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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Amilton Maciel Monteiro (Poemas Escolhidos)


METAMORFOSE

Já não suporto mais essa antipática
fatoração de xis e de mais xis...
Já foi o tempo em que a tal Matemática
roubou-me as horas e me faz feliz!

Agora, só frequento a aula prática
que o Mestre Amor me dá, sem quadro ou giz, 
sem contas, sem cadernos, nem didática, 
e a horrível extração de uma raiz...

Há plena liberdade no ambiente 
de minha encantadora nova escola, 
onde só dois alunos dão “presente”:

Um, que sou eu, não muito exemplar, 
e outro é ela, e quem me passa a cola, 
pois que, em amor, é muito bom colar!
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SONHEI DE NOVO

Sonhei de novo com você, amor;
e agora o sonho foi mais belo ainda:
você dava seus beijos numa flor
e ela ficava cada vez mais linda!

A tudo eu espreitava com ardor
e fascinado na minha berlinda;
pedia então aos céus que, por favor,
aquela cena se tornasse infinda...

Que santa inveja, ó Deus, ali sentia
da flor que recebia os beijos seus,
pois os seus beijos são os sonhos meus...

Por isto, quando nesta vida, um dia,
um beijo seu por sorte eu receber,
com a emoção, receio, eu vou morrer!
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PRESENTE DE DEUS 

Pouco me importa que ela seja torta, 
ereta ou encurvada, qual espinha; 
quer seja muito esguia, ou até baixinha, 
mas seu conjunto todo é o que me importa!

Quer nasça na floresta ou na pracinha, 
no fundo de um quintal ou mesmo em horta, 
mas que ela cresça! E nunca seja morta 
só por maldade ou cupidez mesquinha!

Com flor e fruto ou mesmo só folhagem, 
para compor o verde da paisagem, 
construindo um abrigo para as aves!

A árvore tem por si tanta beleza, 
em seus diversos tons fortes e suaves,
que é um presente de Deus à Natureza!
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ESTRO DO AMOR

A rotina do campo me faz bem, 
mas a muitos, bem sei, que até faz mal;
é que eu prefiro a calma e outros, porém, 
escolhem se esbaldar em carnaval... 

Tenho a rede que aguenta o bom vai, vem
sonolento na sombra do beiral; 
nela fico um tempão... Não há ninguém
em casa para um papo cordial...

Passam por mim os pássaros em bando, 
brancas nuvens que mudam de lugar
com lentos urubus sobrevoando...

E nesse ramerrão, não busco a lida, 
tal um jeca-tatu, sempre a esperar...
que o estro do amor me traga para a vida!
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ADEUS À CASA PATERNA

Em casa, não se via a minha mãe chorar
perante os filhos seus, em circunstância alguma, 
por mais que ela enfrentasse o que esta vida arruma
para ferir os bons, buscando aprimorar...

Assim, cravou profundamente, igual verruma, 
meu jovem coração, que quase quis parar, 
aquela solitária vez que vi rolar,
dos olhos de mamãe, gotinhas, uma a uma... 

Seu pranto foi sereno, mas tão expressivo
que a mim mil coisas disse, no silente instante; 
lições que eu conservei por esta vida afora...

Que me ensinaram ser varão, mas afetivo
e me fizeram ver quanto é feliz bastante
levar o amor dos pais quando se vai embora!
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CASA DOS POETAS

Visito sempre a casa dos poetas, 
Pois lá me sinto bem a qualquer hora; 
É onde eu sempre encontro as mais seletas
Poesias de levar tristeza embora...

Na sala principal estão completas 
As obras de imortais e os de agora... 
Há versos mil de amor, canções diletas
A um coração que de saudade chora...

Um corredor de trovas me conduz
Às redondilhas numa sala enorme, 
Com muito belas odes e poemetos...

A tudo leio e tudo me traz luz 
Para eu fugir das mágoas, bem conforme
Às lições que eu aprendo nos sonetos!
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COMO EU QUISERA! 

Meus versos são retratos de minha alma, 
traçados à mão livre e sem esmero; 
e querem refletir o desespero 
de quem, sem o seu bem, procura calma...

Resultam, raras vezes, do exagero 
de fantasias que em meu peito ensalma, 
penalizadas por saber do trauma 
que vivencio após cada entrevero...

Que só fossem de amor... Como eu quisera!
Que cantassem apenas primavera, 
sem ter inverno, dores e tristezas...

Mas nada disso existe nesta vida!
nós temos que enfrentar as incertezas, 
se almejarmos a Terra Prometida!
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BOSQUE DA POESIA 

Eu vou passear no bosque da poesia;
quem quiser vir comigo, tem carona... 
Desejo me nutrir na boemia 
do universo que cria, e jamais clona...

Lá o gorjeio das aves arrepia
a nossa pele! E a gente se emociona
ao ouvir a cigarra, em nostalgia, 
soltar seu canto triste que impressiona!

E em meio do arvoredo é certo achar
flores e frutos doces como o mel
e borboletas lindas a bailar...

Quem ama planta versos em semente
e brotos de soneto, ou de um rondel, 
para que o bosque viva eternamente!
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CARTA DE AMOR  

Amor, eu felizmente estou bem de saúde. 
Só o que me estraga aqui é a louca da saudade...
Incrível nostalgia esmaga sem piedade
meu coração dorido, embora sem virtude. 

Mas a esperança é grande como a eternidade!
Você agora vindo, eu sei que meu ser rude
melhorará bastante, o tanto que não pude
fazer tão só e só com força de vontade. 

Daqui a poucos dias as horas serão calmas 
e nunca mais aflitas, como no passado...
pois estarão bem juntas nossas duas almas. 

Com toda a fé em Deus aguardo o casamento 
Que nos trará um mundo bem-aventurado!
E, até lá, um abraço e um beijo... em pensamento.
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CHORAR DE AMOR 

Chorar de amor! Oh! quem já de uma feita
jamais chorou, tal qual uma criança
que, após um susto, chora satisfeita
junto à mamãe que afaga sua trança...

Chorar de amor! Chorar por ver desfeita
a nuvem negra da desesperança...
Deixa chorar quem hoje se deleita
por ver que o seu sofrer virou bonança. 

Chorar assim de amor só vale a pena; 
é um banho muito refrescante na alma, 
e acaba com qualquer desilusão... 

Chorar de amor! Louvemos esta cena! 
Início bom de prodigiosa calma, 
que tanto bem nos faz ao coração!
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DOCE PRISÃO

Este vaivém do mar beijando a areia
bem se assemelha à nossa vida a dois:
Também o que nos ata é uma cadeia 
que solta... e prende bem, logo depois... 

Não cansa o sangue em seu volver na veia, 
nem eu por ser cativo seu só, pois
você não é prisão que me aperreia 
como a canga que enreda os mansos bois! 

Se para ficar livre eu for deixar 
a minha praia, ou minha artéria, o quê
além de desengano irei achar?

Prefiro ser cativo nesse ambiente
a que me acostumei, tendo você...
E ser feliz assim, eternamente!
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ENERGIA ESTRANHA

Qual torrente descida da montanha
em fúria impetuosa e desatina
e que, apesar de toda a sua sanha, 
não encontra ao final uma turbina...

É triste o assistir força tamanha
perder-se no alagado da campina...
Assim ocorre com a energia estranha
que rompe do meu peito e me alucina!

Tal vigor a que dão nome de amor
e que em meu coração é muito forte, 
quer, antes de morrer, servir a alguém;

Qual a enxurrada, quer se descompor
só após ter tido em vida melhor sorte...
Mas, para tanto, falta achar com quem!
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