sábado, 5 de outubro de 2024

José Feldman (O Último Passeio)

Na pequena cidade de Vila Esperança, onde as ruas eram adornadas por flores e o canto dos pássaros ecoava pela manhã, viviam dois idosos, Dona Dora e Seu Domingues. Ambos eram conhecidos por sua amizade sincera e pela companhia de seus fiéis cães: Mel, uma labradora de pelagem dourada, e Pingo, um vira-lata esperto e brincalhão.

Com o passar dos anos, a vida trouxe desafios a Dona Dora, que perdeu seu marido recentemente, e a Seu Domingues, que lutava contra a solidão e a tristeza. Em um dia nublado, enquanto caminhavam juntos com seus cães, o ar parecia pesado, como se a cidade também carregasse suas dores.

Enquanto conversavam, Mel e Pingo, em sua inocência canina, começaram a brincar. De repente, os cães correram em direção a um parque abandonado, onde uma densa neblina se formou. Curiosos, os idosos seguiram seus animais.

Ao entrarem no parque, foram surpreendidos por um cenário mágico. As árvores, cobertas de flores brilhantes que nunca tinham visto, dançavam suavemente ao vento. O ar estava impregnado de um perfume doce, e uma luz suave parecia emanar do chão.

“É como se estivéssemos em outro mundo”, disse Dona Dora, maravilhada.

“Talvez seja”, respondeu Seu Domingues, com um sorriso. “Um lugar onde podemos deixar nossas preocupações para trás.”

Enquanto exploravam, encontraram um banco antigo, coberto de musgo. Sentaram-se, e a magia do lugar começou a trabalhar. As memórias de seus amores perdidos e de suas lutas começaram a se dissipar, como a neblina ao sol. Eles riram, contaram histórias de suas juventudes e, pela primeira vez em muito tempo, sentiram-se leves.

De repente, Mel e Pingo começaram a ladrar em direção a uma árvore gigante. Ao se aproximarem, notaram que a árvore tinha uma porta entre suas raízes. A curiosidade falou mais alto, e os quatro entraram.

Dentro, encontraram um mundo de possibilidades. Havia trilhas que levavam a diversas paisagens: campos floridos, montanhas majestosas e riachos cristalinos. Cada passo que davam parecia rejuvenescê-los, e seus corações, outrora pesados, agora pulsavam de alegria.

“Olhe, Dora! Vamos escalar aquela montanha!” exclamou Seu Domingues, com o entusiasmo de um jovem.

E assim, entre risadas e corridas, os dois idosos enfrentaram a montanha, desafiando seus limites. Enquanto escalavam, seus cães os seguiam, como guardiões da felicidade recém-descoberta.

No topo, a vista era deslumbrante. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa. Dona Dora e Seu Domingues, ofegantes, sentaram-se e contemplaram a beleza ao redor. Ali, no ápice, perceberam que as dificuldades da vida eram apenas montanhas a serem superadas.

“Não importa a idade, Dora. Sempre podemos encontrar novos começos”, disse Seu Domingues, olhando nos olhos dela.

“Sim, Domingues. A vida pode ser mágica, mesmo depois de tantas tempestades”, respondeu ela, com um sorriso.

Quando decidiram voltar, a neblina do parque os envolveu novamente, e em um instante, estavam de volta à realidade. Contudo, algo havia mudado. A tristeza que os acompanhava havia se dissipado, e a amizade e a esperança floresceram em seus corações.

Dali em diante, Dona Dora e Seu Domingues continuaram a passear juntos, agora com um novo olhar sobre a vida. As memórias de sua aventura mágica os inspiraram a enfrentar os desafios do dia a dia, sempre com um sorriso, acompanhados de Mel e Pingo, que, sem saber, foram os verdadeiros guias para a superação de seus obstáculos.

E assim, na pequena Vila Esperança, a vida continuou, cheia de cores e possibilidades, mesmo para aqueles que já haviam vivido tanto.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

Estrutura do Conto acima: 

Introdução
Apresentação dos personagens: Dona Dora e Seu Domingues, dois idosos amigos.

Contexto
A vida cotidiana em Vila Esperança e os desafios enfrentados por eles.

Desenvolvimento
Os idosos caminham com seus cães, Mel e Pingo.

A atmosfera pesada da tristeza é introduzida.

Os cães levam os idosos a um parque abandonado, onde encontram uma realidade mágica.

Clímax
Descoberta do banco antigo e a transformação emocional dos personagens.

A entrada na árvore mágica, que os transporta a um mundo de novas possibilidades.

Aventura
Exploração de paisagens mágicas e superação de desafios, como a escalada de uma montanha.

Momentos de alegria e rejuvenescimento.

Conclusão
Reflexão no topo da montanha sobre a vida e a superação de obstáculos.

Retorno à realidade, mas com uma nova perspectiva.

A continuação das caminhadas e o fortalecimento da amizade.

LIÇÕES TRANSMITIDAS AO LEITOR

1. Superação de Obstáculos
A vida pode apresentar desafios difíceis, mas é possível superá-los com coragem e apoio mútuo.

2. Valorização das Relações
A amizade e o apoio entre pessoas são fundamentais para enfrentar momentos difíceis. Conexões emocionais podem trazer conforto e alegria.

3. Redescoberta da Alegria
Mesmo após perdas e tristezas, é possível redescobrir a alegria e a magia da vida, basta estar aberto a novas experiências.

4. Importância do Presente
A história enfatiza viver o momento presente e aproveitar as pequenas oportunidades de felicidade que surgem no dia a dia.

5. Transformação e Crescimento Pessoal
Através da experiência compartilhada, os personagens se transformam, mostrando que o crescimento pessoal pode ocorrer em qualquer fase da vida.

6. O Valor da Curiosidade
A curiosidade e a disposição para explorar o desconhecido podem levar a descobertas valiosas e experiências enriquecedoras.

Fonte:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024

Nenhum comentário: