quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Asas da Poesia * 70 *


Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Dádiva de amor
"O perfume das tuas vestes é como o perfume do Líbano."
(Ct 4.11)

Pra você, meu amor, mais este dia...
Que ele seja repleto de poesia...
Da primavera dou-lhe seu sorrir
E dos jardins, canteiros a florir.

Pra você, meu amor, todo perfume...
Da mais brilhante estrela dou-lhe o lume;
Aos seus pés, com carinho, quero por
Tudo o que vá lhe dar muito louvor.

É certo que das flores a fragrância
É menor que o aroma da elegância
De você recendendo, sem cessar,
Enchendo de perfume todo o ar.

O brilho, eu bem sei, do seu olhar
É capaz de uma estrela ofuscar;
Mas o que lhe ofereço, com ardor,
É tão-somente amor e mais amor.
= = = = = = = = =  

Trova de
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS

Esperança, este meu ego,
está sempre a te esperar!
Volta depressa, pois cego,
não sei se vai te encontrar!
= = = = = =

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Bicho-Papão

Na escuridão, um sussurro a surgir,
com olhos a brilhar, em sombras a espreitar,
Bicho-Papão, terror dos que vão dormir,
ensina as crianças a nunca se afastar.

No canto da noite suas risadas ecoam,
fazendo dos medos um jogo que entoam,
mas quem o escuta deve ter cautela,
pois sob a aparência, a dor se revela.

Um guardião disfarçado com lições a dar,
que no fundo do medo há coragem a brotar,
e ao enfrentar a sombra o temor a ceder.
Bicho-Papão, ser que ensina a viver.

Na dança da noite um espelho a refletir,
que o medo é só sombra, pronto a sucumbir.
= = = = = = 

Trova de
SWAMI VIVEKANANDA
Nazaré da Mata/PE, 1926 – 2016, Paranaguá/PR

É próprio do brasileiro
nas coisas dar um “jeitinho”.
Faz bagunça o dia inteiro
mas em casa vira “anjinho”.
= = = = = = 

Poema de
MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO
Rio de Janeiro/RJ

Excesso de Amor 

Amo o sol, amo a lua, o firmamento,
amo os montes, as serras, e arrebóis,
amo a terra, a beleza, o pensamento ...
Eu amo loucamente os rouxinóis.

Amo prados, colinas e amo os ventos,
e tudo desta vida passageira,
eu aprendi a amar os sofrimentos
e até mesmo a  vizinha faladeira ...

Amo as  flores, as  aves, as florestas,
amo  praias,  jardins, e os coqueirais,
eu amo a solidão, bem como as  festas,
também  amo o frescor dos matagais.

Amo a  sombra, o silêncio e a harmonia,
amo tudo o que traz  felicidade,
o sereno, o ciúme, a cortesia,
amo a cor, amo o amor, e amo a saudade  !

Amo o  frio da noite enluarada,
amo os  rios,  o espelho e a amplidão,
amo a vida, sem  mesmo ser amada,
porque amo ouvir a voz do coração ...

Eu amo o bem - estar da  Humanidade,
seguindo o que   me  ensina a Lei  Cristã...
Amo plantar, feliz,  na mocidade
uma esperança a mais para o amanhã  !

Amo a  noite,  amo o dia, a madrugada,
a chuva que dá  viço a  flor do agreste,
o sublime cantar da passarada,
e a vida sossegada do Nordeste...

Amo a  fonte, os desertos, os rochedos,
amo  a  areia e  amo a  espuma do oceano,
o clarão,  amo a  réstia,  amo os degredos,
e  amo as quatro estações de cada  ano ...

Amo  o  sonho, o talento, amo a pintura,
a  igreja com seu sino a repicar ...
Amo o riso depois da desventura
e  amo o  barulho ouvido à  beira - mar ...

Amo o som,  a  ternura,  amo a nobreza,
e o pranto quando fruto de emoção,
amo todo o esplendor da Natureza,
eu  amo  tudo,  enfim, sem distinção...

Amo as  nuvens com arte e com  mesuras,
quando formam no espaço um  longo véu ...
e as estrelas fazendo travessuras,
mudando de  lugar,  mesmo no céu ...

Eu  amo  os  vegetais,  toda  a  folhagem,
a  garra da  cigarra cantadeira,
as notas  musicais,  amo a  friagem
e o calor  insistente da  lareira...

Eu  amo o despertar da  simpatia,
a velhice e também a juventude,
um  semblante que vibra de alegria,
a força de vontade,  amo a  virtude !

Amo o  lirismo, a  paz,  amo a cultura,
amo o trabalho,  a  luz e a  inteligência,
amo as benesses da  literatura,
amo a  sabedoria da  Ciência ...

Eu  amo o  campo santo,  a  nostalgia,
E o lazer  no descanso após a  lida,
e fervorosamente amo poesia ...
e amando o Ser Humano ...  Eu  amo a  Vida !

Eu  amo este  Universo  imenso  e  bom
com  todo o amor  que Deus me concedeu,
pois nem toda  Mulher possui o dom
de  Amar, com  tanto excesso, assim com eu   ...
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Bem pouca alegria existe
no riso de largos traços.
- Você já viu como é triste
o olhar de certos palhaços?
= = = = = = 

Trova de
NERO DE ALMEIDA SENNA 
Jequitinhonha/MG (1874 – ????)

Muito esquisito eu acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais embaixo,
e baixos demais em cima…
= = = = = =

Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/Portugal

Um barco que nunca mais ancorou

vejo em ti a simbiose
do amor e da luz
da beleza
da valsa e do bolero
dançado
perto do vazio
é este silêncio
que me diz à consciência
que as danças
têm o brilho intenso
das almas
ó bolero ó valsa 
danças da minha infância
tenho como testemunho
o tempero do tempo
que marcou
e deixou traços
num barco que nunca mais ancorou
= = = = = = 

Trova de
SUELY BRAGA
Osório/RS

Muitas rosas só não falam...
Não nos ferem com espinhos,
 um doce perfume exalam
e nos cobrem de carinhos.
= = = = = = 

Poema de
ALBANO NEVES E SOUSA
Matozinhos/Portugal, 1921 – 1995, Salvador/Brasil

Angolano

Ser angolano é meu fado, é meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
é sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras...

A questão é de dentro, é sentimento
e nas parecenças de outras terras
longe das disputas e das guerras
encontro na distância esquecimento!
= = = = = = 

Trova de
ANTONIO MARTINS
Piranguçu/MG

Nasci pobre e, na pobreza,
desconheci a abastança...
Mas sempre tive a riqueza
de possuir a esperança.
= = = = = = 

Poema de
CÉSAR DÁVILA ANDRADE
Cuenca/Equador, 1918 – 1967, Caracas/Venezuela

    Em que lugar

    Quero que me digas; de qualquer
    modo deves dizer-me,
    indicar-me. Seguirei teu dedo, ou
    a pedra que lances
    fazendo flamejar, em ângulo teu braço.

    Além, atrás dos fornos de queimar a cal,
ou mais além ainda,
além das valas onde
se acumulam as coroas alquímicas de Urano
e o ar chia como gengibre
deve estar Aquele.

    Tens que me indicar o lugar
    ainda antes que este dia se coagule.

    Aquele deve conter o eco
envolto em si mesmo,
    como uma pedra no interior de um pêssego.

    Tens que indicar-me, Tu,
    que repousas bem mais além da Fé
e até da Matemática.

    Poderei segui-lo no ruído que passa
e se detém
subitamente
    na orelha de papel?

    Por acaso ele está nesse sítio de trevas,
sob as camas,
onde se reúnem
    todos os sapatos deste mundo?  

(Tradução de José Jeronymo Rivera)
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Distante dos teus afagos,
nesta inquieta nostalgia,
meus olhos formam dois lagos
que me afogam todo dia!
= = = = = = 

Soneto de
CESÁRIO VERDE 
Lisboa/Portugal 1855 — 1886

Manias!

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada, -
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
= = = = = = 

Trova Humorística de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

– O meu marido é carteiro;
porém bem cedo aprendeu
que, no lar, o tempo inteiro,
quem dá as cartas sou eu!
= = = = = = 

Poema de 
CRISTOVAM PAVIA
(Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho)
Lisboa/Portugal 1933 – 1968

“Na noite da minha morte”

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

 Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

 Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Sem querer quebrei o mundo,
que havia em teu coração;
mas, se o remorso dói fundo,
dói mais fundo o teu perdão!
= = = = = = 

Hino de
XEXÉU/ PE

Quem te vê, entre montes, surgindo
E teus raios tocando o véu
Não imagina que é o brio refulgente
Da estrela chamada Xexéu.

Uma pátria de berço heroico
De guerreiros, de paz e brandura
Essa luz te faz na alvorada
Como águia voando às alturas.

Meu Xexéu, no voo majestoso
Desafio não é uma quimera
Se há batalha me inscreve à luta
Que a vitória sorrindo te espera.

Elevamos a alma aos céus
Gratidão, com respeito e louvor
Que a bandeira hasteiem da paz
Da justiça, da crença, do amor.

Nossa gente feliz já na praça
Festejando emancipação
Seja sempre sagrado e suave
O teu canto de paz e união
= = = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Não me curvo ante o fracasso
nem lamento as busca mortas,
na coragem dos meus passos
trago as chaves de outras portas.
= = = = = = 

Poema de
ANA PAULA LAVADO
Angola

Nenhum Verso…

Nenhum verso fala de mim
nem do que eu penso
nem do que eu sinto
nem do que eu sou.

Na realidade,
as palavras são apenas
um jogo de letras
mais ou menos cinzelado
ao gosto de cada um.
E poucos, muito poucos
fazem delas seres vivos e humanos.

Eu não lhes dou vida.
Trabalho-as com mais ou menos nexo
ou talvez sem nexo,
porque dele não sinto falta
nem faz falta o que sou!
= = = = = = = = =  

Trova de
ADERBAL MELO
Recife/PE, 1910 – 1931

Por mais que eu viva desperto,
meu porvir não descortino;
o destino é tão incerto,
que também não tem destino.
= = = = = = = = = 

Recordando Velhas Canções
ONDE ESTARÁS 
(bolero, 1961) 
Evaldo Gouveia e Jair Amorim

Onde estarás?
Nesta hora, onde estarás
Em que coração
Qual o novo amor
Quem tu beijarás?

Pobre de mim
Sempre, sempre a me perguntar
Que carinhos tens?
Em que braços estás?
Quando voltarás?

Dizem aí
Que é inútil esperar
Que junto de ti
Alguém há de estar
Respondo que não
Sem mágoa ou rancor
Pois meu coração
Está onde estás, amor!

Dizem aí
Que é inútil esperar
Que junto de ti
Alguém há de estar
Respondo que não
Sem mágoa ou rancor
Pois meu coração
Está onde estás, amor !
= = = = = = = = = = = = = 

Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Viram cinza os verdes braços
de árvores tão bem formadas
e a terra morre aos pedaços
por onde vão as queimadas!
= = = = = = = = =

Soneto de
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Rosa Nua

Eleva-se a fragrância nectarina
nas sendas encantadas que cobiço
e, sonhador, adejo no feitiço
soprado pela mágica neblina.

Aquela rosa nua, em pleno viço,
relumbra e meus sentidos desatina,
desperta-me a serpente libertina
tomada pela ardência, em rebuliço.

Nem tento reprimir a minha fera
perante a profusão de maravilhas
deitadas no vergel porque me aflijo.

A fúria dos desejos, onde impera
a sede de te amar, implora as trilhas
que levam ao completo regozijo.
= = = = = = = = =  

Sextilha de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ 

Paisagem da minha terra,
Onde o rouxinol não canta
- Mas que importa o rouxinol?
Frio, nevoeiro da serra
Quando na manhã se levanta
Toda banhada de sol!
= = = = = = = = =  

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