quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mil Poemas para Gonçalves Dias (Participe!!!)


Dilercy Adler, psicóloga e poeta, está organizando, com o Instituto Histórico e Geográfico de São Luiz , Maranhão, onde mora a antologia Mil Poemas a Gonçalves Dias.Leia no meu post imediatamente anterior.

A participação é sem ônus para os poetas.

Tendo participado da antologia a Neruda, de Alfred Asís, ela agora, está nesse trabalho brasileiro-e convida a todos que escrevem Poesia a essa inclusão.Como aplaudimos, Alfed Asís, já faz escola, com seu exemplo.

Segundo a poetamiga Dilercy, ainda não foi alcançado o número de mil autores.Então, corram com seus poemas ao grande poeta que, fora do País, lembrava "Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá/as aves que aqui gorjeiam/não gorjeiam como lá"

A antologia terá lançamento em 2013.

Clevane Pessoa
hana.haruko2@gmail.com

"Lembro a todos a importância da participação na Antologia em homenagem a Gonçalves Dias, ainda não completamos a meta dos 1000 poemas. Gostaria de contar com a participação dos queridos confrades e confreiras e fazer saber a todos que a nossa querida confreira Ilda Costa Brasil prestou uma inestimável contribuição à nossa homenagem a gonçalves Dias mediando os seus alunos na construção de poesias desse seu trablho reultou quantitativo razoável de jovens participantes!!! 

Saudações Gonçalvinas,
Dilercy Adler"
(dilercy@hotmail.com)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 748)




Uma Trova de Ademar  

Só seu regresso conforta, 
mas já estou delirando... 
Sempre que alguém bata à porta 
penso que é você voltando! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Em sonhos ouço teus passos, 
e numa ilusão só minha, 
eu sinto até teu abraço, 
acordo e choro sozinha. 
–Neoly Vargas/RS– 

Uma Trova Potiguar  

Quem deixa a vida pacata,
pra se prender a tormentos,
tem nó, que nunca desata,
no cordão dos sentimentos.
–Marcos Medeiros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2007   -  Nova Friburgo/RJ 
Tema   -  MENSAGEM   -  2º Lugar 

Nos momentos de incerteza, 
a mensagem de afeição 
pode estar na sutileza 
de um simples toque de mão. 
–Adilson Maia/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

O devaneio profundo
pelos caminhos da mente,
liberta a gente do mundo
que oprime o mundo da gente! 
Aloísio Alves da Costa/CE– 

Uma  Poesia  

Eu não sei em que lugar 
ouvi e guardo comigo, 
que ter fortuna e ser só, 
faz do ricaço um mendigo, 
aliás, muito pior, 
pois nem no Céu tem abrigo! 
–José Ouverney/SP– 

Soneto do Dia  

COVA 
–Antônio Roberto Fernandes/RJ– 

Cova é palavra que, naturalmente, 
lembra morte, mistério e nos espanta 
pois cova tanto é o lar de uma serpente 
como, na Iria, foi o altar da santa. 

Na cova o lavrador deita a semente 
pra que ela morra e gere nova planta. 
Sempre uma cova espera pela gente 
e quem se deita lá não se levanta. 

Mas na lavoura da felicidade 
somos a terra, o fruto e a semente 
– mistério da humaníssima trindade – 

pois se louco de amor seu corpo enlaço 
penetro em sua cova e, de repente, 
deliro... e morro... e me sepulto... e nasço!

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 747)



Uma Trova de Ademar  

Tive amores - não sei quantos - 
Saudades tive, é verdade. 
Mas sei... derramando prantos, 
ninguém mata uma saudade! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Nossas almas em pedaços 
se uniram por desatinos, 
pois são também de fracassos 
Que se lapidam destinos! 
–João Batista X. Oliveira/SP– 

Uma Trova Potiguar  

A tímida luz da lua, 
que me inebria de encanto.. 
veio iluminar a rua, 
acalentando o meu pranto! 
–Eva Yanni Garcia/RN– 

Uma Trova Premiada  

1965   -  Bandeirantes/PR 
Tema   -  SOLIDÃO   -  3º Lugar 

A mais cruel solidão
é a do cego (sina triste),
vivendo na escuridão,
sabendo que a luz existe.
–Gilvan Carneiro da silva/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Morre Cristo, o palestino 
e, na vida transitória, 
a história do seu destino 
muda o destino da história.
–Hegel Pontes/MG– 

Uma  Poesia  

Não revelo meu segredo, 
se temo ventos ao léu... 
Relâmpago é luz que acende; 
se um trovão faz escarcéu, 
eu penso: é festa de arromba 
dos anjinhos, lá no céu! 
Vanda Fagundes Queiroz/PR– 

Soneto do Dia  

FIM DE JORNADA. 
–José Antonio Jacob/MG–

Enquanto minha pena versifica 
Versos de amor em minha caderneta 
Vejo passar o tempo na ampulheta, 
- Mas na ampulheta o tempo sempre fica!

Tanta saudade sua não se explica... 
Desenho um coração com a caneta 
E dentro dele um nome clarifica... 
Arranco a folha e a guardo na gaveta.

Finda a jornada vou ao bar ao lado, 
Para esquecer o amor da minha vida 
Tranquei lá no escritório o nome amado...

E, ainda, cansado dessa solidão, 
Eu peço uma caneta e uma bebida 
E escrevo o nome dela no balcão.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 746)



Uma Trova de Ademar  

O tempo, já quase em fuga, 
para aumentar meu desgosto, 
fez nascer mais uma ruga 
entre as rugas do meu rosto! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Um desejo singular 
me ocorre, claro e preciso: 
devararinho beijar 
ternamente o teu sorriso. 
–Jeanette De Cnop/PR– 

Uma Trova Potiguar  

Em sinal de advertência, 
pela a agressão à floresta... 
a flora pede clemência: 
- Preserve o que ainda resta! 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011   -  ATRN-Natal/RN 
Tema   -  VERTENTE   -  10º Lugar 

Quando a tristeza malvada
mareja os olhos da gente,
forma-se, então, a enxurrada
que desce feito vertente...
–Antonio Colavite Filho/SP–

...E Suas Trovas Ficaram  

Chega a noite...aumenta o frio... 
e esta revolta em meu peito, 
se faz maior que o vazio, 
que tu deixaste em meu leito!... 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

Uma  Poesia  

Penso o céu como o esplendor 
do grande encontro fraterno, 
e a vida aqui como a trilha 
de retorno ao Lar Paterno, 
onde de braços abertos 
nos espera o Amor eterno. 
–A. A de Assis/PR– 

Soneto do Dia  

DESPEJADAS.
–Haroldo Lyra/CE–

Trocou su’alma santa e o mais sutil
traço de vida calma e intemerata,
pelo vesgo contágio da ribalta 
que lhe acena com brilho mercantil.

Na luxúria, no beijo que arrebata
das entranhas da carne o gozo vil,
paga o preço que a fama discutiu
nas premissas que o vero não retrata. 

E colhe entre os abraços repentinos,
os laivos dos amores clandestinos,
em cavilosas juras gotejadas,

que tão cedo lhe explodem em desenganos,
martírio desses tratos levianos:
o alto custo das ninfas despejadas. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Uma Pequena Pausa

Amanhã estarei viajando para São Paulo para realizar um tratamento de saúde, e deverei me ausentar por alguns dias, até dia 12, onde será dificil o acesso a internet. Este período não haverá postagens, salvo consiga alguma lan house proxima de onde estarei.

Espero que compreendam, e enfatizo que podem continuar enviando seus textos para pavilhaoliterario@gmail.com, que ao retornar irei colocando-os no blog.

Obrigado
José Feldman

Francisco Pessoa (O que é que Ele falta fazer mais!)


Nathan de Castro (Para Brincar de Sombras)


Ialmar Pio Schneider (Efemérides Poética: Novembro)



Nota: Na formatação da imagem onde está Eça de Queiro, leia Queiróz - 
perdoe a falha, 
José Feldman

SONETO A GONÇALVES DIAS 

Falecimento do poeta em 3.11.1864- In Memoriam -

Poeta das palmeiras e também 
dos indígenas, com força genial, 
cantou grandes amores que ninguém 
houvera feito assim sentimental... 

Lendo seus versos a saudade vem 
me visitar de modo especial, 
da minha terra que palmeiras tem 
onde o sabiá modula sem igual. 

Gonçalves Dias, vate da natura, 
és um astro que em nosso céu fulgura, 
com tuas mais românticas poesias... 

Soubeste transmitir a inspiração 
que as Musas te trouxeram na soidão 
do mundo ideal das alegorias !

SONETO A CARLOS MAGALHÃES DE AZEREDO 

- Falecimento do poeta em 4.11.1963 aos 91 anos. - In Memoriam -. 

Quando leio sonetos dos poetas, 
velhos românticos de antigamente, 
sinto quão suas musas são diletas 
nos versos que escreveram docemente... 

Poesias inspiradas e discretas, 
mas também outras, de romance ardente, 
que tudo dizem, atingindo as metas 
que se propunham, na paixão ingente. 

Leio Carlos Magalhães de Azeredo, 
o seu ´´Verão e Outono´´, em que demoro, 
curtindo um verso no final do enredo 

em que ele escreve: ´´Doce e amargo encanto ! 
São tuas próprias lágrimas que choro !´´ 
E aprendo, então, como é tão forte o pranto...

A RUI BARBOSA 

Nascimento do escritor Rui Barbosa em 5.11.1849 – In Memoriam -

Rui Barbosa 
Literato 
Foi de fato 
Rei da Prosa. 

Escritor 
Mui correto 
Tão dileto 
Prosador. 

Assombrou 
C´o saber 
Tão profundo... 

Pois honrou 
Seu dever 
Neste mundo.

SONETO ALEXANDRINO A AMADEU AMARAL 

Nascimento do poeta Amadeu Amaral em 6.11.1875 – In Memoriam -

“Rios”, “Sonhos de Amor”, e “A um Adolescente”, 
são sonetos de escol que leio comovido, 
porque me fazem bem neste dia envolvente 
pela nublada luz do céu escurecido... 

E fico a meditar, trazendo para a mente, 
os poemas “A Estátua e a Rosa”, em sublime sentido; 
“Prece da Tarde”, quando exsurge a voz do crente 
como um sopro de amor no caminho escolhido... 

Estou perante o mestre Amadeu Amaral, 
cujos versos serão sempre muito admirados, 
como régio cultor da nobre poesia... 

Além do mais, ficou sendo vate Imortal, 
pois eleito ele foi por membros consagrados 
de nossa Brasileira Excelsa Academia !

SONETO A FÉLIX ARVERS 

Falecimento do poeta francês Félix Arvers em 7.11.1850 –  In Memoriam -

Quem num soneto soube engendrar um mistério, 
para cantar o amor resguardado em segredo, 
que o fizesse sofrer um tormento tão sério, 
sem conseguir lhe dar um venturoso enredo?! 

Romântico poeta, empunhando o saltério 
da inspiração febril de timidez e medo, 
passou por este Mundo, adotando o critério 
de não se declarar porque seria alpedo... 

Pois aquela que amava, ao dever sempre presa, 
prosseguia ao seu lado, ostentando a beleza 
que Deus lhe deu e vai cumprindo seu mister... 

porque vivendo com tamanha seriedade, 
há de permanecer por toda Eternidade, 
na poesia qual a misteriosa mulher !

SONETO PARA CECÍLIA MEIRELES 

Nascimento da poeta em 7.11.1901 – In Memoriam -

Procuro viajar nestes poemas 
que me emocionam tanto e permaneço 
conhecendo em mais variados temas, 
a vida alegre ou triste em que padeço... 

Procurei fazer versos, de tropeço 
em tropeço, p´ra resolver problemas 
que enfrentei no viver, desde o começo, 
quando me apareciam os dilemas. 

Um dia encontrei doce poesia 
melancólica, plena de ternura, 
mas também sempre límpida e correta. 

São horas de tristeza e nostalgia 
que me suscitam a feliz candura, 
de Cecília Meireles, a poeta !

SONETO A ARTHUR RIMBAUD 

Falecimento do poeta francês em 10.11.1891 – In Memoriam -

Jovem poeta que parou bem cedo 
de fazer versos plenos de emoção... 
Soneto de “Vogais” em cujo enredo 
cada uma tem a significação. 

Sua obra não foi simples arremedo 
de alguém que pensa apenas na ilusão; 
não se sabe do enigma nem do medo 
de a poesia dar continuação... 

O certo é que depois, quando indagado 
se era parente de Rimbaud, dizia: 
“Eu nunca ouvi falar !” E assim calado 

continuou pelo resta da vida, só, 
com sua nova e vã filosofia 
em que se sabe que seremos pó !

SONETO A AUGUSTO DOS ANJOS 

Falecimento do poeta em 12.11.1914 – In Memoriam -

Leio seus versos de poeta ousado, 
e me comovo com a verve forte, 
que se deprime qual um condenado, 
a cada instante lamentando a sorte. 

Mas foi um grande, embora desgraçado, 
sem ter um lenitivo que o conforte, 
em cada verso um passo encaminhado 
rumo ao destino que o esperava: a morte ! 

E sendo um vândalo destruidor, 
andou por ´´templos claros e risonhos´´, 
como num pesadelo com pavor... 

Então, num ímpeto de iconoclastas, 
´´quebrou a imagem dos seus próprios sonhos´´, 
´´erguendo os gládios e brandindo as hastas´´!

SONETO A JOSÉ SARAMAGO 

Nascimento do escritor em 16.11.1922 – In Memoriam -

Nobre escritor, poeta e romancista, 
em cujas páginas busquei seguir 
seu ideal de enfático humanista, 
pelo qual labutava a refletir. 

Com o Chico Buarque, na entrevista 
que dava ao Jô Soares, fez sentir 
a sua indignação de socialista, 
ao perguntar: Por quê? Ao assistir 

aos acampados da Reforma Agrária, 
que sob à lona preta sem conforto, 
sonhavam com um pedaço deste chão 

pra formar uma gleba societária. 
E assim, permanecendo mais absorto, 
era o retrato da desilusão !

SONETO A CRUZ E SOUSA 

Nascimento do poeta em 24.11.1861 – In Memoriam -

Poeta das Visões e dos Mistérios, 
Evocando outros mundos de Quimera 
Onde devem viver seres etéreos 
Que por aqui passaram n´outra Era... 

São espíritos cuja Vida austera 
Atravessaram cá momentos sérios, 
Sem conhecer a eterna Primavera, 
Hoje ouvindo dos Anjos os saltérios... 

São as almas que o Vate Cruz e Sousa 
Evocava em seus versos: “ais perdidos 
Das primitivas legiões humanas?!” 

Lembramos que sua alma ora repousa 
Por Mundos para nós desconhecidos, 
Mas plenos de canções... louvor... hosanas...

APÓS LER CRIME DO PADRE AMARO DE EÇA DE QUEIROZ 

Nascimento do escritor em 25.11.1845 – In Memoriam -

Uma história de amor que nos surpreende, 
libélulo ao celibato imposto, 
lança no espírito feroz desgosto 
que por maior esforço não se entende. 

São os mistérios que jamais se aprende: 
uma existência trágica ao sol-posto 
penetra o cérebro e no próprio rosto 
dá contrações de nervos e se estende. 

O mundo estupefato ao Padre Amaro 
lançará seu desprezo inconformado, 
pois mesmo que procure achar amparo 

na vã filosofia de um idílio, 
surgirão tão fatal como o pecado 
a pobre Amélia morta e morto o filho...

SONETO  A GREGÓRIO DE MATOS

Falecimento do poeta em 26-11-1696 – In Memoriam -

Gregório de Matos – Boca do Inferno, 
assim o apelidou o poviléu, 
apesar de às vezes ser mui terno 
e descantar também bênçãos do céu... 

Na Bahia causavam escarcéu, 
suas notas satíricas e hodierno, 
se despertou talvez algum labéu, 
há de ficar seu estro sempiterno... 

Vejo que a data do seu nascimento, 
será sete de abril?! ou vinte e três, 
ou vinte de dezembro?! Não é certa... 

Mas sei que foi poeta de talento, 
e tudo o que escreveu, e disse, e fez, 
mostra a coragem de sua alma aberta…

Fontes:
Colaboração do poeta
Imagem = montagem por J. Feldman

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 745)



Uma Trova de Ademar  

Esses meus versos doridos 
que estão bem perto do fim, 
são retratos coloridos 
que eu mesmo tirei de mim... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Com altivez, disse um dia:
- “Ir procurar-te? Jamais!”
Mas a saudade vadia
não respeita o “nunca mais”...
–Domitilla Borges Beltrame/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Se Deus do céu me inspirasse, 
eu faria, como prova; 
uma trova que ganhasse 
qualquer concurso de trova. 
–Zé de Sousa/RN– 

Uma Trova Premiada  

2008 - Porto Alegre/RJ 
Tema - ESCOLHA - 3º Lugar 

A vida é feita de escolhas:
os acertos, festejamos...
O duro é virar as folhas
nas tantas vezes que erramos...
–Milton Souza/RS– 

...E Suas Trovas Ficaram  

A todo mundo insinuas
que não mando no que é teu,
mas tenho saudades tuas
e o dono delas sou eu. 
–Colbert Rangel Coelho/MG– 

U m a P o e s i a  

Enxerga a vida melhor 
quem ama todos iguais; 
Pois os pecados do amor, 
têm sentenças veniais, 
quem peca amando quem ama 
tem perdão entre os mortais! 
–Prof. Garcia/RN– 

Soneto do Dia  

CONTINUIDADE. 
–Giuseppe Artidoro Ghiaroni/RJ– 

Existe um cão que ladra quando eu passo,
como se visse um bêbedo, um mendigo.
E no entanto, esse cão foi meu amigo,
como tantos amigos que ainda faço.

À noite, com que alegre estardalhaço
vinha encontrar-me no portão antigo;
enquanto a dona vinha ter comigo
e, sorrindo, apoiava-se ao meu braço.

Hoje ele faz a outro a mesma festa
e ela o mesmo carinho, tão honesta
como se nem notasse a transição.

Eu rio dessa triste brincadeira,
mas quando uma mulher é traiçoeira,
não se pode confiar nem no seu cão!

Teatro de Ontem e de Hoje (As Mãos de Eurídice)


Monólogo de Pedro Bloch, estréia com Rodolfo Mayer no papel do homem que retorna à sua antiga casa, depois de perder o dinheiro e a amante. O imenso sucesso de bilheteria deve-se ao fato de a montagem aproximar o ator da platéia, tornando-a confidente de seu drama.

Na divulgação do espetáculo, anuncia-se que "Rodolfo Mayer representará sozinho, a mais curiosa e original das peças, descendo para a platéia e fazendo-a participar do espetáculo!" 

A ação se passa na casa onde o protagonista deixa mulher e filhos para viver uma aventura. Ao retornar, sete anos depois, pobre e abandonado pela amante, encontra a casa vazia. Vasculhando gavetas, vai descobrindo o que se passou na sua ausência. O título se refere às mãos da amante, Eurídice, hábeis na banca do cassino onde Gumercindo Tavares perde sua fortuna. Depois do sucesso no Brasil, Rodolfo Mayer se apresenta em Lisboa, onde o público se mostra igualmente compungido com a personagem, como mostra o trecho da crítica assinada por F.F.:

"Um homem regressa a casa sete anos depois de a haver abandonado. É um farrapo. Perdeu as ilusões, a fortuna, a alegria de viver. O seu cérebro doente é como uma imensa tela onde se projetam e sobrepõem imagens aparentemente desconexas dos dias longínquos: o rosto e as mãos da mulher amada; o pano verde da roleta; a confusão do lar distante. Ele está doente, tem os nervos abalados, à porta da loucura. Regressa a casa e a encontra vazia e procura, interrogando as paredes, vasculhando nas gavetas, saber o que se passou - encher o vazio do largo parêntesis da sua ausência. Pouco e pouco, como quem junta as pedras do 'puzzle' da própria existência, a realidade define-se. E o final acorda nele o arrependimento da vida que não viveu, num desespero patético de recuperar o tempo para sempre perdido".1

Tanto a crítica portuguesa quanto a brasileira elogiam, em Rodolfo Mayer, a máscara expressiva, a interpretação cuidada, a força dramática e a intensa comunicação com o público. Sua representação dá ao espectador a impressão de um real desnudamento psicológico, com verdade e, para espanto da platéia, com lágrimas autênticas e visíveis.

Apresentada, entre 1950 e 1970, 30 mil vezes em dezenas de encenações de 45 países, o sucesso da peça mostra, segundo o crítico Sábato Magaldi, "que o mau gosto e a subliteratura não são privilégio brasileiro, argentino ou mexicano, mas se repartem um pouco por todos os continentes".2 Em artigo para o Jornal da Tarde, por ocasião da remontagem realizada em São Paulo em 1970, Magaldi descreve a peça:

"Acontece que, perdida a fortuna no jogo e nos presentes, Gumercindo pediu à Eurídice que empenhasse ou emprestasse uma das jóias que lhe havia dado, para sair da difícil situação, e ela replicou: "Não me separarei destas jóias nunca! São as únicas recordações de um amor que já findou". Aí Gumercindo deu-lhe dois tiros e voltou da Argentina, dizendo: "Para salvar os filhos é preciso acabar com todas as Eurídices do mundo".

"(...) como Gumercindo e o público precisam ser informados do que se passou, Pedro Bloch deixa na casa abandonada uma gaveta providencial, que contém toda a história da família. (...) A ordem dos papéis é perfeita: primeiro um boletim com as notas do filho Ricardinho, depois receita de estreptomicina, a seguir conta do sanatório e por último telegramas de pêsames. Gumercindo se desvaira. Há também uma carta do Dr. Frederico, apaixonado pela mulher, atestando a fidelidade dela durante todos esses anos: "Só eu sei da pureza que você possui, do que você tem sofrido, da sua dedicação, do seu grande amor por Gumercindo". E Gumercindo, que subtraiu as jóias das mãos da Eurídice assassinada, pode dizer, no final, para a esposa ausente: "Eu quero cobrir as suas mãos de jóias. Eu quero as suas mãos, Dulce. Dulce! Eu voltei, Dulce! Eu voltei!"

"Provavelmente o sucesso da peça está em que Pedro Bloch atingiu a quintessência do lugar-comum e do melodrama. E encontrou atores, como Rodolfo Mayer, que levam às últimas conseqüências o estilo do monólogo, impressionando a platéia pela sinceridade e pela técnica interpretativa, aliás bastante envelhecida".3

Notas 
1. F.F. 'As Mãos de Eurídice'. A Notícia, Lisboa, s.d.
2. MAGALDI, Sábato. 'As Mãos de Eurídice'. Jornal da Tarde, São Paulo, 1970.
3. MAGALDI, Sábato. Op. Cit.

Fonte:

Olivaldo Junior (O Nascer do Girassol)


Quando Ele fez o mundo, também fez o girassol. Girassol, no começo de tudo, era a flor como a conhecemos hoje. Mas nunca se voltava para cima. Ele tinha medo! O Sol (assim mesmo, em letra maiúscula) era o que dava medo no pobre e cabisbaixo girassol, que nunca (nunca!) olhava para o céu.

Até que um dia, como se isso fosse muito importante, pousou um pássaro no arbusto ao lado de onde estava o primeiro girassol que foi criado. A beleza daquele pássaro atiçou a curiosidade da flor, que, encabulada, contemplava apenas de banda o que aquela ave tinha de belo. Era o pássaro dela.

Passou um vento, e, com ele, um bando de outras aves, iguais àquela que havia pousado tão perto daquela flor. A esperança de amizade estava prestes a partir. O girassol, num gesto tênue, pouco a pouco se virou para ver aonde iria seu amigo passarinho. Foi quando viu o Sol. Grande, quente, imponente e gritante Sol! Não se lembrou do pássaro. Encantou-se pela luz solar, sem poder deixar de olhá-la, nem um minuto a menos sequer. Nascia, enfim, o girassol.

Fonte:
O Autor

Soares Passos (O Outono)


Eis já do lívido outono
Pesa o manto nas florestas;
Cessaram as brandas festas
De natureza louçã.
Tudo aguarda o frio inverno;
Já não há cantos suaves
Do montanhês e das aves,
Saudando a luz da manhã.

Tudo é triste! os verdes montes
Vão perdendo os seus matizes,
As veigas e os dons felizes,
Tesouro dos seus casais;
Dos crestados arvoredos
A folha seca e mirrada,
Cai ao sopro da rajada,
Que anuncia os vendavais.

Tudo é triste! e o seio triste
Comprime-se a este aspecto;
Não sei que pesar secreto
Nos enluta o coração.
É que nos lembra o passado
Cheio de viço e frescura,
E o presente sem verdura
Como a folhagem do chão.

Lembra-nos cada esperança
Pelo tempo emurchecida,
Mil áureos sonhos da vida
Desfeitos, murchos também;
Lembram-nos crenças fagueiras
Da inocência doutra idade,
Mortas à luz da verdade,
Criadas por nossa mãe.

Lembram-nos doces tesouros
Que tivemos, e não temos;
Os amigos que perdemos,
A alegria que passou;
Lembram-nos dias da infância,
Lembram-nos ternos amores,
Lembram-nos todas as flores
Que o tempo à vida arrancou.

E depois assoma o inverno.
Que lembra o gelo da morte,
Das amarguras da sorte
Última gota fatal...
É por isso que estes dias
Da natureza cadente,
Brilham n'alma tristemente
Como um círio funeral.

Mas ânimo! após a quadra
De nuvens e de tristeza,
Despe o luto a natureza,
Revive cheia de luz:
Após o inverno sombrio
Vem a flórea primavera,
Que novos encantos gera,
Nova alegria produz.

Os arvoredos despidos
Se revestem de folhagem;
Ao sopro da branda aragem
Rebenta no campo a flor:
Tudo ao vê-la se engrinalda,
Tudo se cobre de relva,
E as avezinhas na selva
Lhe cantam hinos d'amor.

Ânimo pois! como à terra,
Também à nua existência
Vem, após a decadência,
Às vezes tempo feliz;
E a vida gelada, estéril,
Que o sopro da morte abala,
Desperta cheia de gala,
Cheia de novo matiz.

Ânimo pois! e se acaso
Nosso destino inclemente,
Em vez de jardim florente,
Nos aponta o mausoléu;
Se a primavera do mundo
Já morreu, já não se alcança,
Tenhamos inda esperança
Na primavera do Céu!

Fontes:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource
Imagem = www.ctcportugal.com

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 25 de março: A Constituição e o Remorso


Hoje é o dia do aniversário da nossa constituição, e ontem o Teatro Lírico representou um baile intitulado o Remorso. Se foi uma simples coincidência, ou um epigrama, não sei; o tempo não está para graças, e por isso não se pode com facilidade aventurar conjeturas.

Já houve um tempo em que, de fato, o dia de hoje devia ter sido o dia do remorso para o governo, para as autoridades, para o menor empregado de polícia; todos haviam perjurado, todos, por sede de mando ou por um espírito exagerado de reforma e progresso, haviam desrespeitado a constituição.

Felizmente passou esta quadra de tristes conseqüências para o país, e chegamos a uma época de adormecimento das paixões políticas, de inércia dos partidos, de calma nos espíritos, que, bem dirigida, pode ser aproveitada em grandes melhoramentos de que o país necessita, em excelentes reformas da legislação e de muitos outros ramos de administração.

Mal dirigida, porém, a situação atual há de caminhar rapidamente para uma crise tanto mais forte, tanto mais violenta, quanto foi profundo o letargo dos espíritos e a prostração proveniente da exacerbação das paixões.

Há uma febre surda que começa por abater as forças dos homens e acaba pelo delírio. Talvez que os observadores, os homens experientes e amestrados nessas oscilações políticas e sociais já tenham pressentido os primeiros pródromos, os sintomas característicos de uma próxima crise.

Entretanto parece-me que se enganam. Ainda é tempo de arrepiar caminho; e a situação atual, que começou tão rica de esperança, tão cheia de futuro, ainda tem muitos elementos que não foram sacrificados, e que, bem desenvolvidos, podem servir de programa às circunstância atuais.

Reabilite-se esta bela idéia da conciliação dos espíritos, evite-se que seja substituída por uma conciliação de interesses individuais; aceitem-se todas as adesões, mas não se suplique nem uma; chamem-se todas as inteligências a concorrer para o bem do país, mas não se exija uma transigência imoral que não pode ser duradoura; respeitem-se todas as opiniões e deixe-se a oposição inteiramente livre, porque se for leal, auxiliará o governo, se for licenciosa, se desacreditará por si mesma.

Por hoje tenho feito os meus cumprimentos à constituição, dando-lhe os bons anos, e desejando-lhe muitos séculos de vida para gosto dos seus amigos e de toda a sua família; posso, portanto, dar uma vista de olhos pelo que me vai por casa.

Data veniam ! Permiti, mestre, que ainda uma vez profane o sagrado santuário da justiça, cuja guarda vos foi confiada. Estou convertido às custas; mas, como neófito ignorante, tenho algumas dúvidas a respeito.

Que fizeram as pobres irmandades e corporações de mão=morta para pagar ao juiz de capelas e resíduos um juro de 6% de um capital que não receberam? E isto sem terem demandas nem pleitos, e somente porque o Estado julgou conveniente inspecionar as suas contas.

Ai! perdão! não me lembrava que tinha sido erro de imprensa. Santa invenção de Gutemberg! Não há nada que te pague! Com que facilidade fazes do branco preto! A pena diz o que quer: a imprensa é quem paga as custas.

Depois da descoberta do erro de imprensa feita pelo P. do Jornal do Comércio, dezenove dias depois da publicação do regimento, está me parecendo melhor é abandonar a questão das custas, porque do contrário a nossa imprensa fica desacreditada para o estrangeiro

O meio por cento do porteiro? Erro de imprensa. Os seis por cento do juiz de capelas? Erro de imprensa. Os dez contos que há de lucrar o porteiro de órfãos? Erro de imprensa. A ridicularia de estabelecerem custas de 200 rs. Até para Presidente da Relação, em vez de uma gratificação anual? Erro de imprensa.

Já estou com medo que não descubram que o título do regimento e a referenda do ministro são erros de imprensa.

Que papel ficamos nós fazendo, Sr. Conselheiro Ferraz, tendo gasto o nosso tempo a atacar apenas uns tipos trocados, e umas letras sem sentido, sem idéias!

Mas, que coisa célebre! Parece que os três jornais da corte se apostaram para errar justamente no meio por cento! E o erro foi tão imperceptível (era de cerca de dez contos anuais) que só depois de um escrupuloso exame de dezenove dias é que se deu com ele!

O próprio Sr. P., no seu artigo de quinta-feira, defendeu o erro de imprensa, iludido como nós; e só ontem é que fez a importante descoberta. Maldita imprensa! Eis a razão por que se prefere uma compilação do direito civil manuscrito, tendo-se uma em letra redonda, cujo único defeito é estar pronta.

A propósito, tomo a liberdade de pedir ao Sr. P. que assista ao curso de leitura repentina do Sr. Castilho.

Como deve saber, o curso foi aberto quinta-feira por um discurso de uma extrema simplicidade, e que talvez por esta mesma razão satisfez o auditório. Estavam presentes o Sr. Ministro do Império, o Sr. Marquês de Monte Alegre, Visconde de Itaboraí e Sapucaí, o Conselho de Instrução Pública, e muitas pessoas de distinção. 

O Sr. Ministro dos Estrangeiros chegou tarde, porque foi de gôndola, segundo observaram os mirones.

Se o método do Sr. Castilho produzir vantagens reais, como esperamos, não acontecerá ao Sr. P. a mesma coisa que na quinta-feira, em que com as pressas de responder, mostrou não ter lido o meu artigo de domingo.

Onde viu o correspondente que me queixei? Onde foi que lhe pedi tempo para expor as minhas opiniões? Quando viu que me calei e fugi da questão?

A isto só uma resposta. Se o Sr. P. tem o costume de estudar, de trabalhar e escrever para a imprensa, quando um motivo grave de aflição exige todos os seus cuidados e preocupa inteiramente o seu espírito, eu o respeito como um homem forte, que não dá peso às misérias da vida  humana. Entretanto considero-me muito feliz por fazer-lhe o contraste.

Quem se queixa é o correspondente, que, depois de ter comungado com as defesas impróprias de certos campeões do regimento de custas, estranha que o motejo tenha substituído a argumentação, e pede não trilhemos a senda dos declamadores políticos.

Como nos responderam? Não quero reviver uma coisa de que felizmente parece-nos que os defensores do regimento estão arrependidos; e, já que o Sr. P. quer voltar à argumentação, pedimos-lhe que discuta, mas que não veja nas censuras feitas ao regimento uma contradição com o tempo que levou a elaborar-se. Isto pode ser uma circunstância agravante contra o regimento, e nunca uma contradição.

Com o artigo do correspondente, publicado no Jornal de ontem, lemos igualmente a notícia de ter professado um frade no Convento do Carmo desta corte.

Não sabemos quem autorizou semelhante ato, sobre o qual o nosso governo desde muito tempo guarda uma prudente reserva. Pretende-se acaso reabilitar as ordens monásticas, o claustro, e faze-lo concorrer para o bem público auxiliando a instrução pública, os estabelecimentos de caridade, a catequese, ou mesmo a vigilância das prisões, como se usa em Leão?

É tarde; os últimos restos de algumas ordens religiosas que tivemos não têm regra nem disciplina, nem instrução que outrora adquiriam; e apenas vegetam entre quatro paredes, esperando o dia de sua completa extinção, que não há de estar muito remoto.

A regeneração do claustro no nosso país é uma obra impossível; alguns homens ilustres que hoje existem, como Monte Alverne, o bispo de Crisópolis e outros, são representantes ainda daqueles tempos de prestígio e de ilustração, em que a solidão do claustro era iluminada pelo fogo do céu.

Presentemente, se um ou outro moço se distingue, o que é raro, nada à clausura, e sim à sua inteligência, ao seu estudo, aos seus esforços pessoais; o frade antigo ainda pode existir, como uma velha ruína: mas a ordem, o espírito de união, o vínculo sagrado, desapareceu, e com ele, a existência dos conventos.

Se a regeneração, pois, não é possível, que explicação tem esse ato de profissão? Não descubro nenhuma; não me ocorre um motivo que possa atualmente justificar a inabilitação de um homem para os cargos públicos; a condenação de uma atividade e de um elemento de trabalho a que o país tem direito.

Para mim o frade é um tipo história, que passou como o antigo sacerdote, como os filósofos, os escolásticos, os eremitas, os cavaleiros, os maçons, e que, tendo feito o seu tempo, pertencem às lendas e às crônicas.

Não sabem quanto me pesa ter de falar contra os frades justamente na quaresma; mas não há outro remédio; e, como eu não falo contra os homens, e sim contra o burel ou a estamenha  os cobre, a consciência não me acusa de pecado.

Outra coisa seria, se me desse na cabeça subir o morro de Santa Teresa, ou mesmo ir até o recolhimento da Ajuda, onde talvez me revelassem bem lindos mistérios!

Se o Sr. Ministro da Justiça quer fazer uma obra meritória, é dar a estes estabelecimentos um fim caritativo e de beneficência pública. O que lucra o país com ter uma casa para algumas doceiras presentearem as pessoas de amizade?

Ao contrário, se estes estabelecimentos pudessem criar mulheres como as Irmãs de Caridade, é fácil prever as vantagens que deles nos resultariam.

Demos um salto; e suponhamos que é chegado o domingo de Ramos, tempo em que já se pode tratar de coisas profanas. O Cassino não nos pretende dar bailes este ano?

Num tempo de tantas graças, acho que esta é demais; porém, se tal é a sua tenção, avise-nos, porque, com a febre de companhias que há, num momento se organizará uma empresa para bailes.

Vai criar-se uma de seguro geral. Não há nada melhor. Muito sujeitinho pretende segurar-se contra o casamento: os maridos vão segurar a vida da mulher na esperança de perder. De um finório sei eu que, acendendo uma vela a Deus e outra a Satanás, se propõe a segurar a oposição e o ministério; a dúvida é quanto à primeira, se aparecerá seriamente; e quanto ao segundo, se a companhia o aceitar.

Eu, se fosse a companhia, aceitava com algumas cláusulas e reservas, como, por exemplo, repelindo todos os erros... mesmo os de imprensa.

Não sabeis qual o verdadeiro erro de imprensa? Foi o de censurar o tal regimento de custas; foi o de discutir uma obra tão augusta; foi o de se ter animado a defender-se de insultos pagos policialmente.

Basta! nem mais uma palavra. Só agora é que me recordo que o ministério tem estado de dor de cabeça. O Sr. Marquês de Paraná, desde segunda-feira, sofre de uma moléstia de fígado, da qual costuma ser atacado. Felizmente tivemos a satisfação de saber que S. Exª acha-se sensivelmente melhorado.

No meio de todos os contratempos que tendem a embaraçar a marcha regular da justiça no nosso país, apraz-me ver como os magistrados novos vão dando alguns exemplos de integridade e firmeza.

Não há muito tempo o Dr. José Caetano pronunciou um homem que se  dizia ter fortes proteções. Agora o Sr. Dr. Izidro condena uma pessoa que ocupa uma posição distinta na sociedade pelos seus grandes haveres e pela sua influência.

Não entramos no mérito da sentença, nem podemos apreciar os seus fundamentos; mas o que não se pode negar é que o juiz que lavrou uma condenação desta ordem, deu uma prova incontestável de inteireza e de retidão. Quando mesmo a sentença não fosse justa, estamos certos que a intenção que a ditou foi da mais vigorosa eqüidade.

Agora, meu amável leitor, até 1º de abril.

Entendeis?

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 744)




Uma Trova de Ademar  

Por agir sem ter cautela 
um grande mico eu paguei: 
beijei uma magricela; 
não era a sogra... Era um gay!... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Ficou danada a galinha, 
sem prazer que lhe apareça, 
só porque sua franguinha 
tem um “galo” na cabeça... 
–Severino Silveira de Sousa/RS– 

Uma Trova Potiguar  

Se alguma mulher consagra, 
um cinquentão, - já sem trema - 
desconfio que o Viagra 
faz parte do seu esquema. 
–Francisco Macedo/RN– 

Uma Trova Premiada  

1985   -   Porto Alegre/RS 
Tema   -   CHOQUE   -   6º Lugar 

Foi um choque e muita mágoa
para quem acreditou:
a tua barriga d'água
com nove meses chorou... 
–Edmar Japiassu Maia/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Parece até brincadeira 
este trocinho irrisório: 
em teu biquíni, a fronteira 
é menos que o território... 
–Durval Mendonça/RJ– 

U m a P o e s i a  

Mesmo quando uma moça é muito feia 
e não encontra ninguém com quem namore, 
por mais que suplique, rogue, implore 
não amarra ninguém na sua teia, 
insinua-se aos presos da cadeia 
e nem eles a querem namorar, 
e não tendo ninguém com quem casar 
ela casa com cristo no convento; 
todo mundo acha ruim o casamento 
mas ninguém quer morrer sem se casar. 
Palmeiras Guimarães/PE– 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

J. Fausto Toloy (“O Livro que Ninguém Lia”... aventuras do livro rejeitado!)


O autor é médico, da Campina da Lagoa/PR.
Este conto participou do FLIP e será adaptado para o teatro.

Era um livro um pouco estranho: capa azul e borda amarela com  letras garrafais em vermelho: “O CAMUNDONGO DE SARONGO”, um título no mínimo esquisito que rimava. Seria prosa ou poesia? Passou despercebido como tantos naquela livraria. Ignorei-o simplesmente. Mas para minha surpresa ouço uma voz:

— Moço, moço… Você mesmo com carinha imberbe, estudante talvez, um mancebo! – Caramba! De onde vinha aquele som? Espanto, olhares de pavor ao derredor – Droga, não tem ninguém aqui!

— Não se assuste ali na frente tem homem que vira barata, mais adiante um rato atrapalhado, uma baratinha cantora, um grilo falante, e até animais que expulsam o dono da granja! Anything goes, baby! Em ficção é claro! Aqui, bem aqui no cantinho, o livrinho de borda amarela, isso, isso agora mais pra direita… sou eu! Parecia mesmo que a voz vinha do livro… Seria possível? Não fumei nada, nem uso droga ou coisa semelhante, às vezes um antidepressivo... vou falar com ele! 

— Está procurando um best-seller tipo “O livreiro de…” ou “O caçador de…” ou ainda “A ira dos …”, “Não verás…O”; que tal “O menino malu…” – Tô aqui esquecido e não sou nada disso, mas… Acho que vou colocar o dedo na borda. Iche! Mexeu, parece querer pular para as minhas mãos, será que gostou? Acaricio delicadamente o livro na ponta dos dedos sem retirá-lo da estante, espremido entre dois tomos volumosos, “Livraria Cultura – São Paulo supercap fevereiro de 2004”.

— Vamos, cara me pegue, me curta, delicie-se comigo só um pouquinho:  ah! O amor, que maravilha esse sentimento; a paixão, que perigosa ilusão! Enfim, use e abuse, mas cuidado me confunda com “Mate Leão” (tempos de criança). Hiii, cara se soubesse da minha história… quer saber? Vou contar: nasci numa graficazinha de fundo de quintal no Engenho Vila Verde, que nome bonito, ecológico… quem me escreveu? Criou os originais? Ah! Quer saber então? Está interessado, vejo nos seus olhos. Fruto de um escritor-mirim, nem posso dizer que foi um parto, o primeiro filho; essas coisas tolas que todo escriba diz, principalmente os medíocres, que nada ou muito pouco têm a dizer… O nome do meu autor é Ângelo Maiakóvski; tá pensando que é em verdade do grande poeta russo, não é Vladimir; o autorzinho é um nerd de computador desde os quatro aninhos, agora com doze. Então fui parar na Rua Humaitá, 444, onde um ilustrador de cartazes de cinema antigo fez o resto e, ainda sob protesto.— Faz anos que num trabalho nisso, como é pro dotor Aristarco vô fazê o melhó que posso. Rato num gosto de rato num é rato – Tequinho, é camundongo! – é tudo a mesma coisa – Meus Deus! E o meu revisor, uma piada; reprovado em português duas vezes e ainda conseguiu formar-se professor de matemática!!! “porque não trouxe a roupa de Maricota pra mim fazer (em vez de para eu fazer) “Se for ao clube e ver a Cidinha…” (em vez de vir) “Porque não pergunta ao Antonio?” (por que na pergunta) páginas 3, 17 e 27 respectivamente. Mas, entre mortos e feridos salvaram-se todos! Mas, pode me tocar, abrir: aventura, emoção, surpresas, risos, enfim, ingredientes de uma boa estória. Livro:  “Vamo lá, cara, ô meu (assim é melhor) me folheie, cheire, ainda tô novo só um pouco cheio de pó, traça num tenho. A cor azul-amarelo da capa ainda não desbotou apesar do sol que tomo na fuça toda manhã quando a Zica num fecha a cortina – deixa esse livreco, filho, vamos  levar um livro do Ziraldo; – pronto, não desencalhei de novo. ninguém prestigia mesmo autor desconhecido. – “Intelectual, ô você mesmo com óculos John Lennon, olhos negros… pode folhear à vontade; acho que vai levar pra se lembrar dos tempos idos da infância quando nem o Monteiro Lobato despertava curiosidade; não, não, larga, larga: nesta mochila molambenta não quero entrar não! Pode ter até… não, acho que não. Quem sabe levar pro filho bastardo? Topo qualquer parada pra sair dessa pasmaceira: livro na estante (de livraria, ainda, é livro morto) seria bom ganhar vida aos olhos de algum leitor, ensinar pelo encanto das palavras, despertar a alma da paixão, emoção, quem sabe descobrir palavras novas, ou apenas uma ideia, modo de ver o mundo ou uma mensagem! Agora na mochila junto com canivete suíço, cigarro (menos aquilo), uma troca de roupa, caneta, chaveiro. Vamos nessa. Tira-me no ônibus e começa a leitura:

— Mas, que droga, aquela vendedorazinha pivete acha que me engana, falou que tinha uma inspiração kafkiana – é livro infantil! Arremessado pela janela (defenestrado eu?) ufa: Vou pro meio da rua todo desfolhado, aberto no meio da avenida, logo sou atropelado por outro carro e escarafunchado perto do bueiro, nããããão! Uma mão salvadora me agarra antes do desastre: um colegial. – Oba, um livro, achei um livro, oba! Livro: que molequinho mais sem CPF, gostou do presente, e é isso que importa: cavalo dado não se olha os dentes”. Todo mundo quer ser apreciado e  amado, não é mesmo? Talvez seja esse o segredo? Incontinenti o menino inicia a leitura e vou deliciando-me com o desenrolar de tudo, da minha história, claro! O que mais poderia ser, sou só um livro que não queria ficar na estante tomando sol, pó, um dia quem sabe ser roído pelas traças. Que aventura viver, viver livre, enfim… UOFFF! Ledo engano, não é que o pivete não gostou da história e resolveu dar-me de presente ao pai presidiário. Hiche: Comida de preso, Mauser, tudo embrulhado vou para penitenciária”. Na estrada o guarda nem olha a encomenda. “Passa, passa, logo é pro Mekinho boca mole, vai, vai logo moleque”.[a]

— Que droga é essa, Palito, um livro?!

— É, pai, achei na rua, pode ser legal e fazer companhia nessa solidão. Joga-me num canto fétido onde, é claro, fico. Um evangélico começa a ler algumas páginas:— Tudo colonização do Tio Sam, imperialismo, volto pra minha Bíblia, o senhor é meu pastor e nada me faltará. Livro: “Virgem Maria, não precisava humilhar: comparar com o livro sagrado: ou tá alienado demais, ou tá brincando!” – Ah! Já sei vou presentear meu sobrinho internado na FEBEM, ele vai gostar. Dali o menino muda de ideia no caminho e leva para o Hospital Lua Nova, onde está internado o Meldes, vítima de esquizofrenia. Na chegada vive uma briga estranha, porquanto o Meldes disputa o livro com o Tito:

— O livro é meu, Mel, ele trouxe pra mim; a dra. falou que vou ganhar presente!

— Não, Tito, é outro presente, e é de Natal. – Na refrega sou partido em dois e uma metade vai pra cada um dos doidinhos.

— Pater dominus, pace! – entra o missionário e une as duas partes ficando eu livro outra vez – o que Deus uniu o homem não separa – ainda bem!

— O rato roeu a roupa do rei de Roma! – cruz credo, demônio, rato nããão! “De onde estava sou (defenestrado II) e caio no jardim”. Socorram-me subi no ônibus em Marrocos” Jesus é palíndromo! Lido ao contrário é igual— Acho melhor mesmo levar o livro pro seu destino. Colocado num envelope e postado vou pra instituição supracitada.

— Tio Onofre, que legal lembrar-se da gente esquecido aqui nessa antessala do inferno. Noutro dia mesmo me deram tanta pancada que quase acabei no hospital. Puxa um livro, que bacana: chega de TV, futebol (bola murcha), uma pedrinha pra variar… Depois de algum tempo: uau! Que rato esperto, vou fazer assim e logo saio daqui, mas… pensando bem por quê buraco? Um camundongo é pelo menos cem vezes menor que eu, mas, enfim não custa sonhar; ora, mas que bobagem sair… pra onde? Tenho comida, roupa, futebol, TV, sol… pensando bem não vou não! Viu livrinho bobo vou continuar capacho do idiota do “Roberto Carlos” que imagina cantar como o rei… tá vendo? Não serviu pra nada!!! – dar para o bestalhão então não… não sabe dar  valor no que leu… perdedor!  – Dar para o índio Emanuel, tio do Peralta… ele vai amar o presente, além do mais tá aprendendo português… ler também é uma aula da língua, não é?  Pronto seu destino tá traçado: índio pataxó! – Guarde com carinho, cacique, uma lição de português, presente do meu tio Melquisedeque, vulgo Mekinho, mas, olha é de coração, hem? – Cacique Jonas insere o livrinho no bolso da jaqueta de couro, presente do Morel por amansar o cavalo Terenzo, caminha alguns passos e saem para a avenida. O pobre cacique atravessa o farol e, diante do ponto de ônibus da Avenida República dos Inválidos, é atacado por skin-heads… defende-se como pode machucando alguns jovens com golpes de uma luta estranha, mas acaba imobilizado e incendiado pelos bárbaros jovens. Uma poetisa que mora nas vizinhanças e um malabares do farol de trânsito socorrem o silvícola civilizado. O livro cai da jaqueta e arde em chamas na calçada… dos borbotões brotam pequenos vagalumes que se afastam e iluminam a misteriosa noite de abril.

— Que lindo! Que lindo! – Raquel, a poeta, balbucia deslumbrada.

No final da história deste personagem rejeitado, de alguma forma o sacrifício do livro-herói não foi em vão.

Fonte:
Texto enviado pelo autor 

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 743)


Uma Trova de Ademar

Nos poemas que componho,
de beleza quase extrema,
eu ponho em verdade um sonho
dentro de cada poema!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Um gesto de amor clareia
a escuridão da maldade...
quem faz o bem é candeia
que ilumina a humanidade!
–Larissa Loretti/RJ–

Uma Trova Potiguar

Meu cérebro inda martela
a despedida... o adeus...
o já vou “nos lábios dela”,
o não vá “nos lábios meus”!...
–Zé de Sousa/RN–

Uma Trova Premiada


2009 - Cantagalo/RJ
Tema - SERTÃO - 1º Lugar


No sertão pobre e carente
chuva é a mão que Deus descerra
e apaga a fogueira ardente
que queima a face da terra.
–Elen de Novaes Félix/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram


Meu coração, a seu jeito,
cria rumos tão risonhos,
que faz, de um caminho estreito,
uma avenida de sonhos.
–João Freire Filho/RJ–

U m a P o e s i a


O amor da mulher querida
me fez virar trovador,
tornou-me o pai mais feliz
deste mundo encantador,
porque o sentido da vida
só se traduz com amor.
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia

A ALMA DA PEDRA.
–Hegel Pontes/MG–


Longa pesquisa. E o mestre hindu descobre
que existe uma fadiga nos metais;
que o descanso renova, do ouro ao cobre,
o reino singular dos minerais.

Eu também sinto que a matéria encobre
estranhas vibrações emocionais.
É que a pedra tem alma, simples, nobre,
sonhando evoluções espirituais.

E a alma da pedra imóvel é a energia
que evolui, na ilusória letargia,
entre seres gigantes e pigmeus.

E sonha, nos milênios que a consomem,
ser um cacto que sonha ser um homem,
ser um homem que sonha ser um Deus.