quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Vereda da Poesia = 135=


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Letras

Há letras
que dizem mais
que mil
palavras:
dia D,
X da questão,
ponto G,
pingo no I, 
plano B,
hora H,
mas é o T
forma de cruz
que lembra
que somos
mortais.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A queimada é um jogo insano...
A floresta pega fogo...
E, no fim, o ser humano
é o perdedor deste jogo!
= = = = = = 

Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Webdesigner

Para o carinho de todas as artistas que fazem da
formatação a melhor e mais sublime maneira de
celebração vida, da arte e da poesia.

Em cada verso, eu me solto e transponho
Cada limite do meu próprio pensamento,
Mas se diluis a tua tinta no meu sonho,
O que eu componho. ganha forma e movimento.

É no desenho que tu fazes, que iluminas
O meu poema, dando alma ao que eu sinto
E é na luz das minhas límpidas retinas
Que nasce a cor do sentimento que te pinto.

Tu crias vida, onde a vida é restrita
À solidão de um coração solto na tela;
A tua página é mar... meu verso é vela
Riscando a tela onde a visão é mais bonita.

Possibilitas que as tintas da pintura
Escorram leves sob os olhos do leitor
Que se enternece... quando vê, com mais ternura,
Toda ternura do poeta e do pintor.

Deus dá o dom que tu transformas em talento,
Em dada página feliz, quando ele cria
Na tua alma, teu mais puro sentimento,
Emoldurando a cor da minha poesia.
= = = = = = 

Trova Premiada em Irati/PR, 2023
LUCRÉCIA WELTER 
Toledo / PR

Anel de lata e cascalho
foi o presente do amado.
– É isso, meu bem, que valho?
– Não! Te dei o anel trocado.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

O portão e o vento

 Num piscar de olhos
Distancia-se o pensamento,
Busco encontrar-te
Em cada folha do Plátano
Das minhas telas
E pétalas de rosa que guardei...
Imagino que esteja próximo à esquina
Vindo em minha direção,
Ah, meu Amor lindo...
Quase sinto, o calor dos teu abraço,
Mas, num piscar de olhos
Aos meus sonhos retorna
E o portão abre-se com o vento...
= = = = = = 

Trova Popular

Coração que a dois ama,
e que depois quer agradar,
não ande enganando os outros,
veja com quem quer ficar.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Felicidade (II)

Basta saberes que és feliz, e então
Já o serás na verdade muito menos:
Na árvore amarga da Meditação,
A sombra é triste e os frutos têm venenos.

Se és feliz e o não sabes, tens na mão
O maior bem entre os mais bens terrenos
E chegaste à suprema aspiração,
Que deslumbra os filósofos serenos.

Felicidade... Sombra que só vejo,
Longe do Pensamento e do Desejo,
Surdinando harmonias e sorrindo,

Nessa tranquilidade distraída,
Que as almas simples sentem pela Vida,
Sem mesmo perceber que estão sentindo…
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Atrás das outras não perca 
o seu juízo... cuidado! 
Boi que muito pula cerca 
volta um dia desfalcado...
= = = = = = 

Soneto de
DOMITILLA BORGES BELTRAME
São Paulo/SP

Meu sonho

Partiste, meu filho, num belo alazão
deixando-me a vida, tristonha em pedaços,
calando os meus versos e minha canção,
deixando vazios e frios meus braços...

Agora eu te busco no céu e no chão
e, em sonho parece que escuto teus passos,
e assim a saudade se faz oração
seguindo comigo, juntando cansaços...

E em meu dia a dia, vazio e tristonho,
de estradas desertas e de sol sem brilho
eu vou caminhando, atrás do meu sonho...

E, à noite, descubro, quando posso vê-las,
que tu não morreste, partiste meu filho
e, lá no infinito, cavalgas estrelas!...
= = = = = = 

Trova Humorística de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Faz seu dever sem alento:
- O que é tabu? Não sei nada.
E o pai já bem sonolento:
- Tabu vem de tabuada.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Mistério

A nossa vida em si já é um bom mistério...
Mas até onde meu juízo alcança,
Eu vejo que o sofrer, se é muito sério,
Aumenta sempre em nós a esperança!

Foi Deus que quis assim; não sem critério,
Mas só visando a nossa segurança...
Porque o Criador, mais que cautério,
Aspira a nossa bem-aventurança!

A dor tem sempre a sua utilidade,
Quer para alertar de um mal maior,
Ou tendo em vista a nossa santidade.

Por certo o sofrimento foi criado
Só pra que a gente possa ser melhor
E chegue, assim, ao céu, tão almejado!
= = = = = = 

Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Certo bispo ouve uma “história”
de um padre chamado Hilário
e grava, assim, na memória
um bom “Conto do Vigário”.
= = = = = = 

Poema de
PAULO VINHEIRO
(Paulo Vieira Pinheiro)
Monteiro Lobato/SP

Vinhas

Lá acima de aquele monte brilha
Ouro que cristalina água espalha
Sem mata, sem sentido, esconde
Tudo que os meus olhos procuram

Estronda todo o sabor em música
Oculto
Perfeito
Esquálido e escuro

Tramo tudo que o amor trama
Esbarro em tudo que te ama
Divido meus olhos com os teus
E parto de longe a buscar-te aqui
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Quem chorará no sepulcro
de quem a vida foi só?
De quem tantas vezes triste
de si mesmo teve dó?
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Poemeto de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Memórias da Saudade

Nas pálpebras pesadas
o vento pousou...
Em folhagens abafadas
sentiu o peso, sussurrou
herege, o pranto secou.
Lápides esquecidas
no amarelado passado
sentem o abafo, ressequidas.
Ouço um apelo cansado...
Um elo pagão, embaçado.
É só um velho balanço
levado pela brisa fria.
Em um breve relanço
aquela que outrora sofria
veste no espelho sua alforria.
= = = = = = 

Trova de 
SILMAR BOHRER
Caçador/SC

As nuvens escuras, densas, 
nas alturas infinitas, 
são as enormes presenças 
nestas tardinhas bonitas .
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Poema de 
VITÓRIA VITTI
Rio Claro/SP

Onde o amor morou

O amor chegou meio sem jeito
Tímido, acanhado
Fazendo mil juras de fidelidade
Se aninhou onde eu menos esperava
De mansinho, com carinho
E passou a aquecer meu coração
Com ele, esqueci de tudo
Até mesmo quem eu era
Foram momentos incríveis
Insaciáveis
Inesquecíveis
Ele fazia meu mundo ficar perfeito
Tudo era colorido, do seu jeito
Até que um dia
Ele me trouxe a notícia
De que precisava deixar sua morada
Onde eu já estava acostumada
Era a minha fonte de felicidade
Meu alimento, minha vontade
Partiu sem aceitar minhas súplicas
Nem olhou pra trás
Deixou plantado no lugar
Um sentimento de impotência
O amor foi embora
E nem mesmo eu consegui fazê-lo ficar...
= = = = = = 

Trova de
GUIDA LINHARES
Santos/SP

Da palavra costurada
com a linha da emoção,
o poeta na jornada,
liberta o seu coração!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016

Derrubada onomatopaica

Atroa o bate-bate retumbante
dos mordentes machados na madeira.
E nessa luta trágica e gigante
rolam troncos em longa choradeira.

Aqui um jequitibá soberbo! Adiante
uma velha e frondosa caneleira,
um cedro, uma peroba farfalhante,
toda a legião da flora brasileira.

O machado decepa inexorável,
nada lhe escapa à cólera maldita,
nada o detém na sanha abominável.

E há em cada tombo lástimas soturnas,
e a cada golpe toda a selva grita
pelo eco das quebradas e das furnas.
= = = = = = 

Poetrix de
DALTON LUIZ GANDIN
São José dos Pinhais/PR

Arte

Meu papel foi natura.
Agora,
eu imprimo cultura.
= = = = = = 

Poema de
ANTERO KALIK
Paris/França

Um gesto previsto apagou
o riso do dia.
Trouxe o céu,
de volta o riso
despretensioso, lunar,
o brilho ofuscou a dor
e trouxe à tona
a beleza e hálito fresco
do silêncio noturno
= = = = = = 

Trova de
MARIA LUIZA WALENDOWSKY
Brusque/SC

Iluminando meu ser
o teu sorriso comprova,
que a cada alvo amanhecer
o meu amor se renova.
= = = = = = 

Poema de
CRIS COUTO
São Bernardo do Campo/SP

Abrigo

Porque te gosto
Te quero comigo
E na tempestade
Ser seu abrigo
Porque te gosto
Te quero ter
E da tempestade
Te proteger
Quero você no meu colo
Vem descansar
E quero ser seu abrigo
Vem para ficar
Te quero dar
Todo amor e carinho
E em meus braços
Te envolver
Vem transformar
Essa água em vinho
E entre abraços
Nos aquecer
= = = = = = 

Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

A sós, na penumbra doce...
Neste agora sem depois,
é como se o mundo fosse
um mundo só de nós dois!...
= = = = = = 

Hino de 
Tremembé/SP

O belo por do sol da Mantiqueira
Manoel Costa Cabral se encantou
Da mata imaginou uma bandeira
E a nossa Tremembé ele fundou.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

Teus campos se cobriram de dourado
Nas mãos que semearam arrozais
A ordem dos trapistas do passado
Semente que não morrerá jamais.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

O nobre rio tens beijando aos pés
Murmurando feito mil madrigais
Em tributo a ti, minha Tremembé
Passarinhos gorjeiam em corais.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

Tuas igrejas de sinos tangentes
De sonoros chamamentos de paz
O labor com a fé de tua gente
Te engrandece e muito orgulho nos traz.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.

Ó Tremembé dos trapistas
Tua história nos conduz
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.
A um passado de conquistas
Terra do Senhor Bom Jesus.
= = = = = = 

Trova de 
ADILSON MAIA
Niterói/RJ

É no livro que se alcança
amais rica das escolhas,
pela futura esperança
que emana de suas folhas!
= = = = = = 

Poema de 
GISELDA CAMILO
Olinda/PE

DesEsperança

Quando tento alcançar as estrelas
E elas ficam distantes, distantes...
Quando tento enxergar delas o brilho
E elas ficam opacas, opacas, opacas...
Quando corro atrás da esperança
E ela se afasta, se afasta, se afasta...
Quando, das flores, tento sentir o perfume
E elas permanecem fechadas...
Quando quero o sorriso no rosto estampar
E ele não vem, não vem, não vem...
É quando mais preciso de você
E você por perto não está
A distância levou..
E levou o brilho das estrelas
Hoje é dia de estrela sem brilho
De flor sem perfume
De (des)esperança
Queria tanto que não fosse assim.
= = = = = = 

Trova de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Buscando nosso poente,
vamos nós dois bem juntinhos
sem deixar que envolva a gente
a solidão dos caminhos.
= = = = = = 

Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A corte do leão

Um dia, a leonina majestade,
Forte no dente e unha,
Quis saber com verdade
De que povos seu reino se compunha;
E convocou por circular firmada
Com o selo real
A vária bicharada.
Dizia o papelucho, por sinal,
Que o rei daria audiência,
E que esta, por maior magnificência,
Seria aberta ao grito
Do macaco em caretas mais perito.
O monarca entendeu,
Para ostentar grandeza entre os vassalos,
Ao seu real palácio convidá-los...
Mas que palácio o seu!

Depósito de restos da matança,
De exalações ingratas
Que obrigam o urso, mal na entrada avança,
A tapar os narizes com as patas.
O rei, vendo isto, pula
E da vida e do enjoo lhe dá cabo.
A sacudir o rabo,
O mono aplaude a ação, e em prosa chula
Tece grande louvor
À cólera dum rei tão justiceiro,
E diz que não há flor
Que vença do antro o delicado cheiro.
Sua lisonja tola
Teve por prémio a morte.
Este senhor, a quem não lhe ia à bola,
Não sabia ensinar por outra sorte.

Estava a raposa perto,
E o leão lhe pergunta em sério tom:
«Com franqueza, este cheiro é mau ou bom?»
Responde o bicho esperto:
«Pronto o vosso desejo aqui cumprirá,
Se um defluxo que tenho o consentirá.»

Os contos são úteis, de ensino são ricos:
Se acaso na corte puderes entrar,
Faz sempre o teu jogo com pau de dois bicos,
Terás a certeza de ali agradar.

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