quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Gilmário Braga (E assim conheci o amor)

Eu e Helinho éramos muito amigos. Estávamos sempre juntos. Digo, éramos, porque com o passar dos anos fomos nos distanciando, assim como acontece com a maioria das pessoas. A turma na época dizia que pegava mal, e fazia gozação conosco dizendo que tínhamos um caso. Estávamos com 17 anos.

Certo dia, Helinho resolveu desabafar comigo um particular envolvendo ele e a namorada. Na ocasião ele me contou que a mãe dela implicava muito com ele, interferindo no namoro deles. Meu amigo disse-me não saber mais o que fazer para resolver aquela situação, e por isso resolveu pedir minha ajuda. Como ajudar se eu não a conhecia. Mesmo assim ele insistiu dizendo que daria um jeito de nos apresentar. Será que iria dar certo?

- De onde você tirou essa ideia, Helinho? Que a mãe da sua namorada vai me ouvir? Eu nem sequer a conheço.

- Você foi a única pessoa que me veio a mente, Paulinho. Você é um sujeito bom de lábia, é bem articulado, bom com as palavras (pausa) – Ah! Quebra essa pra mim, meu amigo!

- Claro que eu gostaria de te ajudar. Só não sei se essa ideia vai dar certo.

- Não custa nada tentar. Eu gosto demais da Íris, mas infelizmente ela vai muito pela cabeça da mãe. Eu tenho medo que ela estrague o nosso namoro.

- Eu entendo, amigo. E o marido dela? E se ele estiver lá? Eu não quero confusão para o meu lado. – e concluiu, sorrindo. – Eu estou muito novo para morrer.

- Quanto a isso você pode ficar tranquilo. Dona Vilma é viúva. E então? Você topa fazer pelo menos uma tentativa para me ajudar?

- Só vou fazer isso porque gosto muito de você, meu amigo. Só não posso garantir que terei êxito.

A data escolhida por Helinho não poderia ter sido melhor. 24 de dezembro. Estávamos no final do ano de 1977. Como todos sabem, véspera de natal. Ele me passou o endereço e ficamos de nos encontrar por lá mais ou menos as 21 hs, e logo depois iríamos para a casa da tia dele que morava em outro bairro. Segundo ele, o natal na casa da tia era muito bom. Antes disso eu tive que cumprir com a minha jornada de trabalho naquele dia e em virtude de um imprevisto ¨felizmente¨ acabei me atrasando. Depois, você vai entender o porque eu disse felizmente acabei me atrasando. Cheguei na casa de Íris um pouco exausto na tentativa de ainda encontrá-los por lá. Toquei a campainha e fui recebido supostamente pela mãe dela.

- Boa noite, senhora. Aqui é a casa da Íris? Eu sou Paulo, amigo do Helinho, namorado dela.

- Sim. Boa noite. Eu sou Vilma, mãe da Íris. Eles acabaram de sair. Você quer entrar um pouco?

Eu seria muito bobo se não aceitasse o convite para entrar. Pensei. Eu entrei e fui logo dizendo:

- Eu imaginei que eles não fossem me esperar tanto. Eu me atrasei demais. Tive um imprevisto no trabalho, peguei trânsito também. O pior é que eu não sei onde a tia do Helinho mora.

- A Íris ficou de me ligar. Eu aproveito e digo que você está aqui (pausa) – Sente-se rapaz! Descanse um pouco! Quer tomar uma água? Um suco?

- Eu aceito uma água. 

- Eu vou buscar.

Dona Vilma retirou-se lentamente em direção a cozinha e só aí que eu me dei conta da mulher que era a mãe da namorada do eu amigo. Eu estava admirado, encantado com tamanha beleza. Dona Vilma era simplesmente linda. Ela voltou com a água, sentou-se de frente para mim e cruzou as pernas. Que formosura de mulher. Eu mal conseguia disfarçar o meu encanto, meu entusiasmo de estar ali diante dela. Eu nem sei mais se gostaria de ir ao encontro dos meus amigos. Seria melhor que a Iris nem ligasse e se ligasse não perguntasse por mim. Notando minha inquietude, meus olhares, ela surpreendeu-me com uma pergunta:

- O que tanto você me olha, menino?

Aquela palavra, menino, veio para mim como se ela estivesse colocando uma enorme distância entre nós, e meio sem jeito respondi:

- Longe de mim querer ser ousado, dona Vilma. A senhora é muito bonita!

Notei que ela ficou meio sem jeito, desconcertada, e logo em seguida disse:

- Muito obrigada! Mas falando desse jeito você me deixa constrangida, Paulo.

Dona Vilma era uma mulher encantadora. Morena, pele lisa, um corpo perfeito e um par de olhos castanhos lindos  que me deixavam perdido entre eles, além de uma fala muito suave. O que fazer diante de uma viúva tão formosa na altura dos seus 35 ou 36 anos que era mais ou menos o que ela deveria ter. Conversa vai, conversa vem e eu não conseguia entrar no assunto sobre o qual teria que falar com ela.

- Você aceita uma taça de vinho? – perguntou-me solícita. – Daqui à pouco a Íris me liga, como te falei ainda pouco.

- Sim. Eu aceito. Só não sei se ainda quero me encontrar com eles.

Servimo-nos do vinho e logo em seguida o telefone tocou. Era a Iris. Ela conversou alguns minutos com a filha, fez algumas recomendações e em seguida despediram-se. Um detalhe chamou a minha atenção: Ela não mencionou a minha presença, e isso já era um ótimo sinal.

- A hora passou tão rápido que eu nem me dei conta. Já são quase 23hs. – disse ela enquanto tomava mais um pouco de vinho.

- É porque a conversa está agradável.

Parei e fiquei olhando-a por alguns instantes tentando tomar coragem e entrar no assunto envolvendo Helinho.

- O que foi, Paulo? Você ficou quieto de repente. Você quer me dizer alguma coisa?

- Quero sim. Mas estou sem coragem. Não sei se devo (pausa) – É sobre o Helinho.

Ela fez uma expressão séria e perguntou-me:

- O que você quer falar sobre aquele rapaz? Eu não aprovo o namoro deles. Acho que ele não vai fazer minha filha feliz. Mas ela insiste neste namoro. Fazer o quê?

Pela expressão e o jeito como ela falou, achei que estivesse colocado tudo a perder. Silenciei pensando em um jeito de reverter aquela situação. Naquele momento tudo o que eu mais queria era ficar com ela. Tê-la em meus braços nem que fosse somente por aquela noite. Ela continuou:

- Se você veio aqui para falar sobre ele, perdeu seu tempo. Eu não simpatizo nem um pouco com aquele rapaz. Tenho medo que ele faça a minha filha sofrer.

Mesmo correndo risco de estragar aquela noite, tentei argumentar:

- Eu acho que a senhora está enganada a respeito do Helinho. Ele é um bom sujeito. Somos amigos há anos. Posso garantir à senhora que ele é uma pessoa direita. A senhora pensa assim talvez por não conhecê-lo melhor.

- Olha aqui, Paulo. Eu sei que vocês são amigos, se gostam muito, você também é amigo de minha filha, mas eu não quero falar sobre isso com você.

Depois de ouvir essas palavras pensei: – Estava tudo perdido. Só cabia a mim naquele momento me justificar e tentar salvar aquela noite que estava mal começando:

- Desculpe-me, dona Vilma! Eu não quis ser inconveniente (pausa) – A senhora quer que eu vá embora?

- Não precisa se desculpar. Você não foi inconveniente e nem precisa ir embora. Eu só não quero falar sobre este assunto contigo. Vamos esquecer este assunto. Eu vou preparar uns petiscos para comermos e mais um pouquinho de vinho enquanto aguardamos a chegada do natal.

- Só não podemos ficar embriagados. – complementei sorrindo. 

- Com certeza! - concordou ela, servindo-me mais um pouco de vinho.

- Eu posso colocar uma música, dona Vilma?

- Fique à vontade. Só não sei se você vai gostar dos discos que temos aqui.

Apanhei alguns discos, e entre eles escolhi uma melodia que eu gostava muito. Hotel Califórnia que fazia muito sucesso na época. Em seguida a surpreendi com um convite.

- Vamos dançar!

Ela pensou por alguns segundos e respondeu logo em seguida.

- Sim. Vamos. Há tempos eu não sei o que é dançar.

Aquela foi a primeira oportunidade de abraçá-la, sentir aquele corpo, aquele cheiro. Que momento lindo! Que entrada de natal maravilhoso! Que presente! Sem dúvida um momento para nunca mais ser esquecido. Impulsionado pela melodia tentei beijá-la:

- Por favor, Paulo! Não! Ainda é muito cedo pra isso.

- Por que não? Só estamos nós dois aqui. Eu quero e sei que você também quer. Deixa acontecer! Não temos nada a perder.

Embalados pela música nos entregamos aos nossos sentimentos e desejos, e ali nasceu o nosso primeiro beijo.

- Isso não deveria ter acontecido, Paulo.

- Por que? Você não gostou? Eu amei.

Sem nenhuma resistência ela se entregou novamente em meus braços, e apanhando-a no colo fomos para o lugar mais confortável daquela casa. O quarto dela. Aquele foi o melhor natal de minha vida e tenho certeza que o dela também. Nos amamos, e passamos a noite quase toda namorando. E Assim conheci o Amor. No amanhecer do dia nos despedimos com muitos beijos e juras de amor. Eu queria passar o dia 25 com ela, mas não seria bom a Íris me encontrar por lá.

Alguns dias depois, Helinho me procurou feliz da vida para me falar sobre as mudanças repentinas da futura sogra em relação a ele. Estava tratando-o superbem e não intrometia-se mais no namoros deles. Eu fiquei feliz por eles e mais ainda por naquela noite ter conhecido o grande amor de minha vida.

No início não foi fácil assumirmos o nosso amor. Por um lado, os meus pais por causa da minha idade, e por outro, a filha dela apesar de sermos amigos. O que eu senti por Vilma quando eu a vi pela primeira vez não foi somente desejo, mas sim amor. Lutamos contra as barreiras e o preconceito, mas felizmente nosso amor venceu.

Palavras do Autor: Só com Amor venceremos todas as barreiras.

Fonte: Texto enviado por Aparecido Raimundo de Souza

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