segunda-feira, 2 de junho de 2014

Alex Nascimento (Rio Grande do Norte Poético)

Castelo de Engady - Caicó/RN
ETERNAMENTE INVERNO

E mais fácil esconder um crime
Do que uma paixão.
Quando você disse que
Não me queria mais,
Senti um frio amargo
Como no dia em que sentei
No batente da calçada
Depois de olhar meu pai morto,

Mas você estava vivo:
A quem enterrar?
Seus olhos molharam
Algumas vezes enquanto falava,
Chorando por mim — senti —,
E eu imóvel, pálida, silente,
Sofrendo por você sofrer,
Encurralada por dentro, pensando
Em que número infinito pararia
A dor de um
Por outro que doía.

Contida parti,
Estranha me encerrei
No quarto,
E tudo ali,
De livros a óperas
A pinturas a roupas
A tudo ali,
Me era tão alheio e inexistente
Quanto a Via Láctea
Antes de você.

Mas era o meu mundo
E sempre havia sido,
E esse sobretipo de mundo
Não se acaba
Pelos antes ou pelos depois
Que a gente cria em sete dias
E então descansa.
Continuei-me quieta e triste.

Tive reflexões de mais cores
Do que pode um prisma suportar.
Pensei sobre minha repulsão
A discutir sobre sentimentos,
Este torneio cansativo de pecados,
Espantosa gargalhada em funeral.
Pensei em Ronald Golias professando:
A águia subiu, subiu, subiu,
Depois desceu, desceu, desceu;
Ó águia, se ias descer,
Pra que subiste tanto?

E pensei que Golias me faz feliz
Até quando sei que não sou.
Pensei que você é
O melhor homem do mundo, e
Pensei coisas belas, medianas e
Vergonhosas.

Pensei que o tempo e eu
Havíamos parado de agonia,
Mas não,
Amanhã faz um século e um minuto
Que senti aquele frio,
Mas só amanhã.

O tempo não foi
Nem santo nem remédio,
Também não é doença
Esta saudade. Quem sabe,
A morte, enganando longamente
O dia seguinte.

Mas isso só amanhã.

SONETO 81

Aqui, das grades deste sanatório,
São vistas criaturas tão normais,
Os eruditos, os intelectuais,
A padronização do envoltório.

Espécie de santinhos de oratório,
Na mão de cada um, um edelvais,
A sisudez como credenciais,
Não faltam bichos ao laboratório.

É cada um de si o próprio herói;
Por tolos tão amorfos, invejados;
De mestres são chamados, como sói,

Pela meiguice ingênua dos tarados,
Que nem mesmo imaginam como dói
Suportar o relincho dos letrados.

SONETO 17

Se é a morte o começo de uma vida
já que a vida é o princípio de uma morte
é o azar o prenúncio de uma sorte
é a chegada o início da partida

Expulsão é intróito de acolhida
cicatriz é prefácio a novo corte
medo fraco é prelúdio a grito forte
limiar é a entrada da saída

Não sei se é amor o que ela sente
não sinto mais amar sem ela perto
não sei se é verdade o que ela mente

Não minto o que seria descoberto
não sei se não saber me faz um crente
não creio que sabendo esteja certo

MULHER

Mulher Obstinada a lutar,
Mulher obstinada a ter,
a querer, ser...

Mulher lutadora da vida.
Mulher que escreve as
Linhas do tempo nas palmas
das mãos.

Ser mulher não é ser frágil
é ser única... Ser sempre
capaz de ver, ouvir, sentir,
buscar, crer, procurar, e
aceitar.

AMAR VOCÊ

Disse ao belo Verso.
Cantai a ele uma canção.
Aos sentimentos escondidos
Que me tocam o coração.

Seja assim e por inteiro
Para sempre uma emoção.
Eterna como o vento,
Latente inspiração.

Um sonho bem vivido.
Meu amor sua canção.
Feito de palavra.
Escritos com paixão.

Pois, agora belo amado.
Um beijo lhe darei.
Desafiando o meu tempo,
Serei seu de mais ninguém.

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