sábado, 26 de abril de 2025

Mensagem na Garrafa = 139 =


ELIANE DE ARAUJO 
São Paulo/SP

O que é o amor?

Numa sala de aula, havia várias crianças. Quando uma delas perguntou à professora:

- Professora, o que é o amor?

A professora sentiu que a criança merecia uma resposta à altura da pergunta inteligente que fizera. Como já estava na hora do recreio, pediu para que cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e trouxesse o que mais despertasse nele o sentimento de amor.

As crianças saíram apressadas e, ao voltarem, a professora disse:

- Quero que cada um mostre o que trouxe consigo.

A primeira criança disse:

- Eu trouxe esta flor, não é linda?

A segunda criança falou:

- Eu trouxe esta borboleta. Veja o colorido de suas asas, vou colocá-la em minha coleção.

A terceira criança completou:

- Eu trouxe este filhote de passarinho. Ele havia caído do ninho junto com outro irmão. Não é
uma gracinha?

E assim as crianças foram se colocando.

Terminada a exposição, a professora notou que havia uma criança que tinha ficado quieta o tempo todo. Ela estava vermelha de vergonha, pois nada havia trazido.

A professora se dirigiu a ela e perguntou: - Meu bem, por que você nada trouxe? E a criança timidamente respondeu:

- Desculpe, professora. Vi a flor e senti o seu perfume. Pensei em arrancá-la, mas preferi deixá-la para que seu perfume exalasse por mais tempo. Vi também a borboleta, leve, colorida! Ela parecia tão feliz que não tive coragem de aprisioná-la. Vi também o passarinho caído entre as folhas, mas, ao subir na árvore, notei o olhar triste de sua mãe e preferi devolvê-lo ao ninho. Portanto professora, trago comigo o perfume da flor, a sensação de liberdade da borboleta e a gratidão que senti nos olhos da mãe do passarinho. Como posso mostrar o que trouxe?

“A professora agradeceu a criança e lhe deu nota máxima, pois ela fora a única que percebera que só podemos trazer o amor no coração".
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Eliane de Araujo, nasceu em São Caetano do Sul, mora em São Paulo, é escritora, comunicadora, palestrante, Bacharel em Matemática com Ênfase em Processamento de Dados, Neurolinguísta e Numeróloga. Trabalhou como atriz na Paixão de Cristo de São Tomé das Letras, Trabalhou como analista de sistemas na empresa General Motors, fundou em 1996 a empresa Consciência Cósmica Cursos, Livraria e Turismo. Um espaço para o desenvolvimento pessoal com loja, cursos, palestras, atendimentos, viagens e eventos. Seleciona os profissionais que desenvolvem suas atividades no Espaço e também organiza diversas Viagens para locais místicos como São Tomé das Letras, Chapada dos Veadeiros, Serra do Roncador, Machu Picchu (Peru), Egito, India, etc. Autora dos Livros: É dentro de ti onde tudo acontece; Histórias para sua Criança Interior; Liberdade de Ser.

Fontes:
Eliane de Araujo. Histórias para sua Criança Interior. Editora: Roca. Disponível no livro Momento Espírita v. 2 e no CD Momento Espírita v. 6, ed. FEP. em 18.10.2010..
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A. A. de Assis (O ontem, eterno hoje)


No prefácio do livro “A história dos normandos”, do querido amigo professor Thomas Bonnici (Maringá: Edições Diálogos, UEM, 2021), o professor Leandro Rust, da Universidade de Brasília, escreve que “ler (sobre ‘o que um dia existiu') seria trazer o ontem para perto”. Fiquei com essa ideia na cabeça, pensando no extraordinário valor da memória. 

O cérebro humano tem sido descrito como o que há de mais fantástico em matéria de “computador”. Graças a ele preservamos um capital preciosíssimo – todas as nossas lembranças, guardadinhas como  se fosse num  livro que podemos reler a qualquer momento.  

No meu “livro” não há nada minimamente comparável à grandiosa história dos normandos, tão bem narrada pelo Doutor Thomas. Tem, todavia, completa, a história de minha vida. 

Já nas primeiras páginas me reencontro menino na paisagem rural onde nasci, na região montanhosa do município de São Fidélis-RJ. Nossa casa ficava num vale chamado “Bela Joana”. Na frente havia o terreiro e logo acima a área cultivada – o pasto e as plantações: café, milho, feijão, mandioca etc. No fundo, a horta, o galinheiro, a ceva de porcos e o pomar cheio de fruteiras e passarinhos. Um pouco abaixo passava o rio. No outro lado do rio começava uma grande mata, que cobria toda aquela banda da serra. Até onça tinha.

Nas páginas seguintes estou eu adolescente já morando na cidade. Nitidamente me revejo jogando bola de meia na Vila Nova; nadando no rio Paraíba do Sul; levando pito de Dona Morgada no Grupo Escolar Barão de Macaúbas; recitando latim nas aulas do professor Expedito; assistindo missa do padre Augusto; torcendo pelo Esportivo contra o Tabajaras...

Mais adiante me reflagro chegando a Maringá, janeiro de 1955. Foi muito legal já no primeiro dia conhecer um dos grandes ícones da geração pioneira – Ângelo Planas. Depois, pouco a pouco, fui conhecendo todos os outros. 

Vou folheando o “livro” e trazendo de volta outros ontens que tive a alegria de partilhar, especialmente como jornalista, na fascinante história deste maravilhoso lugar. Lá estou eu entrevistando o primeiro prefeito, Villanova Júnior; entrevistando o primeiro bispo, Dom Jaime, na primeira semana após sua chegada à diocese; convivendo com os primeiros caciques do jornalismo local – Aristeu Brandespim, Manoel Tavares, Ivens Lagoano Pacheco; reportando a inauguração do Grande Hotel, da Catedral, do Parque do Ingá, da Universidade. Depois, como professor, convivendo e aprendendo com dezenas de valorosos e queridíssimos colegas e participando da formação de centenas de alunos que aí estão brilhando em todos os campos. 

Bendita seja a memória da gente – o riquíssimo “livro” em cujas páginas os nossos ontens sobrevivem como eternos hojes.  Lá estão tantos rostos que um dia para nós sorriram, tantas mãos que de algum modo um dia nos ajudaram, tantos familiares e amigos com os quais repartimos a graça de existir. Lá estão, facilmente reprisáveis, os nossos melhores momentos. Um tesouro habitualmente chamado saudade. 
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 04–11–2021)
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A. A. DE ASSIS (Antonio Augusto de Assis), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais Tribuna de Maringá, Folha do Norte do Paraná e das revistas Novo Paraná (NP) e Aqui. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis - 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis - vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guaíra (história), etc.

Fontes:
Facebook do autor. 04.11.2021
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Wallace Leal V. Rodrigues (A panela)


A velha empregada de minha família era uma preta.

Chico, o neto dela – como é costume acontecer quando não temos irmãos -, era o meu companheiro constante de brincadeiras e folguedos.

Em tudo quanto fazíamos, à parte de Chico era sempre a mais pesada, secundária e passiva. Ele tinha sempre que dar e, nunca, que receber.

Um dia corri para casa, à saída da escola porque Chico e eu tínhamos projetado construir uma vala que fosse do poço à lavanderia.

Sem darmos por isso, cada um de nós assumiu logo o seu papel, - como de costume.

Chico era o “condenado” a trabalhos forçados, suando e repetindo esforços. E eu o implacável guarda, com uma vara na mão!

A maneira como eu estava maltratando aquele menino negro, era quase digna de um adulto imbuído de preconceitos de cor.

Foi quando a nossa preta velha chamou-nos:

- Crianças, venham pôr a minha panela no fogão!

Corremos para a cozinha. A panela estava no chão e nós a agarramos com ambas as mãos. Mas com um grito a largamos, perplexos de que ela nos tivesse mandado pegar uma coisa que, era evidente que sabia, estava extremamente quente.

Em seguida, em graves brandas palavras, tão nítidas e simples que até hoje as posso escutar, partindo do fundo do tempo, disse-nos assim:

- Ora! Vocês dois se queimaram. Que coisa mais engraçada! A cor da pele de vocês é tão diferente, mas a dor que estão sentindo é igual para ambos, não é verdade?

Concordamos que sim.

E nunca mais pude me esquecer desse episódio que sem dúvida alguma, fez de mim uma pessoa diferente.
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Wallace Leal Valentin Rodrigues nasceu em 1924, em Divisa/ES, foi para Araraquara, SP na década de 30. Estudou Ciências Econômicas em Ribeirão Preto. Foi ator e diretor de teatro, diretor de cinema, escritor, jornalista. Realizou seu primeiro filme em 1953: o documentário Aurora de uma Cidade. Foi diretor e ensaiador do TECA (Teatro Experimental de Comédia de Araraquara). Acompanhou e colaborou com a primeira escola de ballet da cidade: Escola de Ballet Mímica de Araraquara, desde sua fundação maquiando, e apoiando nos figurinos e cenários das apresentações por longo tempo. Coordenou, compôs, criou, orientou jovens e crianças em desfiles de modas ensinando como andar, sentar, colocação de mãos e pés, comportamento e postura de corpo e porte em passarela, um trabalho de alta qualificação, ensinamento europeu. Como escritor tem livros publicados no Brasil e no Exterior. Era poeta, compunha música e além do teatro, atuava junto ao grupo de rádio teatro. Em 1958 teve a ousadia de escrever, produzir e dirigir um filme: Santo Antonio e a vaca, rodado na região, sobre o folclore regional. Para tanto criou a Arabela Filmes. Além do indiscutível talento de Wallace para as artes culturais, merece nota seu trabalho na divulgação do Espiritismo, doutrina que ele assumiu aos 16 anos e divulgou por toda a sua vida. Se destacou como Redator-Chefe do jornal O Clarim e da Revista Internacional de Espiritismo. Na literatura espírita; foram dezenas de livros, uns de sua própria autoria, outros que ele traduziu e organizou. Em 1973,: passou a integrar o quadro de colaboradores da revista Planeta. Em 1973, lançou, na sede da Federação Espírita do Estado de São Paulo, seu livro Remotos cânticos de Belém, No enredo da obra, Wallace juntou histórias e personagens e os colocou num avião que é sequestrado na véspera do Natal. A mensagem que ele passa é a de que a suave melodia do Natal faz-se sentir e abranda até mesmo situações extremamente graves, como a vivida pelos passageiros. Como autor: Remotos cânticos de Belém; Meimei; Vida e mensagem; A esquina de pedra; E, para o resto da vida; Katie King. Considerado pela crítica especializada como uma das pessoas mais cultas dos últimos anos em nosso país, aos 62 anos, Wallace teve seu estado de saúde comprometido e faleceu em 1988.
Fontes: 
Wallace Leal V. Rodrigues. E, Para o resto da Vida. Disponível no Jornal Mundo Espírita. Março de 2000.
Biografia = Federãção Espírita do Paraná
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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Asas da Poesia * 11 *


Trova de
ARTHUR THOMAZ 
Campinas/ SP

Nessa vida, hoje, eu vou indo
buscando um rumo na sorte.
pois sinto que estou seguindo
uma bússola sem norte.
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Soneto de
MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA 
Ponta Grossa/ PR

Uma aurora chamada saudade

Telhado tosco, chaminé de barro
e um céu de aurora em tons de carmesim...
Esse é o cenário em que, tristonho, esbarro
quando a saudade vem tanger em mim!

Sobre a mesinha um maltratado jarro
guardava aromas vindos do jardim.
Ao pé do rancho, bois em frente ao carro
cujo destino era seguir sem fim...

E nessa aurora, no fervor da prece,
um nobre vulto agradecia a messe,
certo que Deus estava em cada grão...

Ah... Quem me dera ver mais uma vez,
de mãos calosas e morena tez,
meu velho pai... curvado em oração!
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Trova de
ELISABETE DO AMARAL AGUIAR
Mangualde/Portugal

Batem três horas na torre, 
é já tempo de dormir... 
mas a noite corre, corre, 
e eu fico a vê-la fugir…
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Soneto de
PLÁCIDO FERREIRA DO AMARAL JÚNIOR 
Caicó/ RN

Seu nome

Sua chegada foi na minha vida
A luz da aurora no nascer do dia,
Iluminando o lar, e ao ser um guia,
Sanar de vez, a minha dor sofrida.

Pôs no meu ser a sua fé contida
E do seu nome fez também poesia
Ao me dizer o mesmo com magia,
Fazendo eu crer em ter a paz florida.

É minha sorte tê-la aqui comigo
Em todo instante em que pra mim, se vem,
E ao confirmar seu nome em toda hora.

Pois no seu nome eu tenho o meu abrigo
E nele vejo a cor que a mim convém
Por ter alguém que tem o nome. Aurora...
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Trova de
OLIVALDO JÚNIOR
Mogi-Guaçú/ SP

Coração de agricultor 
tem mil ramas de beleza: 
cada uma tem valor 
porque preza a natureza.
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Soneto de
EDY SOARES 
Vila Velha/ ES

Alvorada

As maritacas abrem cantoria
nos manacás e pés de tangerina,
até que em rebeldia a sururina
avisa que o arrebol já se anuncia.

O monte... O pico envolto na neblina,
a aurora ganha um tom de nostalgia...
De pronto surge em meio à névoa fria,
o sol, como quem rasga uma cortina.

Raios de luz nas frestas da paineira,
chegam lambendo as folhas da roseira
e, aos poucos, seca o orvalho dos canteiros.

O céu abraça o sol que vem surgindo
e ao fim desse espetáculo tão lindo
o dia chega em passos sorrateiros.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

A terra inteira secou!…
E, a dor me fez sofrer tanto,
que quando a chuva voltou,
tinha secado o meu pranto!
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Soneto de
MARIA MADALENA FERREIRA 
Magé / RJ

A acendedora da luz

O sol se foi:... A lua vem chegando:
Cada qual volta à sua moradia
- enquanto um sino - ao longe - vai lembrando
que é hora de rezar a "Ave-Maria":

As luzes vão - aos poucos - se apagando,
e um sono repousante se inicia
- o que nos faz sonhar - de vez em quando... -
que a vida é toda feita de harmonia:

E mal a impaciente passarada
anuncia o final da madrugada,
em sua costumeira algaravia,

um leve tom rodado - no horizonte -
vem revelar - antes que o sol desponte -
que... a AURORA anda a acender a luz do dia!!!
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

A lua, de vez em quando
fica um pouco sem brilhar,
para ficar “espiando”
dois pombinhos namorar!
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Soneto de 
FRANCISCO GABRIEL
Natal/ RN

Altar do amanhecer

Quando a noite abandona o firmamento,
nossa Lua da luz se divorcia;
é que a vida precisa de alimento
para fecundação de um novo dia.

No horizonte respira novo vento,
é que a Terra, entonando maestria,
engravida de Deus por um momento,
procriando uma nova poesia.

Surge a aurora pintando mil cantares,
irmanando universo, terra e mares,
na cantata de luz sobre o nascer.

Quando o Sol brilha em todos os lugares,
os cenários da Terra são altares,
aplaudindo outro novo amanhecer.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

A grandeza imaginária
que todo vaidoso tem,
é uma estrela solitária
brilhando sobre... ninguém... 
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Hino de
SARAPUÍ/ SP

Sarapuí, Cidade da Paz;
da virtude e do labor,
tens a vida emoldurada na ordem;
no respeito e no humano calor.
Acesa tens a chama da fé,
definindo o teu perfil.
Ao cumprir o teu destino de glória,
avivas o ideal do Brasil.

Assim és Sarapuí,
cortejada pelos tropeiros.
Tornaste povo fecundo e operoso.
Sempre cordial e hospitaleiro.

Tens na flor do algodão,
bela e rica altiva estás.
Verdes prados ondulantes refletem;
seu vasto sentimento de paz.
A interpridez seu filho marcou,
na conquista de um lar feliz,
sua gente exalta e crê na família,
sonhando com o bem do país.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Sem ter fortuna aparente,
sob a luz de um lampião
fui bem mais rica e mais gente
naquela casa de chão.
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Soneto de
MESSIAS DA ROCHA 
Juiz de Fora/ MG

Gênesis

Eu sei, amor, que, às vezes, me conduzes
em trevas densas por detrás dos muros,
onde as sombras se vestem com capuzes
e onde os frutos jamais ficam maduros.

Nas tuas mãos percebo, sempre, luzes
mas os dias se tornam mais escuros
e no calvário, em meio a tantas cruzes,
agonizam meus sonhos mais impuros.

Então, concebo um novo firmamento
e, na cruel solidão do pensamento,
forjo auroras nas noites tão vazias

e, por querer da escuridão o inverso,
lanço sonhos nas sombras do universo
e consigo dar vida a novos dias.
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Trova de
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA
Pindamonhangaba/SP

As reticências discretas 
do meu sofrer, a chorar, 
mostram mágoas tão secretas 
que eu não ouso revelar…
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Glosa de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/ PR

MOTE:
Da vida não quero a glória
que tanto engana e seduz.
Prefiro não ter história
a renunciar minha cruz.
Filemon Martins
São Paulo/SP

GLOSA:
Da vida não quero a glória,
prefiro a paz do meu ser,
que brilha em singela história,
sem necessidade de ter.

Que tanto engana e seduz,
mas deixa um vazio imenso,
no brilho que a alma reluz,
encontrando um novo senso.

Prefiro não ter história,
se a verdade não é pura,
um caminho em sua trajetória,
que traz firmeza e ternura.

A renunciar minha cruz,
aceito o peso da vida,
pois nela, mesmo em sua luz,
encontro a força querida.
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Trova
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Cresce a cidade… que pena…
crescendo, perde a poesia;
– na rua ninguém me acena,
ninguém mais me diz bom-dia!
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Poema de
RODRIGO ZUARDI VIÑAS
Porto Alegre/RS

Se eu partir antes de ti

Quero que isso aconteça
numa manhã tranquila
e agradável
para que o momento
seja eternizado
pela beleza do dia
e pelos sentimentos
que temos um pelo outro.
Ah, se eu partir antes de ti,
sei que, além de saudades,
manterás, por mim,
muito carinho e admiração.
A amizade que nos une
foi construída
com muito respeito, sinceridade
e companheirismo.
Ah, se eu partir antes de ti,
sei que me guardarás
como uma das tuas boas lembranças.
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Quadra Popular
AUTOR ANÔNIMO

Quero cantar, ser alegre,
Que a tristeza não faz bem;
Inda não via tristeza
Dar de comer a ninguém.
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Soneto de
JOSÉ RIOMAR DE MELO
Caucaia/CE

Meu verso

 Se meu verso te agrada, te conforta,
 Faz lembrar-te emoções que já viveste,
 Com algum deles talvez te comoveste,
 Ativando a esperança quase morta!

 É sinal que choveu na minha horta,
 Na emoção que a mim tu concedeste,
 Ao sentir que no verso que tu leste
 De euforia e de paz teu peito aborta;

 Entretanto se um deles não ressoa,
 Na fiel sintonia e te magoa,
 Na palavra ou na frase te feriu...

 Eu te peço perdão em tom profundo,
 Porque mesmo agradar a todo mundo,
 Jesus Cristo também não conseguiu...
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Trova de
DULCÍDIO DE BARROS M. SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

Enquanto a gente descansa 
na metade de um caminho, 
um outro qualquer alcança 
a outra metade sozinho.
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Rima e graça
 
MOTE:
Eu sinto o vento que passa
portador de boa nova
enchendo de rima e graça
os quatro versos da trova.
Antônio José Barradas Barroso
(Parede/Portugal)

GLOSA: 
Eu sinto o vento que passa
a beijar , com seu carinho,
todas as flores da praça,
que encontra no seu caminho.
 
Esse vento é benfazejo,
portador de boa nova,
pois traz, a todos um beijo
de maneira sempre inova.
 
Mostra a sua força e raça
numa escala de alegria,
enchendo de rima e graça
a nossa amada poesia.
 
Esse vento  acaricia
e a cada instante  renova,
melhorando  na  poesia
os quatro versos da trova.
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Haicai de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ

Ao ver no jardim
tua beleza e a da rosa
desejei as duas!
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Poema de
GONÇALVES DIAS
Caxias/MA, 1823 - 1864, Guimarães/MA

Canção do exílio
 
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Trova de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Da sua casa ao cartório 
apenas um quarteirão...
Dada a preguiça, o casório 
se fez por procuração.
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Endecha de
LUÍS VAZ DE CAMÕES
Coimbra, 1524 – 1580, Lisboa

Endechas à bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo,
Já não quer' que viva.

Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que para meus olhos
Fosse mais formosa.

 Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.

Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

 Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Para ser senhora
De quem é cativa.

Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

 Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.

Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas Bárbara não.

Presença serena,
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda minha pena.

Esta é a cativa
Que me tem cativo
E, pois nela vivo,
É força que viva. 
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Geraldo Pereira (Saudades do Futuro)


Fosse vivo o meu pai e me encontrasse na Internet, com direito a alguns textos dos meus artigos publicados aqui neste espaço de jornal, não hesitaria e diria: “Invenção da mãe do cão!” E é isso mesmo: astúcia da modernidade! Os avanços são tantos e de tal maneira rápidos, que não há forma de atualização, senão a de frequentar a enorme teia virtual diariamente, buscando aqui e ali inovações da criação humana. De minha parte, confesso, tenho saudades do futuro, do que está por vir, do extraordinário desenvolvimento da ciência e da técnica. Quem nasce hoje não há de se admirar, mas quem assistiu a tudo isso, quem escreveu molhando a pena no tinteiro ou quem aprendeu datilografia e gastou horas e mais horas sentado nas bibliotecas, só pode viver numa perplexidade muito grande. É o meu caso!

Ora, quando era menino, ganhei de presente uma pena que tinha o cabo colorido, às custas de cordões encarnados, verdes e azuis. Uma beleza! Sentava-me em antigo e carcomido “bureau” para rabiscar sentimentos emergentes. Não sabia usar as vírgulas e os pontos, pior o ponto-e-vírgula, mas já tinha desejos e vontades, de amar e ser amado, sobretudo, razão dos meus devaneios. Com um imaginário de rara fertilidade, divagava em etéreas distâncias, fantasiando paixões. Depois, ganhei uma caneta Compactor, posta hoje em feiras de antiguidades, como se eu próprio já fosse velho, condenado à condição de fóssil. A seguir, quando entrei no Curso Científico, uma Parker 51, o máximo em termos de elegância masculina. Mas, aos 15 anos recomendou meu pai: “Matricule-se numa escola de datilografia! Você vai precisar! Talvez vá trabalhar no comércio!”. E na rua do Lima, com uma professora muito braba e feia, aprendi os segredos do teclado.

O tempo passou e eu não vi! Um belo dia me falaram do computador, dessa máquina de tantos poderes, explicando que tinha memória, isto é, que poderia guardar textos e outras formas de expressão humana. Até fotos, dizia amigo meu! Quando vi a grande rede virtual, antes mesmo dos avanços atuais da Web, francamente, fiquei encantado. Afinal, podia me sentar diante da telinha e pedir o assunto que desejasse, sem ter que me ater aos alfarrábios das bibliotecas, escolhendo o dia e a hora, livremente. Aí me animei e comprei o meu primeiro computador, que é como o primeiro amor, ninguém esquece. Aprendi a mexer sozinho, o que foi um erro, apaguei programas importantes e fiz deletar arquivos que não deveria, mas me habituei à novidade e não vivo mais sem a máquina e a rede!

Dia desses, porém, tendo enviado um E-mail à Inglaterra, onde reinava amigo meu, Jair de prenome, recebi de volta uma quase desaforada resposta: “Não me escreva mais! Não lhe conheço e não conheço Jair! Não me interessam as suas posições em relação ao sistema de saúde no Brasil!” Assinando a mensagem uma certa Jéssica. Preparei nova correspondência dizendo: “Desculpe! Não lhe escreverei mais! A máquina não se engana, mas o homem erra! O endereçamento não estava correto!” Fiquei surpreso quando vi a resposta da resposta: “Pode continuar a me escrever! Sou advogada e moro em Macau! Tenho 32 anos!” Fiquei entusiasmado, posso dizer. Mandei fotos do Recife e me referi às relações tupiniquins com a gente daquele lugar distante, mas um derradeiro E-mail me deixou paralisado: “Sou casada!”. Nada tinha escrito que pudesse ferir a sua situação marital, mas inibido assim, com afirmativa tão forte, esqueci a penitente. Talvez o marido, tomado pelos virtuais ciúmes, a tenha levado à drástica atitude de interromper essa nascente amizade. Quem sabe?

É difícil fantasiar como seria essa portuguesa largada pras bandas de Macau, se bonita ou feia, se arabizada ou não, mas é lícito pensar que toda mulher é bela, quando o sorriso largo enfeita a face e os olhos brilham irradiando as cores do arco-íris.

É por ai!
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Geraldo José Marques Pereira nasceu em Recife/PE, em 1945 e faleceu na mesma cidade em 2015, formou-se em Medicina na UFPE em 1986. Fez o mestrado no Departamento de Medicina Tropical da instituição, do qual se tornou coordenador posteriormente. Foi diretor do Centro de Ciências da Saúde e fundou o Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social (Nusp) da universidade. Vice-reitor da instituição de 1996 a 2004 e, quando o reitor precisou se afastar entre março e novembro de 2003, foi reitor em exercício. Fora da universidade, integrou a Comissão Estadual de Saúde, a Comissão Científica de Combate à Dengue do Governo do Estado e a Comissão de Cólera da UFPE e da Cidade do Recife, além de participar do Conselho Científico do Espaço Ciência da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco. Por conta dos inúmeros artigos científicos publicados, ainda foi membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e do Conselho Estadual de Cultura e presidente da Academia Pernambucana de Medicina. Escrevia crônicas e, em março de 2011, assumiu a cadeira de número 16 da Academia Pernambucana de Letras, que já havia sido ocupada pelo seu pai, o escritor Nilo Pereira.

Fontes:
Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing