domingo, 15 de maio de 2016

Olivaldo Júnior (Aquela lá)

A claridade do dia avançava sobre o quarto como se a convidasse para a vida. Era ela que se levantaria, tomaria banho e, quase por encanto, vestiria aquele vestido de flores, meio feliz demais para uma segunda-feira, mas, vá lá, só viveria aquela segunda-feira uma vez, então...

Pronto, abriu os olhos e, sentada ao pé da cama, passou a mão levemente nos cabelos, como se certificasse de que era ela mesma que estava ali. Sim, era ela. Bem, hoje é segunda, né?...

Levantou-se, pôs-se em frente ao espelho, escovou os dentes e, quando voltava para o quarto a fim de se vestir, lá estava ela.

- O que quer aqui? Já não me fez mal o suficiente?, disse, imperiosa, para a mulher que julgava ser a dona de sua ruína.

- Eu sempre estarei aqui, você sabe. Pode me mandar embora, eu não posso sumir..., respondeu à "preguiçosa" dona daquela casa, com jardim à beira-porta, colibris beijando flores, pardaizinhos de passagem.

- Eu preciso ir trabalhar, estou atrasada!, retrucou, áspera, à indesejável mulher sentada numa poltrona em seu quarto, onde ela, quando podia, costumava ler.

- Vou com você., calmamente falou a "penetra" à sua rival.

- Não mesmo!, decretou, impaciente, a senhora de seu quarto, a rainha de suas horas, seu Reino de Copas, recém-invadido por aquela que não queria desgrudar de seu caminho.

- Olha a bolsa, amiga!..., disse a "intrusa", só querendo ajudar.

- Um momento... Preciso me olhar no espelho!, avisou a proprietária daquele quarto, daquela cama, daquele oásis onde se refazia de sua luta diária. Lutava contra uma depressão havia meses, anos, talvez "séculos".

- É preciso mesmo isso?, indagou a "forasteira" a sua "amiga", que, ao se olhar no espelho, sem querer, deu cabo da falastrona que esvaneceu no ar qual nuvem de poeira, pó de Pirlimpimpim, restando apenas a mulher, sua segunda-feira e um espelho, interrogativamente mudo, manhãzinha, olhando-a, só.

Aquela lá, sentada na poltrona, era ela mesma. Será?! Sim, era ela.

Fontes:
O Autor

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