sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Asas da Poesia * 113 *


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Letras

Há letras
que dizem mais
que mil
palavras:
dia D,
X da questão,
ponto G,
pingo no I, 
plano B,
hora H,
mas é o T
forma de cruz
que lembra
que somos
mortais.
= = = = = = 

Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Webdesigner

Para o carinho de todas as artistas que fazem da
formatação a melhor e mais sublime maneira de
celebração vida, da arte e da poesia.

Em cada verso, eu me solto e transponho
Cada limite do meu próprio pensamento,
Mas se diluis a tua tinta no meu sonho,
O que eu componho. ganha forma e movimento.

É no desenho que tu fazes, que iluminas
O meu poema, dando alma ao que eu sinto
E é na luz das minhas límpidas retinas
Que nasce a cor do sentimento que te pinto.

Tu crias vida, onde a vida é restrita
À solidão de um coração solto na tela;
A tua página é mar... meu verso é vela
Riscando a tela onde a visão é mais bonita.

Possibilitas que as tintas da pintura
Escorram leves sob os olhos do leitor
Que se enternece... quando vê, com mais ternura,
Toda ternura do poeta e do pintor.

Deus dá o dom que tu transformas em talento,
Em dada página feliz, quando ele cria
Na tua alma, teu mais puro sentimento,
Emoldurando a cor da minha poesia.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

O portão e o vento

 Num piscar de olhos
Distancia-se o pensamento,
Busco encontrar-te
Em cada folha do Plátano
Das minhas telas
E pétalas de rosa que guardei...
Imagino que esteja próximo à esquina
Vindo em minha direção,
Ah, meu Amor lindo...
Quase sinto, o calor dos teu abraço,
Mas, num piscar de olhos
Aos meus sonhos retorna
E o portão abre-se com o vento...
= = = = = = 

Trova Popular

Coração que a dois ama,
e que depois quer agradar,
não ande enganando os outros,
veja com quem quer ficar.
= = = = = = 

Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Felicidade (II)

Basta saberes que és feliz, e então
Já o serás na verdade muito menos:
Na árvore amarga da Meditação,
A sombra é triste e os frutos têm venenos.

Se és feliz e o não sabes, tens na mão
O maior bem entre os mais bens terrenos
E chegaste à suprema aspiração,
Que deslumbra os filósofos serenos.

Felicidade... Sombra que só vejo,
Longe do Pensamento e do Desejo,
Surdinando harmonias e sorrindo,

Nessa tranquilidade distraída,
Que as almas simples sentem pela Vida,
Sem mesmo perceber que estão sentindo…
= = = = = = 

Soneto de
DOMITILLA BORGES BELTRAME
Araxá/MG, 1932 – 2025, São Paulo/SP

Meu sonho

Partiste, meu filho, num belo alazão
deixando-me a vida, tristonha em pedaços,
calando os meus versos e minha canção,
deixando vazios e frios meus braços...

Agora eu te busco no céu e no chão
e, em sonho parece que escuto teus passos,
e assim a saudade se faz oração
seguindo comigo, juntando cansaços...

E em meu dia a dia, vazio e tristonho,
de estradas desertas e de sol sem brilho
eu vou caminhando, atrás do meu sonho...

E, à noite, descubro, quando posso vê-las,
que tu não morreste, partiste meu filho
e, lá no infinito, cavalgas estrelas!...
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Mistério

A nossa vida em si já é um bom mistério...
Mas até onde meu juízo alcança,
Eu vejo que o sofrer, se é muito sério,
Aumenta sempre em nós a esperança!

Foi Deus que quis assim; não sem critério,
Mas só visando a nossa segurança...
Porque o Criador, mais que cautério,
Aspira a nossa bem-aventurança!

A dor tem sempre a sua utilidade,
Quer para alertar de um mal maior,
Ou tendo em vista a nossa santidade.

Por certo o sofrimento foi criado
Só pra que a gente possa ser melhor
E chegue, assim, ao céu, tão almejado!
= = = = = = 

Poema de
PAULO VINHEIRO
(Paulo Vieira Pinheiro)
Monteiro Lobato/SP

Vinhas

Lá acima de aquele monte brilha
Ouro que cristalina água espalha
Sem mata, sem sentido, esconde
Tudo que os meus olhos procuram

Estronda todo o sabor em música
Oculto
Perfeito
Esquálido e escuro

Tramo tudo que o amor trama
Esbarro em tudo que te ama
Divido meus olhos com os teus
E parto de longe a buscar-te aqui
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Quem chorará no sepulcro
de quem a vida foi só?
De quem tantas vezes triste
de si mesmo teve dó?
= = = = = = 

Poemeto de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Memórias da Saudade

Nas pálpebras pesadas
o vento pousou...
Em folhagens abafadas
sentiu o peso, sussurrou
herege, o pranto secou.
Lápides esquecidas
no amarelado passado
sentem o abafo, ressequidas.
Ouço um apelo cansado...
Um elo pagão, embaçado.
É só um velho balanço
levado pela brisa fria.
Em um breve relanço
aquela que outrora sofria
veste no espelho sua alforria.
= = = = = = 

Poema de 
VITÓRIA VITTI
Rio Claro/SP

Onde o amor morou

O amor chegou meio sem jeito
Tímido, acanhado
Fazendo mil juras de fidelidade
Se aninhou onde eu menos esperava
De mansinho, com carinho
E passou a aquecer meu coração
Com ele, esqueci de tudo
Até mesmo quem eu era
Foram momentos incríveis
Insaciáveis
Inesquecíveis
Ele fazia meu mundo ficar perfeito
Tudo era colorido, do seu jeito
Até que um dia
Ele me trouxe a notícia
De que precisava deixar sua morada
Onde eu já estava acostumada
Era a minha fonte de felicidade
Meu alimento, minha vontade
Partiu sem aceitar minhas súplicas
Nem olhou pra trás
Deixou plantado no lugar
Um sentimento de impotência
O amor foi embora
E nem mesmo eu consegui fazê-lo ficar...
= = = = = = 

Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016

Derrubada onomatopaica

Atroa o bate-bate retumbante
dos mordentes machados na madeira.
E nessa luta trágica e gigante
rolam troncos em longa choradeira.

Aqui um jequitibá soberbo! Adiante
uma velha e frondosa caneleira,
um cedro, uma peroba farfalhante,
toda a legião da flora brasileira.

O machado decepa inexorável,
nada lhe escapa à cólera maldita,
nada o detém na sanha abominável.

E há em cada tombo lástimas soturnas,
e a cada golpe toda a selva grita
pelo eco das quebradas e das furnas.
= = = = = = 

Poetrix de
DALTON LUIZ GANDIN
São José dos Pinhais/PR

Arte

Meu papel foi natura.
Agora,
eu imprimo cultura.
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Poema de
ANTERO KALIK
Paris/França

Um gesto previsto apagou
o riso do dia.
Trouxe o céu,
de volta o riso
despretensioso, lunar,
o brilho ofuscou a dor
e trouxe à tona
a beleza e hálito fresco
do silêncio noturno
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Poema de
CRIS COUTO
São Bernardo do Campo/SP

Abrigo

Porque te gosto
Te quero comigo
E na tempestade
Ser seu abrigo
Porque te gosto
Te quero ter
E da tempestade
Te proteger
Quero você no meu colo
Vem descansar
E quero ser seu abrigo
Vem para ficar
Te quero dar
Todo amor e carinho
E em meus braços
Te envolver
Vem transformar
Essa água em vinho
E entre abraços
Nos aquecer
= = = = = = 

Hino de 
Tremembé/SP

O belo por do sol da Mantiqueira
Manoel Costa Cabral se encantou
Da mata imaginou uma bandeira
E a nossa Tremembé ele fundou.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

Teus campos se cobriram de dourado
Nas mãos que semearam arrozais
A ordem dos trapistas do passado
Semente que não morrerá jamais.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

O nobre rio tens beijando aos pés
Murmurando feito mil madrigais
Em tributo a ti, minha Tremembé
Passarinhos gorjeiam em corais.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

Tuas igrejas de sinos tangentes
De sonoros chamamentos de paz
O labor com a fé de tua gente
Te engrandece e muito orgulho nos traz.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.
= = = = = = 

Poema de 
GISELDA CAMILO
Olinda/PE

DesEsperança

Quando tento alcançar as estrelas
E elas ficam distantes, distantes...
Quando tento enxergar delas o brilho
E elas ficam opacas, opacas, opacas...
Quando corro atrás da esperança
E ela se afasta, se afasta, se afasta...
Quando, das flores, tento sentir o perfume
E elas permanecem fechadas...
Quando quero o sorriso no rosto estampar
E ele não vem, não vem, não vem...
É quando mais preciso de você
E você por perto não está
A distância levou..
E levou o brilho das estrelas
Hoje é dia de estrela sem brilho
De flor sem perfume
De (des)esperança
Queria tanto que não fosse assim.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A corte do leão

Um dia, a leonina majestade,
Forte no dente e unha,
Quis saber com verdade
De que povos seu reino se compunha;
E convocou por circular firmada
Com o selo real
A vária bicharada.
Dizia o papelucho, por sinal,
Que o rei daria audiência,
E que esta, por maior magnificência,
Seria aberta ao grito
Do macaco em caretas mais perito.
O monarca entendeu,
Para ostentar grandeza entre os vassalos,
Ao seu real palácio convidá-los...
Mas que palácio o seu!

Depósito de restos da matança,
De exalações ingratas
Que obrigam o urso, mal na entrada avança,
A tapar os narizes com as patas.
O rei, vendo isto, pula
E da vida e do enjoo lhe dá cabo.
A sacudir o rabo,
O mono aplaude a ação, e em prosa chula
Tece grande louvor
À cólera dum rei tão justiceiro,
E diz que não há flor
Que vença do antro o delicado cheiro.
Sua lisonja tola
Teve por prémio a morte.
Este senhor, a quem não lhe ia à bola,
Não sabia ensinar por outra sorte.

Estava a raposa perto,
E o leão lhe pergunta em sério tom:
«Com franqueza, este cheiro é mau ou bom?»
Responde o bicho esperto:
«Pronto o vosso desejo aqui cumprirá,
Se um defluxo que tenho o consentirá.»

Os contos são úteis, de ensino são ricos:
Se acaso na corte puderes entrar,
Faz sempre o teu jogo com pau de dois bicos,
Terás a certeza de ali agradar.
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Eduardo Martínez (Entre devaneios e pôneis coloridos)

Uma coisa muito legal para o escritor é receber elogios. É óbvio que, não raro, chega um ou outro desaforo por algo que o leitor desgostou. Seja como for, prefiro guardar na lembrança os agrados, ainda mais aqueles que me chegam carregados de exageros, como aconteceu recentemente por um leitor-amigo, ou seja, o tipo quase incapaz de enxergar defeitos, mas que vislumbram qualidades que, bem sei, não sou merecedor. Ou sou?

Pois bem, o leitor-amigo a quem me refiro é o renomado astrólogo Francisco Seabra, que costumo chamar de Meu Guru. Ele, talvez embevecido por algum destilado diante da aprazível praia da Ponta Negra, em Natal, me mandou essa mensagem: "Minhas mãos estão perdendo as digitais de tantas palmas para você!!!" 

Devaneio? Extravagância? Impulso por causa daqueles momentos de euforia? Sei lá! Não faço a menor ideia! No entanto, causa-me arrepios por todo o corpo, tal como os doces beijos da minha amada, a Dona Irene. Mas nada que me mantenha nas nuvens por muito tempo,  mesmo porque a minha filha mais nova, a Malulinha, perto de completar quatro meses, vez ou outra, me lembra de que preciso trocar suas fraldas. 

Entretanto, não é apenas de louros que vive um escritor. Tenho quase certeza de que até o incomparável Machado de Assis também recebeu críticas desfavoráveis. Não sei como o maior dos maiores as recebeu. No meu caso, digo-lhe que é uma diversão, que compartilho com a minha esposa antes de deitarmos no nosso leito tão acolhedor. 

Já que expus o Meu Guru, bem que poderia falar um pouco sobre uma leitora, cujo nome prefiro manter no anonimato, mas que sempre me dá aquelas alfinetadas. É que a dita cuja não suporta os desfechos dos meus contos e crônicas: "Que mania você tem de sempre colocar esses finais trágicos!" 

Não sei se essa leitora-inimiga (será que estou criando uma nova classe de leitores?) espera encontrar pôneis coloridos nos meus escritos. Creio até que ela, ao usar esse exagero de palavra que é "sempre", tem lá sua razão. O problema, parece, estar em mim, que há muito deixei de acreditar em coelhinhos da Páscoa ou, então, sou um cruel manipulador das emoções alheias. Que seja! Nada me dá mais prazer do que fugir do tradicional e esperado "e viveram felizes para sempre".
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Eduardo Martínez possui formação em Jornalismo, Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. Editor de Cultura e colunista do Notibras, autor dos livros "57 Contos e crônicas por um autor muito velho", "Despido de ilusões", "Meu melhor amigo e eu" e "Raquel", além de dezenas de participações em coletânea. Reside em Porto Alegre/RS.
Fontes:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Laé de Souza (O astronauta)

Aproximou-se da moça e perguntou-lhe o nome. Ela o olhou de cima a baixo antes de responder.

- Brigitte. Você é pessoa importante? Porque só converso com gente de renome. Ao meu lado sempre estão cantores famosos, costureiros de alta-costura, atores de teatro, cinema e TV, escritores de best-sellers, presidentes. Portanto, para preservar minha imagem, devo verificar bem quem são as pessoas com quem converso.

Ele, de olhos fixos nos dela, ficou por alguns instantes a admirar-lhe a beleza e admitia que poderia muito bem se chamar Brigitte.

- Sou importante, sim. Sou astronauta e aquela é a minha nave. Se achar agradável a sua companhia, posso levá-la a passear comigo. Somente grandes nomes nela navegaram. Chamo-me Gagarin. Conheço bem o espaço e já estive na lua... Agora, recordo-me que assisti a alguns dos seus filmes.

- Já ouvi falar de você - e olhava para ele e para a reluzente nave.

- Posso passar a mão?

Ele permitiu e ela alisava a nave boquiaberta. Os que passavam olhavam com inveja, ela percebia e se engrandecia. Depois, fez poses e encenações diversas para ele, que aplaudia. Ele apontava para o céu e, com a mão, fazia gestos de como a sua nave atravessava a barreira do universo. Correu em zigue-zague, de braços abertos.

- Deve ser gostoso - disse ela a sorrir.

No dia seguinte, encontraram-se novamente e falaram de arte e liberdade. Ele lhe confidenciou que era agradável estar com ela. Sentiu um frio de medo, quando ele a convidou para passear em sua nave.

- Não tenha receio, você está com o maior de todos os astronautas - ela assentiu, dando-lhe as mãos e caminhando em direção à nave.

- Segure firme. Se sentir medo, feche os olhos por alguns instantes; depois, abra-os para admirar a beleza do espaço - ela ouviu bem baixinho, embora ele gritasse para se sobrepor ao barulho dos motores. Viajaram por horas e horas, até retornarem.

- Gagarin, estou feliz. Sempre que for ganhar os espaços posso ir com você?

- Claro, Brigitte. Quer ir de novo numa viagem mais demorada? - ela balançou a cabeça afirmativamente.

- Me leva até a lua?

Entraram na nave e, sorrindo, tomaram rumo ao céu.

Um enfermeiro chamava a atenção do outro para a estranha posição em que se encontravam aquela feiosa e o cara esquisito que tinha se internado na semana anterior. Pareciam flutuar.

Sara, amiga e admiradora da Brigitte, ouviu a conversa dos dois e ficou perplexa, estranhando existirem pessoas que desconhecem uma nave no espaço.
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LAÉ DE SOUZA é cronista, poeta, articulista, dramaturgo, palestrante, produtor cultural e autor de vários projetos de incentivo à leitura. Bacharel em Direito e Administração de Empresas, Laé de Souza, 55 anos, unifica sua vivência em direito, literatura e teatro (como ator, diretor e dramaturgo) para desenvolver seus textos utilizando uma narrativa envolvente, bem-humorada e crítica. Nos campos da poesia e crônica iniciou sua carreira em 1971, tendo escrito para "O Labor"(Jequié, BA), "A Cidade" (Olímpia, SP), "O Tatuapé" (São Paulo, SP), "Nossa Terra" (Itapetininga, SP); como colaborador no "Diário de Sorocaba", O "Avaré" (Avaré, SP) e o "Periscópio" (Itu, SP). Obras de sua autoria: Acontece, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Espiando o Mundo pela Fechadura, Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braille) e o infantil Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial. Projetos: "Encontro com o Escritor", "Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade". Ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil, cujo foco é o incentivo à leitura. "A importância da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano", dirigida a estudantes e "Como formar leitores", voltada para professores são alguns dos temas abordados nessas palestras. Com estilo cômico e mantendo a leveza em temas fortes, escreveu as peças "Noite de Variedades" (1972), "Casa dos Conflitos" (1974/75) e "Minha Linda Ró" (1976). Iniciou no teatro aos 17 anos, participou de festivais de teatro amador e filiou-se à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Criou o jornal "O Casca" e grupos de teatro no Colégio Tuiuti e na Universidade Camilo Castelo Branco. 
Fontes:
Laé de Souza. Nos bastidores do cotidiano. 30a. edição. SP: Ecoarte, 2018.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Arthur Thomaz (No Antigo Egito)

Margareth era uma bela moça nascida em Pereba, uma linda e pacata cidade incrustada em uma serra no interior do Rio de Janeiro.

De classe média, trabalhava para pagar os estudos de canto.

Levava uma vida tranquila, até que um dia aborreceu-se com a atitude errada de um namorado, e com muita raiva, desejou ardentemente viver em outra época.

Implorou aos deuses e Zeus, sempre inclinado a ajudar mulheres bonitas, acionou Chronos, que imediatamente materializou-a no antigo Egito.

Margareth viu-se de repente à beira do rio Nilo.

Chronos, na pressa em transportá-la, esqueceu-se de trocar suas roupas pelos trajes da época. Ela, de minissaia e camiseta, para não chamar a atenção, pulou no rio e furtou algumas peças de roupas das lavadeiras.

Esperou secar e já devidamente trajada, percorreu o caminho até a cidade de Menfis.

Circulou anonimamente pelas ruas até chegar ao Palácio Real.

Apresentou-se ao cerimonial do local como Margareth Callas, cantora famosa em outros países. Combinaram uma apresentação de canto na corte que aconteceria na noite seguinte.

Hospedaram-na em um luxuoso aposento, onde teve tratamento diferenciado por julgarem-na uma artista renomada.

Nos ensaios, destacou-se pela sua linda voz, e por sua desenvoltura no palco. Ramsés, apreciador das belas artes e da beleza feminina, encantou-se com a jovem artista.

Convidou-a para uma conversa reservada, na qual sem titubear, pediu-a em casamento, dando-lhe até o dia seguinte para que refletisse e aceitasse o convite, ordenando a sua guarda real que a mantivesse detida e incomunicável em seu aposento.

Margareth, assombrada com a situação, percebeu a enrascada em que estava envolvida.

As camareiras que vieram lhe banhar, contaram que Ramsés possuía 30 esposas e 115 filhos, e que era costume quando os faraós morriam que as esposas fossem enterradas juntas na câmara da pirâmide.

Aterrorizada, Margareth notou que necessitava de um plano urgente de fuga. Na madrugada, mandou chamar o chefe da guarda do Palácio e insinuou-se discretamente, propondo favores sexuais em troca de uma facilitação de fuga.

O rapaz, extasiado com tanta beleza, entregou-lhe as chaves de um portão que ficava nos fundos do Palácio, e combinou um encontro amoroso secreto na noite seguinte, em um local longe dali, onde jamais seriam vistos.

O encontro nunca se concretizou porque ela, ao colocar os pés do lado de fora dos muros, correu o mais rápido que pode, sem olhar para trás.

Apossou-se de uma pequena canoa e remou até outra cidade que depois descobriu ser Gizé.

Dirigiu-se até um oráculo na margem do rio Nilo, onde fervorosamente implorou aos deuses que a retirassem dali e a devolvessem para a época anterior.

Zeus, condoído com a situação da bela jovem e também pensando em tirar alguma vantagem, trouxe-a até o Monte Olimpo.

Já a salvo das garras do faraó, Margareth aproveitou a hospitalidade do Deus Supremo. Percebeu após alguns dias que Zeus começava, discretamente, a insinuar-se.

Necessitando encontrar uma maneira de escapar de mais esse apuro, procurou estudar a personalidade dos outros deuses que ali também habitavam.

Certa noite, viu Baco ligeiramente embriagado por tomar alguns copos do “néctar dos deuses” e viu ali sua chance de fuga.

Convidou-lhe ao seu aposento e discretamente deixou transparecer uma inclinação pelo alcoolizado deus.

Fez Baco ingerir muitos copos de vinho, simulando estar tomando também. Mesmo sendo leal a Zeus, já obnubilado, ordenou encilhar Pegasus e levou-a de volta à terra natal.

Zeus, furioso, quis trocar Baco por Dionísio, mas após umas diplomáticas conversações e com a interferência de Eros e outros deuses, que não queriam ficar sem o vinho, acalmou-se, conformado com a perda, mas já de olho em uma outra nereida.

Depois desses dois sobressaltos, Margareth reatou seu relacionamento anterior, por agora julgá-lo bem menos perigoso e mais fácil de contornar os possíveis percalços que poderiam advir.
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Arthur Thomaz é natural de Campinas/SP. Segundo Tenente da Reserva do Exército Brasileiro e médico anestesista, aposentado. Trovador e escritor, publicou os livros: “Rimando Ilusões”, “Leves Contos ao Léu – Volume I, “Leves Contos ao Léu Mirabolantes – Volume II”, “Leves Contos ao Léu – Imponderáveis”, “Leves Aventuras ao Léu: O Mistério da Princesa dos Rios”, “Leves Contos ao Léu – Insondáveis”, “Rimando Sonhos” e “Leves Romances ao Léu: Pedro Centauro”.

Fontes:
Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Asas da Poesia * 112 *


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Um dia
o meu
silêncio
vai
te faltar
tanto
que com
espanto
tardiamente
me 
entenderás.
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Manhã menina

MOTE:
Madrugada... e a luz da aurora,
banindo a noite que finda,
conquista o tempo que mora
no dia que dorme ainda.
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

GLOSA:
Madrugada... e a luz da aurora,
colorida, cintilante,
tingindo o céu nessa hora
torna tudo alucinante!

A linda policromia
banindo a noite que finda,
canta um hino de alegria
com uma harmonia infinda.

O pranto que a noite chora
sabendo que vai morrer,
conquista o tempo que mora
no dia que vai nascer!

A manhã chega graciosa
feito uma menina linda,
se espreguiçando formosa
no dia que dorme ainda.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Flores de nanquim

A ternura de tuas mãos
Dispersa meus véus -
Em suaves movimentos
O pincel desliza,
Acariciando minha pele,
Faz-me sorrir
E, risca, docemente,
Com a fluidez do nanquim
Flores de cerejeira
Em meu corpo e alma -
A essência de teu olhar
Aquece minha nudez
Sou toda tua -
Atemporal tela...
= = = = = = 

Quadra Popular

Não me tentes com fortuna
para contigo casar:
eu prefiro mais que tenha
coração para me dar...
= = = = = = 

Soneto de
FERNANDO ANTONIO BELINO
Sete Lagoas/MG

As grandes águas

As Cataratas, ditas simplesmente,
Foz do Iguaçu, recanto de beleza!
Aqui, teve capricho a natureza,
Moldando este espetáculo imponente!

Fica agitado o coração da gente,
Ao divisar o encanto e a sutileza
Da fauna e flora, unidas à grandeza,
Destas águas, em queda permanente.

Rica dádiva entregue à Humanidade,
Que exige imenso amor, boa vontade.
No zelo de tão belo monumento.

As Cataratas do Iguaçu serão
Eternizadas, feito um deus-trovão
Na voz dos Céus, a ressoar ao vento!

(3° lugar no Concurso Literário-2023, pela Academia Literária do Oeste do Paraná)
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Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

(Trova de agradecimento para o Feldman, pela divulgação dos versos no blog)

Meu irmão adocicado* 
quero me fazer presente, 
pra agradecer o pingado 
de versos que cai na gente.

*Obs: Adocicado, porque ambos temos diabetes.
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

O Beija-Flor
 
Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.
 
Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, nessa manhã tão fria!
 
Um dia, foi-se e não voltou... Mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...
 
Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!
= = = = = = 

Poetrix de
PATRÍCIA ESSINGER
Guaíba/RS

tato

o toque beija:
dedos,
insinuação de lábios.
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Poema de
ARSENY TARKOVSKY
Kirovohrad/Ucrânia (1907 – 1989)

Pela noite

Pela noite concedias-me o favor,
Abriam-se as portas do altar
E a nossa nudez iluminava o escuro
À medida que genufletia. E ao acordar
Eu diria “abençoada sejas!”
Sabendo como pretensiosa era a bênção:
Dormias, os lilases tombavam da mesa
Para tocar-te as pálpebras num universo de azul,
E tu recebias esse sinal sobre as pálpebras
Imóveis, e imóvel estava a tua mão quente. 
= = = = = = 

Poema de 
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Não Sei Quantas Almas Tenho 

Não sei quantas almas tenho. 
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é, 

Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou. 

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que só que não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti. 
Releio e digo: "Fui eu ?" 
Deus sabe, porque o escreveu.
= = = = = = 

Hino de 
Alagoinha do Piauí/PI

A alvorada do teu amanhecer
Naquele promissor nove de abril
Prenunciava, nosso renascer
Debaixo desse céu cor de anil.

Terra querida, és nossa vida
Terra de sonhos de valores mil
Alagoinha do Piauí, do Piauí, Brasil.

O vento liberdade perfumando
Espalhando a fragrância da bonança
Os elos da corrente se quebrando
O povo a cantar hinos de esperança.

No folclore a beleza e tradição
Novenários, foguetes e bandeiras
Culto misto de fé e diversão
São Gonçalo, reisado e brincadeiras.

Preservando a cultura desta gente
A arte vem ostentada na bandeira
Ficará o legado eternamente
Aos filhos dessa terra hospitaleira.

Teus filhos são gigantes, são guerreiros
A tirar da mãe terra o seu sustento
Terra boa do feijão dos cajueiros
Que não nega aos teus filhos o alimento.

O seu lema é crescer junto ao seu povo
Seu povo forte, simples, altaneiro
Na luta firme por um mundo novo
Um mundo igualitário e sobranceiro.
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada das Fábulas de Monteiro Lobato 
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Fábula do Lobo e da Ovelha 

No campo, o lobo faminto vagava, 
A ovelha, inocente, pastava e sonhava. 
“Querida ovelha, venha aqui dançar, 
Uma festa linda vou te dar!” 

Mas a ovelha desconfiou da intenção, 
E com astúcia, escapou da armadilha em questão. 
Aprendeu que nem tudo é bondade, 
E a desconfiança é uma proteção à verdade.
= = = = = = = = =  

Poetrix de
GOULART GOMES
Salvador/BA

Menina de Rua

o homem dormia, em seu ninho
e o coração dela
esmolando um carinho
= = = = = = = = =  

Pantum da
ANGELA BRETAS
Flórida/Estados Unidos

O sabiá que sabia tanto...

O sabiá que sabia tanto,
sabia que encantava sim,
seu canto, som de encanto,
soava como harpas dos querubins.

Sabia que encantava sim,
seu som de pássaro liberto
soava como harpas dos querubins
em manhãs de sonos despertos.

Seu som de pássaro liberto
ecoava nas matas distantes
em manhãs de sonos despertos,
melodias em formas tocantes.

Ecoava nas matas distantes
a música que adocicava a alma.
Melodias em formas tocantes
chamadas de paz e calma.

A música que adocicava a alma
tornava o pássaro alvo cativo.
Chamadas de paz e calma
atraía o inimigo.

Tornava o pássaro alvo cativo
cobiça em forma de canto.
Atraía o inimigo
enfeitiçado por seu encanto.

Cobiça em forma de canto
sufocou o sabiá, coitado.
Enfeitiçado por seu encanto
deixou-se prender, morreu calado.

Sufocou o sabiá coitado,
armadilha do destino calou o canto.
Deixou-se prender, morreu calado
o sabiá que sabia tanto…
= = = = = = = = =  

Soneto de
MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ

Inscrição

    Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
    Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
    O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
    Dançava descuidosa, e hoje não dança mais...

    Quem não a viu é bem provável que não veja
    Outro conjunto igual de partes naturais.
    Os véus tinham-lhe ciúme. Outras, tinham-lhe inveja.
    E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.

    A morte a surpreendeu um dia que sonhava.
    Ao pôr do sol, desceu entre sombras fiéis
    À terra, sobre a qual tão de leve pesava...

    Eram as suas mãos mais lindas sem anéis...
    Tinha os olhos azuis... Era loura e dançava...
    Seu destino foi curto e bom... — Não a choreis.
= = = = = = = = =  

Aldravia de
CIMAR PINHEIRO
Dores do Rio Preto/ES

saudade
estrada
comprida
distância
desencontros
esperança
= = = = = = = = =  

Poema de
JAIME VIEIRA
Maringá/PR

Quem me dera

este azul do céu
ainda me envolve,
este sol tecendo
a tarde me comove.

outra noite lá fora,
quem me dera
devolver estrelas
à escuridão do agora!
= = = = = = = = =  

Dobradinha Poética de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Resgate

Sem te esquecer, este amor,
num desvario sem fim,
quer atrair teu calor
para bem junto de mim…

Ah! Deste amor quero espalhar mil rastros
reverdecidos, por todo este chão…
Irrefreável, tendo em mira os astros,
voarei confiante em pertinaz paixão!

Ah! Neste amor implantarei meus lastros,
ladeá-lo-ei com vigas da emoção;
da justa posse empilharei cadastros
onde discorro, dele, a apropriação…

Com perspicácia em mim prosseguirá,
a sua luz, no espaço espargirá,
no meu transcurso à celestial morada…

Habilidoso, irá juntando aos passos
ode infinita, que atrairá teus braços:
– tua serei… a eterna namorada!…
= = = = = = = = =