quarta-feira, 23 de abril de 2025

Asas da Poesia * 10 *


 Poema de 
Olivaldo Júnior
Mogi-Guaçu/SP

No jogo do amor

Cansado de estar só no páreo,
disputando o lugar que sonhei,
no jogo do amor, me declaro
plebeu que jamais foi um rei.

E mexo outras "peças" de mim,
mas sempre me escondo de ti,
que diz que eu me perco no fim
como se não jogasse nem aqui.

No jogo do amor, eu me dano,
sou sempre quem sai machucado,
perdido, lá no meio do campo,
com o mesmo placar naufragado.
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Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

NOSSA LÍNGUA
(para o poeta Antoniel Campos)

O doce som de mel que sai da boca
na língua da saudade e do crepúsculo
vem adoçando o mar de conchas ocas
em mansa voz domando tons maiúsculos.

É bela fiandeira em sua roca
tecendo a fala forte com seu músculo
na hora que é preciso sai da toca
como fera que sabe o tomo e o opúsculo.

Dizer e maldizer do mel ao fel
é fado de cantigas tão antigas
desde Camões, Bandeira a Antoniel,

este jovem poeta que se abriga
na língua portuguesa em verso e fala
nau de calado ao mar que não se cala.
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Trova de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Não importa a cor da pele
e nem a força dos braços;
mais vale o que nos impele
aos amorosos abraços!
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

Teus lábios…
encostados aos meus com carinho,
esperam a embriaguez da paixão
a noite que transpira emoção... 
= = = = = = = = =

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

Declaração...
Nas mãos,
Mais que flores...
Com os
Olhos da alma
Verás
Que te ofereço
meu pequeno
Coração.
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Trova de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Os meus sonhos de menino,
cheios de esperança e cores,
os leva o trem do destino,
nos trilhos, por entre flores.
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Meu irmão, vem comigo ver o mar
(Glória Marreiros, in "Terra de Ninguém", p. 33)

Meu irmão, vem comigo ver o mar
Chão e calmo em constante movimento
Berço da vida e fonte de alimento
Com espuma que é renda de um altar.

Esquece a dor de um barco a naufragar
Abandona-te às ondas e ao bom vento
Que o mar é esse líquido elemento
Que os homens trazem de volta à luz do lar,

Mãe de lendas por tantas gerações
Ó mar tu é que irmanas as nações
Nascidas pelos cantos deste mundo.

Reino do céu azul, brumas e medos
Só tu sabes os bens e os segredos
Que guardas no teu seio tão profundo.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Manhã de verão

As nuvens, que, em bulcões, sobre o rio rodavam,
Já, com o vir de manhã, do rio se levantam.
Como ontem, sob a chuva, estas águas choravam!
E hoje, saudando o sol, como estas águas cantam!

A estrela, que ficou por último velando,
Noive que espera o noivo e suspira em segredo,
Desmaia de pudor, apaga, palpitando,
A pupila amorosa, e estremece de medo.

Há pelo Paraíba um sussurro de vozes,
Tremor de seios nuns, corpos brancos luzindo...
E, alvas, a cavalgar broncos monstros ferozes,
Passam, como num sonho, as náiades fugindo.

A rosa, que acordou sob as ramas cheirosas,
Diz-me: “Acorda com um beijo as outras flores quietas!
Poeta! Deus criou as mulheres e as rosas
Para os beijos do sol e os beijos dos poetas!”

E a ave diz: “Sabes tu? Conheço-a bem... Parece
Que os Gênios de Oberon bailam pelo ar dispersos,
E que o céu se abre todo, e que a terra floresce,
- Quando ela principia a recitar teus versos!”

E diz a luz: “Conheço a cor daquela boca!
Bem conheço a maciez daquelas mãos pequenas!
Não fosse ela aos jardins roubar, trêfega e louca,
O rubor da papoula e o alvor das açucenas!”

Diz a palmeira: “Invejo-a! ao vir a luz radiante,
Vem o vento agitar-me e desnastrar-me a coma:
E eu pelo vento envio ao seu cabelo ondeante
Todo o meu esplendor e todo o meu aroma!”

E a floresta, que canta, e o sol, que abre a coroa
De ouro fulvo, espancando a matutina bruma,
E o lírio, que estremece, e o pássaro, que voa,
E a água, cheia de sons e de flocos de espuma,

Tudo, - a cor, o clarão, o perfume e o gorjeio,
Tudo, elevando a voz, nesta manhã de estio,
Diz: “Pudesses dormir, poeta! No seu seio,
Curvo como este céu, manso como este rio!”
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Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Na imensa feira da vida,
as barracas da ironia:
- a das culpas - concorrida!...
a dos remorsos - vazia...
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Soneto de
MÁRIO ZAMATARO
Curitiba/PR

Na praça

À noite o movimento anima a praça,
garotos e garotas vão além
dos olhos camuflados de vidraça...
da busca de dinheiro e de algum bem.

A grana e a droga e a lisa da cachaça
embalam todo o gozo que eles têm.
Em meio ao gozo há o peso da carcaça,
e a vida oscila à beira... do que vem.

O tempo é companheiro do perigo.
Vacilo não perdoa nem amigo.
E é breve a sensação que vem de ser.

No centro, a velha mola do poder
e, em volta, a tola senha do freguês...
Na praça, todo sonho é insensatez!
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Poetrix de
MARÍLIA BAÊTAS
Belém/PA

No mundo da lua

Vagam meus pensamentos,
flutuam qual astronauta.
Na terra, tua falta.
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Poema de
CHARLES BAUDELAIRE
Paris/França 1821 – 1867

O albatroz

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impede-o de andar.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Guarda bem isto na mente,
se a mentira te norteia:
mais cedo ou mais tarde, a gente
colhe aquilo que semeia!...
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Hino de 
CLEVELÂNDIA/ PR

Clevelândia longínquo recanto
De teus filhos precioso agasalho.
Sob o manto de um céu de turquesa
És colmeia de vida e trabalho.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Quando aurora desponta sorrindo
E os pinhais lacrimejam orvalho
Teus filhos alegres contentes
Buscam todos na vida o trabalho.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

A teus filhos que seja a harmonia
E o trabalho fecundo a divisa
Tua grandeza e progresso futuro
Desta fonte de vida precisa.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Quando ao longe te avista sorrindo
Minha alma alegre conduz
Minhas preces à mãe padroeira
Virgem Santa Senhora da Luz.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Clevelândia longínquo recanto
Deste nobre e feliz Paraná
És parcela do nosso Brasil
Mas tão bela como outra não há.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.

Quando aurora desponta sorrindo
E os pinhais lacrimejam orvalho
Tuas quinhentas casinhas de pinho
Formam tudo na vida o trabalho.

Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais

Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Tarde feliz

Em  morna tarde de sol
Cheia de tanta beleza,
Podemos observar
Encantos da natureza.

No aconchego da varanda,
Contemplo este céu azul,
No rádio tocando a banda,
O vento sopra do sul.

No jardim todo florido
Crianças correm a brincar,
De pique pega escondido.

O gato mia no muro
A coruja voa a gritar
Enquanto o ouvido eu apuro.
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Uma Lengalenga de Portugal
ARRE BURRO

(Várias versões)
 
Arre burro
De Loulé
Carregado
De água-pé
 ***
 
Arre burro
De Monção
Carregado
De requeijão
 ***
 
Arre burrinho
Arre burrinho
Sardinha assada
Com pão e vinho
 ***
 
Arre burrinho
De Nazaré
Uns a cavalo
Outros a pé
 ***
 
Arre burrinho
Para Azeitão
Que os outros
Já lá vão
Carregadinhos
De feijão
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Segunda-feira eu te amo,
terça te quero bem;
na quarta morro por ti,
quinta por mais ninguém.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Aconchego

Imóveis
A pena
E a asa da borboleta
Sonham
Com o vento…
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Trova de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR

Foi o poeta! Se chora…
Quedou da rosa o perfume
que invadiu belo anjo que ora
pro poeta e acende lume!
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Humberto de Campos (Os médicos)


Há três ou quatro anos, quando se cuidou, no Rio, da fundação da Casa do Médico, destinada a recolher, na velhice, os numerosos náufragos da profissão, Paulo Araújo e Belmiro Valverde definiram, em interessante memorial, o que é, em verdade, a vida de um apóstolo da Medicina.

Não há, realmente, na terra, profissão economicamente mais ingrata do que a de médico. O indivíduo que entra na loja de um comerciante seu amigo, paga pelo preço comum, ou com pequeno abatimento, a mercadoria de que faz aquisição. O barbeiro não faz a barba gratuitamente a ninguém. O advogado não defende causas sem remuneração, nem o ferreiro conserta de graça a ferramenta dos operários que lhe são íntimos. Ao médico, entretanto, não se faz a mesma justiça. Pelo fato de ser o seu trabalho relativamente leve, e consistir, apenas, em pôr algumas palavras sobre uma folha de papel, acham os clientes que lhes não devem pagar por tão pouco, esquecendo-se que essas palavras, isto é, essa receita, constitui o fruto de vários anos de estudo, de esforço, de experiência, em que foram consumidas diversas dezenas de contos. Porque o médico não gasta aos olhos do cliente, senão um pouco de tinta e uma tira em branco, é o seu trabalho depreciado, especialmente pelos camaradas, pelos amigos, pelos íntimos, que não fariam, jamais, o mesmo, se se tratasse de um engenheiro ou, em esfera mais baixa, de um simples engraxate. E daí o número relativamente grande de médicos que envelhecem na pobreza, e que entram, afinal, no carro escuro da Morte, pela porta de ferro da miséria.

Tomando em consideração esse abuso é que aparecem, de vez em quando, por toda a parte, as reações justas, enérgicas, inteligentes. É conhecida, por exemplo, a história daquela senhora que, pretendendo arranjar uma receita de certo médico ilustre, indagou, ao encontrá-lo:

- Doutor, que é que o senhor faz quando tem tosse?

O médico percebeu o plano e respondeu, grave:

- Tusso, minha senhora!

A reação mais pitoresca e eficaz de que há noticia foi, porém, a de que tomou a iniciativa, há dias, o notável mestre Sr. Dr. Miguel Couto. Certa senhora de fortuna, habituada a tratar-se com o ilustre clínico brasileiro por meio de receitas obtidas de surpresa, resolveu, da última vez, fazer o mesmo cercando-o em plena avenida:

- Ó doutor, como está?

- Bem, D. Veneranda; e a senhora, como tem passado?

- Eu? - acudiu a matrona atingindo o ponto a que pretendia chegar. - Eu não estou passando bem, não, doutor.

E logo, em seguida:

- Tenho sentido uma dor aqui, no peito, que responde aqui, no fígado, causando-me uma aflição enorme, que me não deixa dormir. Que é que o doutor acha que seja?

O Dr. Miguel Couto olhou para um lado e para outro na Avenida fervilhante de gente, e ordenou:

- Vamos ver isso, D. Veneranda. Dispa-se!

- Como? - estranhou a velha, recuando.

- Dispa-se, para fazer-lhe um exame, tornou o médico.

A matrona arregalou os olhos, escandalizada, e protestou:

- O senhor pensa que eu sou maluca?

E o Dr. Miguel, no mesmo tom:

- E a senhora não acha que eu tenho o meu consultório no meio da rua?

A velha eclipsou-se.
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Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba/MA (hoje Humberto de Campos) em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1934. Jornalista, político e escritor brasileiro. Aos dezessete anos muda-se para o Pará, onde começa a exercer atividade jornalística na Folha do Norte e n'A Província do Pará. Em 1910, publica seu primeiro livro de versos, intitulado "Poeira" (1.ª série), que lhe dá razoável reconhecimento. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue sua carreira jornalística e passa a ganhar destaque no meio literário da Capital Federal, angariando a amizade de escritores como Coelho Neto, Emílio de Menezes e Olavo Bilac. Trabalhou no jornal "O Imparcial", ao lado de Rui Barbosa, José Veríssimo, Vicente de Carvalho e João Ribeiro. Torna-se cada vez mais conhecido em âmbito nacional por suas crônicas, publicadas em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, inclusive sob o pseudônimo "Conselheiro XX". Em 1919 ingressa na Academia Brasileira de Letras. Em 1933, com a saúde já debilitada, Humberto de Campos publicou suas Memórias (1886-1900), na qual descreve suas lembranças dos tempos da infância e juventude. Após vários anos de enfermidade, que lhe provocou a perda quase total da visão e graves problemas no sistema urinário, Humberto de Campos faleceu no Rio de Janeiro, em 1934, aos 48 anos, por uma síncope ocorrida durante uma cirurgia. Além do Conselheiro XX, Campos usou os pseudônimos de Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. Algumas publicações são Da seara de Booz, crônicas (1918); Tonel de Diógenes, contos (1920); A serpente de bronze, contos (1921); A bacia de Pilatos, contos (1924); Pombos de Maomé, contos (1925); Antologia dos humoristas galantes (1926); O Brasil anedótico, anedotas (1927); O monstro e outros contos (1932); Poesias completas (1933); À sombra das tamareiras, contos (1934) etc.

Fontes:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Zitkala-Ša (O sapo e o menino)


As aves aquáticas sobrevoavam os lagos pantanosos. Era agora a época de caça. Homens indígenas, com arcos e flechas, vadeavam o arroz selvagem até a cintura. Perto dali, em suas tendas, as esposas assavam pato selvagem e faziam travesseiros de plumas.

Na maior tenda, estava sentada uma jovem mãe enrolando espinhos vermelhos de porco-espinho nas longas franjas de uma almofada de pele de veado. Ao lado dela, jazia um bebê de olhos pretos, arrulhando e rindo. Estendendo a mão e chutando para cima com suas pequenas mãos e pés, ele brincava com as cordas penduradas de seu pesado chapéu de contas, vazio, pendurado em um mastro da barraca acima dele.

Por fim, a mãe deixou de lado suas penas vermelhas e fios brancos. O bebê adormeceu profundamente. Apoiando-se em uma mão e sussurrando suavemente uma pequena canção de ninar, ela jogou uma capa leve sobre o bebê. Estava quase hora do retorno do marido.

Lembrando que não havia palitos de salgueiro para o fogo, ela rapidamente cingiu o cobertor bem na cintura e com um machado de cabo curto escorregou pelo cinto, ela correu em direção à ravina arborizada. Ela era forte e brandia o machado com a mesma habilidade de qualquer homem. Seu vestido largo de pele de gamo era feito para tamanha liberdade. Logo carregando facilmente um pacote longo de salgueiros nas costas, com um laço de corda sobre os dois ombros, ela veio caminhando para casa.

Perto da entrada, ela se abaixou, deslocando imediatamente o feixe para a direita e com as duas mãos levantando o laço sobre a cabeça. Tendo assim derrubado a madeira no chão, ela desapareceu pela tenda. Num momento ela saiu correndo novamente, chorando: "Meu filho! Meu filho pequeno se foi!" Seus olhos perspicazes varreram o leste e o oeste e ao redor. Não havia nenhum sinal da criança.

Correndo com os punhos cerrados até as tendas mais próximas, ela chamou: "Alguém viu meu bebê? Ele se foi! Meu filhinho se foi!"

"Hinnu! Hinnu!" exclamaram as mulheres, levantando-se e correndo fora de suas cabanas.

"Não vimos seu filho! O que aconteceu?" interrogaram as mulheres.

Com grandes lágrimas nos olhos a mãe contou sua história.

"Nós procuraremos com você", disseram a ela quando ela começou a andar.

Elas encontraram os maridos que retornavam, que se viraram e se juntaram para caçar a criança desaparecida. Ao longo da margem dos lagos, entre os juncos crescidos, pareciam em vão. Ele não estava em lugar nenhum. Depois de muitos dias e noites a busca foi abandonada. Foi triste, de fato, ouvir a mãe chorando em voz alta por seu filho pequeno.

Estava crescendo o final do outono. Os pássaros voavam alto em direção ao sul. As tendas ao redor dos lagos desapareceram, exceto uma tenda solitária.

Até que a neve do inverno cobrisse o solo e o gelo cobrisse os lagos, a voz da mulher lamentando foi ouvida daquele tenda solitária. De longe também se ouvia o som da voz do pai cantando uma canção triste.

Assim, dez verões e tantos invernos surgiram e desapareceram desde o estranho desaparecimento da criança. Todo outono com os caçadores vieram os infelizes pais do bebê perdido para procurá-lo novamente.

Perto da última parte da décima temporada, quando, uma por uma, as tendas foram dobradas e as famílias foram embora da região do lago, a mãe caminhou novamente ao longo da margem do lago chorando. 

Uma noite, do outro lado do lago de onde a mulher chorando estava, um par de olhos negros brilhantes espiou ela através dos juncos altos e do arroz selvagem. O garotinho selvagem parou de brincar entre a grama alta. Seus cabelos longos e soltos, que caíam sobre suas costas e ombros castanhos, estavam descuidadamente jogados para longe de seu rosto redondo. Ele usava um pano de lombo de grama doce tecida. Agachado até o chão pantanoso, ele ouviu a voz de lamento. À medida que a voz ficava rouca e apenas soluçava surgiu a figura esbelta da mulher, os olhos do menino selvagem ficaram turvos e úmidos.

Por fim, quando o gemido cessou, ele se levantou e correu como uma ninfa com dedos rápidos e estendidos. Ele correu para uma pequena cabana de juncos e gramíneas.

"Mãe! Mãe! Diga-me que voz ouvi e que me agradou os ouvidos, mas fez meus olhos ficarem molhados!" disse ele, sem fôlego.

"Han, meu filho", grunhiu um sapo grande e feio. "Foi a voz de um choro de mulher que ouviste. Meu filho, não diga que gosta. Não me diga que isso trouxe lágrimas aos seus olhos. Nunca me ouviste chorar. Eu posso agradar seu ouvido e partir seu coração. Ouve!" respondeu o grande sapo velho.

Saindo, ela parou na entrada. Era velha e muito inchada. Ela criou uma grande família de sapos pequenos, mas nenhum deles despertou seu amor, nem nunca a entristeceu. Ela tinha ouvido a voz humana chorosa, ficou maravilhada com a garganta que produziu o som estranho. Agora, em seu grande desejo de manter o menino roubado por algum tempo, por mais tempo, ela se aventurou a chorar como a mulher Dakota faz. Em uma rude, grosseira voz que ela falou:

"Hin-hin, pele de corça! Hin-hin, Arminho, Arminho! Hin-hin, cobertor vermelho, com borda branca!"

Sem saber que as sílabas do grito de um Dakota são nomes de amados que já se foram, a feia mãe sapo procurou agradar a orelha do menino com os nomes de artigos valiosos. Tendo gritado com uma voz torturante nomes extravagantes, o velho sapo revirava os olhos sem lágrimas grande satisfação. Voltando para sua casa, ela perguntou:

"Meu filho, minha voz trouxe lágrimas aos seus olhos? Minhas palavras trouxeram alegria aos seus ouvidos? Você não gosta mais do meu lamento?"

"Não não!" fez beicinho no menino com alguma impaciência. "Eu quero ouvir a voz de mulher! Diga-me, mãe, por que a voz humana me emociona!"

A mãe sapo disse dentro do peito: "A criança humana ouviu e viu a mãe verdadeira dele. Não posso mantê-lo por mais tempo, temo. Oh, não, não posso doar a bela criatura que ensinei a me chamar de 'mãe' esses muitos invernos."

"Mãe", foi na voz da criança, "diga-me uma coisa. Diz-me porque é que o meus irmãos e irmãs mais novos são diferentes de mim."

O sapo grande e feio, olhando para seus filhos rechonchudos, disse: "O mais velho é sempre melhor."

Esta resposta acalmou o menino por um tempo. A velha mãe sapo observou de perto seu filho humano roubado. Quando por acaso ele começou sozinho, ela expulsou um de seus próprios filhos atrás dele, dizendo: "Não venha de volta sem seu irmão mais velho."

Assim, o menino selvagem com o cabelo longo e solto senta-se todos os dias em uma ilha pantanosa, escondido entre os juncos altos. Mas ele não está sozinho. Sempre aos pés dele salta um irmão sapinho. Um dia um caçador indígena, vadeando nas águas profundas espiou o rapaz. Ele tinha ouvido falar do bebê roubado há muito tempo.

"Este é ele!" murmurou o caçador para si mesmo enquanto corria para sua tenda. "Eu vi entre os juncos altos um menino de cabelos pretos brincando!" gritou ele para as pessoas.

Imediatamente o infeliz pai e a mãe gritaram: "'É ele, nosso garoto!"

Rapidamente, ele os conduziu ao lago. Espiando através do arroz selvagem, apontou com o dedo trêmulo para o menino que brincava desprevenido.

"'É ele! É ele!" gritou a mãe, pois ela o conhecia.

Em silêncio, o caçador ficou de lado, enquanto o pai e a mãe felizes acariciavam seu bebê, que já estava alto.
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ZITKALA-ŠA (1876-1938), que em Lakota significa 'Pássaro Vermelho', nasceu na Reserva Indígena Yankton em Dakota do Sul, filha de mãe Dakota e pai francês, que a abandonou quando criança. Aos oito anos, foi obrigada a deixar a liberdade e a felicidade da vida entre seu povo – como ela mesma dizia - para ser educada nos costumes e crenças europeus em um internato missionário Quaker. Lá ela recebeu o nome de Gertrude Simmons, seus longos cabelos foram cortados, ela foi forçada a suprimir todos os sinais e costumes de sua cultura e a rezar como uma quaker. As únicas coisas boas que resultaram disso para ela foram aprender a ler, escrever e tocar violino. Três anos depois, ela voltou para a reserva de Yankton apenas para descobrir, para sua consternação, que as pessoas na reserva estavam começando a adotar os costumes e modos de pensar dos europeus e que mesmo ela tinha um pé em cada mundo. Depois de mais três anos na reserva, ela voltou ao mundo dos brancos com a intenção de continuar sua formação musical. Ela aprendeu piano e violino e acabou ensinando música e estudando no Earlham College em Richmond, onde exibia publicamente sua bela oratória. Ao longo dos anos, cruzando repetidamente a ponte entre sua cultura e a cultura europeia, entre a reserva e o mundo branco, Zitkala-Ša acabaria se tornando escritora, editora, tradutora e ativista política, além de musicista e educadora. Ela chegaria a compor uma ópera com o compositor William F. Hanson, intitulada The Sun Dance Opera, baseada na Lakota Sun Dance, que o governo federal havia proibido o povo Ute de realizar em sua reserva. 

Em 1916, aos 30 anos, ela começou seu ativismo nativo americano ao ser nomeada secretária da Society of American Indians, uma associação dedicada à preservação do modo de vida nativo americano. Ela também fez lobby em círculos políticos pelo direito de seu povo à plena cidadania americana. De Washington DC, Zitkala-Ša fez duras críticas ao Bureau of Indian Affairs, chegando a pedir sua dissolução por causa de suas políticas de internato, pelo levantamento da proibição de crianças indígenas usarem sua própria língua e preservar seus costumes culturais. Ela denunciou os abusos que aconteciam nesses internatos sempre que um menino ou uma menina nativa se recusava a rezar de acordo com a maneira cristã.

Também de Washington ela começou a dar palestras em todo os Estados Unidos e, durante a década de 1920, começou a promover a ideia de criar um movimento pan-indígena que unisse todas as tribos da América do Norte para fazer lobby em nome dos povos nativos. Em 1924, graças em parte aos seus esforços, foi aprovada a Lei da Cidadania Indígena, concedendo direitos de cidadania americana à maioria dos povos indígenas que ainda não os possuíam. Em 1926, ela e o marido fundaram o Conselho Nacional dos Índios Americanos (NCAI), com o objetivo de unir as tribos dos Estados Unidos em sua luta pelos direitos dos índios. No entanto, Zitkala-Ša não era apenas um ativista pelos direitos das Primeiras Nações da América do Norte. Ela também esteve envolvida no ativismo pelos direitos das mulheres na década de 1920, quando ingressou na Federação Geral de Clubes Femininos. Zitkala-Ša morreu em 1938, aos 61 anos, e foi enterrada no Cemitério Nacional de Arlington, em Washington. Para homenageá-la, a União Astronômica Internacional nomeou uma cratera em Vênus "Bonnin", seu sobrenome de casada, Gertrude Simmons Bonnin.

Fontes:
Zitkala-Ša. Old Indian Legends. Publicada originalmente em 1901. Disponível em Domínio Público. (tradução do inglês para o português por Jfeldman)
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

José Feldman (Um Homem e sua Luz)

Era uma vez, em uma cidade tranquila, um homem chamado Leônidas. Desde jovem, tinha uma grande paixão por aprender. Ele adorava ler e estudar, sonhando em um dia se formar em uma grande universidade. No entanto, a vida não foi fácil para ele. Quando chegou a hora de entrar na faculdade, as dificuldades financeiras o obrigaram a abandonar seus estudos, deixando-o desolado.

Apesar das frustrações, nunca deixou de apoiar sua amiga Clara, por quem nutria um amor silencioso. Clara era brilhante e ambiciosa, e ele sempre a incentivou em seus estudos, ajudando-a a se preparar para exames e oferecendo palavras de encorajamento. Ela se formou, e mesmo depois, continuou seus estudos, chegando ao pós-doutorado.

Um dia, Clara, já uma acadêmica respeitada, ia para um encontro com seus amigos formados. Com entusiasmo, Leônidas falou que ele poderia ir junto.

Clara, sem perceber a dor que estava causando, disse: "Leo, eu não posso te levar. Meus amigos são todos formados, e você... bem, você não tem uma faculdade. Não seria apropriado."

Aquelas palavras feriram-no profundamente. Ele se sentiu pequeno e desolado. "Eu sempre a apoiei", pensou ele, "e agora sou desvalorizado por não ter um diploma." A sensação de impotência tomou conta dele, e ele se afastou, angustiado.

Em sua casa, se sentou em uma velha cadeira, cercado por livros que sempre foram seus companheiros. Ele se dedicou a estudar por conta própria, criou até um blog, mas a angústia e a frustração o acompanhavam. Mesmo com todo o conhecimento que adquiria, a desvalorização de Clara o deixava triste e solitário.

Os dias se transformaram em semanas, e ele se isolou ainda mais. A única companhia que lhe restava era sua fiel cachorra, Bela. A cadela o seguia por toda parte, sempre lhe dando amor e apoio incondicional. Ele se sentia grato por isso, mas a solidão o consumia.

Clara, por sua vez, continuou sua vida acadêmica, cercada por amigos formados. Nunca conseguiu aceitar o fato de que Leônidas não tinha um diploma, e isso criou um abismo entre eles. Ele, mesmo com suas conquistas pessoais, viveu angustiado, sentindo-se invisível e desvalorizado.

A cada dia, ele se sentava com Bela, lendo em voz alta, como se estivesse ensinando sua melhor amiga. A cadela ouvia atentamente, como se entendesse cada palavra. Ele percebeu que, mesmo sem reconhecimento, a paixão pelo aprendizado ainda ardia dentro dele.

Com o passar do tempo, decidiu que, mesmo sozinho, continuaria a buscar o conhecimento e a compartilhar o que aprendeu com Bela. Ele percebeu que a verdadeira valorização vinha de dentro, e que, embora Clara não reconhecesse seu valor, ele ainda tinha a capacidade de se erguer e encontrar alegria nas pequenas coisas.

Moral da História
A desvalorização e a angústia podem nos isolar, mas o verdadeiro valor do conhecimento não depende da aprovação dos outros. Mesmo em solidão, cultivar a paixão pelo aprendizado e o amor verdadeiro, como a de uma amiga leal, mesmo que seja uma cadela, pode nos trazer paz e satisfação.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Com a pulga atrás da orelha”


Essa expressão estar, ficar ou andar “com a pulga atrás da orelha” significa ter suspeitas de que alguém está aprontando alguma coisa contra você, que movido pelo “desconfiômetro”, se mostra cabreiro e desconfiado. 

Desde a mais remota antiguidade, o ser humano sempre foi e ainda tem sido vítima da pulga, pois antes não se conhecia nenhum veneno capaz de exterminar essa praga do ambiente doméstico, que se intrujava em todos os cantos, brechas e escaninhos das residências, hospitais, quartéis, escolas, repartições, empresas, cinemas e muitos outros espaços.

As pulgas estão entre os insetos que mais causam problemas ao ser humano e também aos animais. O nome vem do grego Siphon - sifão, e apteros - sem asas, pois as pulgas, embora desprovidas de asas, pulam cerca de 300 vezes a sua própria altura, o que as torna campeãs de salto, justificado sonho de qualquer atleta olímpico. 

No mundo todo podem ser encontradas mais de três mil espécies de pulgas e a cota brasileira nesse monumental acervo é de mais de 50 espécies, das quais quase 40 são encontradas no Estado de São Paulo. Extremamente prejudiciais à saúde, até meados do século XX a pulga era, sem qualquer dúvida, um problema muito grave, responsável por transmissão de doenças, aninhando-se em colchões, almofadas, armários e até nos cabelos das pessoas. 

Sua incômoda presença inspirou mundo afora as famosas “feiras da pulga” ou “mercado de pulgas”, muito comuns na Europa e EEUU, comércios de rua ou de espaços confinados, de caráter sazonal, onde se vendem produtos usados como roupas, livros, utensílios domésticos, brinquedos e móveis antigos que pelo bom estado em que se encontram, ainda podem ser negociados. Surgidas nos arredores de Paris na década de 1880, em seus primórdios as peças de vestuário comercializadas vinham infestadas de pulgas, daí a denominação que popularmente a consagrou mundo afora.

Se nas roupas já incomodam, imagine o desconforto de uma pessoa com um bicho desses atrás da orelha. O gesto de coçar a orelha quando estamos desconfiados, a modo quando nela está alojado o incomodatício bichinho, pode ser uma das explicações para esta corriqueira expressão.

Na Espanha, se diz “tener la mosca detrás de la oreja”. Em Portugal, "estar com a pulga atrás da orelha" demonstra que alguém tem suspeita em relação a algo ou a outrem, que lhe deixa intranquilo. Lá como aqui, é comum alguém dizer: "fiquei com a pulga atrás da orelha depois de ouvir a conversa".

Na literatura brasileira, a expressão aparece em vários livros, os mais conhecidos o de Christiane Gribel e o de Ana Elisa Ribeiro. No primeiro, a autora explica de forma divertida, as muitas falas engraçadas que os adultos usam, dentre elas, "estar com a pulga atrás da orelha".  O segundo conta a história de um menino curioso, que adora perguntar tudo para todo mundo. 

Na música popular, a dupla Tenório & Praense incluíu em seu vasto repertório a música “Com a pulga atrás da orelha”, cuja letra é tão irreverente como a de outra composição deles, denominada “Fui chifrado na internet”... 

José Cornélio dos Santos, em seu livro “Lembranças de um Obidense” (edição do autor, 1994, pág. 26) narra com bom humor a sua atribulada trajetória de menino pobre do interior até se tornar um vitorioso empresário em Belém, descrevendo assim essa sensação de desconforto emocional: “Durante pouco mais de um ano, os nossos negócios cresceram e os invejosos não se conformavam com o nosso sucesso, até que um dia o dono do prédio onde tínhamos a mercearia, resolveu pedir o mesmo, alegando que precisava do imóvel para uso próprio. Notamos que havia “algo no ar” e o nosso negócio começou a estremecer e tirar o nosso ritmo”. Ele não disse explicitamente, mas deixou subentendido que a desconfiança fez com que a pulga desse sinal de vida, atrás da orelha do saudoso escritor.

Realmente, essa angústia é recorrente quando existe “algo no ar” que nos aflige. E há situações em que esse sentimento expectante se torna comum em humanos e animais. Por exemplo, quando o pastor alemão da policia, olhos atentos, faro apurado e “com a pulga coçando atrás da orelha”, passa a esquadrinhar as malas na esteira de bagagem dos aeroportos. Quando isso acontece, esse bichinho incômodo também se instala atrás da orelha de certos passageiros, principalmente daqueles que, dando uma de espertos, resolvem arrostar o perigo de transportar às escondidas, coisas que a lei não permite…
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Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

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