quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Autor Anônimo (O professor e o anel)


Em um pequeno vilarejo vivia um velho professor, que de tão sábio, era sempre consultado pelas pessoas da região.

Uma manhã, um rapaz que fora seu aluno, vai até a casa desse sábio homem para conversar, desabafar e aconselhar-se.

- Venho aqui, professor, porque sinto-me tão pouca coisa, que não tenho forças para fazer nada. Dizem-me que não sirvo para nada, que não faço nada bem, que sou lerdo e muito idiota. Como posso melhorar? O que posso fazer para que me valorizem mais?

O professor sem olhá-lo, disse:

- Sinto muito meu jovem, mas não posso ajudar-te. Devo primeiro resolver meu próprio problema. Talvez depois.

E fazendo uma pausa falou:

- Se você ajudasse-me, eu poderia resolver este problema com mais rapidez e depois, talvez, possa ajudar-te.

- C... Claro, professor, gaguejou o jovem, mas sentiu-se outra vez desvalorizado e hesitou em ajudar seu antigo professor.

O professor tirou um anel que usava no dedo pequeno, deu ao rapaz, e disse:

- Monte no cavalo e vá até o mercado. Devo vender esse anel porque tenho que pagar uma dívida. É preciso que obtenhas pelo anel o máximo valor possível, mas não aceite menos que uma moeda de ouro. Vá e volte com a moeda o mais rápido possível.

O jovem pegou o anel e partiu.

Mal chegou ao mercado, começou a oferecer o anel aos mercadores. Eles olhavam com algum interesse, até quando o jovem dizia o quanto pretendia pelo anel. Quando o jovem mencionava uma moeda de ouro, alguns riam, outros saiam sem ao menos olhar para ele, mas só um velhinho foi amável a ponto de explicar que uma moeda de ouro era muito valiosa para comprar um anel.

Tentando ajudar o jovem, chegaram a oferecer uma moeda de prata e uma xícara de cobre, mas o jovem seguia as instruções de não aceitar menos que uma moeda de ouro e recusava as ofertas.

Depois de oferecer a joia a todos que passaram pelo mercado, abatido pelo fracasso, montou no cavalo e voltou.

O jovem desejou ter uma moeda de ouro para que ele mesmo pudesse comprar o anel, livrando assim seu professor das preocupações. Dessa forma ele poderia receber a ajuda e conselhos que tanto precisava.

Entrou na casa e disse:

- Professor, sinto muito, mas é impossível conseguir o que me pediu. Talvez pudesse conseguir 2 ou 3 moedas de prata, mas não acho que se possa enganar ninguém sobre o valor do anel.

- Importante o que disse, meu jovem... contestou sorridente. Devemos saber primeiro o valor do anel. Volte a montar no cavalo e vá até o joalheiro. Quem melhor para saber o valor exato do anel? Diga que quer vender o anel e pergunte quanto ele te dará por ele. Mas não importa o quanto ele te ofereça, não o venda... Volte aqui com meu anel.

O jovem foi até o joalheiro e deu-lhe o anel para examinar.

O joalheiro examinou o anel com uma lupa, pesou o mesmo, e disse:

- Diga ao seu professor, que se ele quiser vender agora, não posso dar mais que 58 moedas de ouro pelo anel.

- 58 MOEDAS DE OURO!!! - exclamou o jovem.

- Sim, replicou o joalheiro. Eu sei que com tempo eu poderia oferecer cerca de 70 moedas, mas se a venda é urgente...

O jovem correu emocionado à casa do professor para contar o que ocorreu.

- Sente-se - disse o professor.

Depois de ouvir tudo o que o jovem contou-lhe, falou:

- Você é como este anel, uma joia valiosa e única, e que só pode ser avaliada por um "expert". Pensava que qualquer um podia descobrir o seu verdadeiro valor?

E, dizendo isto, voltou a colocar o anel no dedo.

- Todos somos como esta joia: valiosos e únicos, e andamos por todos os mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos valorizem. Você deve acreditar em si mesmo. Sempre! Ninguém pode fazê-lo sentir-se inferior sem o seu consentimento.

Fonte:
Vários autores. Lendas para reflexão.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Aparecido Raimundo de Souza (Por conta de um cochilo...)

O URUBUGANÇAVIC entrou no ônibus lotado até os cabelos do motorista. Nessa hora, não havia nenhum assento vago. Viagem de trajeto longo, careceu de ficar um bom tempo amargando em pé seu sofrimento, até que um cidadão que ocupava uma daquelas cadeiras destinada aos idosos sinalizou que saltaria na próxima parada. 

Atrapalhando aos empurrões uns tantos “bocas abertas” em seu caminho, finalmente, por pura sorte, conseguiu se acomodar. Em face do cansaço do corpo provocado pelo trabalho árduo, onde das sete da manhã às cinco da tarde descarregava caminhões e carretas que chegavam ao supermercado, não levou muito tempo, caiu nos braços de Morfeu. 

À medida que o coletivo marchava em direção ao seu bairro, um trajeto de (quase uma hora e vinte de viagem), com pessoas subindo e se acotovelando, outras tantas descendo, sem mencionar a sinalização ao longo das vias e o problema insolúvel do trânsito caótico, Urubugançavic acabou literalmente envolvido num sono pesado. Enquanto isso, o “quarenta janelinhas”* seguia a sua rota de destino, objetivando galgar o ponto final. 

Em meio ao trajeto, de repente, dois passageiros se estranharam e começaram a discutir acaloradamente. Ao redor deste bafafá, Urubugançavic despertou de sua exaustão letárgica. Não fosse por tal imprevisto, teria certamente passado da hora aprazada de cair fora e quem sabe, somente fosse acordar no final da linha. Graças a Deus, a briga lhe servira de base para voltar à realidade do seu mundinho habitual.

Por outro lado, se não apeasse na localidade costumeira, se veria obrigado a morrer em uma nova passagem, o que implicaria em um crédito a menos em seu cartão com dias de idas e vindas contados. Três esquinas antes de deixar a condução, ele se levantou. Perto de sua comunidade, poucos gatos pingados. Pediu licença para uma jovem lindíssima sentada ao seu lado. Ela se fazia cheia de sacolas de compras.  

No tempo em que a diva concedia o pedido para que saísse do canto onde estivera acomodado, a formosa, num gesto gentil, puxou conversa.

Moça:
— Descansou?

Urubugançavic: 
— Não como queria, mas valeu...

Moça:
— Você roncou alto. Nossa, parecia uma locomotiva puxando um trem de carga desgovernado. Me desculpe... foi mal... me perdoa... meu nome é Thayssa.

Ambos riram. 

Urubugançavic explicou:
— Meu trabalho é pesado. Chega neste horário, saio do ar... prazer, eu sou o Urubugançavic...

Para Urubugançavic, a sua “parada de machimbombo”* finalmente se fez presente. Apesar do tempo escasso, trocaram nomes e telefones. Urubugançavic pressionou o botão da campainha. Se abrindo num rosto de alegria e felicidade, completou: 
— Me liga... 

A moça, encantada com o carinho que emanava da voz máscula daquele espadaúdo, deixou-se levar por uma emotividade radiante:
— Ligo sim. Tchau. Bom descanso... não vá se esquecer, meu nome é Thayssa...

Urubugançavic apeou sorrindo de felicidade. Na calçada, após acenar um adeus para a sua mais nova companheira de viagem, ao olhar para seus pés, espantou-se. Não só se espantou. Mais que isso — abalou-se, estarrecido. Meteu as duas mãos na cabeça. Começou a tremer copiosamente. Estava descalço. Enquanto ele dormia, alguém passou os cinco dedos em seu par de tênis novinhos em folha que recentemente havia ganhado de sua mãe.
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Explicações necessárias: 
*Quarenta janelinhas: um dos muitos nomes atribuídos aos transportes de passageiros. O mesmo que ônibus. 
*Parada de machimbombo: maneira diferenciada de dizer local de descida, ou ponto de descida.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Reside atualmente em Vila Velha/ES.
Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Asas da Poesia * 141 *




Haicai de
A. A. DE ASSIS 
Maringá/PR

“Bom dia, queridas" -
diz sorrindo o jardineiro 
bem cedinho às flores. 
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Poema de
FÁTIMA ROGÉRIO
Guaraci/PR

Menino de Rua

Oi, moço! Quero lhe falar.
Por que me evitas?…
Sou criança!
Teria que ser esperança
pois isto está escrito.

Não se desvie de mim.
Quero apenas conversar.
Não sei onde estão meus pais,
e ninguém quer me ajudar. 

Estou nesta calçada já faz um tempo.
Vi meu irmão morrer,
nas mãos de pessoas malvadas.
Mas eu quero viver!

Me ouça e me dê uma chance!
Me ajude a sair daqui.
O sofrimento é muito grande
e eu não tenho pra onde ir.

As pessoas me cospem e me xingam.
Os carros me jogam lama.
Eu queria, moço, uma família,
um prato de comida e uma cama.

Às vezes me oferecem drogas.
Eu não queria, mas acabo aceitando.
Ela me faz adormecer,
e minha dor se vai, aliviando.

Me ajude, moço, a sair daqui!
Por favor, eu não sou mau!
Vejo sua família feliz,
eu só queria ter uma igual.

Se me ajudar e cuidar de mim,
muito grato serei a ti
e pedirei todo dia a Papai do Céu
que cuide de você e de sua família.

Pra que nunca precisem ver 
o que é rua de verdade,
e que nunca precisem viver,
esta dolorosa realidade.

Obrigado, moço,
por me ouvir!
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Soneto de
FAUSTO GUEDES TEIXEIRA
Lamego/Alto Douro/ Portugal, 1871 – 1930, ????

Eu quero ouvir o coração falar

Eu quero ouvir o coração falar
e não os homens a falar por ele!
Enquanto a gente fala, há de parar
no peito a vida estranha que o impele.

Independente à forma de o expressar,
o sentimento existe, e ai daquele
coração triste que se julgue dar
na cerração em que a palavra o vele.

Astro no peito, é sobre a língua chaga.
Dizer uma alegria ou um tormento
é um mar em que sempre se naufraga.

Era a essência de Deus vista e atingida!
Se é a força da vida o sentimento,
fez-se a palavra pra mentir a vida.
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Poema de
OLIVER FRIGGIERI
Floriana/Malta

Uma Estrofe sem Título

Dá-me as palavras de teus olhos, a noite escreve
Uma estrofe purpúrea sobre teu bonito rosto,
Brilha o orvalho, tuas bochechas um branco universo
De onde nada dá um passo descalço sem dor,
Toca estas mãos e sente o despedaçado coração
E nota o sangue quente, o pranto solene.
Pomba, não voes distante  come de minhas mãos,
Este é o grão que não mata, água pura.
Monótono o sino que dá a hora
Para que te vás desta janela entreaberta
Por mim para ti, monótono o suspiro
Gravado como ilusão que vem e vai.
Não voes distante, e diga comigo esta oração:
“Há raios de luz de lanterna enfocados em mim,
Há uma humilde estrela que brilha só para mim,
Há uma flor selvagem que se abre em meu peito,
Há uma chama de vela vacilante só para mim.”
(tradução: José Feldman)
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Trova Popular

Todo homem que diz que sim
depois de ter dito "não";
primeiro fala o orgulho
depois fala o coração.
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Soneto de
JOSÉ DURO
Lisboa/Portugal, 1875 – 1899

Dor suprema

Onde quer que ponho os olhos contristados
– costumei-me a ver o mal em toda a parte –
não encontro nada que não vá magoar-te,
ó minh’ alma cega, irmã dos entrevados.

Sexta-feira santa cheia de cuidados,
livro d’Ezequiel. Vontade de chorar-te...
E não ter um pranto, um só, para lavar-te
das manchas do fel, filhas de mil pecados!...

Ai do que não chora porque se esqueceu
como há de chamar as lágrimas aos olhos
na hora amargurada em que precisa delas!

Mas é bem mais triste aquele que olha o céu
em busca de Deus, que o livre dos abrolhos,
e só acha a luz das pálidas estrelas...
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Poema de
MARA MELINNI
Caicó/RN

O Tempo do Amor

Às vezes a resposta que eu preciso
Não vem de uma palavra, em expressão...
Mas do calmo calor do teu sorriso
Que manda embora a dor da solidão.

Se o meu gostar não encontra o jeito certo
Ou se é preciso um jeito de existir,
Que exista um jeito de estar sempre perto
E nesse jeito eu possa te sentir.

Nenhum querer possui uma medida,
Ninguém pode gostar pela metade.
Amar é o que dá vida à própria vida...
Ou ama, ou não se ama... Esta é a verdade.

O tempo não espera na estação
E o preço, embora pague um bom lugar,
Não traz escolha a quem, sem ter razão,
Não segue atrás do trem que viu passar...

As portas do destino guardam planos
Que as chaves certas abrem, logo à frente.
E às vezes, sem ter chave ou sofrer danos,
Há portas que se abrem, simplesmente.

Por isso, a cada sol, nascendo o orvalho,
Se vão, pelas manhãs, em cada flor,
As gotas tristes, no chorar do galho,
deixando suas lágrimas de amor.

A vida é a seiva mais pura do mundo,
é o mel que adoça o sonho de quem clama...
E o tempo, embora dure um só segundo,
se faz tempo bastante a quem se ama.

Eis sim, uma viagem passageira...
Que cumpre as curvas todas de uma estrada.
E um dia, já na curva derradeira,
Se não faltou amor... Não faltou nada!
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Soneto de
ANTÔNIO BARBOSA BACELAR
Lisboa/Portugal, 1610 – 1663

A umas saudades

Saudades de meu bem, que noite e dia
a alma atormentais, se é vosso intento
acabares-me a vida com tormento,
mais lisonja será que tirania.

Mas quando me matar vossa porfia,
de morrer tenho tal contentamento,
que em me matando vosso sentimento,
me há de ressuscitar minha alegria.

Porém matai-me embora, que pretendo
satisfazer com mortes repetidas
o que à beleza sua estou devendo;

vidas me dai para tirar-me vidas,
que ao grande gosto com que as for perdendo,
serão todas as mortes bem devidas.
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Poema de
ADY XAVIER DE MORAES
Rio Verde/PR

Mulher

És bela, não porque se fez bela,
mas porque tens no íntimo
o brilho de uma estrela
que durante o dia se esconde
e, durante a noite, no infinito,
mostra tua face que resplandece.

És linda, não porque se fez linda,
mas porque a natureza preparou
para nascer e brilhar.
Tu não precisas de arranjos,
porque uma flor já nasce
com toda a beleza, tenra
e perfumada.

És perfeita, não porque te fez perfeita,
mas porque a vida deu-te de tudo.
A simplicidade de um anjo.
A inocência de uma criança.
O carisma de uma rainha
quando sorri…
sorri com os olhos,
com os lábios, com o coração.

Mostras com muita esperança,
a vontade de vencer na vida
e não sabe da virtude que tens,
por isso, és linda, és bela,
como a flor do meu jardim.
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Soneto de
PADRE BALTASAR ESTAÇO
Évora/ Portugal, 1570 – 16??

A um irmão ausente

Dividiu o amor e a sorte esquiva
em partes o sujeito em que morais;
este corpo tem preso onde faltais,
esta alma onde andais anda cativa.

Contente na prisão, mas pensativa,
porque este mal tão mal remediais,
que vós comigo lá solto vivais,
e eu sem mim e sem vós cá preso viva.

Mas lograi desse bem quanto lograis,
que eu como parte vossa o estou logrando
e sinto quanto gosto andares sentindo;

cá folgo, porque sei que lá folgais,
porque minha alma logra imaginando
o que lograr não pode possuindo.
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Soneto de
SOROR VIOLANTE DO CÉU
Lisboa/Portugal, 1602 – 1693

Vida que não acaba de acabar-se

Vida que não acaba de acabar-se,
chegando já de vós a despedir-se,
ou deixa por sentida de sentir-se,
ou pode de imortal acreditar-se.

Vida que já não chega a terminar-se,
pois chega já de vós a dividir-se,
ou procura vivendo consumir-se,
ou pretende matando eternizar-se.

O certo é, Senhor, que não fenece,
antes no que padece se reporta,
por que não se limite o que padece.

Mas, viver entre lágrimas, que importa?
Se vida que entre ausências permanece
é só vida ao pesar, ao gosto morta?
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Cantiga Infantil de Roda
FESTA DOS INSETOS 

A pulga e o percevejo
Fizeram combinação.
Fizeram serenata
Debaixo do meu colchão.

Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo

A Pulga toca flauta,
O Percevejo violão;
E o danado do Piolho
Também toca rabecão.

Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo

A Pulga mora em cima,
O Percevejo mora ao lado.
O danado do Piolho
Também tem o seu sobrado.

Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo

Lá vem dona pulga,
Vestidinha de balão,
Dando o braço ao piolho
Na entrada do salão.
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Hino de 
Catanduva/SP

Sob o sol escaldante dos trópicos,
um pioneiro chegou a esta terra;
terra crua que não prometia
um futuro de tanto esplendor.
 
 O viajante fincou a bandeira
com coragem, confiança e amor,
e o intrépido aventureiro
consagrou-se como fundador.
 
 A semente foi plantada e mudou a paisagem,
nossa terra ficou fértil, floresceu.
E a mão firme do trabalho operou mais um milagre:
fez nascer um povo forte, um povo honesto e lutador.
  
Catanduva, Cidade Feitiço!
Quem pisa teu chão não se esquece jamais.
Teu feitiço é mais que um encanto
que inspira meu canto de amor e de paz!
Teu feitiço é mais que um encanto
que inspira meu canto de amor e de paz!
= = = = = = = = =  

Poema de
ANTÓNIO FLORÊNCIO FERREIRA
Lisboa/Portugal, 1848 – 1914

1

Vês aquele enterro humilde,
sem padre, sem cruz, sem nada?
Vês aquel'outro, pomposo,
do templo a frente enlutada?

O primeiro é d'um honrado;
talvez o do outro o não seja...
Mas ambos, de igual doutrina,
são filhos da mesma igreja.

O que me admira e me assombra
é o afeto desta mãe,
que ao rico dispensa afagos
e ao pobre atira o desdém!
= = = = = = = = =  

Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

A prática do bem

Fazer o bem não implica
Ser de posses detentor,
O Divino Mestre explica
Que o maior bem é o amor!

Vamos repartir o pão
Nas pegadas de Jesus,
Passemos pra nosso irmão
Amor em troca de  Luz!

Pratica o bem sem a busca
De vantagens decorrentes,
Visto que a ganância ofusca
As ajudas aparentes!

Faz o bem sem manifesto,
Dá sem olhar para quem.
Cada qual recebe o gesto
Com o coração que tem!

Elimina a ostentação,
Vê quem tem necessidade;
Só teremos salvação
Praticando a caridade!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O porco, a cabra e o carneiro

Uma cabra, um carneiro e um porco gordo,
Juntos num carro, iam à feira. Creio
Que todo o meu leitor será de acordo
Que não davam por gosto este passeio.

O porco ia em grandíssimo berreiro
Ensurdecendo a gente que passava;
E tanto um como outro companheiro
Daquela berraria se espantava.

Diz o carreiro ao porco: «Por que gritas,
Animal inimigo da limpeza?
Por que, trombudo bruto, não imitas
Dos companheiros teus a sizudeza?

— Sisudos, dizes?!... Quer-me parecer
Que não têm a cabeça muito sã,
Porque pensam que apenas vão perder,
A cabra o leite, o companheiro a lã.

Mas eu, que sirvo só para a lambança,
Envio um terno adeus ao meu chiqueiro...
Pois cuido que à goela já me avança
O agudo facalhão do salchicheiro!»

Pensava sabiamente este cochino,
Mas para quê? pergunto eu. Se o mal é certo,
É surdo às nossas queixas o destino;
E o que menos prevê é o mais esperto.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Anderson Rocha (O poder das palavras)


Sempre num lugar onde passavam muitas pessoas, um mendigo sentava-se na calçada e ao lado colocava uma placa com os dizeres:

– Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado.

Alguns passantes o olhavam intrigados, outros o achavam doido e outros até davam-lhe dinheiro.

Todos os dias, antes de dormir, ele contava o dinheiro e notava que a cada dia a quantia era maior.

Numa bela manhã, um importante e arrojado executivo, que já o observava há algum tempo, aproximou-se e lhe disse:

- Você é muito criativo! Não gostaria de colaborar numa campanha da empresa?

- Vamos lá. Só tenho a ganhar!, respondeu o mendigo.

Após um caprichado banho e com roupas novas, foi levado para a empresa. Daí pra frente sua vida foi uma sequência de sucessos e a certo tempo ele tornou-se um dos sócios majoritários.

Numa entrevista coletiva à imprensa, ele esclareceu de como conseguira sair da mendicância para tão alta posição.

Contou ele: 

“– Bem, houve época em que eu costumava me sentar nas calçadas com uma placa ao lado, que dizia: ‘Sou um nada neste mundo! Ninguém me ajuda! Não tenho onde morar! Sou um homem fracassado e maltratado pela vida! Não consigo um mísero emprego que me renda alguns trocados! Mal consigo sobreviver!’

“As coisas iam de mal a pior quando, certa noite, achei um livro e nele atentei para um trecho que dizia: - Tudo que você fala a seu respeito vai se reforçando. Por pior que esteja a sua vida, diga que tudo vai bem. Por mais que você não goste de sua aparência, afirme-se bonito. Por mais pobre que seja você, diga a si mesmo e aos outros que você é próspero.

“Aquilo me tocou profundamente e, como nada tinha a perder, decidi trocar os dizeres da placa para: ‘Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado.’

“E a partir desse dia tudo começou a mudar, a vida me trouxe a pessoa certa para tudo que eu precisava, até que cheguei onde estou hoje. Tive apenas que entender o Poder das Palavras. O universo sempre apoiará tudo o que dissermos, escrevermos ou pensarmos a nosso respeito e isso acabará se manifestando em nossa vida como realidade. Enquanto afirmarmos que tudo vai mal, que nossa aparência é horrível, que nossos bens materiais são ínfimos, a tendência é que as coisas fiquem piores ainda, pois o Universo as reforçará. Ele materializa em nossa vida todas as nossas crenças.”

Uma repórter ironicamente questionou:

- O senhor está querendo dizer que algumas palavras escritas numa simples placa modificaram a sua vida?

Respondeu o homem, cheio de bom humor:

- Claro que não, minha ingênua amiga! Primeiro eu tive que acreditar nelas!
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Anderson Rocha é formado em administração de empresas e especialista em gestão de pessoas, comunicação e desenvolvimento de líderes. Foi consultor do programa da qualidade no Serviço Público do Governo Federal e membro do comitê Gestor e do Fórum da Qualidade do Estado do Espírito Santo. Ocupou funções de assessoria, direção, coordenação de programas, instrutoria de treinamento e facilitação de grupos. Foi docente do Senac, Sebrae, IEL, ESESP, Professor de Oratória da Faculdade de Direito de Vitória - FDV, da Pós-graduação Pitágoras e da Pós-graduação da EMESCAN. Autor de artigos publicados em diversos sites, revistas e jornais, no Brasil e exterior. Colunista e colaborador de principais sites do país, nas áreas de Gestão de Pessoas, Liderança, Administração, Vendas, Motivação, entre outros. Escritor, colunista do Jornal A Tribuna) e de diversos outros Jornais e Revistas. Criador do revolucionário método FALE BEM, que consiste no conhecimento das técnicas mais modernas e poderosas de comunicação e oratória, aplicação na prática das técnicas e obtenção por parte do treinando de retorno imediato a sua performance. Palestrante nas áreas de liderança, comunicação, atendimento e motivação, um profundo estudioso do desenvolvimento e comportamento humano

Fontes:
Metáforas.
https://andersonrocha.com.br/?13/pagina/metaforas
Imagem criada por Feldman com Microsoft Bing 

José Feldman (O Crepúsculo dos Justos)

 
A cidade roncava lá fora, um organismo indiferente feito de buzinas e pressa. Dentro das paredes que um dia abrigaram risadas fartas e jantares de fim de semana, agora reinava um silêncio pesado, quebrado apenas pelo tique-taque melancólico de um relógio de pêndulo. Ali vivia Horácio, um homem que a vida havia dobrado, mas não quebrado — pelo menos não até agora.

Horácio era a personificação da generosidade. Um homem cuja biografia poderia ser escrita com os gestos de bondade que dedicou a todos ao seu redor. Divorciado há uma década, ele investiu o restante de suas energias em amigos que ele considerava sua família estendida. Ele era o ombro para chorar, o caixa para emprestar dinheiro sem juros e o motorista do dia e da noite. Dedicação incondicional. Amor em sua forma mais pura e desinteressada.

Mas o tempo é um cobrador impiedoso. A idade é implacável, o corpo de Horácio começou a falhar antes do espírito. O caminhar virou arrastar, a memória, uma peneira fina onde os nomes recentes se perdiam, e a independência, uma miragem distante. Ele precisava de cuidados, de presença, de uma mão que o guiasse no labirinto da velhice frágil.

Foi então que a verdadeira face da "amizade" começou a se revelar, não em um ato de traição, mas no silêncio ensurdecedor da omissão.

A reunião aconteceu na sala de estar, a mesma sala onde, anos atrás, eles brindavam a aniversários e conquistas. Estavam lá Mário, o empresário a quem Horácio tirou do buraco da falência; Lúcia, cuja faculdade foi paga com um empréstimo que jamais foi cobrado; e Beto, o afilhado que Horácio ensinou a andar de bicicleta e a viver com dignidade.

A conversa começou com eufemismos, palavras polidas que tentavam mascarar a crueza do abandono.

"Horácio, pensamos muito em você", começou Mário, ajustando os óculos caros. "Você precisa de um lugar com mais estrutura, com médicos 24 horas por dia."

"Sim, um lar de idosos", completou Lúcia, olhando para as próprias unhas. "Lá tem atividades, outros velhinhos para conversar... é melhor para o seu astral."

"É o melhor para você, padrinho", Beto tentou, evitando o olhar mareado do velho.

Eles falavam de "lares" e "clínicas de repouso" com a mesma naturalidade que se fala de um resort de férias. O eufemismo era a cortina de fumaça para a verdade brutal: eles não queriam a responsabilidade. A gratidão tinha prazo de validade. As promessas de "para sempre amigos" se dissolviam diante da perspectiva de trocar fraldas, agendar médicos ou, pior, abrir mão de uma hora de sua vida ocupada para simplesmente fazer companhia a Horácio.

Horácio não discutiu. Ele apenas ouviu. E em cada palavra vazia, sentiu o peso da rejeição cair sobre seus ombros já curvados. O asilo não era uma solução de cuidado; era uma solução de descarte.

Naquela noite, sozinho em seu quarto, Horácio encarou o espelho. Não viu o homem generoso que dedicou sua vida aos outros, viu apenas um estorvo, uma bagagem que seus amigos — sua suposta família — estavam ansiosos para despachar.

O descaso é uma forma de violência silenciosa, um veneno de ação lenta. A atitude deles não apenas minou sua saúde física, mas aniquilou seu espírito. A autoestima de Horácio, que sempre se baseou em seu valor como pilar de apoio para os outros, desabou. Ele se sentiu o homem mais solitário e mal-amado do mundo.

A rejeição doeu mais do que a artrite nos joelhos ou a falha da memória. Doeu na alma. A ingratidão daqueles a quem ele amou incondicionalmente transformou seus últimos anos em um inverno perpétuo.

Ele não foi para um asilo. Foi para um depósito. Um depósito de memórias, onde o amor que ele distribuiu jazia esquecido, e onde a única companhia era a sombra da solidão, tecida pela indiferença daqueles que um dia chamou de amigos. 

A crônica da sua vida terminou não com um rugido, mas com o sussurro triste de um adeus silencioso a um mundo que ele amou, mas que se recusou a amá-lo de volta quando ele mais precisava.