Estavam reunidas cinco meninas no campo, a conversar, abrigadas à sombra de uma velha árvore, onde as cigarras cantavam.
Todo o resto da campina estava inundado de sol. Fazia um calor estival.
Como eram meninas ricas, e a vaidade é para a maior parte delas a preocupação constante, falavam a respeito da beleza de cada uma.
Dizia a primeira:
— Eu sou a mais bela de vós todas, porque tenho os cabelos claros e quando o sol os ilumina dá-lhes um reflexo dourado.
E para mostrá-los, ficou em pé de encontro ao sol, cujos raios formaram uma auréola de ouro em torno à sua cabeça.
A segunda disse:
— Não sou menos bela que tu; tenho a cútis fina e rosada como a polpa de um pêssego.
— Eu tenho as mãos encantadoras.
E assim cada qual enumerava seus encantos, fazendo-os sobressair do melhor modo possível, em vez de ocultá-los ou disfarçá-los como manda a boa educação e a modéstia.
Minhas meninas, nunca vos blasoneis de vossos encantos físicos e do vosso aspecto externo, por mais notáveis que vos pareçam, porque a beleza com que a natureza vos dotou desaparece facilmente com as moléstias que se adquirem, com os inúmeros acidentes da vida e com a idade.
Deveis ser modestas, educar o vosso espírito nas boas leituras, nos exemplos bons, nos atos nobres, que sereis mais belas ainda e a simpatia, que decorre da elevação do espírito, dará um imperecível realce aos vossos encantos.
Fonte: Francisca Júlia. Livro da infância. 1899. Disponível em Domínio Público
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