sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Francisca Júlia (Vaidade)

Estavam reunidas cinco meninas no campo, a conversar, abrigadas à sombra de uma velha árvore, onde as cigarras cantavam.

Todo o resto da campina estava inundado de sol. Fazia um calor estival.

Como eram meninas ricas, e a vaidade é para a maior parte delas a preocupação constante, falavam a respeito da beleza de cada uma.

Dizia a primeira:

— Eu sou a mais bela de vós todas, porque tenho os cabelos claros e quando o sol os ilumina dá-lhes um reflexo dourado. 

E para mostrá-los, ficou em pé de encontro ao sol, cujos raios formaram uma auréola de ouro em torno à sua cabeça.

A segunda disse:

— Não sou menos bela que tu; tenho a cútis fina e rosada como a polpa de um pêssego.

— Eu tenho as mãos encantadoras.

E assim cada qual enumerava seus encantos, fazendo-os sobressair do melhor modo possível, em vez de ocultá-los ou disfarçá-los como manda a boa educação e a modéstia.

Minhas meninas, nunca vos blasoneis de vossos encantos físicos e do vosso aspecto externo, por mais notáveis que vos pareçam, porque a beleza com que a natureza vos dotou desaparece facilmente com as moléstias que se adquirem, com os inúmeros acidentes da vida e com a idade.

Deveis ser modestas, educar o vosso espírito nas boas leituras, nos exemplos bons, nos atos nobres, que sereis mais belas ainda e a simpatia, que decorre da elevação do espírito, dará um imperecível realce aos vossos encantos.

Fonte: Francisca Júlia. Livro da infância. 1899. Disponível em Domínio Público

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