sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Trovadora Homenageada: Clenir Neves Ribeiro

A patroa: “O que me pasma
é, no seu quarto, um gemido!”
- Não se assuste, é que o fantasma
tem a voz do seu marido!
A velha pensão da Inês
serve estranha refeição...
- Nunca vi tanto freguês
depois que fecha a pensão!…
A vizinha, sem alarde,
recebe uma visitinha
que chega domingo à tarde
e sai segunda à tardinha!…
Brigamos... e mesmo tensa
renovei minha proposta...
Como dói, se a indiferença
traz em silêncio a resposta!
Chega a tarde... e há nostalgia
nesta angústia desmedida...
Que importa o nascer do dia?
- Tudo é tarde em minha vida!...
Coincidência que me arrasa,
que me assusta e me espezinha...
- Meu marido chega em casa
quando chega o da vizinha!
Dei um basta à indiferença!...
- Nem tentes mais meu perdão,
pois foi na tua presença
que eu conheci solidão!…
De remédio tem mania,
mas vício... não tem nenhum!...
- Toma mil gotas por dia...
da erva "Cinquenta e um"!…
Ela grita, aliviada,
certa noite na mansão...
- O fantasma da empregada
tem a cara do patrão!…
Ele jura ter carinho...
caindo a sogra, sem pressa,
prepara, devagarinho,
a pimenta na compressa!…
Errei muito no passado,
e hoje digo, de antemão,
que para tanto pecado
talvez não haja perdão!…
Errei por não estar perto
desse amor, sereno e doce,
mas, juro, daria certo,
por mais errado que fosse!…
Está no hospício o Zequinha
e, por mais que a noiva torça
em vez de usar camisinha,
é só camisa de força!…
Este amor já está em mim,
mais que eterno, reconheço...
- Se um dia foi quase fim,
foi num outro o recomeço!…
É um detalhe, terno e doce,
que a saudade vem lembrando
- E eu sinto como se fosse
o meu passado voltando!…
Eu só o conheci agora!...
- E a fofoqueira: - Há um engano!
Ele visita a senhora,
já contei, há mais de um ano!…
Fim do amor ... eu, já cansado,
sinto a angústia de estar vendo
todo o segredo guardado
no sonho que está morrendo.
Foi minha sogra internada
no Hospício municipal...
- Pior é que, ante a danada,
qualquer maluco é normal!…
Foste embora sem razão...
- Sozinha em meu universo,
eu transformei solidão
em rima para o meu verso!…
Gastei meus sonhos sozinho...
Voltaste tarde demais...
- Tenho, agora, o teu carinho,
mas... meus sonhos... nunca mais!…
Há muita briga e baderna
no bar do casal Gusmão,
se alguém, nele, passa a perna
e alguém, nela, passa a mão!
Houve briga e zum-zum-zum
antes mesmo do casório...
- O Zé não quis ser mais um
a ter culpa no cartório!…
Malandro e da pá virada,
em casa faz o que quer...
- Quando briga com a empregada,
faz as pazes com a mulher!…
Melhora a sogra, e o Clemente
que em carinhos se desdobra,
diz que salvou a doente...
com remédio para cobra!…
Mesmo se triste e magoado,
meu sonho não acabou...
- Nosso amor, que hoje é passado,
para mim nunca passou!…
Na carta, volto a rever
lembranças, tuas e minhas...
- hoje eu só consigo ler
saudade... em todas as linhas!…
Não sei se a casa é assombrada,
mas a vizinha me pasma...
- Quando chega a madrugada,
é um entra e sai de fantasma!…
Nosso amor nasceu sagrado,
mas, com o tempo errou tanto,
que hoje chamam de pecado
o que outrora, já foi santo!…
O amor que teve importância,
passou tão perto, e eu, calada,
só pude ver a distância
de dois na mesma calçada!…
O Manoel do Bar, no beco,
pagou um mico danado...
Gritou: “Sai um vinho seco,
que o pau d’água está molhado!...”
Os sonhos, como contê-los,
se o amor, cansado, sem voz,
nem quer ouvir os apelos
que nós fizemos a nós?!
Ouço passos da sacada,
ansiosa, chego ao portão...
- E vejo, em minha calçada,
o final da solidão!…
“Pagou um mico” perfeito
a Clara, em busca de fama!
Disse à esposa do prefeito:
“eu sou a segunda dama!...”
Partiste... e em meio à lembrança
a saudade continua
pondo luzes de esperança
nos postes de minha rua!
Por mais que eu tente esconder
nosso amor, que é todo medo,
o meu olhar, sem querer,
revela o nosso segredo.
Por timidez, dei as costas
ao amor que eu sempre quis...
E a vida deu-me as respostas
às perguntas que eu não fiz!…
Que adianta fazer propostas?...
- Nem tenho mais teu abraço -,
se eu mesmo dou as respostas
às perguntas que eu te faço!…
Sei quanto errei no passado...
Paguei caro à solidão!...
E o pior preço cobrado,
foi não ter o teu perdão!…
Sem pressa, vai percebendo,
na firma, quando ele atrasa,
que o seu patrão vai fazendo
um "serão" em sua casa!…
Sou poeta do Universo,
feito de sonho e magia,
pois faço de cada verso
meu sonho de cada dia!…
Tão metida a ser Dondoca,
tinha um castigo, a Maria:
- Quando fazia fofoca,
a dentadura caia!...
Vendo a espera angustiante,
o meu relógio, sem graça,
vai mostrando o teu semblante
em cada instante que passa!…
Vendo as tristezas tão minhas
na tua ausência, a lembrança
fez da saudade, entre linhas
os meus versos de esperança!…
Voltas com outra proposta,
mas, eu, fingindo altivez,
uso o poder na resposta
e digo não, outra vez! ...

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