MARIA LUÍZA WALENDOWSKI
Brusque/SC
Nunca mostres apatia
diante da luta na vida,
mas brinda com simpatia
e a inércia será vencida!
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009
Mala com alça
É da lama essa mala que retiro
para subir a encosta (como a pedra
que Sísifo ainda empurra todo dia)
numa viagem cheia de sequelas.
Não há como negar tantos espinhos
na travessia turva de mistérios
que vão-se descobrindo nos caminhos:
a mão negada, a fome, o vitupério,
o rito solidário que esquecemos
em troca a vaidade transitória.
Somos do barro e ao barro voltaremos.
A verdade do Homem e de sua Hora
vem com mala e alça, disto sabemos,
mais o peso do corpo e sua história.
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN
Minha dívida eu não nego,
mas eu não posso pagar;
e vou deixá-la no prego
até você perdoar.
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Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM
Amo
Amo os beijos da sua boca
E o enlace dos seus braços
Amo, como quem ama... Somente
Como um amor outrora ausente... Que volta
No deslace do desejo ardente
Amo o calor do corpo seu
Tudo em ti que, agora é meu
Amo o fogo que não se apaga
A fonte que encandeia
O vento que nos abrasa
Nas noites de lua cheia
Amo o tempo moroso
E o amor que, em amor se encerra
Puro, eterno... Gostoso.
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Trova de
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ
O “pulgo” ficou cismando
quando viu, pelo caminho,
sua pulga passeando
no cachorro do vizinho...
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Quando eu voltar à terra de onde vim
(Glória Marreiros in "Colar de Pérolas", p. 19)
Quando eu voltar à terra de onde vim
Não chorem que essas lágrimas não trazem
O meu olhar ao chão onde se fazem
As rosas que incendeiam um jardim.
Nem rezem, nesse já morto Latim
Ladainhas que em nada satisfazem
As pálidas lembranças em que jazem
Os restos do melhor que havia em mim.
Entreguem o meu corpo ao fogo santo
Que o limpe do pecado e do quebranto
Até que dele sobre apenas pó.
E o meu penar talvez não seja em vão
Vendo que o trigo, antes de ser pão
Primeiro há de passar por qualquer mó.
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Trova de
SELMA PATTI SPINELI
São Paulo/SP
Se é verdadeiro que é o cão
maior amigo da gente,
amigo de comilão
deve ser “cachorro quente”!
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Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
O poema da casa que não existe
Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.
Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranquilas.
Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...
Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!
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Trova de
DOMITILLA BORGES BELTRAME
Araxá/MG, 1932 – 2025, São Paulo/SP
Revejo o passado e penso,
sem surpresa e sem espanto,
que o tempo, às vezes, é o lenço
com que Deus me enxuga o pranto.
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
Após a tempestade
O vento chega e sopra muito forte
anunciando, em trovões, a tempestade,
as folhas arrancadas com vontade
revoam à mercê da injusta sorte.
Raios cortam o céu de Sul a Norte,
um prenúncio de horror, calamidade,
estrondos são ouvidos na cidade
gerando medo, caos e a própria morte.
Tristonha, a tarde se vestiu de escuro,
e a chuva desabou estrepitosa
como se castigasse o povo impuro.
A noite chega e adentra pela fresta,
céu estrelado e a lua tão formosa
e a Natureza, eu vi, estava em festa!
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Trova de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP
O espelho, em alguns instantes,
parece que ri... mas chora,
procurando traços de “antes”
na realidade de “agora”...
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Balaio de Versos de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
A mentira
Mentira tem perna curta...
diz o dito popular;
e só em quem dela se furta
devemos acreditar!
Se tu mentes, eu proponho:
não mintas! Mesmo dormindo
isto é feio, e nem em sonho
eu quero te ouvir mentindo!
A mentira só tem graça
dita pelo Pantaleão;
na verdade ela é uma traça
que corrói qualquer união!
Sabe, aquela "mentirinha"
dita..., sem má intenção?
Pois é..., como esta "coisinha"
fere o nosso coração;
e a dor por ela causada
só pode ser reparada
quando se pede perdão!
Quem planta uma "mentirinha"
no pomar do coração
mal sabe que esta "plantinha"
destrói toda plantação;
e deve logo arrancá-la
pela raiz, e queimá-la
na fogueira do perdão!
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Nosso casebre é de palha,
de pau a pique a parede.
O amor que aqui se agasalha
dorme comigo na rede!
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Soneto de
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)
Ladainhas da saudade
Vem, companheira,
encostar o silêncio de tua fronte
no meu ombro de espera
e derramar no meu peito
a maciez de teus cabelos.
Que madrugadas vazias
alongavam teus pensamentos
no caminho do silêncio?
Entendo que não digas.
A solidão,
que pintava a tristeza nos teus olhos,
também segredava em meus ouvidos
ladainhas e ladainhas de saudade.
Vem, companheira,
para o leito dos meus braços
desmentir angústias
de noites indetermináveis.
Minhas mãos
transbordam carícias
que tua inventou…
Vem, companheira,
fecha os olhos
e deixa que anoiteça.
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Trova de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP
Comprimido pelo tédio,
teu elixir foi meu mal.
És para mim, do remédio,
o efeito colateral.
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Cantiga Infantil de Roda
PASSARINHO DA LAGOA
(cateretê/toada, 1949)
É uma roda de meninas, cantando:
Passarinho da lagoa
Se tu queres avoar
Avoa, avoa
Avoa já
O biquinho pelo chão
As asinhas pelo ar
Avoa, avoa
Avoa já
Quando dizem — O biquinho pelo chão — todas se curvam, imitando o passarinho.
Quando cantam — As asinhas pelo ar — todas levantam os braços e balançam, imitando o bater das asas dos pássaros
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Resposta branda e suave
quebra da ira o furor;
palavras duras excitam
ressentimento e rancor.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Sementes de cerejas
Hoje, no fim de tarde,
Acariciei a terra
E à sombra do teu sorriso
Plantei com amor,
As sementes de cerejas,
Cerejas que colhi para você…
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Poetrix de
SILVANA GUIMARÃES
Belo Horizonte/MG
Deu bandeira
febre, dor pelo corpo afora,
a estrela que eu podia ter sido e não fui:
um tango à toa a vida inteira
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Soneto de
MÁRIO ZAMATARO
Nova Esperança/PR
Carrinheiro
Lá fora a chuva fina turva a luz
e molha o palco aberto onde se faz
da hora a velha sina que conduz
quem olha a rua incerta e o chão voraz.
Um vulto esconde o rosto em breu capuz
enquanto a chuva insiste em ser tenaz...
Avulta em mim desgosto que traduz
em pranto a chuva triste e pertinaz.
Estia enfim e o vulto se levanta
e leva o seu carrinho em contramão
na via onde um insulto o desencanta
e faz brotar nos olhos a explosão
que torna a raiva insana e a dor maior
na lágrima, na chuva e no suor.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
No instante em que é concebida,
entra na história a criança.
Negar-lhe o direito à vida
é um crime contra a esperança.
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN
Pobre flor!
Deu-ma um dia uma antiga companheira
Do tempinho feliz de adolescente;
E os meus lábios roçaram docemente
Pelas folhas da nívea feiticeira.
Como se apaga uma ilusão primeira,
Um sonho estremecido e resplendente,
Eu beijei-lhe a corola, rescendente
Inda mais que a da flor da laranjeira.
E como amava o seu formoso brilho!
Tinha-lhe quase essa afeição sagrada
Da jovem mãe ao seu primeiro filho.
Dei-lhe no seio uma pousada franca...
Mas, ai! depressa ela murchou, coitada!
Doce e mísera flor, cheirosa e branca!
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Trova de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Repare que nossa alma
rende-se sempre bem mais
por um olhar que se espalma
que por ouvir tristes ais.
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Hino de
CANELA/ RS
Canela, terra querida
Onde a gente vive mais
Possuis pinheiros frondosos
E paisagens naturais
No inverno cai branca neve
Neve de encantos mil
Nossa Suíça encantadora
A Suíça do Brasil
Deus, o criador do mundo
Escultor da natureza
Colocou-te junto ao céu
Premiou-te com a beleza
Enfeitou tua existência
E com flores deu teu nome
A cidade do turismo
A cidade das hortências
Canela, terra querida
Onde a gente vive mais
Possuis pinheiros frondosos
E paisagens naturais
No inverno cai branca neve
Neve de encantos mil
Nossa Suíça encantadora
A Suíça do Brasil
Do turista és preferida
Por tua brisa refrescante
És a terra mais querida
Num recanto exuberante
Se existe o céu na terra
Num pedaço do Rio Grande
É na mais bela cidade
Na cidade de Canela
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Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
O bom Deus, na sua ânsia
em ser justo, Ele predisse:
– Dou sorriso para a infância
o saber dou à velhice!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Restos de sonhos
Passou a juventude, a sua glória,
inconsequentes risos e paqueras.
Tudo se transformou em vãs quimeras
e a vida de euforia é só memória.
No presente as carências aceleras,
em sonhos de passadas trajetórias.
Mas, a vida em cobranças compulsórias,
deixa-te somente sonhos que veneras.
Duvidosa promessa já acolhida,
não deixa tua alma já liberta
desta lembrança triste, animicida.
Restos de sonhos e esperanças cedem
e o esquecimento nesta fresta aberta,
invade os pensamentos que se perdem.
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Trova de
MAURÍCIO NORBERTO FRIEDRICH
Porto União/SC, 1945 – 2020, Curitiba/PR
No adeus da tua partida
meu coração, infeliz,
ganhou enorme ferida
e não parou... por um triz!
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