sexta-feira, 18 de abril de 2025

Asas da Poesia * 7 *


Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/ SP

Clausura 

Reclusa no próprio 
tempo, seu sorriso
é seu sentimento.

Ora transborda paz, um alento, 
às vezes um leve contratempo. 
Atada em utopias, é momento, 
ou somente uma página virada
levada por folhagens no vento.
= = = = = = = = =  

Poema de
CLARISSE CRISTAL
Balneário Camboriú/SC

Algaravia

Encontrei as chaves perdidas de papai
Estavam lá, estáticas e bem seguras
 Na algibeira interna
 Do meu sobretudo negro  

Agora sou eu que não me encontro mais 
Acordo pelo amanhã
E contíguo a mim
Uma angústia
Infinda
De ser uma outra pessoa
Alheia do que fui até a pouco

Desaprendi
 A compor em versos com poesia 
Desaprendi a contemplar o vago

E o vazio inquebrantável
Do noturno silêncio oblíquo
Em noite perdida no campo santo

Encontrei as outrora chaves perdidas de papai
Agora a luz do dia faina
O meu corpo oco e insípido
Inerte em duas rodas velozes

Encontrei as chaves perdidas de papai
E minha nova paixão
Surge sempre benfazeja
Ao final do expediente
= = = = = = 

Poema de
FABIANE BRAGA LIMA
Rio Claro/ SP

Alma de poeta

Meus versos se rasgaram com o tempo,
As minhas mãos calejadas sangraram,
Ao escrever infindos poemas.
Hoje sou o grito intenso das madrugadas,
Sou o silêncio árduo em forma de rimas,
Sou a alma do poeta que derrama lágrimas...
A cada lágrima, nasce uma nova poesia...!
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ ES

Amada

Que bom que acreditastes
Na minha volta, paixão
Se magoei teu coração
Perdoa, eis-me aqui
Acabou tua infelicidade
Sou tua Felicidade: 
voltei pra ficar.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Já pronta e de vela içada
tremulando de ansiedade,
vai para o mar a jangada
carregada de saudade!
= = = = = = 

Poema de
SOUSÂNDRADE
Guimarães/ MA 1833 – 1902, São Luís/ MA

Inverno 

Salve! felicidade melancólica,
Doce estação da sombra e dos amores-
Eu amo o inverno do equador brilhante!
A terra me parece mais sensível.
Aqui as virgens não se despem negras
À voz do outono desdenhoso e déspota,
Ai delas fossem irmãs, filhas dos homens!
Aqui dos montes não nos foge o trono
Dessas aves perdidas, nem do prado
Desaparece a flor. A cobra mansa,
Cor d’azougue, tardia, umbrosa e dútil,
No marfim do caminho endurecido
Serpenteia, como onda de cabelos

Da formosura no ombro. À noite a lua,
Qual minha amante d’inocente riso,
Co’a face branca assenta-se nas palmas
Da montanha estendendo os seus candores,
Mãe da poesia, solitária, errante:
O sol nem queima o céu como os desertos,
Simpáticas manhãs é sempre o dia.

Geme às canções d’aldeia apaixonadas
Mui saudoso violão: as vozes cantam
Com náutico e celeste modulado.
Chama às tácitas asas o silêncio
Ao repouso, aos amores: as torrentes
Prolongam uma saudade que medita:
Vaga contemplação descora um pouco
O adolescente e o velho: doce e triste
Eu vejo o meu sentir a natureza
Respirar do equador, selvagem bela
De olhos alados de viver, à sombra
Adormecendo d’árvore espaçosa.
= = = = = = 

Poema de 
EDITH CHACON THEODORO
São Paulo/SP

Ler

Ler.
Ler sempre.
Ler muito.
Ler “quase tudo”.
Ler com os olhos, os ouvidos, com o tato, 
pelos poros e demais sentidos.
Ler com razão e sensibilidade.
Ler desejos, o tempo, 
o som do silêncio e do vento.
Ler imagens, paisagens, viagens.
Ler verdades e mentiras.
Ler o fracasso, o sucesso, o ilegível, 
o impensável, as entrelinhas.
Ler na escola, em casa, no campo, 
na estrada, em qualquer lugar.
Ler a vida e a morte.
Saber ser leitor, 
tendo o direito de saber ler.
Ler simplesmente ler.
= = = = = = 

Hino de
INDIAROBA/ SE

Era começo do século XVIII
Catecúmenos vieram aqui se instalar
Em incursão entre os bravos silvícolas
Para a antiga "Feira da Ilha" habitar

Sobre as águas do rio que nos banha
Os imigrantes conseguiram aqui chegar
E entre os quais vieram ilustres jesuítas
Com a missão de evangelizar.

Abençoada seja Indiaroba
Recanto amado, hospitaleiro e sacrossanto
Iluminada seja Indiaroba
com a luz do Divino Espírito Santo

Disputaram os dois fortes caciques
capitães-mor: José de Oliveira Campos
e Manoel Francisco da Cruz e Lima
pela posse da Vila do Espírito Santo.

Se seria de Sergipe ou da Bahia,
foi decidido através Decreto-Lei
sendo, pois, a divisa o Rio Real da Praia
Ganhou a posse Sergipe Del-Rei!
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Não lamento o meu passado,
nem mesmo o tempo me ofende.
Viver é um aprendizado
quem mais vive mais aprende.
= = = = = = 

Poema de
RAINER MARIA RILKE
Praga/ Tchecoslováquia (1875 – 1926)

O homem que lê

Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde… em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.

E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.
= = = = = = = = =

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Poético abandono

As folhas de hera cobrem tuas paredes.
Portas, janelas e varandas,
Lembrando verdes demãos
de tintas,
Afagos a protegê-la das
intempéries...
A escada com nove degraus, ainda,
Preserva parte do mármore,
A porta principal, já sem a dourada
Maçaneta é aberta com facilidade,

E a cada passo, sinto a solidão -
Um silêncio especial espreita-me
Nos gastos tapetes, no piano
Deixado à própria sorte,
Sonhando com Debussy...
A alma da casa abandonada
Refugia-se em imagens e sons

Do passado -
Continuo minha aventura -
Caminhada, sem pressa, com o olhar
E, curiosa, abro mais uma porta,
Encontrando, janelas sem vidros
Que deixam o canto dos pássaros
Mais próximos, fazendo parte
Da linda, mas esquecida, adega
As garrafas de vinho,
Sem rótulos e rolhas
(Nuas - vazias)
Ocupam prateleiras
Como se livros fossem -
Lunetas encantadas
Intocáveis,
Umas sobre as outras
Cobertas por camadas de poeira
Lembram uma segunda pele
Imagino diálogos entre
As garrafas e as partículas de pó,
E a sonolenta cadeira, sem palhas,
A observá-las...
Ah, esse aconchego da passagem
Do tempo, tatuando objetos e sonhos -
Tempo, que tudo desgasta, esmaece,
(Enferruja)
leva os sorrisos e, aos poucos
Ávida desaparece...
Choro com ela, sinto
Na casa adormecida
Um poético abandono,
Quem sabe,
Ela despertará
Em uma futura aquarela,
Quem sabe?
= = = = = = = = =  

Quadrão à antiga de
LOURIVAL BATISTA
Itapetim/PE

O Cantador repentista, 
Em todo ponto de vista, 
Precisa ser um artista 
De fina imaginação, 
Para dar capricho à arte, 
E ter nome em toda parte, 
Honrando o grande estandarte 
Dos oito pés de Quadrão!
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Glosa de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 – 2020

Mote:
O meu verso tem o cheiro 
Da poeira do sertão.
(Manoel Dantas)

Glosa:
Nasce o sol, outra manhã 
Se espreguiça, é novo dia 
E a morte, má, se anuncia 
No canto da acauã 
Ave de agouro, malsã, 
Que canta nossa desgraça 
Sobrevoando a carcaça 
Do boi que ontem era são 
Hoje inerte jaz no chão 
No pé do seco imbuzeiro 
O meu verso tem o cheiro 
Da poeira do sertão.
= = = = = = = = =  

Quadra de
AGOSTINHO DA SILVA
Porto/Portugal, 1906 – 1994, Lisboa/Portugal

Não corro como corria,
nem salto como saltava,
mas vejo mais do que via
e  sonho mais que sonhava.
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Poema de
CELSO BRASIL
Curitiba/PR

Tu, eu e a poesia

Te amo com toda energia,
Te quero bem perto de mim,
Mas também tem a Poesia!
Eu Quero as duas, enfim!!!

Te peço... não tenhas ciúme!
Sem ela não posso te amar!
Da minha montanha, ela é o cume,
Do cume, amor te quero gritar!

Abro os braços à magia,
Entre eles, sempre estarás.
Mas se não abraço a Poesia,
A ti... como me declarar?

Poesia, minha eterna amante.
Tu, minha eterna paixão.
A Poesia me leva adiante!
E tu! levo em meu coração.

Se me deixares amá-la,
Para ti também existirei.
Mas se me apartares dela,
Sem versos, então, morrerei.

Ficarás chorando no báratro,
Quando eu tiver que me ir.
Consolar-te até o reencontro,
Sei que a Poesia há de ir.

Tu e a poesia, então, juntas
Viverão a me relembrar.
De vez em quando unidas,
Ambas se porão a chorar.

Nesse momento, querida,
Certamente, ali estarei.
Tu e a Poesia formam minha vida!
E, assim, nunca mais morrerei.
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Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

Entre o sonho e a verdade
vai vivendo, em seu juízo,
toda a nossa humanidade
seu inferno ou paraíso.
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Soneto de
CARLOS NEJAR
Porto Alegre/RS

Poemas e Sapatos

Nada tenho de meu, nem os sapatos
que vão acompanhar este defunto.
Nem tampouco montanhas e regatos
que habitaram o verso, nem o indulto

pode valer-me, o soldo, mero extrato
de contas. Nada tenho, nem o intuito
consome esta vontade ou desacato.
Desapareça o nome, seu reduto

de carne e bronze, a fome incorporada
e mais desapareça onde fecundos
são dias e são deuses nesta amada.

Não foram nunca meus — sonhos e fatos.
Nada tenho. Poemas e sapatos
irão reconhecer-me noutro mundo.
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José Feldman (A Alegria de viver sete décadas)

Nasci nos anos 50, no século passado, em um mundo que respirava esperança e transformação. A infância foi marcada por tardes ensolaradas, brincadeiras na rua e um aroma inconfundível de comida caseira que pairava no ar. Era uma época em que o tempo parecia se arrastar, mas, de certa forma, era também um tempo privilegiado, repleto de descobertas. 
 
Ser criança nas últimas quatro décadas do século passado era viver em um mundo de descobertas simples e brincadeiras ao ar livre. Nos anos 60 e 70, as ruas eram os playgrounds. Crianças jogavam bola, andavam de bicicleta e se reuniam para brincar de esconde-esconde até o sol se pôr. Os brinquedos eram feitos de plástico e madeira, e a imaginação corria solta com bonecas, carrinhos e jogos de tabuleiro.

As tardes eram preenchidas com programas de TV, mas a tela era apenas uma parte do entretenimento. A interação social era vibrante, com amigos se reunindo para aventuras, criando histórias e laços que muitas vezes duravam a vida inteira.

Hoje, na última década, a infância é marcada pela tecnologia. Tablets e smartphones tornaram-se os novos brinquedos, e as crianças muitas vezes preferem jogos virtuais a brincadeiras ao ar livre. As redes sociais estão moldando novas formas de interação, mas muitas vezes à custa da desconexão física. Embora os brinquedos modernos sejam incríveis, muitos sentem falta da simplicidade e da criatividade dos brinquedos daquela época.

Lembro-me do primeiro telefone que vi: um aparelho de disco, com um som característico quando girávamos os números. Era uma conquista para a família, uma forma de nos conectarmos com o mundo. Hoje, ao olhar para os smartphones que todos carregam, fico impressionado com a velocidade com que as informações circulam. Naquela época, uma ligação era um evento, um contato especial. Agora, trocamos mensagens em segundos, mas a magia do “disca e espera” se perdeu.

Nos anos 60, a revolução cultural começou a tomar forma. O rock'n'roll invadiu nossas vidas, e os discos de vinil giravam nas picapes, criando trilhas sonoras para nossas histórias. As festas eram regadas a música e dança, enquanto hoje os jovens têm acesso a milhares de playlists com um toque no celular. A nostalgia do vinil, com seu chiado característico e a emoção de virar o disco, é algo que não se compara à música digital, que, apesar de prática, muitas vezes carece daquela autenticidade.

Os anos 70 trouxeram mudanças ainda mais drásticas. A invenção do mimeógrafo nos permitiu democratizar a informação nas escolas e nos grupos comunitários. Ah, como era emocionante ver as folhas saindo, ainda com aquele cheiro de tinta fresca! Hoje, a impressão é instantânea, mas a sensação de ver algo feito à mão, de esperar a tinta secar, parecia conectar as pessoas de um jeito especial. Cada cópia era única, uma obra de arte coletiva.

Na década de 80, a explosão da televisão a cores trouxe novas possibilidades. Assistíamos a programas que moldaram nossa cultura, como "Praça da Alegria" e "Os Trapalhões". A televisão estava se tornando a janela para o mundo, e as conversas na sala giravam em torno do que tínhamos assistido. Agora, com o streaming, temos acesso a uma infinidade de conteúdos, mas muitas vezes perdemos a experiência compartilhada. Lembro-me das reuniões familiares em torno da TV, rindo e comentando cada cena; isso criou laços que ainda guardo com carinho.

E assim, ao longo das décadas, vivi a transição dos anos 50 até agora, atravessando dois milênios. Cada fase trouxe suas belezas e desafios. O desenvolvimento da tecnologia foi impressionante, mas o que realmente me alegra é a capacidade de adaptação. Vi o mundo se transformar, e com isso, aprendi a valorizar o que realmente importa: as conexões humanas.

Hoje, ao olhar para os jovens imersos em suas telas, sinto uma mistura de saudade e admiração. Eles navegam por um mundo que eu mal consigo imaginar, mas também me pergunto se percebem a beleza das pequenas coisas que, para nós, eram fundamentais. A simplicidade de uma conversa à mesa, o toque de uma carta escrita à mão, a espera pela chegada de um disco de vinil pelo correio.

Nos anos 60, a educação era marcada por um ensino rigidamente tradicional. As salas de aula eram organizadas em filas, e o método de ensino focava na memorização e repetição. O professor era visto como uma figura de autoridade, e a participação dos alunos era mínima. Em contraste, a educação atual valoriza a interação e a aprendizagem ativa. Hoje, há um foco maior no desenvolvimento de habilidades críticas e na inclusão, com o uso de tecnologia e metodologias inovadoras que estimulam a curiosidade e o trabalho em grupo.

Nos anos 50, a vida era marcada por papéis tradicionais. Mulheres eram, em sua maioria, donas de casa, dedicadas à família, enquanto os homens eram os provedores. O trabalho feminino fora do lar era visto como exceção, e as aspirações frequentemente limitadas às expectativas sociais. Com a revolução dos anos 60 e 70, as mulheres começaram a desafiar essas normas, ganhando voz lutando por direitos e reconhecimento. Nas últimas duas décadas, tanto mulheres quanto homens enfrentam uma nova realidade. A diversidade de papéis é mais aceita, e o diálogo sobre igualdade de gênero se intensificou. Mulheres são líderes em diversas áreas e homens se tornam mais envolvidos na vida familiar. A luta por igualdade e respeito ainda continua.

Os carros que rodavam nas ruas eram grandes e robustos, com designs icônicos e motores potentes. Os modelos clássicos eram símbolos de liberdade e aventura. Atualmente, os carros são mais eficientes, com tecnologia avançada, como sistemas de navegação, conectividade e motores híbridos. O foco tem mudado para a sustentabilidade e a segurança, refletindo as preocupações modernas.

As lanchonetes eram frequentemente lugares de encontro, com cardápios simples e pratos clássicos, como hambúrgueres e milkshakes. Eram espaços vibrantes, onde jovens se reuniam para socializar. Hoje, as lanchonetes oferecem uma diversidade impressionante de opções, incluindo comidas rápidas de várias partes do mundo, opções veganas e saudáveis, Mc Donald’s, King Burger, Donuts, etc. A experiência de comer fora evoluiu para incluir ambientes temáticos e experiências gastronômicas variadas.

O namoro tinha um caráter mais formal e conservador. As saídas eram planejadas, com o foco em jantares e danças. As interações eram mais diretas e muitas vezes supervisionadas. Atualmente, o namoro é muito mais informal e diversificado. As pessoas se conhecem através de aplicativos e redes sociais, e as dinâmicas de relacionamento são mais flexíveis, permitindo uma ampla variedade de experiências e formas de conexão.

Os parques de diversões eram lugares mágicos, com atrações simples, como carrosséis e montanhas-russas clássicas. A atmosfera era cheia de nostalgia, com jogos de feira e shows ao vivo, jogo de argolas para conseguir prêmios, algodão doce, churros, pipoca. Hoje, os parques de diversões são verdadeiros complexos de entretenimento, com tecnologia de ponta, montanhas-russas emocionantes e experiências imersivas, como simuladores e áreas temáticas. Embora as atrações modernas ofereçam uma adrenalina incrível, muitos ainda guardam boas lembranças das diversões simples de décadas passadas.

Viver era experimentar um mundo cheio de descobertas e simplicidade, enquanto hoje a vida é marcada pela tecnologia e pela diversidade. Ambas as épocas têm suas belezas e desafios, refletindo a evolução da sociedade e das relações humanas. Cada geração traz consigo suas próprias experiências, e é fascinante observar como tudo se transforma ao longo do tempo.

A alegria de ter vivido tanto é uma dádiva. Cada risada, cada lágrima, cada inovação e cada nostalgia me moldaram. E, enquanto o mundo avança, guardo em meu coração essas memórias, como um tesouro que não se pode comprar. Sou grato por ter feito parte de tantas eras, por ter testemunhado a evolução da vida e por saber que, apesar das mudanças, a essência humana permanece a mesma. E assim, sigo em frente, com um sorriso e muitas histórias para contar.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes: 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Asas da Poesia * 6 *


Poema de 
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

De novo invoco o testemunho do tempo antigo
na ilusão de despertar um sonho adormecido

O espírito paira  na atração da vertigem
vítreo olhar incidindo na profundidade resguardada
onde só a memória mergulha com exatidão

Sem o pressentir, já habitavas em mim!

Revejo-me debaixo da frondosidade da árvore 
estendido sobre um atapetado manto de fantasia
contemplando com o olhar não empoeirado
o tempo espreguiçando-se na sua vagarosa letargia

Desconhecendo que já conhecia a paz
deixava-me livremente invadir
pelos ruídos do dia em suave orquestração
sinfonia recebendo os aplausos do sentir

Sem o pressentir, já habitavas em mim!

O pensamento retinha a inocência de cada gesto
sorriso a desabrochar em doçura de pólen
ingenuidade perante o voo sôfrego das abelhas

Uma felicidade idílica tomava conta de mim
naquele recôndito esconderijo de verdura
onde o sonho abraçava a realidade com ternura

Mesmo não o pressentindo, já habitavas em mim!
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Quadra de
FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Tens um livro que não lês, 
tens uma flor que desfolhas; 
Tens um coração aos pés 
e para ele não olhas.
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Poema de
RUDYARD KIPLING
Bombain/Ìndia, 1865 – 1936, Londres/Inglaterra

Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se, encontrando a desgraça e o triunfo, conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E – o que mais – tu serás um Homem, ó meu filho!

(Tradução de Guilherme de Almeida)
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Poema de
EDUARDA CHIOTE
Bragança/ Portugal

A Infância: Esse vazio

Não é por já saber voltar as páginas do livro
ou levar a colher à boca
que distingo, do vazio, o sobressalto.
Às vezes penso que nasces das torneiras,
e então, cúmplice dessa facilidade,
ponho-me a rodopiar
como se de água em água, meu corpo de água
em água se afogasse.
Censuras fria, docemente. Não sabes, da alegria,
o lado indiscreto da tristeza,
nem o quanto afeta
a polidez que a indiferença passa.
Entre o pesadelo de
não apareceres e o receio de partires,
onde tão atroz infelicidade?
Nenhuma previsão me é possível,
só pelo naufrágio vences
a prisão de culpas e desastres.
= = = = = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Deus - pintor da natureza,
usando a tinta mais viva:
pinta o céu, de azul-turquesa
e os mares, de verde-oliva!
= = = = = = 

Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Argila

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila…

Às belezas heroicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila…

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses…
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

A vida escreve-me enredos 
com finais que eu abomino. 
Meus sonhos viram brinquedos
nas mãos cruéis do destino…
= = = = = = 

Poema de 
HILDA HILST
São Paulo/SP, 1930 – 2004, Campinas/SP

Passeio

De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
Revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim. Corpo de terra.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

Coração não tem idade
quando vive de lembrança;
se a lembrança tem saudade,
faz, da saudade, "esperança''!
= = = = = = 

Poema de
RUI KNOPFLI
Inhambane/Moçambique, 1932 – 1997, Lisboa/Portugal

Princípio do dia

Rompe-me o sono um latir de cães
na madrugada. Acordo na antemanhã
de gritos desconexos e sacudo
de mim os restos da noite
e a cinza dos cigarros fumados
na véspera.
Digo adeus à noite sem saudade,
digo bom-dia ao novo dia.
Na mesa o retrato ganha contorno,
digo-lhe bom-dia
e sei que intimamente ele responde.

 Saio para a rua
e vou dizendo bom-dia em surdina
às coisas e pessoas por que passo.

 No escritório digo bom-dia.
Dizem-me bom-dia como quem fecha
uma janela sobre o nevoeiro,
palavras ditas com a epiderme,
som dissonante, opaco, pesado muro
entre o sentir e o falar.

 E bom dia já não é mais a ponte
que eu experimentei levantar.
Calado,
sento-me à secretária, soturno, desencantado.

 (Amanhã volto a experimentar).
= = = = = = = = =  

Hino de
MARIPÁ/ PR

Terra fértil de grande cultivo
Traz riqueza e conforto sem par
Liberdade, esperança, incentivo,
Aos teus filhos com fé vais legar

A coragem dos pioneiros valentes,
Que investiram neste sertão
Este povo plantou a semente
Germinou e floriu este chão

Maripá, Maripá, sempre frente !
Teu futuro será promissor
O progresso com força crescente
A este solo trará mais valor

Cidade das orquídeas é chamada
Flores que enfeitam as avenidas
A natureza amada e respeitada
Por teu povo que cultiva a vida

Com orgulho tua gente honraremos
Ó querida e feliz Maripá
Sob as bênçãos de Deus seguiremos
A exaltar este bom Paraná

Maripá, Maripá, sempre frente !
Teu futuro será promissor
O progresso com força crescente
A este solo trará mais valor
= = = = = = 

 Poema do Folclore Brasileiro de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Pena Branca

Nas brisas do campo, um canto a soar,
Pena Branca, espírito que vem a guiar,
com plumas de luz, traz calma e amor,
protege os perdidos, alivia a dor.

Seu sussurro é doce, como a brisa a passar,
Nas trilhas da vida, um farol iluminando, 
em cada amanhecer, um novo despertar,
que ensina ao viajante a seguir caminhando.

É a voz da esperança, o eco da paz,
e no toque gentil, o conforto a chegar,
com ele, o coração se aquieta e se faz,
Pena Branca, ser que nos ajuda a amar.

Na dança do tempo, um bálsamo a trazer,
com sua presença, a alma a renascer.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Este meu andar sisudo,
que modela a caminhada
já retrata quase tudo
que a vida transforma em nada!
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Poema de 
EUGÉNIO DE ANDRADE
Fundão/ Portugal, 1923 – 2005, Porto/ Portugal

Passamos pelas coisas sem ver 

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
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Glosa de
ALFREDO DOS SANTOS MENDES
Lagos Algarve/Portugal

A rosa

QUADRA:
A rosa que tu me deste,
Peguei-lhe, mudou de cor,
Tornou-se, de azul celeste,
Como o céu do nosso amor!
João de Deus

GLOSA:
 Muitos anos já passaram.
E muitas rosas murcharam,
Menos a que me trouxeste.
Ao vê-la tão delicada,
Penso estar enfeitiçada…
A rosa que tu me deste.
 
Tenho por ela ternura.
Pois sei que a sua frescura,
Simboliza nosso amor.
Hoje a prova me foi dada,
Por estar contigo zangada,
Peguei-lhe, mudou de cor.
 
As suas folhas mirraram.
Foram caindo e ficaram,
Perdidas no chão agreste.
Desesperada chorei.
E assim que a rosa beijei,
Tornou-se, de azul celeste.
 
Foram horas de magia.
E a partir daquele dia,
Foi-se o ciúme e a dor.
E logo nesse momento,
Ficou um céu luarento,
Como o céu do nosso amor.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/ SP

MATURIDADE 

Minguaram algumas falas,
calaram-se várias lágrimas, 
sangraram fortes canduras.

Sorrisos dizem mais que palavras 
soltas levadas ao vento, absortos 
em lábios tristonhos, sem rasuras. 
Neste enleio, determino a bússola 
do tempo, em inúmeras molduras.
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