terça-feira, 8 de outubro de 2024

José Feldman (Peripécias de um Jornalista de Fofocas)

Na redação da famosa revista de fofocas "Fuxicos e Fofocas", o clima era de agitação. O editor-chefe, um homem de bigode espesso e olhar afiado, caminhava de um lado para o outro como um tigre na jaula. Era dia de lançamento da nova edição, e o que todos esperavam era uma matéria bombástica sobre a última festa da alta sociedade.

No meio daquela confusão estava Pafúncio, o jornalista mais atrapalhado da equipe. Ele era conhecido por suas histórias engraçadas e sua habilidade inata de se meter em encrencas. Para ele, cada dia era uma nova aventura — ou desventura, dependendo do ponto de vista.

Na noite anterior, Pafúncio havia sido enviado para cobrir a festa de lançamento do novo perfume da atriz famosa, Catarina Monteiro. “Isso vai render uma capa!” gritou o editor, enquanto entregava a missão a Otávio, que balançou a cabeça, tomando um gole de café que quase lhe queimou a língua.

“Sem problemas, chefe! Vou tirar as melhores fotos!” prometeu, embora já tivesse esquecido onde havia colocado sua câmera.

Chegando ao evento, Pafúncio percebeu que, além de sua câmera, havia outras coisas que ele também havia esquecido: o nome da atriz, o endereço exato do local e, parece, toda a sua dignidade. A festa estava cheia de celebridades, e ele se sentiu um peixe fora d’água. Ele decidiu que o melhor a fazer seria se misturar à multidão e esperar que a sorte o ajudasse.

“Um brinde ao novo perfume!” anunciou Catarina, com um sorriso que poderia iluminar uma cidade inteira. As câmeras dos paparazzi dispararam, flashes iluminando o ambiente.

Pafúncio, com a mão suando, percebeu que tinha que agir rápido. “Preciso de uma foto! Preciso de uma foto!” repetia para si mesmo, enquanto tentava se aproximar da atriz.

Com um golpe de sorte, ele conseguiu um lugar na primeira fila. Mas, ao se agachar para ajustar a lente, Pafúncio se distraiu e, em um movimento desastrado, derrubou seu copo de bebida em cima do tapete. “Oh não!” ele gritou, enquanto tentava limpar a bagunça com as mãos.

Nesse momento crucial, ele se esqueceu completamente de sua câmera, que estava pendurada em seu pescoço. Ao se levantar, a câmera balançou, e antes que ele pudesse perceber, foi parar no chão, fazendo um barulho que ecoou pela sala. “Parece que alguém está com problemas!” ouviu alguém rir.

“Ah, ótimo!” pensou Pafúncio, enquanto tentava recuperar a dignidade. Mas ao olhar para o chão, percebeu que a lente estava quebrada.

“Não! Não! Não!” ele sussurrou desesperadamente. A única coisa que ele conseguiu tirar da festa era um belo retrato do seu próprio desespero.

Quando a festa terminou, Pafúncio decidiu que não podia voltar à redação de mãos vazias. “Preciso encontrar essa câmera!” pensou. Ele se lembrou de que, durante a festa, havia visto um garçom com um olhar curioso. “Ele pode ter visto alguma coisa!” Então, saiu em busca do garçom.

“Ei! Você viu uma câmera por aqui?” perguntou Pafúncio, tentando parecer confiante.

“O que é uma câmera?” respondeu o garçom, com um olhar de desprezo. “Desculpe, estou mais preocupado com os copos vazios.”

Desesperado, Pafúncio percorreu o local da festa, perguntando a todos os garçons e convidados se alguém havia visto sua câmera. O problema? Ele não conseguia se lembrar de como ela era. “Era uma câmera… grande… com uma lente… e um botão!” ele dizia, mas ninguém parecia entender.

Depois de horas de busca, Pafúncio finalmente se deu conta de que precisava de um plano B. Ele decidiu que a única solução era implorar para o editor que lhe desse outra câmera. Ao voltar à redação, ele se deparou com um olhar furioso do editor.

“O que aconteceu com a sua matéria?” o editor gritou, com os braços cruzados.

“Er… eu… perdi a câmera,” Pafúncio respondeu, sentindo-se pequeno como um grão de areia.

“Perdeu a câmera? Isso é tudo que você tem a dizer?!” o editor exclamou, quase se engasgando com sua própria indignação.

“Mas, chefe! Eu tenho uma ideia brilhante!” Pafúncio disse, tentando mudar de assunto. “E se eu fizesse uma matéria sobre a arte de perder coisas? Não é todo dia que alguém perde uma câmera na festa da Isabela Monteiro!”

O editor o olhou com uma mistura de incredulidade e raiva, mas, para surpresa de Pafúncio, ele começou a rir. “Você realmente tem um talento para arrumar encrenca, não é? Faça a matéria, mas se lembre: sem mais câmeras perdidas!”

E assim, o que começou como uma desventura desastrosa se transformou em uma crônica hilária sobre a arte de perder coisas, com Pafúncio como o protagonista de sua própria comédia. O artigo foi um sucesso, e a fama do jornalista atrapalhado cresceu na redação.

Na próxima festa, Pafúncio prometeu a si mesmo que não esqueceria a câmera. Mas, se isso acontecesse, ele sempre poderia escrever sobre “Como perder a dignidade em 10 passos”. Afinal, com ele, cada dia era uma nova aventura — ou desventura — e ele estava mais do que disposto a compartilhá-la com o mundo.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.

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