BEATRIZ TAVARES
Andanças
Se me perguntasses por onde tenho andado
teria que te falar dos corredores negros e úmidos
pelos quais caminho quando a noite cai.
Teria que te falar dos medos que tenho galgado
na busca desesperada daquilo que sou
(e também do que fui...).
Sim, querido, o caminho tem sido árido.
E se me perguntasses o que tenho feito
só te diria que tenho caminhado.
Talvez, quando chegares,
eu já possa te trazer à minha casa
e te mostrar as violetas que florescem
feito um sinal
nesse jardim cuidadosamente regado.
E então, coração, verás
que tuas palavras foram dádivas, e não consolo,
para as tristes histórias que em tuas mãos depositei.
E terás, feito fruto,
a partilha do caminho,
o gozo dos prazeres,
e o lar do meu abraço
desprovido de segredos e de provas de amor.
BELVEDERE BRUNO
Rodopios
Meu universo
rodopiou...
Por um segundo
pensei estar
“de pileque”,
tamanha
a sensação
vertiginosa.
Porém,
à medida
que abria
os olhos
via que nada
estava fora
de seu lugar.
Só eu.
Minha alma,
calada,
se perguntava:
– choro ou emudeço
de vez?
BANDEIRA TRIBUZI
A mesa
A mesa tem somente o que precisa
para estar, circundada de cadeiras,
fazendo parte da vida familiar
entre alimentos, flores e conversa.
Escura mesa gravemente muda
que, parecendo alheia a quanto a cerca,
encerra no silêncio toda a ciência
da idade desdobrando gerações.
olho de cerne, comovido e frio!
indiferente coração parado
entre o grito infantil e o olhar cansado.
Mistério de madeira rodeado
por cadeiras, lembranças, utensílios,
e um leve odor de tempo alimentício.
BENI SOARES
Ternura
Lembrando a sua voz,
ou mesmo o seu jeito
Já surge insistente
irrequieta euforia
Tamanha ternura
emerge do peito
E dele transborda
febril energia
Se abre no rosto
um sorriso perfeito
Murmuro o seu nome,
e se faz
a Poesia !
BERILO WANDERLEY
Homem Só
Além da janela, os ramos verdes
e um resto de tarde se apagando.
Mulheres de branco, os rostos parados e frios,
passam.
Algumas colhem flores friamente,
como se não colhessem flores,
Homens tristes e abandonados descem do alto da rua.
Vem do trabalho que ficou lá no fim da cidade,
e trazem para suas mulheres suor, pão quente e amor.
Sempre há amor nos homens quando as tardes findam.
E sempre haverá mulheres de branco apanhando flores,
quando as tardes findam.
Há amor também no homem só
que está por trás da janela
e se embala numa rede azul.
Um azul que vai e vem e que arranca do homem
uma canção que se apaga com a tarde
e que vai enchendo de noite
o entardecer do quarto.
BEATRIZ HELENA RAMOS
A Dor Salta
A dor salta pelos seus olhos.
Dentro do brilho negro,
No fundo profundo de sua escuridão,
A sombra do seu passado
Rasga o véu da alegria.
Há infinitas metades restantes
No caminho de te encontrar.
A tristeza deixa seu perfume
Nos cantos sombrios da alma:
Você acalenta o aroma...
Feito um camponês,
Amante apaixonado pelas flores,
Respira no ar a abstração mágica
De quem tece jardins.
E eu que amo todas as suas faces,
Perco-me tentando adivinhar
A profundidade da sua solidão
Que nenhuma presença alcança...
O que lhe falta é tanto e tão pouco,
Que nada preenche.
Cheio de vazios é o seu interior,
Transbordante de nada.
Suas máscaras não camuflam suas perdas
Nem apagam sua lenda:
A história que a ferro
Foi fundida em sua pele,
Escapa no silêncio da sua voz.
Nenhuma dimensão dos seus desastres
Pode ser cantada:
A quietude do seu grito
Amarga a ausência de sons.
Do seu amor,
Só restou o medo.
Ele é o fauno que se banha
Na fonte cristalina da sua íris esquerda.
Apenas ele,
Rei soberano sobre o Mito
Que mora em você,
Conhece os seus segredos.
No seu peito partido,
Ele acalenta os mistérios.
Mas não os revelará jamais…
BEATRIZ CAMELO
Apenas por que há
Existe um vazio
Entre a tinta e o papel
Entre o dito e o silêncio
Entre a passividade e o ato
Entre o feito e o esquecido
Entre o amar e o depender
Entre a filosofia e a prática
Entre a crença e a realidade
Entre tudo que sinto
E o nada que encontro
BEATRIZ KAPPKE
Estrela do amor
Lá fora o vento ululante,
Deste dia que está para chegar
Deixa nossa estrela mais brilhante
Banhada por um lindo luar.
No firmamento a brilhar
Num sorriso parece dizer,
Que por ter alguém para amar
É preciso a Deus bendizer!
Amar... apenas para se amar
E não para se complementar
Amar para o outro preservar
É verdadeiro...é suplementar...
Imaturo é o outro amar
Por dele necessitar
Maturidade é poder falar:
Necessito de ti por muito te amar!
–––––––––––––––
Os outros caldeirões
I
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2011/05/caldeirao-poetico-i.html
2
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2013/03/caldeirao-poetico-2.html
3
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2013/03/caldeirao-poetico-3.html
Fonte:
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/b.htm
Andanças
Se me perguntasses por onde tenho andado
teria que te falar dos corredores negros e úmidos
pelos quais caminho quando a noite cai.
Teria que te falar dos medos que tenho galgado
na busca desesperada daquilo que sou
(e também do que fui...).
Sim, querido, o caminho tem sido árido.
E se me perguntasses o que tenho feito
só te diria que tenho caminhado.
Talvez, quando chegares,
eu já possa te trazer à minha casa
e te mostrar as violetas que florescem
feito um sinal
nesse jardim cuidadosamente regado.
E então, coração, verás
que tuas palavras foram dádivas, e não consolo,
para as tristes histórias que em tuas mãos depositei.
E terás, feito fruto,
a partilha do caminho,
o gozo dos prazeres,
e o lar do meu abraço
desprovido de segredos e de provas de amor.
BELVEDERE BRUNO
Rodopios
Meu universo
rodopiou...
Por um segundo
pensei estar
“de pileque”,
tamanha
a sensação
vertiginosa.
Porém,
à medida
que abria
os olhos
via que nada
estava fora
de seu lugar.
Só eu.
Minha alma,
calada,
se perguntava:
– choro ou emudeço
de vez?
BANDEIRA TRIBUZI
A mesa
A mesa tem somente o que precisa
para estar, circundada de cadeiras,
fazendo parte da vida familiar
entre alimentos, flores e conversa.
Escura mesa gravemente muda
que, parecendo alheia a quanto a cerca,
encerra no silêncio toda a ciência
da idade desdobrando gerações.
olho de cerne, comovido e frio!
indiferente coração parado
entre o grito infantil e o olhar cansado.
Mistério de madeira rodeado
por cadeiras, lembranças, utensílios,
e um leve odor de tempo alimentício.
BENI SOARES
Ternura
Lembrando a sua voz,
ou mesmo o seu jeito
Já surge insistente
irrequieta euforia
Tamanha ternura
emerge do peito
E dele transborda
febril energia
Se abre no rosto
um sorriso perfeito
Murmuro o seu nome,
e se faz
a Poesia !
BERILO WANDERLEY
Homem Só
Além da janela, os ramos verdes
e um resto de tarde se apagando.
Mulheres de branco, os rostos parados e frios,
passam.
Algumas colhem flores friamente,
como se não colhessem flores,
Homens tristes e abandonados descem do alto da rua.
Vem do trabalho que ficou lá no fim da cidade,
e trazem para suas mulheres suor, pão quente e amor.
Sempre há amor nos homens quando as tardes findam.
E sempre haverá mulheres de branco apanhando flores,
quando as tardes findam.
Há amor também no homem só
que está por trás da janela
e se embala numa rede azul.
Um azul que vai e vem e que arranca do homem
uma canção que se apaga com a tarde
e que vai enchendo de noite
o entardecer do quarto.
BEATRIZ HELENA RAMOS
A Dor Salta
A dor salta pelos seus olhos.
Dentro do brilho negro,
No fundo profundo de sua escuridão,
A sombra do seu passado
Rasga o véu da alegria.
Há infinitas metades restantes
No caminho de te encontrar.
A tristeza deixa seu perfume
Nos cantos sombrios da alma:
Você acalenta o aroma...
Feito um camponês,
Amante apaixonado pelas flores,
Respira no ar a abstração mágica
De quem tece jardins.
E eu que amo todas as suas faces,
Perco-me tentando adivinhar
A profundidade da sua solidão
Que nenhuma presença alcança...
O que lhe falta é tanto e tão pouco,
Que nada preenche.
Cheio de vazios é o seu interior,
Transbordante de nada.
Suas máscaras não camuflam suas perdas
Nem apagam sua lenda:
A história que a ferro
Foi fundida em sua pele,
Escapa no silêncio da sua voz.
Nenhuma dimensão dos seus desastres
Pode ser cantada:
A quietude do seu grito
Amarga a ausência de sons.
Do seu amor,
Só restou o medo.
Ele é o fauno que se banha
Na fonte cristalina da sua íris esquerda.
Apenas ele,
Rei soberano sobre o Mito
Que mora em você,
Conhece os seus segredos.
No seu peito partido,
Ele acalenta os mistérios.
Mas não os revelará jamais…
BEATRIZ CAMELO
Apenas por que há
Existe um vazio
Entre a tinta e o papel
Entre o dito e o silêncio
Entre a passividade e o ato
Entre o feito e o esquecido
Entre o amar e o depender
Entre a filosofia e a prática
Entre a crença e a realidade
Entre tudo que sinto
E o nada que encontro
BEATRIZ KAPPKE
Estrela do amor
Lá fora o vento ululante,
Deste dia que está para chegar
Deixa nossa estrela mais brilhante
Banhada por um lindo luar.
No firmamento a brilhar
Num sorriso parece dizer,
Que por ter alguém para amar
É preciso a Deus bendizer!
Amar... apenas para se amar
E não para se complementar
Amar para o outro preservar
É verdadeiro...é suplementar...
Imaturo é o outro amar
Por dele necessitar
Maturidade é poder falar:
Necessito de ti por muito te amar!
–––––––––––––––
Os outros caldeirões
I
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2011/05/caldeirao-poetico-i.html
2
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2013/03/caldeirao-poetico-2.html
3
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2013/03/caldeirao-poetico-3.html
Fonte:
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/b.htm
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