terça-feira, 4 de agosto de 2015

Trovador Homenageado : Augusto Astério de Campos



A Bondade é um roseiral
a florir n’alma de quem
tira os espinhos do mal
e planta as rosas do Bem.

Abrindo, em cantigas novas,
os jogos florais de ensaio,
abrem-se cachos de trovas
nessas roseiras de maio!

A Crença é tão generosa
que até os incréus, ateus,
curam-se à ação milagrosa
da medicina de Deus!

A guerra é um tremor de escolhos
que faz o mundo aluir…
A Paz, menina-dos-olhos
de uma criança a sorrir!

A pena de Rui descansa,
deixando, à Bahia, o orgulho
do Saber velado à lança
dos heróis do Dois de Julho!...

A trova que nos apraz,
iluminada em vitória,
é a chama viva do gás
do lampião da memória.

Balança o fiel da gente,
nesse oscilar inseguro,
entre o pesar do presente
e o que pesar... no futuro!...
 
Bom irmão é aquele amigo
que, numa angústia presente,
parte e reparte consigo
parte das dores da gente!...

Brinca, menino, é o teu fado,
e acende, aos olhos tristonhos,
teu balãozinho estrelado
de lanterninhas de sonhos!…

Castigo é ver, retratado,
no espelho dos desenganos,
o meu rosto retalhado
pelo chicote dos anos!...

De quanta safra, madura,
do trigal do coração,
a espiga é tão fértil, pura,
que já brotou feita em pão!…

Desta Pátria, verde ninho,
emplumado de ouro e anil,
cada Estado é um canarinho
cantando: avante Brasil!!!

É mais que perfeita, em nós,
a harmonia dos sentidos:
– enquanto solfeja a voz,
faz-se a audição dos ouvidos.

É uma edição de desgosto,
das esperanças, em fugas,
o livro aberto do rosto
todo franzido de rugas!...
 
Evoco o passado e assisto
à Santa Missa campal:
– abraçam-se a Cruz de Cristo
e a Santa Cruz de Cabral!…

Grito de amor que se espalma,
em repetida euforia,
o beijo é foguete da alma
a estrelejar de alegria!!!

Minha Mãe, um santo amor,
primeiro amor do meu peito:
– Maria, a bondade em flor,
meu segundo amor-perfeito!

Mudem-se, os ares da Terra,
num tempo firme, tenaz,
calando os trovões da guerra
em nuvens-brancas de paz!

Não me perco em passo errado,
nessas trilhas do amargor...
Vim ao mundo endereçado:
– aos cuidados do Senhor...

Não vale, a linguagem rica,
um palmo do chão que lavras:
- é a ação que frutifica!
Palavras... são só palavras!

Nas carícias das alfombras,
em caminhadas aos rés,
vão, meus pés, beijando as sombras
das pegadas dos teus pés...
 
Nesse parque, de quimera,
do coração da criança,
há sempre um lugar à espera
para o brincar da Esperança!

Nossos filhinhos ninando,
Maria a cantar, feliz,
é uma cigarra alegrando
meus sonhos primaveris!

O que nos tolhe a jornada
não são os cardos ao rés...
É a nossa sombra esmagada
pelo pisar de outros pés...

O viver é qual a vaga
ao sabor das ventanias:
– agita, eleva e se apaga
em marés de calmarias…

Pelos beijos da consorte,
numa terra Ave… Maria,
meu peito bate mais forte
que os sinos da Freguesia.

Quando o amor é amor de fé,
por estranho que pareça,
ama-se até Salomé
e não se perde a cabeça…

Quase caindo aos pedaços,
qualquer dia, que vier,
acabo morto nos braços
de u'a Maria qualquer...

Que consonante harmonia
da orquestra de passarinhos,
cantando a doce alegria
desses palanques de espinhos!...

Trago o peito estrangulado
na dor que mais me doeu,
vendo o lugar ocupado
no coração que foi meu!...

Vivo a vagar, sem roteiro…
E sinto, n´alma sofrida,
a perda do Timoneiro
do batel de minha vida.
         Augusto Astério de Campos nasceu em Cachoeira/BA a 28 de agosto de 1925. Cursou em Salvador, o ginásio Salesiano, transferindo-se em 1948 para o Rio de Janeiro, onde exerceu a função de industriário. Pertencente à família de consagrados poetas, como Jacinto de Campos, seu pai, autor de “Penumbras e Clarões”; seus tios Astério de Campos, autor de vários livros em prosa e verso; e Sabino de Campos, contista, poeta e romancista de motivos nordestinos. Irmão do poeta e trovador Onildo de Campos.
            Augusto pertence à Academia Brasileira de Trova (cadeira n. 35), foi fundador da Casa de Adelmar Tavares (ABT). Livro de trovas “Lira de sonhos” e um livro de sonetos e poemas.

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