sábado, 5 de outubro de 2024

Dicas de escrita (O Conto Fantástico)


O conto fantástico é uma forma literária que se distingue por introduzir elementos sobrenaturais ou inexplicáveis em cenários aparentemente realistas. Sua origem remonta a tradições orais e contos folclóricos, mas sua consolidação como gênero literário ocorreu principalmente a partir do século XIX.

Origens

As histórias fantásticas têm raízes em mitos e lendas que tentavam explicar fenômenos naturais ou a condição humana. Contos como "A Menina dos Fósforos", de Hans Christian Andersen, exemplificam essa tradição.

O romantismo, no início do século XIX, trouxe uma nova valorização do sobrenatural e do irracional. Autores como Edgar Allan Poe e Mary Shelley exploraram o fantástico em suas obras, criando atmosferas sombrias e personagens atormentados.

Edgar Allan Poe, considerado um dos mestres do conto fantástico, introduziu elementos de horror psicológico e mistério. Sua obra "O Corvo" e contos como "O Gato Preto" destacam o uso da atmosfera e da introspecção.

H. P. Lovecraft, na primeira metade do século XX, Lovecraft desenvolveu o que se conhece como "horror cósmico", onde a insignificância do ser humano frente a forças superiores é central. Seus contos, como "O Chamado de Cthulhu", são marcos do gênero.

Jorge Luis Borges trouxe uma abordagem metafísica ao conto fantástico, entrelaçando realidades e ficções. Seus labirintos narrativos e jogos de espelho, como em "A Biblioteca de Babel", desafiam a lógica e a linearidade.

Clarice Lispector incorporou elementos fantásticos em sua prosa introspectiva, explorando a subjetividade e a condição humana, como em "A Paixão Segundo G.H.".

Angela Carter, com uma perspectiva feminista, reimaginou contos de fadas e mitos, trazendo uma nova dimensão ao fantástico em obras como "A Companhia de Lobos".

CARACTERÍSTICAS

Ambiguidade: O fantástico geralmente apresenta uma linha tênue entre o real e o sobrenatural, deixando o leitor em dúvida sobre a natureza dos eventos.

Atmosfera: O ambiente é crucial; uma atmosfera de mistério e tensão é frequentemente criada por meio de descrições vívidas e detalhes sensoriais.

Personagens Complexos: Os protagonistas frequentemente enfrentam dilemas internos e crises existenciais, refletindo suas inseguranças e medos.

Quebra da Lógica: Elementos irracionais ou impossíveis são integrados à narrativa, desafiando as expectativas do leitor e a lógica convencional.

Exploração da Subjetividade: Muitas vezes, o conto fantástico mergulha na psicologia dos personagens, explorando seus desejos, medos e traumas.

O conto fantástico é um gênero rico e multifacetado, que evoluiu ao longo dos séculos e continua a cativar leitores e escritores. Suas características únicas e sua capacidade de questionar a realidade fazem dele uma forma de arte literária sempre atual e provocativa. Autores contemporâneos continuam a explorar suas possibilidades, garantindo que o fantástico permaneça relevante na literatura moderna.

CARACTERÍSTICAS COMPARADAS A OUTROS GÊNEROS

O conto fantástico possui características distintas que o diferenciam de outros gêneros literários. Essas características tornam o conto fantástico um gênero único e provocativo, permitindo que autores explorem o inexplicável e o irracional de maneiras que desafiam a percepção do leitor. Essa liberdade criativa é um dos aspectos mais atraentes do fantástico em comparação com outros gêneros literários.

Aqui estão as principais características do conto fantástico em comparação com outros gêneros:

1. Elementos Sobrenaturais

Fantástico: Introduz elementos sobrenaturais ou inexplicáveis em um cenário cotidiano, desafiando a lógica. A busca por entender quem somos, muitas vezes através de experiências sobrenaturais ou transformações.

Realismo: Foca em eventos plausíveis e cotidianos, sem a presença do sobrenatural.

2. Ambiguidade

Fantástico: Cria incerteza sobre a veracidade dos eventos, deixando o leitor em dúvida quanto à realidade.

Ficção Científica: Geralmente estabelece regras claras sobre seu universo, com explicações lógicas para os fenômenos.

3. Atmosfera

Fantástico: Utiliza uma atmosfera de mistério e tensão, frequentemente com descrições vívidas que evocam sensações de estranhamento.

Narrativa Realista: Foca em uma ambientação familiar e reconhecível, com menos ênfase na criação de uma atmosfera de suspense.

4. Personagens e Psicologia

Fantástico: Personagens frequentemente enfrentam dilemas internos e crises existenciais, refletindo sobre suas identidades e medos. A exploração de medos primordiais, como o medo da morte, da solidão ou do desconhecido, muitas vezes personificados em criaturas ou situações fantásticas.

Literatura de Aventura: Foca mais na ação e no desenvolvimento da trama do que na profundidade psicológica dos personagens.

5. Quebra da Lógica

Fantástico: Aceita a irracionalidade como parte da narrativa, permitindo que eventos impossíveis ocorram.

Gêneros como o Realismo Mágico: Embora também misturem o real e o fantástico, geralmente mantêm uma lógica interna que explica as ocorrências extraordinárias.

6. Exploração de Temas Filosóficos

Fantástico: Muitas vezes aborda questões existenciais, como a natureza da realidade e a condição humana.

Romance Histórico: Foca em eventos e contextos históricos, com menos ênfase em questões filosóficas profundas.

7. Estrutura Narrativa

Fantástico: Pode adotar estruturas narrativas não lineares ou fragmentadas, refletindo a confusão e o estranhamento. A manipulação do tempo, com narrativas que desafiam a linearidade ou exploram memórias distorcidas.

Ficção Tradicional: Geralmente segue uma estrutura mais linear e previsível.

Esses temas ajudam a dar profundidade às narrativas fantásticas, permitindo que os autores abordem questões existenciais e sociais de maneira única e provocativa.
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AUTORES PRINCIPAIS

Vários autores são reconhecidos por explorar temas recorrentes no conto fantástico. Aqui estão alguns deles, junto com suas contribuições:

1. Edgar Allan Poe
Temas: Medo, identidade, alienação.
Obras: "O Corvo", "O Gato Preto".

2. H. P. Lovecraft
Temas: O desconhecido, medo, insignificância humana.
Obras: "O Chamado de Cthulhu", "A Cor que Caiu do Céu".

3. Jorge Luis Borges
Temas: Realidade e ilusão, tempo e memória.
Obras: "A Biblioteca de Babel", "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam".

4. Clarice Lispector
Temas: Identidade, alienação, autoconhecimento.
Obras: "A Paixão Segundo G.H.", "A Hora da Estrela".

5. Angela Carter
Temas: Crítica social, transformação, o sobrenatural.
Obras: "A Companhia de Lobos", "O Conto da Aia".

6. Franz Kafka
Temas: Alienação, identidade, transformação.
Obras: "A Metamorfose", "O Processo".

7. Italo Calvino
Temas: Realidade e ilusão, o sobrenatural.
Obras: "As Cidades Invisíveis", "Se um Viajante numa Noite de Inverno".

8. Shirley Jackson
Temas: Medo, isolamento, crítica social.
Obras: "A Assombração da Casa da Colina", "A Loteria".

9. Ray Bradbury
Temas: O desconhecido, crítica social, tempo.
Obras: "As Crônicas Marcianas", "Fahrenheit 451".

10. Neil Gaiman
Temas: O sobrenatural, identidade, transformação.
Obras: "Deuses Americanos", "O Oceano no Fim do Caminho".
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COMO ESCREVER UM CONTO FANTÁSTICO

Escrever um conto fantástico envolve uma mistura de criatividade e estrutura. Aqui estão algumas etapas e dicas para te ajudar:

1. Escolha um Tema
Pense em temas universais, como identidade, medo, ou transformação. O que você quer explorar?

2. Crie um Mundo Fantástico
Desenvolva um cenário que desafie a lógica do mundo real. Pode ser um lugar mágico, uma dimensão alternativa ou uma versão distorcida da realidade.

3. Personagens Cativantes
Crie personagens com profundidade. Eles podem ser humanos, criaturas fantásticas ou até mesmo objetos animados. Dê a eles motivações e conflitos internos.

4. Introduza Elementos Sobrenaturais
Incorpore fenômenos inexplicáveis ou mágicos. Isso pode ser um objeto poderoso, uma criatura mítica ou uma habilidade sobrenatural.

5. Crie um Conflito
Todo conto precisa de um conflito. Pode ser interno (um dilema pessoal) ou externo (um antagonista ou uma força que ameaça o mundo).

6. Ambiguidade e Mistério
Mantenha um tom de incerteza. O leitor deve se questionar sobre a realidade dos eventos. Isso adiciona profundidade e provoca reflexão.

7. Desenvolva a Narrativa
Estruture a história em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Apresente o cenário, desenvolva o conflito e, finalmente, resolva a trama.

8. Explore Temas Profundos
Use a fantasia como uma metáfora para questões existenciais, emocionais ou sociais. Isso dá peso à sua narrativa.

9. Revise e Edite
Após escrever o primeiro rascunho, revise. Verifique a coerência da história, o desenvolvimento dos personagens e a fluidez da narrativa.

10. Leia Referências
Leia contos fantásticos de autores consagrados. Isso ajudará a entender diferentes estilos e abordagens dentro do gênero.

Dicas Adicionais:

Use Descrições Vivas: Evite generalizações. Descreva os sentidos (visão, som, cheiro) para criar uma atmosfera envolvente.

Mantenha o Ritmo: Equilibre cenas de ação com momentos de reflexão.

Inspire-se em Mitos e Lendas: Muitas histórias fantásticas têm raízes em mitologias. Isso pode fornecer uma base rica para sua narrativa.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: IA Poe.  Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (A saudade mata a gente)

(Toada, 1948) 

Compositores: João de Barro e Antônio Almeida 

Fiz meu rancho na beira de um rio
Meu amor foi comigo morar
E na rede nas noites de frio
O meu bem me abraçava pra me agasalhar

Mas agora meu Deus, vou-me embora
Vou-me embora e não sei se vou voltar
A saudade nas noites de frio
meu peito vazio virá se aninhar

A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena

A Dor da Saudade em 'A Saudade Mata a Gente'
A música 'A Saudade Mata a Gente', de João de Barro, é uma canção que explora profundamente o sentimento de saudade e a dor que ele provoca. A letra começa descrevendo um cenário idílico, onde o eu lírico constrói um rancho à beira do rio e vive momentos de felicidade e aconchego com seu amor. A imagem da rede nas noites frias, onde o casal se abraça para se aquecer, evoca uma sensação de intimidade e conforto, criando um contraste com o que está por vir.

No entanto, a narrativa toma um rumo melancólico quando o eu lírico anuncia que precisa partir, sem saber se um dia voltará. A incerteza do retorno e a iminente separação introduzem o tema central da música: a saudade. A saudade é descrita como uma dor pungente, uma dor que se aninha no peito vazio nas noites frias. Essa personificação da saudade como algo que se aninha no peito enfatiza a intensidade e a persistência desse sentimento, que não se dissipa facilmente.

A repetição do refrão, 'A saudade é dor pungente, morena / A saudade mata a gente, morena', reforça a ideia de que a saudade é uma dor quase insuportável, capaz de consumir a pessoa por dentro. A palavra 'morena' adiciona um toque de pessoalidade e carinho, sugerindo que a canção é uma mensagem direta para alguém específico. João de Barro, conhecido por suas composições que frequentemente abordam temas de amor e perda, utiliza uma linguagem simples e direta para transmitir uma emoção universal, tornando a música acessível e tocante para qualquer ouvinte.

"A Saudade Mata a Gente" é mais uma canção sobre o velho tema do amor singelo, ambientado na vida campestre ( "Fiz meu rancho na beira do rio / meu amor foi comigo morar..."), gênero que tem como paradigma "Casinha pequenina".

Mas, além de ser uma bela composição, esta toada teve como um dos motivos de seu êxito uma excelente interpretação de seu lançador, o cantor Dick Farney.

Então no auge da popularidade, Dick explora muito bem as notas graves do estribilho, em contraste com a outra parte que, aliás, recorre a um trecho da ópera "Aída", de Verdi - o bailado da 2'' cena do 2° ato ( "Festa da sagração de Radamés"). Existindo havia quase dez anos, a parceria João de Barro / Antônio Almeida só alcançaria o sucesso em 1948, com "A Saudade Mata a Gente" e a marchinha "A Mulata É a Tal".
Fontes:
– Letras de Músicas Brasileiras
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

José Feldman (Grinalda de Versos) * 2 *

 

Roberto Tchepelentyky (Trovas em Preto & Branco)


1
Amor, estranha magia,
do coração e da mente.
Com toda sua alquimia,
nos faz um adolescente.
2
À noite, em frente à TV,
a vovó e o manto dela...
Ela dorme e nada vê,
o manto assiste à novela…
3
"Bate" a inspiração na gente...
Verso nenhum se aquieta,
quando Deus, onipotente,
nos permite ser poeta!
4
Deixa o que passou "de lado",
a vida é um ensinamento...
Pois lamentar o passado
é correr atrás do vento!…
5
E o velhinho gritou: “Opa!...”
Depois de tanta procura...
no prato de sua sopa,
encontrou a dentadura.
6
O amargor da despedida
de alguém que amamos demais,
é ter o sabor na vida
do “gosto de nunca mais”!…
7
O destino escreve a escolha
do amor de nós dois assim:
Páginas da mesma folha...
Tu... de costas para mim!…
8
O teatro é fantasia,
mas, às vezes, como tal,
ninguém o diferencia
da nossa vida real…
9
Partiste... E a nossa amizade
no infinito se enternece...
Tu me mandas a saudade,
eu te mando a minha prece!…
10
Pra aquela visita chata,
o que me deixa mais louco,
é ouvir a frase insensata:
"Já vai? Fica mais um pouco"!…
11
Teu “jogo de amor” peralta,
por ciúme, nos devora:
- tu cobraste a minha falta,
batendo o “pênalti” fora! …
12
Vive a "página da vida"
nem que seja a "solavanco"!...
Pior é quem na "partida",
carimba a página: "Em branco"!

Trovas de Roberto Tchepelentyky em Preto & Branco
por José Feldman

As trovas uma a uma: temas, análise, relação com poetas brasileiros e estrangeiros e suas características. 

As trovas de Roberto Tchepelentyky são uma bela expressão da poesia popular, capturando emoções e situações cotidianas com humor e reflexões profundas.

Trova 1. 
Tema: O amor como uma força transformadora.
A magia do amor é apresentada como um fenômeno que afeta tanto o coração quanto a mente. A metáfora da "alquimia" sugere que o amor tem o poder de criar algo novo e maravilhoso, comparando os sentimentos ao estado de adolescência, onde tudo é intenso e vibrante. Destaca a magia do amor e sua capacidade de nos fazer sentir jovens e cheios de vida.

Vinicius de Moraes: é conhecido por sua poesia lírica sobre o amor, frequentemente explorando sua beleza e complexidade. Seus versos transmitem a intensidade e a magia do amor, assim como a transformação que ele provoca nas pessoas.

Adélia Prado: também aborda o amor de maneira profunda, ligando-o à espiritualidade e à experiência humana, com uma linguagem simples, mas repleta de emoção.

Pablo Neruda (Chile, 1904-1973): reconhecido por sua poesia apaixonada e intensa, frequentemente explorando o amor em suas diversas facetas. Ex: Soneto XVII. Neruda foi influenciado pelo modernismo latino-americano, especialmente na busca por novas formas de expressão poética. A técnica surrealista de imagens vívidas e sonhos se reflete em sua poesia, especialmente em seus poemas amorosos e políticos.

Elizabeth Barrett Browning (Reino Unido, 1806-1861): é famosa por sua obra lírica sobre o amor, especialmente em seu soneto que expressa a profundidade do sentimento amoroso. Ex: Sonhos de Amor (Soneto 43). A emotividade e a valorização da individualidade caracterizam sua obra, típica do movimento romântico. Também incorpora referências a mitologia e literatura clássica em seus sonetos.

Trova 2. 
Tema: A vida familiar e a rotina.
A cena retratada é comum e íntima, mostrando a avó, símbolo de sabedoria e tradição, em um momento de descontração. O contraste entre a avó adormecida e o "manto" que "assiste" à novela sugere uma crítica sutil ao tempo que passa, onde até os objetos têm vida própria nas narrativas da televisão.

Carlos Drummond de Andrade: frequentemente retrata o cotidiano e a vida familiar em suas obras, utilizando uma linguagem coloquial para capturar a essência da experiência humana.

Cecília Meireles: explora temas familiares e a passagem do tempo, refletindo sobre a vida em suas nuances. Sua poesia combina lirismo e simplicidade.

Walt Whitman (EUA, 1819-1892): geralmente retrata a vida cotidiana e a experiência humana em sua poesia, celebrando a simplicidade e a beleza do comum. Ex: Leaves of Grass. Foi profundamente influenciado pelo transcendentalismo, enfatizando a conexão entre o indivíduo, a natureza e o divino. Seu amor pela democracia e pela diversidade da experiência americana permeia sua poesia.

Langston Hughes (EUA, 1902-1967): explorou a vida da comunidade afro-americana, abordando temas cotidianos e familiares com uma voz autêntica. Ex: The Weary Blues. Hughes foi uma figura central no Harlem Renaissance, refletindo as experiências da comunidade afro-americana em sua obra. O ritmo e a musicalidade do jazz e do blues influenciaram seu estilo poético, criando um som único.

Trova 3. 
Tema: O ato de criar e a inspiração.
Aqui, a inspiração é personificada como uma força que "bate" na pessoa, quase como uma intervenção divina. A referência a Deus sugere que a criatividade é um presente e uma responsabilidade, enfatizando a relação entre o divino e o humano na arte.

Fernando Pessoa: é famoso por suas reflexões sobre a criação poética e a inspiração, muitas vezes abordando a busca por significado e a relação entre o poeta e o divino.

Mário Quintana: trata da inspiração de maneira leve e divertida, muitas vezes refletindo sobre a simplicidade e a beleza do ato de criar.

Rainer Maria Rilke (Áustria, 1875-1926): é conhecido por suas reflexões sobre a arte e a inspiração, frequentemente ligando a criação poética à espiritualidade. Ex: Poema: Cartas a um Jovem Poeta. Rilke foi influenciado pelo romantismo e pelo simbolismo, explorando a espiritualidade e a busca por significado. As reflexões filosóficas sobre a condição humana e a solidão estão presentes em sua obra.

Robert Frost (EUA, 1874-1963): aborda a vida rural e a criação poética, explorando a inspiração que vem da natureza e da experiência. Ex: The Road Not Taken. Frost foi influenciado pela paisagem rural dos Estados Unidos, que permeia sua poesia. Seu estilo realista e acessível reflete a vida cotidiana e os dilemas humanos.

Trova 4. 
Tema: Aceitação e aprendizado.
Esta trova fala sobre a importância de viver no presente e aprender com o passado, em vez de se prender a ele. A metáfora de "correr atrás do vento" ilustra a futilidade de lamentar o que não pode ser mudado, incentivando uma visão mais otimista da vida.

Cecília Meireles: além de abordar a vida familiar, Cecília frequentemente fala sobre o tempo e a aceitação, enfatizando a importância de viver no presente. 

Clarice Lispector: embora prosaísta, Lispector explora a psicologia e a aceitação do passado em seus textos, refletindo sobre a experiência humana e o aprendizado.

William Wordsworth (Reino Unido, 1770-1850): fala sobre a importância do presente e da natureza como fonte de inspiração e aprendizado. Ex: I Wandered Lonely as a Cloud. É um dos principais poetas românticos, enfatizando a natureza, a emoção e a experiência pessoal. A busca pelo sublime na natureza e nas emoções humanas é um tema central em sua obra.

T.S. Eliot (Reino Unido, 1888-1965): explora temas de tempo e memória, refletindo sobre a experiência humana e a aceitação do passado. Ex. de poema: The Love Song of J. Alfred Prufrock. Eliot é uma figura central do modernismo, refletindo o desespero e a fragmentação da sociedade moderna. Suas obras são influenciadas por suas leituras de filosofia, religião e literatura clássica.

Trova 5. 
Tema: Surpresas da vida cotidiana.
O tom humorístico destaca a simplicidade da vida e como situações inesperadas podem trazer alegria. A imagem da dentadura na sopa é uma representação da fragilidade da vida e da memória, mas, ao mesmo tempo, da leveza que o humor pode proporcionar.

Manuel Bandeira: combina humor e melancolia, frequentemente utilizando elementos do cotidiano para explorar a fragilidade da vida e o riso como forma de enfrentar a realidade.

Gregório de Matos: Conhecido como o "Boca do Inferno", ele usava o humor e a sátira para abordar a vida e suas ironias, refletindo sobre a condição humana de forma cômica.

Ogden Nash (EUA, 1902-1971): sua poesia humorística e satírica, frequentemente retrata cenas cotidianas com leveza e ironia. Ex: The Cow.

Shel Silverstein (EUA, 1930-1999): usa humor e simplicidade em sua poesia, abordando temas da vida cotidiana de forma divertida. Ex: Where the Sidewalk Ends.

Trova 6. 
Tema: A dor da separação.
Esta trova capta a tristeza e a nostalgia de uma despedida. O "gosto de nunca mais" evoca uma sensação de perda permanente, refletindo a profundidade das emoções ligadas ao amor e à saudade.

Adélia Prado: Adélia explora a saudade e a perda em sua poesia, capturando a dor das despedidas e a profundidade dos sentimentos humanos.

Alfredo Bosi: aborda a experiência da perda e da memória em sua obra, trazendo uma reflexão sobre o que nos deixa saudade.

John Keats (Reino Unido, 1795-1821): explora a beleza e a tristeza das emoções humanas, frequentemente abordando a dor da perda e da despedida. Ex. de poema: Ode to a Nightingale. Keats é um representante do romantismo, explorando a beleza, a emoção e a mortalidade. Referências à mitologia e à literatura clássica são comuns em seus poemas.

Emily Dickinson (EUA, 1830-1886): Dickinson lida com temas de morte, saudade e o efêmero, criando imagens poderosas e intimistas. Poema: Because I could not stop for Death. Dickinson combina elementos do romantismo com o transcendentalismo, refletindo sobre a natureza, a espiritualidade e a individualidade. Seu estilo único foi influenciado pelo seu isolamento e pela introspecção.

Trova 7. 
Tema: Amor e separação.
A metáfora das "páginas da mesma folha" sugere que, embora dois amantes estejam juntos, suas vidas podem se desenrolar em direções diferentes. A ideia de estar "de costas para mim" expressa a dor da desconexão, mesmo quando o amor ainda

Carlos Drummond de Andrade: também explora o destino e as relações amorosas em sua obra, refletindo sobre a condição humana e a separação.

Elias José: suas poesias frequentemente lidam com a temática do amor e do destino, abordando a conexão entre os amantes e as vicissitudes da vida.

Johann Wolfgang von Goethe (Alemanha, 1749-1832): Goethe explora o destino e as relações amorosas em sua obra, refletindo sobre a interconexão entre os amantes. Ex: Fausto. 

Mikhail Lermontov (Rússia, 1814-1841): trata do amor e da separação, frequentemente refletindo sobre o destino e a inevitabilidade das escolhas. Poema: The Demon.

Trova 8. 
A linha entre realidade e ficção.
Esta trova provoca uma reflexão sobre a vida cotidiana como um teatro, onde os papéis que desempenhamos podem ser indistinguíveis da realidade. A ideia de que, por vezes, não se consegue diferenciar entre as duas esferas sugere a complexidade da experiência humana.

Augusto dos Anjos: apesar de mais sombrio, reflete sobre a vida e a morte, questionando a realidade e a fantasia em suas poesias.

Fernando Pessoa: também trata da dualidade entre a realidade e a fantasia em sua obra, especialmente através de seus heterônimos.

Tennessee Williams (EUA, 1911-1983): embora tenha sido dramaturgo, explorou a linha entre realidade e fantasia em suas peças, refletindo sobre a vida humana. Obra: A Streetcar Named Desire.

Eugène Ionesco (Romênia, 1909-1994): é conhecido pelo teatro do absurdo, que discute a fantasia e a realidade de maneira provocativa. Obra: The Bald Soprano.

Trova 9. 
Tema: Amizade e saudade.
A conexão entre amigos é expressa através de um tom de melancolia. A troca de saudade e prece indica que, mesmo na ausência, há um desejo de proteção e carinho, mostrando a profundidade das relações interpessoais.

Casimiro de Abreu: aborda a amizade e a saudade em seus versos, refletindo sobre a conexão emocional e a dor da separação.

Cecília Meireles: novamente, Cecília é relevante por suas meditações sobre amizade, saudade e a profundidade das relações humanas.

Khalil Gibran (Líbano, 1883-1931): aborda temas de amor, amizade e saudade em sua obra, refletindo sobre a conexão emocional entre as pessoas. Poema: O profeta.

Rainer Maria Rilke (Áustria, 1875-1926): também trata de amizade e saudade, utilizando uma linguagem profunda e lírica. Poema: Cartas a um jovem poeta.

Trova 10. 
Tema: Relações sociais e desconforto.
O humor nesta trova aborda a frustração que muitos sentem durante visitas indesejadas. A frase "Já vai? Fica mais um pouco!" é uma ironia, refletindo a falta de percepção do outro sobre o desconforto da situação.

Carlos Drummond de Andrade: usa humor e ironia para abordar situações cotidianas e sociais, muitas vezes retratando a vida urbana e suas peculiaridades.

Mário Quintana: também utiliza o humor em sua poesia, explorando a vida e as relações sociais de maneira leve e bem-humorada.

W. H. Auden (Reino Unido, 1907-1973): usa o humor e a ironia para explorar as relações sociais, frequentemente comentando sobre a vida moderna. Poema: Funeral Blues

Dorothy Parker (EUA, 1893-1967): conhecida por seu humor ácido e críticas sociais, abordando situações de desconforto com sagacidade. Poema: Resume. Parker foi influenciada por movimentos de vanguarda e pelo modernismo, refletindo uma visão crítica da sociedade. Seu estilo mordaz e humorístico foi moldado por suas observações sociais e experiências pessoais.

Trova 11. 
Tema: Ciúmes e desentendimentos.
A metáfora do "jogo" é uma maneira inteligente de descrever a dinâmica do amor, onde os ciúmes podem causar conflitos. O "pênalti" perdido simboliza oportunidades desperdiçadas e a dor que resulta de mal-entendidos.

Vinicius de Moraes: explora as complexidades do amor e do ciúme, usando metáforas e imagens para retratar as dinâmicas amorosas.

Adélia Prado: também aborda a complexidade das relações amorosas com uma linguagem clara e poética, refletindo sobre emoções intensas.

W. B. Yeats (Irlanda, 1865-1939): explora a complexidade das relações amorosas e os conflitos que surgem delas, usando metáforas ricas. Poema: When You Are Old.

Sylvia Plath (EUA, 1932-1963): aborda a dinâmica das relações amorosas com intensidade e emoção, explorando ciúmes e conflitos. Poema: Lady Lazarus. Plath explora questões de identidade feminina e a luta contra as expectativas sociais. A influência da psicanálise e suas experiências pessoais permeiam sua obra, refletindo angústia e complexidade emocional.

Trova 12. 
Tema: Plenitude e realização.
Aqui, a ideia de viver plenamente é central. A metáfora da "página em branco" representa a falta de experiências significativas. A ênfase na "solavanco" sugere que, mesmo as dificuldades, são parte importante da jornada.

Mário Quintana: fala sobre a vida de forma leve e filosófica, incentivando a vivência plena e a apreciação do cotidiano.

Fernando Pessoa: reflete sobre a vida e suas experiências, instigando o leitor a refletir sobre a plenitude e o significado de cada momento.

Walt Whitman (EUA, 1819-1892): encoraja a vivência plena da vida e a apreciação da experiência humana em sua obra. Poema: Song of Myself

Mary Oliver (EUA, 1935-2019): celebra a vida e a natureza, incentivando a apreciação do presente e a vivência autêntica. Poema: The Summer Day. Oliver é fortemente influenciada pela natureza, explorando a conexão entre o ser humano e o mundo natural. Seu estilo é marcado pela simplicidade, com uma linguagem clara que transmite profundidade.

CONCLUSÃO
As trovas de Roberto Tchepelentyky representam uma intersecção rica entre a tradição poética e as inquietações contemporâneas, revelando a relevância contínua da poesia na compreensão da experiência humana. Em um mundo marcado pela velocidade das interações e pela superficialidade das relações, suas trovas ressoam com a profundidade emocional e a sabedoria que muitas vezes se perdem na correria do cotidiano.

As trovas são, em essência, uma celebração da vida em suas nuances. Elas abordam temas universais como amor, saudade, amizade, perda e as ironias do dia a dia. Cada verso serve como um espelho que reflete não apenas as alegrias e tristezas da vida, mas também as complexidades das relações humanas. Em um tempo em que a comunicação se dá predominantemente por meio de mensagens instantâneas e redes sociais, suas palavras poéticas nos lembram da importância da reflexão e da conexão emocional genuína.

Influenciado por uma rica tradição poética brasileira e pela cultura popular, Tchepelentyky incorpora uma linguagem acessível que dialoga com o leitor. Ele utiliza metáforas e trocadilhos que, embora simples à primeira vista, carregam uma profundidade significativa. Através de suas trovas, ele nos convida a reconsiderar nossas vivências, a valorizar os momentos simples e a aprender com os desafios da vida.

As temáticas que ele aborda são essenciais para o entendimento das dinâmicas sociais contemporâneas. A saudade, por exemplo, é uma emoção profundamente enraizada na cultura latina, e o trovador explora com sensibilidade, permitindo que os leitores se conectem com suas próprias experiências de perda e lembrança. O humor presente em suas trovas também desempenha um papel crucial, proporcionando alívio e uma nova perspectiva sobre as situações cotidianas que, muitas vezes, podem parecer pesadas.

Em um mundo onde a superficialidade frequentemente prevalece, as trovas de Tchepelentyky nos convidam a uma reflexão mais profunda sobre nossas relações e experiências. Elas nos lembram que, apesar das dificuldades e das ironias da vida, há beleza na simplicidade e na autenticidade. Através de sua poesia, Tchepelentyky reafirma a importância da arte como um meio de expressão e conexão, salientando que as emoções humanas são universais e atemporais.

Assim, suas trovas não são apenas um tributo à tradição poética, mas também um chamado à consciência e à apreciação das nuances da vida. Em um mundo contemporâneo que frequentemente busca a instantaneidade, suas trovas nos ensinam a valorizar o que é profundo, significativo e humano.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Francisca Júlia (Vaidade)

Estavam reunidas cinco meninas no campo, a conversar, abrigadas à sombra de uma velha árvore, onde as cigarras cantavam.

Todo o resto da campina estava inundado de sol. Fazia um calor estival.

Como eram meninas ricas, e a vaidade é para a maior parte delas a preocupação constante, falavam a respeito da beleza de cada uma.

Dizia a primeira:

— Eu sou a mais bela de vós todas, porque tenho os cabelos claros e quando o sol os ilumina dá-lhes um reflexo dourado. 

E para mostrá-los, ficou em pé de encontro ao sol, cujos raios formaram uma auréola de ouro em torno à sua cabeça.

A segunda disse:

— Não sou menos bela que tu; tenho a cútis fina e rosada como a polpa de um pêssego.

— Eu tenho as mãos encantadoras.

E assim cada qual enumerava seus encantos, fazendo-os sobressair do melhor modo possível, em vez de ocultá-los ou disfarçá-los como manda a boa educação e a modéstia.

Minhas meninas, nunca vos blasoneis de vossos encantos físicos e do vosso aspecto externo, por mais notáveis que vos pareçam, porque a beleza com que a natureza vos dotou desaparece facilmente com as moléstias que se adquirem, com os inúmeros acidentes da vida e com a idade.

Deveis ser modestas, educar o vosso espírito nas boas leituras, nos exemplos bons, nos atos nobres, que sereis mais belas ainda e a simpatia, que decorre da elevação do espírito, dará um imperecível realce aos vossos encantos.

Fonte: Francisca Júlia. Livro da infância. 1899. Disponível em Domínio Público

Recordando Velhas Canções (Madalena)

(samba/carnaval, 1951) 

Compositores: Ari Macedo e Aírton Amorim

Chorar, como eu chorei
Ninguém deve chorar
Amar, como eu amei
Ninguém deve amar

Chorava que dava pena
Por amor a Madalena
E ela, me abandonou
Diminuindo num jardim
Uma linda flor

Ela, que para mim
Era um anjo de bondade
Partiu, me deixando saudade
Eu que era feliz
Tornei-me um sofredor
Porque perdi, um grande amor

A Dor de um Amor Perdido em 'Madalena'
A música 'Madalena', é uma expressão lírica da dor e da intensidade do amor perdido. A letra revela a profundidade do sofrimento do eu-lírico, que chora e ama com uma força que considera incomparável. As frases 'Ninguém pode chorar' e 'Ninguém deve amar' sugere que o amor vivido foi tão profundo que ultrapassa os limites do que é comum ou aconselhável.

A personagem Madalena é retratada como um ser quase divino, um 'anjo salvador', indicando que o amor que o eu-lírico sentia por ela tinha um caráter de adoração e dependência. A perda desse amor é sentida como um abandono devastador, que deixa o eu-lírico à deriva, comparado a um 'barco sem timão perdido em alto mar'. Essa metáfora reforça a ideia de desorientação e desamparo que o fim de um relacionamento pode causar.

A canção, portanto, não apenas fala de amor, mas também da fragilidade humana diante da perda e da solidão. Transmite através de 'Madalena' uma emoção universal que ressoa com qualquer um que já tenha sentido a dor de um amor que se foi.