 

– Mas por que deixá-lo preso? Para ouvi-lo cantar? Isso não parece certo. Ele tem asas, Paulo. As aves devem voar livremente.

Paulo hesitou. 

– Mas se eu soltar, ele pode fugir. E eu ficaria sozinho novamente.

– Mas você já percebeu que o canto dele não é de alegria, mas de tristeza? Ele está preso, e seu canto reflete isso. Assim como nós, humanos, temos pés para andar, as aves têm asas para voar. Ninguém gosta de estar preso. E se fosse você preso em uma gaiola, sem poder sair para andar? Como se sentiria?

As palavras de Ricardo ecoaram na mente de Paulo. Ele nunca havia pensado dessa forma. Naquela noite, enquanto o passarinho cantava, ele começou a prestar atenção ao tom de sua música. Era verdade: havia uma melancolia em seu canto que antes não percebera. O coração de Paulo apertou-se com a dor de compreender que, mesmo cuidando do passarinho, estava privando-o de sua liberdade.

Paulo ficou em um dilema. Ele amava o passarinho e queria que ele fosse feliz, mas o medo da solidão o impedia de agir. No entanto, a consciência pesada começou a se tornar insuportável. Com um suspiro profundo, decidiu que precisava fazer o que era certo. 

Com tremor nas mãos, abriu a gaiola.

O passarinho hesitou por um momento, mas assim que viu a porta aberta, voou para fora em um esplêndido bater de asas. Seu canto mudou imediatamente, não era mais triste, mas alegre e vibrante. 

Paulo olhou enquanto o pequeno ser alado disparava para o céu, sentindo uma mistura de alívio e dor. Ele havia feito o que era certo, mas agora sentia-se mais sozinho do que nunca.

Nos dias que se seguiram, Paulo se fechou em seu mundo. Olhava pela janela, desejando que o passarinho voltasse, mas sua casa parecia mais silenciosa do que nunca. A ausência do canário o envolveu em uma profunda tristeza. Ele se afastou dos amigos, deixou de sair, mergulhando em um torpor.

Porém, algo inesperado aconteceu. Um dia, enquanto Paulo olhava para a janela, ouviu um canto familiar. Seu coração disparou quando viu o passarinho pousando na borda da janela, cantando alegremente como nunca antes. Era como se o sol tivesse surgido novamente em sua vida.

"Você voltou!", exclamou Paulo, surpreso e emocionado. Ele se aproximou da janela e, com lágrimas nos olhos, disse: "Desculpe-me por ter te prendido. Eu não queria que você se sentisse triste."

O passarinho parecia entender. Ele cantou ainda mais alto, e Paulo sentiu que aquelas notas eram uma resposta ao seu arrependimento. O canto do passarinho ressoava como uma melodia de perdão e amizade. 

A cada manhã e cada final de tarde, o passarinho voltava, enchendo o ar com sua música.

Paulo começou a sair de casa, encontrando um novo propósito. Ele cuidava do jardim, plantava flores e desfrutava da natureza ao seu redor. O passarinho voava pelo quintal, pousando nas árvores e cantando, e Paulo sempre o esperava na janela.

A liberdade do passarinho trouxe vida nova a Paulo. Ele entendia, finalmente, que a verdadeira amizade é baseada na liberdade e no respeito. E assim, o passarinho e Paulo formaram um laço que transcendeu as paredes da casa, celebrando a beleza da liberdade e a alegria da companhia.


A liberdade e o respeito pela vida dos outros sempre são recompensados. A verdadeira amizade não se baseia na possessão, mas na capacidade de permitir que o outro seja livre e feliz.

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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Devido à situação financeira insuficiente não concluiu a Faculdade de Psicologia, na FMU, contudo se fez e ainda se faz presente em mais de 200 cursos presenciais e online no Brasil e no exterior (Estados Unidos, México, Escócia e Japão), sendo em sua maioria de arqueologia, astronomia e literatura. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, onde nasceu, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, em Ubiratã/PR, em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Confraria Brasileira de Letras, Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil/Suiça, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Formiguense de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em crônicas, contos, poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas) e “Asas da poesia”.

Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Dicas de escrita para escritores, pelos famosos

Dicas de escritores renomados revelam que o caminho para uma boa escrita envolve disciplina, leitura constante e um olhar atento para a vida e a linguagem. Embora não haja uma fórmula exata, é possível extrair orientações valiosas de autores como Stephen King, Ernest Hemingway e George Orwell. 

O QUE SE DEVE DAR ÊNFASE

Leia muito e escreva muito: 
Stephen King, por exemplo, defende que não há tempo para escrever se não houver tempo para ler. A leitura constante expõe o escritor a diferentes estruturas, ritmos e vozes, enquanto a prática diária aprimora a técnica e a disciplina.

Mostre, não conte: 
Em vez de simplesmente dizer que um personagem estava triste, descreva as ações e gestos que demonstram essa tristeza. O autor Anton Tchekhov resumiu essa ideia: "Não me diga que a lua está brilhando; mostre-me o brilho da luz em cacos de vidro".

Foque na história e nos personagens: 
Stephen King enfatiza que o ponto de partida deve ser a história, e não uma preocupação temática. O parágrafo, não a frase, é a unidade básica da escrita, onde a coerência começa. É crucial desenvolver personagens completos e cativantes, com traços e hábitos distintos.

Conflito único para contos: 
Para contos, a dica é focar em um conflito singular. Não é necessário construir um mundo complexo. Às vezes, a ambiguidade torna a história mais envolvente, deixando algumas respostas para a imaginação do leitor. 

O QUE SE DEVE EVITAR

Evite o "floreio" linguístico: 
George Orwell aconselhava a preferência por palavras curtas em vez de longas e a eliminação de palavras desnecessárias. A clareza e a simplicidade tornam a escrita mais impactante.

Não abuse de advérbios e voz passiva: 
Stephen King sugere evitar o uso excessivo de advérbios e, sempre que possível, utilizar a voz ativa, que torna a escrita mais direta e concisa.

"Mate seus amados": 
Essa expressão, popularizada por William Faulkner, significa que é preciso ter coragem de cortar partes do texto — mesmo aquelas que você ama — se elas não servirem à história.

Não espere a inspiração: 
A inspiração nem sempre surge por conta própria. Jack London disse: "Você não pode esperar pela inspiração, você tem que ir atrás dela com um porrete". O ritual de escrita disciplinado faz a musa aparecer. 

COMO PREPARAR UM TEXTO

Faça um primeiro rascunho sem se preocupar: 
A escritora Anne Lamott encoraja os autores a aceitarem que o primeiro rascunho pode ser ruim, e isso é normal. A perfeição virá nas reescritas.

Reescreva e revise: 
John Steinbeck sugeria que, se uma cena não estiver fluindo, é melhor deixá-la de lado e continuar, pois talvez ela nem devesse estar ali. A reescrita é a etapa onde a história realmente ganha forma.

Leia em voz alta: 
A leitura em voz alta ajuda a identificar o ritmo e a melodia do texto. Como o escritor Gabriel García Márquez, muitos autores se preocupavam com a sonoridade da prosa.

Confie no seu leitor: 
Nem tudo precisa ser explicado. A escritora Esther Freud defende que, se você realmente domina o seu tema e dá vida a ele, o leitor sentirá isso. 

COMO SE INSPIRAR

Escreva sobre o que conhece e o que te move: 
Gabriel García Márquez acreditava que o tema certo é aquele que realmente interessa ao escritor. O trabalho se torna mais fácil e a paixão transparece.

Observe o mundo e as pessoas: 
Ernest Hemingway aconselhava a observar atentamente o que acontece ao redor, usando todos os sentidos. Também é útil tentar se colocar no lugar dos outros para construir personagens mais complexos.

Tenha um ritual de escrita: 
Muitos autores famosos tinham rotinas consistentes, como Ernest Hemingway, que escrevia todas as manhãs. A consistência é fundamental.

Use suas emoções: 
Maya Angelou incentivava os escritores a usarem suas emoções fortes, como a raiva, para enriquecer a narrativa.

MAIS DICAS

1.
“Se você estiver usando um diálogo, diga-o em voz alta enquanto o escreve. Só assim ele terá o som da fala.” - John Steinbeck
John Steinbeck, vencedor do Prêmio Pulitzer e Nobel, escreveu uma profusão de sabedoria. Mesmo que você não seja um leitor ávido, provavelmente conhece as obras mais significativas de Steinbeck. Seus romances, As Vinhas da Ira e Ratos e Homens, marcaram a Grande Depressão americana. 

Ler o texto em voz alta para si mesmo ajuda a garantir que ele flua como uma conversa.

2.
“Proteja o tempo e o espaço em que você escreve. Mantenha todos longe, mesmo as pessoas mais importantes para você.” - Zadie Smith
Como escritores, é crucial protegermos nosso espaço pessoal da infinidade de distrações que enfrentamos todos os dias. Colegas de quarto, amigos, família, trabalho e o cachorro do vizinho podem dificultar a produção do seu melhor trabalho. Se você estiver disponível para tudo e todos, se sentirá esgotado e fatigado. Quando se trata do seu trabalho, você não está errado em proteger seu espaço pessoal.

3. 
“Na fase de planejamento de um livro, não planeje o final. Ele precisa ser conquistado por todos os que virão antes dele.” - Rose Tremain
Muitos escritores discordarão desta citação. Se você começa com o fim em mente, e isso funciona para você, então talvez este conselho não seja para você. Rose Tremain, a romancista inglesa, sugere que você defina o final com base no que desenvolveu previamente.

4.
“Sempre carregue um caderno. E eu quero dizer sempre. A memória de curto prazo só retém informações por três minutos; a menos que elas sejam registradas no papel, você pode perder uma ideia para sempre.” - Will Self
Will Self é autor de dez romances, cinco contos, três novelas e cinco coletâneas de não ficção. O romancista inglês não é o único a carregar um caderno o tempo todo. Nunca se esqueça daquela ideia fugaz que pode ser o seu próximo grande romance. Sem anotá-la, esses pensamentos esquecidos só voltarão para distraí-lo e aprisionar sua mente.

5.
"A simplicidade é a sofisticação máxima." – Leonardo Da Vinci
Você pode encontrar centenas de escritores que optam por usar uma linguagem mais direta para transmitir sua mensagem. Às vezes, presumimos que um vocabulário mais amplo significa uma escrita melhor, mas isso simplesmente não é verdade.

“Escrever não é usar palavras para impressionar. É usar palavras simples de forma impressionante.” - Sierra Bailey

“Se você não consegue explicar algo a uma criança de seis anos, você mesmo não entende.” - Albert Einstein

6.
“Esqueça os livros que você quer escrever. Pense apenas no livro que você está escrevendo.” - Henry Miller
Quantos romances inacabados você tem no seu disco rígido, envelhecendo como bons vinhos?

Todos nós fazemos isso.

Tenha uma ideia brilhante, escreva algumas milhares de palavras sobre ela e seja levado pela próxima distração.

Todos nós gostamos de pensar que somos multitarefas capazes. No entanto, diversos estudos mostram que lidar com várias tarefas ao mesmo tempo não prejudica apenas o cérebro, mas também a carreira. Dedique toda a sua energia criativa a um projeto de cada vez.

7.
"Nunca use uma palavra longa quando uma curta serve." -  George Orwell
Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell, foi um escritor inglês famoso pelos romances 1984 e A Revolução dos Bichos . Na falta de habilidade, usar palavras longas faz você parecer pretensioso. Elas também são difíceis de ler e interrompem o fluxo do leitor.

8.
“Leia, leia, leia. Leia tudo – lixo, clássicos, bons e ruins, e veja como eles fazem. Assim como um carpinteiro que trabalha como aprendiz e estuda o mestre. Leia! Você vai absorver. Depois, escreva. Se for bom, você descobrirá. Se não for, jogue pela janela.” - William Faulkner
Se eu pudesse lhe dar apenas um conselho para se tornar um escritor melhor, sugeriria este: leia e escreva muito. À medida que você lê e escreve mais, desenvolve uma melhor compreensão do que é uma escrita boa e ruim. William Faulkner, escritor americano e ganhador do Prêmio Nobel, tinha uma vontade insaciável de continuar escrevendo e nunca estava completamente satisfeito com seu trabalho.

9.
“Quando você estiver travado e tiver certeza de que escreveu um lixo absoluto, force-se a terminar e DEPOIS decida consertar ou descartar - ou você nunca saberá se consegue.” - Jodi Picoult
Jodi Picoult, escritora americana, vendeu mais de 14 milhões de cópias de seus 24 romances. Até que você ultrapasse os próprios limites, nunca saberá até onde pode ir.

10.
“Você precisa escrever de verdade. Sonhar acordado com o livro que você vai escrever um dia não é escrever. É sonhar acordado. Abra seu processador de texto e comece a escrever.” -  Andy Weir
Les Brown, um palestrante motivacional mundialmente famoso, tem em minha mente uma das citações mais inspiradoras de todos os tempos.

“O cemitério é o lugar mais rico da Terra, porque é aqui que você encontrará todas as esperanças e sonhos que nunca foram realizados, os livros que nunca foram escritos, as músicas que nunca foram cantadas, as invenções que nunca foram compartilhadas, as curas que nunca foram descobertas, tudo porque alguém teve muito medo de dar o primeiro passo, de continuar com o problema ou de estar determinado a realizar seu sonho.” - Les Brown

Se você quer ser escritor, precisa escrever, escrever e escrever. Começa com um. Um personagem, uma palavra e depois uma página. O segredo é começar.

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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Leonardo da Vinci (A navalha)


Era uma vez uma navalha de excelente qualidade, que morava numa barbearia. Um dia em que a loja estava vazia ela resolveu dar uma voltinha. Soltou-se do cabo e saiu para apreciar o lindo dia de primavera.

Quando a navalha viu o reflexo do Sol em si mesma, ficou surpresa e encantada. A lâmina de aço lançava uma luz tão brilhante que, subitamente, com excessivo orgulho, a navalha disse a si mesma:

- E eu vou voltar para aquela loja de onde acabei de fugir? É claro que não! Os deuses não podem querer que uma beleza tal como a minha seja desonrada desta maneira. Seria loucura ficar aqui cortando as barbas ensaboadas daqueles camponeses, repetindo sem cessar a mesma tarefa mecânica! Será que minha beleza foi realmente feita para um trabalho desses? Certamente não! Vou esconder-me num local secreto e passar o resto da vida em paz.

E em seguida foi procura um esconderijo onde ninguém a visse.

]Passaram-se meses. Um dia a navalha teve vontade de respirar ar fresco. Saiu cautelosamente de seu refúgio e olhou para si mesma.  Ai, que acontecera? A lâmina estava horrorosa, parecendo uma serra enferrujada, e não refletia mais a luz do Sol.

A navalha ficou muito arrependida pelo que havia feito, e lamentou amargamente a irreparável perda, dizendo:

- Oh, como teria sido melhor se eu tivesse conservado em forma a minha linda lâmina, cortando barbas ensaboadas! Minha superfície teria permanecido brilhante e minha borda afiada! Agora aqui estou eu, toda corroída e coberta de uma horrível ferrugem! E não há nada a fazer!

Moral da Estória:
O triste fim da navalha é o mesmo que sucede às pessoas inteligentes que preferem ser preguiçosas a usar seus talentos. Essas pessoas, assim como a navalha, perdem o brilho e a parta afiada de seu intelecto, sendo logo corroídas pela ferrugem da ignorância.
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Leonardo de Ser Piero da Vinci nasceu em 1452 na Itália e morreu em 1519, na França, era para seus contemporâneos um personagem discutido e controvertido. Como pintor era mal visto, porque jamais terminava as obras iniciadas; como escultor despertou suspeitas por não ter forjado em bronze o monumento equestre a Francisco Sforza; como arquiteto era perigosamente ousado; como cientista era de fato um louco. Sobre um ponto, no entanto, seus contemporâneos viam-se obrigados a concordar: Leonardo era um argumentador fascinante, um polido conversador, um contador de histórias “mágico” e fantástico, um gênio da palavra acompanhada da mímica. Falando da ciência, fazia calar os cientistas; argumentando sobre filosofia, convencia os filósofos; inventando fábulas e lendas, conquistava os favores e a admiração das cortes. Sempre, e em qualquer lugar, Leonardo era o centro das atenções. E jamais decepcionava seu auditório porque tinha sempre, alguma história nova para contar. As fábulas e lendas de Leonardo têm um objetivo e finalidade moral, algumas foram traduzidas por Bruno Nardini e publicadas no Brasil em 1972. O único personagem constante dessas fábulas e lendas é a natureza: a água, o ar, o fogo, a pedra, as plantas e os animais têm vida, pensamento e palavras. O homem, pelo contrário, aparece como instrumento inconsciente do destino, e sua ação, cega e implacável, destrói vencidos e vencedores.
“O homem é o destruidor de todas as coisas criadas”, escreveu Leonardo no “Livro das Profecias”; e nunca, como hoje em dia, na longa história de nosso planeta, uma asserção foi mais verdadeira e tão tragicamente atual..

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Carina Bratt (O Tempo e o Agora)

Homenagem especial ao ilustre amigo Dr. José Feldman e seu inimitável texto ‘O tempo e o Agora’ publicado aqui em seu blog em 10 e agosto de 2025. Vale a pena conferir: https://singrandohorizontes.blogspot.com/2025/08/jose-feldman-o-tempo-e-o-agora.html 
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EM SEU TEXTO simples e singelo, bucólico e pastoril, o escritor José Feldman sinaliza que o relógio marca a hora, cada instante é um agora... A vida não demora. O relógio marca a hora, e, com cada tique-taque, somos lembrados de que a vida é feita de instantes. Em um mundo que parece acelerar a cada dia, é fácil nos perdermos na correria. Voamos a mil para o trabalho, de igual forma para os compromissos, também para a rotina que nos consome parte da saúde. Mas a poesia nos lembra: cada instante é um agora. 

Quantas vezes deixamos de apreciar o que está diante de nós?  O cheiro do café fresco pela manhã, o sorriso de um amigo, a luz do sol mavioso filtrando pelas folhagens. Esses momentos, muitas vezes simples, são os que realmente compõem a tapeçaria da nossa existência. A vida não demora, ela tem pressa, embora seja feita de sutilezas que muitas vezes nos passam despercebidas. A verdade é que o tempo é um mestre implacável. Ele não espera. O que temos é este agora, e é nele que devemos encontrar significado. 

A vida não se mede apenas em grandes eventos, mas nas pequenas alegrias do dia a dia. Cada risada, cada conversa, cada instante vivido intensamente é um lembrete de que estamos aqui, presentes. Vale a pena parar e refletir. O que fazemos com nosso agora? Estamos realmente vivendo, ou apenas existindo? O relógio continua a marcar as horas, e a vida não espera. Não dá trégua. Não estanca. Por isso, vamos aprender com a lição simplória de José Feldman, a valorizar com garra cada momento, a respirar fundo e a sentir com determinação a beleza do presente. 

O presente é um amanhã que não retorna. No final, o que levará a nossa história não serão apenas os grandes feitos, mas as memórias construídas em cada agora. Nesse pé, ao invés de correr, que possamos caminhar, apreciar e amar. A vida é curta, é pequena, minúscula, e breve, E o tempo, esse sempre fiel companheiro, todavia, nos mostra a cada minuto, a cada segundo, a cada piscar de olhos, que o agora é tudo o que realmente temos. De fato, esse texto, ou melhor a poesia englobada nele, nos chama a atenção para algo tão essencial, mas frequentemente esquecido: o valor de cada momento presente, de cada pequena coisa que deixamos de lado. 

A vida, acredite, é mesmo feita desses instantes únicos que, juntos e irmanados num só objetivo, tecem a história que vivemos. O escritor José Feldman indiretamente destacou (sem dizer) a simplicidade das pequenas alegrias — tipo o cheiro do café fresco, o brilho do sol... Tudo isso é um lembrete poderoso de que há beleza em tudo ao nosso redor, se apenas nos permitirmos perceber. A dança silenciosa do tempo cada vez mais veloz, não pede licença. Empurra a porta do já e entra. 

Em cada batida suave do relógio, somos envolvidos pela melodia do agora. Há uma urgência serena, um desespero impiedoso que nos sussurra a toda hora nos ouvidos: ‘a vida não espera.’ Perdidos no frenesi da rotina, é fácil esquecer que os instantes simples carregam a essência do existir. O cheiro reconfortante de café recém passado, por exemplo, atrelado ao calor de um abraço genuíno, a luz do dia filtrando por entre as folhas — cada pequeno detalhe é um poema não escrito, entretanto, esperando para ser sentido e o melhor de tudo, vivido. 

O tempo, imparcial e incansável, segue seu curso. Ele não se detém para ninguém, mas oferece a todos um presente inestimável: “o agora, o já, o aqui.” Não há promessa para amanhã, nem controle sobre o ontem. Apenas a vastidão do momento presente nos pertence, e, dentro dele, a chance única de viver plenamente. José Feldman na sua simplicidade de menino criança, nos ensina que a vida nos convida a desacelerar, a tirar o pé do freio, a ouvir atentamente o coração que bate em sincronia com a realeza e com os segundos que passam. 

Em contrapartida, nos ensina também, a encontrar a beleza no que é passageiro e sublime. Que sejamos (diante dessa pureza nascida do interior do coração desse escritor magnânimo), que sejamos, meu Deus, que sejamos capazes de transformar a correria em contemplação, a contemplação em distração, a distração em presença, e o melhor de tudo: a existência em vivência. E sobretudo, para finalizar, a vivência, no “hoje agora”, no “agora, já”.
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CARINA BRATT nasceu em Curitiba/PR. Secretária particular e assessora de imprensa em Vila Velha/ES. Escreve crônicas em uma coluna denominada "Danações de Carina" para um site de Portugal.
Fontes:
Texto enviado pela autora,
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Do Arco-da-Velha”

Atualmente essa expressão serve para qualificar uma narrativa ou alguma coisa que é extemporânea, absurda, improvável, extraordinária e que não parece verdadeira. Quem não conhece as histórias do “arco-da-velha” ou as coisas do “arco-da-velha", para indicar algo remoto, muito antigo, do tempo do ronca. Mas como surgiu essa expressão tão corriqueira? 

Ainda do século XIX, “arco-da-velha” era empregado para descrever o arco-íris. E a própria Bíblia narra como surgiu o primeiro arco-íris. Em Gênesis 9:16, Deus afirma que o arco-íris “serve como lembrança de uma aliança feita por Deus com o homem, aliança que indicava que Ele não voltaria a enviar um dilúvio para destruir a vida na Terra”. 

E “velha”, qual seria o motivo? O que uma senhora em idade provecta tem a ver com esse fenômeno meteorológico? Ainda é a Bíblia que subentende que o termo “velha” representa a velha e indissolúvel aliança que Deus firmou com o homem, razão pela qual o arco-íris também é conhecido como arco-da-aliança. 

Em suas origens portanto, “arco-da-velha” não queria dizer que algo ou um episódio é muito antigo, mas que é incrível, fantástico, surreal, pois abstraindo sua explicação bíblica, o arco-íris, com sua incrível e multifária (multiforme) beleza, sempre se cercou de fabulações delirantes, como a do pote de ouro, ou que ele está bebendo água - quando seus extremos tocam a superfície do mar, de um rio ou de um lago - ou até a suposta e fantasiosa mudança instantânea de sexo de quem o vê bem de perto, resultando dessa última assertiva, sua utilização como símbolo mundialmente aceito das opções sexuais do ser humano.

Há quem especule no sentido de que o correto seria “arca-da-velha” porque “arca” e “baú” possuem o mesmo significado, bastando lembrar que nossas avós e bisavós guardavam seus pertences, suas relíquias e os seus tesouros pessoais ou familiares em suas arcas de madeira, “fechadas a sete chaves”. 

Uma história do arco-da-velha seria, portanto, uma narrativa tirada “do baú de uma anciã”. O conhecido “conto da carochinha” era usado com essa mesma intenção, neste caso, derivado de “carocha”, expressão do regionalismo português que significa feiticeira, uma mulher velha e assustadoramente feia. Daí o sentido de muito antigo, com que se invoca “Arco-da-Velha”, que oscila entre a Bíblia e o paganismo, sem que se possa atribuir a sua origem a um, com exclusão completa do outro. Mas é induvidoso que ambas as fontes contribuíram no decorrer do tempo, para o absoluto sucesso dessa expressão.

Existe uma copiosa produção literária, principalmente de livros infantis, contando as histórias do “arco-da-velha”, sendo uma das mais antigas o livro editado em 1913 pela Quaresma e Cia. Livreiros Editores, do escritor Viriato Padilha, assim como denominações em músicas, livrarias, brechós, antiquários, cafés e demais estabelecimentos comerciais onde se vendem antiguidades, encontrados em qualquer cidade brasileira.

Arco da Velha dá nome a uma das melhores bandas de fado portuguesas e isso demonstra a popularidade da expressão, aqui e na terra de Camões. Mas o que melhor se extrai da expressão são mesmo as muitas histórias “do arco-da-velha” que contam por aí, algumas com pouca ou nenhuma verossimilhança com a realidade. 

Quem já foi a Caxias do Sul teve a possibilidade de visitar a excelente Livraria e Café “Do Arco da Velha” um local muito bonito, famoso pelo atendimento impecável e pela infinita variedade de livros, temas e gêneros, tudo isso com a possibilidade de saborear um excelente café, desses ambientes acolhedores e convidativos, onde o cliente é capaz de passar o dia todo.

Na música, o Grupo Arco da Velha é um sucesso com seu repertório de consagrados cantores da MPB com o CD do mesmo nome e a playlist da Kboing com famosos interpretes internacionais. É algo que vale a pena ouvir. Finalmente, o livro infantil da escritora Elida Ferreira denominado “Histórias do arco-da-velha” (Bagaço, 3.ª edição, ano 2019), ricamente ilustrado, dá conta que dona Iaiá, que transformava tudo que chegava às suas mãos em brinquedo, encantava a todos contando lindas e antigas histórias. Quem de nós não ouviu tantas delas, na nossa saudosa infância? 
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CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras (Floresta/PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Dicas de escrita para escritores, pelos famosos (Luís Fernando Veríssimo)


Luís Fernando Veríssimo, renomado escritor, cronista e humorista brasileiro, é conhecido por sua escrita leve, criativa e cheia de humor. Embora não tenha um manual formal para novos escritores, suas entrevistas, textos e obras oferecem lições valiosas para quem está começando na escrita. Aqui estão algumas dicas extraídas do estilo e das ideias de Veríssimo, com base em sua abordagem literária:

1. Leia muito e de tudo

Veríssimo frequentemente destaca a importância da leitura como base para a escrita. Ele é um leitor ávido e diversificado, o que enriquece sua obra.

Leia autores diferentes, de gêneros variados, para expandir seu vocabulário, seu estilo e sua visão criativa.

“A leitura é essencial. Não há escritor que não seja antes de tudo um leitor.” (LFV)

2. Escreva sobre o que você conhece

Ele acreditava que escrever sobre o que você conhece (seja experiências, comportamentos ou situações) torna o texto mais autêntico e envolvente. Ele usava muito do cotidiano em suas crônicas.

Observe pessoas, situações e diálogos reais ao seu redor. Transforme o comum em algo interessante.

“O humor está no cotidiano, no que vivemos todos os dias. Basta saber olhar.” (LFV)

3. Use o humor como ferramenta

O humor é a marca registrada dele. Ele usava o humor para criticar, questionar e até emocionar. O humor não precisa ser escancarado; pode ser sutil ou irônico.

Experimente inserir humor em situações inesperadas, como em uma conversa banal ou em um momento de tensão.

“O humor é uma forma de olhar o mundo. Às vezes, ele é o único jeito de suportá-lo.” (LFV)

4. Seja simples e direto

Veríssimo evitava floreios desnecessários. Sua escrita é clara, acessível e fluida, o que o torna compreensível para leitores de todas as idades.

Evite palavras complicadas ou frases muito longas. Priorize a clareza e a naturalidade.

“O mais difícil é escrever simples.” (LFV)

5. Observe e capture o comportamento humano

Muitas das histórias e crônicas de Veríssimo são baseadas no comportamento humano, com descrições precisas e engraçadas de situações do dia a dia.

Preste atenção em como as pessoas falam, se movem e reagem. Isso pode inspirar personagens e diálogos autênticos.

“O ser humano é fascinante, porque ele é previsível e imprevisível ao mesmo tempo.” (LFV)

6. Experimente diferentes gêneros e formatos

Sua escrita transita entre crônicas, contos, romances, quadrinhos e roteiros. Essa versatilidade o ajudou a alcançar públicos diferentes.

Se você escreve contos, experimente crônicas. Se escreve prosa, tente poesia. Expandir suas habilidades pode surpreender você.

“Eu gosto de experimentar. Às vezes funciona, às vezes não. Mas o importante é tentar.” (LFV)

7. Não se leve tão a sério

Veríssimo acreditava na leveza e no prazer de escrever. Ele não tentava ser pretensioso ou “literário” demais.

Escreva com naturalidade, sem se preocupar excessivamente com perfeição. Divirta-se no processo.

“Escrever é como contar uma boa piada: tem que fluir, senão perde a graça.” (LFV)

8. Cultive a curiosidade

Ele era curioso por natureza e usava isso para criar histórias e personagens. Ele observava o mundo com olhar atento e questionador.

Pergunte-se “e se?” com frequência. Por exemplo: “E se esse vizinho estranho fosse um espião?” ou “E se o mundo acabasse amanhã?”

“A curiosidade é o que move o escritor.” (LFV)

9. Não tenha medo de reescrever

Ele mencionava que reescrever faz parte do processo de escrita. Nem sempre o primeiro rascunho será perfeito.

Depois de escrever, deixe o texto descansar. Volte a ele com um olhar crítico e faça ajustes.

“Escrever é reescrever.” (LFV)

10. Seja um observador do tempo em que vive

Veríssimo usava suas crônicas para refletir sobre questões sociais, políticas e culturais. Ele transformava o contexto em ficção ou humor.

Olhe ao redor e escreva sobre o que está acontecendo no mundo – com crítica, ironia ou emoção.

“A crônica é um reflexo do tempo em que vivemos.” (LFV)

11. Não tenha pressa para encontrar sua voz

Segundo Veríssimo, o estilo de um escritor surge com o tempo e a prática. Não se preocupe em ser original no início; a autenticidade virá.

Escreva todos os dias, mesmo que seja apenas um parágrafo. Aos poucos, você encontrará seu próprio jeito de contar histórias.

“O estilo é uma consequência, não um objetivo.” (LFV)

12. Divirta-se escrevendo

Acima de tudo, ele acreditava que a escrita deve ser prazerosa, tanto para o autor quanto para o leitor.

Escreva sobre temas que você gosta ou que o divertem. Isso transparecerá no texto e cativará o leitor.

“Se você não se diverte escrevendo, o leitor não vai se divertir lendo.” (LFV)

Resumo das dicas de Luís Fernando Veríssimo

- Leia muito e observe o mundo ao seu redor.

- Escreva com simplicidade, autenticidade e leveza.

- Inclua humor e ironia sempre que possível.

- Reescreva e experimente novos formatos.

- Não tenha pressa: a prática e a consistência são essenciais.

Essas lições mostram que a escrita é tanto uma arte quanto um ofício – e, como Veríssimo demonstrava em sua obra, ela pode ser ao mesmo tempo inteligente e divertida.

Luís Fernando Veríssimo é mestre em usar o humor em suas crônicas para criticar, refletir ou simplesmente entreter. Seu estilo é marcado por uma combinação de ironia, observações do cotidiano, diálogos engraçados e situações aparentemente banais que ele transforma em algo hilário. Aqui estão alguns exemplos de como ele usa o humor em suas crônicas, com explicações sobre as técnicas empregadas:

1. Observação do Cotidiano

Veríssimo transforma situações comuns em algo cômico ao destacar o absurdo ou a ironia escondida no dia a dia.

Exemplo: “A Dieta”
Nesta crônica, Veríssimo brinca com a obsessão por dietas e o comportamento contraditório das pessoas que tentam emagrecer. Ele narra a história de alguém que segue uma dieta rigorosa durante o dia, mas à noite devora um bolo inteiro escondido na cozinha.

Humor: A graça está no exagero e na identificação do leitor com o comportamento descrito. Quem nunca tentou enganar a própria dieta?

Trecho:
“A dieta é questão de honra. Você toma só suco no café da manhã, come só salada no almoço, recusa a sobremesa, mas, à noite, o bolo de chocolate começa a cochichar seu nome na cozinha.”

2. Humor Autodepreciativo

Ele usa a si mesmo ou narradores fictícios como alvos da piada, criando empatia com o leitor.

Exemplo: “Academia”
O narrador conta sua experiência desastrosa ao entrar em uma academia de ginástica, fazendo piada sobre a falta de preparo físico e o desconforto em meio a pessoas saradas.

Humor: A graça está no contraste entre o narrador comum (fora de forma) e os frequentadores da academia, além da ironia com a própria situação.

Trecho:
“Eu sabia que estava fora de forma, mas não sabia que a forma era tão fora de mim. No primeiro exercício, quase desmaiei. No segundo, desmaiei mesmo.”

3. Diálogos Bem-Humorados

Cria diálogos rápidos e engraçados, muitas vezes absurdos ou carregados de ironia.

Exemplo: “O Analista de Bagé”
O Analista de Bagé, um dos personagens mais famosos de Veríssimo, é um psicanalista gaúcho que mistura o rigor da análise freudiana com a rusticidade e a franqueza típicas do interior do Rio Grande do Sul.

Humor: O contraste entre o cenário sofisticado da psicanálise e a simplicidade gaudéria cria situações hilárias.

Trecho:
Paciente: “Doutor, eu tenho um problema com a minha mãe...”
Analista: “Problema com a mãe? Pois te atira de joelhos no chão e pede perdão pra velha, tchê!”
Paciente: “Mas ela está morta!”
Analista: “Então pede perdão mais alto, que ela há de ouvir, vivente!”

4. Ironia e Crítica Social

Usa o humor para criticar comportamentos, preconceitos ou aspectos da sociedade, mas de forma leve e acessível.

Exemplo: “A Mulher Ideal”
Ele descreve o que seria a mulher ideal de acordo com os padrões absurdos da sociedade, brincando com os estereótipos de beleza e comportamento.

Humor: A ironia está em exagerar os padrões irreais, tornando-os absurdos e, portanto, engraçados.

Trecho:
“A mulher ideal é aquela que acorda maquiada, tem o corpo de atleta olímpica, nunca reclama e ainda acha graça das piadas do marido. Em resumo, não existe.”

5. Exagero e Situações Surreais

Veríssimo leva situações cotidianas ao extremo para torná-las cômicas.

Exemplo: “A Guerra do Lanche”
A crônica narra uma discussão entre amigos sobre quem vai pagar a conta de um lanche, que acaba escalando para uma guerra literal, com batalhas e exércitos.

Humor: O exagero transforma algo trivial (dividir a conta) em uma situação épica e absurda.

Trecho:
“No início, era só um argumento: ‘Eu pago.’
Depois, começaram os insultos: ‘Você pagou da última vez, então deixa que eu pago agora!’
Em minutos, estávamos armados com os canudos e os guardanapos como bandeiras.”

6. Troca de Expectativas

Surpreende o leitor ao subverter o desfecho esperado de uma situação.

Exemplo: “Amor”
Um homem vê uma mulher maravilhosa no trânsito e sente que é amor à primeira vista. Ele fantasia sobre como seria a vida ao lado dela, mas, quando finalmente decide segui-la, descobre que ela está dando carona para o marido.

Humor: O final inesperado quebra o clima romântico e traz o leitor de volta à realidade.

Trecho:
“Ela era perfeita, e eu já imaginava nossos filhos, nossa casa e nosso cachorro. Mas então ele apareceu, e eu me perguntei: ‘Será que o marido dela também é perfeito?’”

7. Paródias e Referências Culturais

Usa paródias para brincar com obras literárias, filmes ou eventos históricos.

Exemplo: “Romeu e Julieta às Avessas”
Ele reconta a história de Romeu e Julieta, mas com um final cômico e invertido: os dois sobrevivem e, anos depois, estão entediados no casamento.

Humor: A graça está na desconstrução de uma história clássica e no contraste entre o romance idealizado e a realidade.

Trecho:
“Romeu e Julieta sobreviveram e se casaram. Dez anos depois, Julieta gritava: ‘Deixa de ser dramático, Romeu, e vai lavar a louça!’”

8. Personagens Cômicos

Cria personagens marcantes e engraçados, como o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté (que acreditava cegamente no governo) ou Ed Mort (um detetive atrapalhado).

Exemplo: “Ed Mort”
Ed Mort é um detetive particular que sempre se mete em confusões absurdas. Seu humor vem da mistura de autoconfiança e incompetência.

Humor: A graça está nas situações ridículas que Ed Mort enfrenta e na forma como ele tenta resolvê-las.

Trecho:
“Ela entrou no meu escritório com um vestido vermelho e um problema. Eu estava com fome e sem dinheiro. Era o início de um caso perfeito!”

Luís Fernando Veríssimo usava o humor de maneira inteligente e versátil, explorando ironias, exageros, diálogos bem-humorados, críticas sociais e situações do cotidiano. O segredo do seu sucesso está na leveza com que ele aborda temas sérios e banais, sempre criando identificação e risadas no leitor. Seu humor é uma aula de como usar a simplicidade para criar textos memoráveis!

Fontes:
José Feldman (org.) Como escrever? Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Meta do Whatsapp