O Voo de Hanuman
Com um salto descomunal, Hanuman lançou-se
sobre o mar. Sabendo que o macaco era filho do vento, o oceano pediu a Mainaka,
a montanha submersa, que se erguesse bem alto e se oferecesse como um lugar de
repouso para Hanuman.
- Agradeço, mas não posso interromper o voo
– disse ele, apoiado no ar e tocando a montanha com a ponta do dedo.
Quando os deuses viram o filho do vento
varando o espaço, resolveram testar sua força e mandaram Surasa, a mãe das
serpentes, devorá-lo. No momento em que ela abriu a boca, o macaco duplicou deu
corpo. A serpente abriu a boca ainda mais e ele ficou cem vezes maior. Por fim,
quando ela escancarou a bocarra, Hanuman diminuiu de tamanho, entrou lá dentro
e tornou a sair.
- Experimentei sua esperteza e sua força –
disse Surasa – e foi para isso que os deuses me mandaram. Você será capaz de
cumprir a tarefa.
Hanuman continuou o voo.
Uma figura demoníaca, que vivia no meio do
oceano, ao ver na água os reflexos das criaturas que voavam, agarrava-lhes as
sombras e elas, assim presas, serviram de comida àquela boca voraz. Quando a
diaba pegou a sombra do macaco voador, ele se tornou bem pequeno, entrou no
corpo dela, espremeu-lhe o coração e sai pela orelha. A diaba caiu no fundo do mar
e foi devorada pelos peixes.
Chegando à cidade de Lanka, Hanuman esperou
anoitecer, pousando num rochedo. Depois, tomando a forma de um gatinho,
transpôs as muralhas da cidade. Lankini, a guardiã, percebendo sua chegada
perguntou:
- Você aí, aonde vai? Não sabe que todo
ladrão intruso é minha comida?
Hanuman lhe deu um soco tão forte que ela
vomitou sangue. Mas recuperando-se, levantou e disse que a profecia tinha se
cumprido:
- Quando você receber o soco de um macaco,
fique sabendo que está tudo acabado com a raça dos demônios – avisavam as
palavras proféticas.
Depois de atingir com um salto o palácio de
Ravana, de se meter entre os demônios-vigias, de procurar nos jardins e nos
pátios, o macaco acabou descobrindo Sita, magra, pálida e abatida, num pequeno
bosque atrás do palácio. Escondido no alto de uma árvore, Hanuman observou a
chegada de Ravana, que tentava agradar a moça, sem sucesso. Sita lhe dizia:
- Escute aqui, Dez Cabeças, pode uma flor
de lótus florir com a luz de um vaga-lume? Não temes a setas de Rama? Bandido,
você me raptou quando estava só. Não se envergonha disso?
Furioso, Ravana ordenou que as bruxas a
atormentassem. Mas uma delas resolveu ficar do lado da moça, pedindo-lhe que a
salvasse e às suas companheiras, por causa de um sonho profético que tivera. No
sonho, aparecia um macaco que incendiava a cidade e matava os demônios e as bruxas,
enquanto Ravana, nu, montado num asno, estava com todas suas dez cabeças
raspadas e seus vinte braços cortados. Sita prometeu livrá-las da morte.
E foi então que a prisioneira descobriu
Hanuman no esconderijo. Apresentando-se como criado e mensageiro de Rama, o
macaco lhe entregou o anel conforme o desejo de seu senhor.
- Posso levá-la comigo agora mas não tenho
ordens de Rama para fazê-lo. Espere mais uns dias e ele próprio virá com uma
tropa de macacos para libertá-la – explicou Hanuman.
- Mas os maçamos são pequenos e os demônios
poderosos guerreiros – respondeu-lhe Sita.
Ouvindo isso, Hanuman ficou de um tamanho
colossal, mostrando todo seu poder. Despedindo-se de Sita, partiu exibindo
aquela forma imensa e derrubando tudo que encontrava pela frente.
O Incêndio de Lanka
Os demônios, alarmados, avisaram Ravana que
um macaco gigantesco causava a maior destruição por onde passava. Exércitos
foram enviados para combatê-lo e Hanuman derrotou todos, matando um dos filhos
de Ravana. Um outro filho foi incumbido da mesma missão e depois de muita luta acorrentaram
o macaco e levaram-no à presença do Demônio de Dez Cabeças, que perguntou:
- Quem é você, de onde veio e o que quer?
- Sou Hanuman, mensageiro de Rama e vim até
aqui para descobrir onde está Sita.
Depois de conversar com seus guerreiros sobre
o que fazer com o prisioneiro, Ravana decidiu:
- Deixem-no ir embora, mas mutilem-no
primeiro. Um macaco é muito apegado à sua cauda. Amarrem nela trapos molhados
de óleo e ponham fogo. Quando o macaco sem rabo retornar à casa, trará seu
mestre de volta com ele e então veremos que poder tem esse mestre tão elogiado
– falou o demônio.
Em toda cidade não sobrou um trapo sequer,
nem uma única gota de óleo, porque Hanuman fez crescer a cauda até que ela
ficasse enorme. Quando o fogo foi ateado, o vento soprou forte e o macaco não
sentiu o calor. Desprendeu-se das correntes, saltou de palácio em palácio, de
casa em casa, até incendiar toda a cidade.
Do alto de uma colina contemplou Lanka,
destruída pelo fogo. Esfriou a cauda numa fonte e saltou até o bosque onde se
achava Sita. Esta lhe deu uma joia, que usava nos cabelos, para que entregasse
a Rama. Hanuman voou até a praia e lá estavam os ursos e macacos, à espera de notícias.
Sabendo que Sita fora encontrada, todos
voltaram para o reino. Lá chegando, prepararam o grande exercito de animais,
que acompanharia Rama no resgate de sua esposa Sita, e partiram para a guerra
contra Ravana e seus demônios.
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