segunda-feira, 5 de maio de 2014

Felipe Daiello (Dublin de Oscar Wilde)

Monumento Oscar Wilde, Parque Merrion/Dublin
Nascido em Dublin, Oscar Fingal O’ Fhahertie Wills Wilde, escritor irlandês, autor de “O Retrato de Dorian Gray, torna-se um dos maiores dramaturgos em Londres ao final do século XIX.

“A vida é muito importante para ser levada a sério.”

Circular pela atual Dublin é recordar as frases do grande pensador. Tarefa agradável, mas exige tempo e paciência.

“A ambição é o último recurso do fracassado.”

A Irlanda sempre foi berço para grandes literatos e produziu quatro prêmios Nobel de Literatura. Apesar do prestígio mundial, Oscar Wilde e James Joyce não receberam o galardão em Estocolmo. Circular à noite pelos pubs, seguindo a velha tradição, degustando a Guiness escura, contagiado pela alegria da música e da dança irlandesa, possibilita recriar e imaginar a atmosfera de velha Dublin que tanto inspirou Oscar Wilde.

“A melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada. De terminar com ela, também.”

Os goles da amiga, Guiness, ouvindo a alegre música irlandesa, intercalando os pratos onde a batata é a resistência, recordam o poeta:

“Devem-se escolher os amigos pela beleza, os conhecidos pelo caráter e os inimigos pela inteligência.”

Educado no “Trinity College”, local onde o famoso manuscrito de Kell está exposto, o dramaturgo teve pai médico e mãe poeta, e desde cedo, apaixonou-se pelos escritos gregos e romanos.

Em Londres, vive com amigo e retratista popular da época, Frank Miles, convivência que lhe trará problemas no futuro. O relacionamento homossexual não era aceito pela rígida sociedade vitoriana.

Em 1881, ao realizar palestras pelos Estados Unidos, conhece Henry Longfellow, Oliver Holmes e Walt Whitmann. Começa a desenvolver a teoria da beleza que deve ser o foco absoluto na arte e na literatura.

Casado, precisando sustentar dois filhos trabalha em Revistas e Magazines; publica histórias infantis. “Quando eu era jovem, pensava que o dinheiro era a coisa mais importante do mundo. Hoje tenho certeza.”

A importância de ser Ernesto será outra obra para recordar o gênio irlandês. Mas, o retrato de Dorian Gray é o seu clássico.

Única novela, “O Retrato de Dorian Gray”, de 1890 provoca uma torrente de protestos. Necessário adaptações. Surge um best seller.

“As mulheres existem para que as amemos, e não para que as compreendamos”.

Oscar Wilde, que já tivera relações homoafetivas, com o pintor Frank Miles, quando estava em Oxford, ao se relacionar com Lord Inglês provoca escândalo que o leva à prisão.

Sua esposa troca o nome de família e Oscar Wilde, após sair da prisão, nunca mais recupera o seu brilho e prestígio. Durante os seus últimos três anos de vida, pobre, miserável, circula pela Europa, vivendo em hotéis baratos e do apoio dos amigos.

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria da pessoa apenas existe.”

Não podemos esquecer que após a ruptura do Império Romano, a cultura ocidental foi preservada em locais ermos e escondidos dessa Terra Verde. Em mosteiros, centro de formação cultural, monges e pessoas de todo o mundo encontravam local para estudar, para ler, para traduzir e para produzir livros. Diversas línguas e culturas tinha aqui local de abrigo e de desenvolvimento. As raízes das futuras universidades estavam lançadas. Será essa a razão da Irlanda produzir nomes como: Bernard Shaw, W.B. Yeats, Swift, James Joyce, Samuel Becket, Oscar Wilde e tantos outros. Títulos de livros clássicos aparecem na memória. ‘Viagens de Gulliver’, ‘ Esperando Godot’, “Ulisses”, “O Retrato de Dorian Gray”.

“Ser grande significa ser Incompreendido.”

As frases de Oscar Wilde surgem no improviso:

“O pessimista é uma pessoa que, podendo escolher entre dois males prefere ambos.”

A arquitetura Georgiana dos prédios as pontes cercando o rio Liffey, os parques e jardins, a alegria contagiante da noite, tudo nos leva a parte antiga de Dublin. Entre ruelas estreitas e bares centenários, o Temple Bar nos aguarda. Oportunidade de esquecer por momentos a literatura e entrar direto e na gastronomia irlandesa e na magnífica escura Guiness. As canções em irlandês, difíceis de entender, serão companheiras de outras lembranças. Oscar Wilde ainda presente.

“Hoje em dia, conhecemos o preço de tudo e o valor de nada”.

“Ah! Não me diga que concorda comigo! Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão que estou errado”.

“Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo”.

Dorian Gray, o seu retrato espelha a visão de Dublin e de Londres na época em que Oscar Wilde viveu e escreveu. Duas versões para o Retrato de Dorian Gray refletem a censura imposta, o preconceito, as críticas, a necessidade de escapar das alfinetadas. De tornar a obra mais aceitável, mesmo em desfavor de critérios literários.

Visitar a casa onde o poeta viveu, relembrar frases bem articuladas, cheias de vida, circular pelos locais onde ele andou, absorvendo detalhes, guardando minúcias é tentar entender o gênio. Difícil!

No parque ao lado, estátua em mármore apresenta o escritor em pose característica. Parece rir de quem chega. Algumas das suas frases estão bem a mão:

“Falar é ter demasiada consideração pelos outros. Pela boca morreu os peixes e Oscar Wilde”.

 “Crer é muito monótono, a dúvida é apaixonante”

“Se soubéssemos quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria mais silêncio neste mundo”.

“Escolho os meus amigos pela cara lavada e alma exposta”:

Junto ao mármore de sua estátua, em Dublin, além do sorriso irônico o que nos encanta são as suas expressões gravadas na negra pedra, para a eternidade:
Nos assuntos muito sérios, o essencial é o estilo, não a sinceridade.
Uma ideia que não é perigosa, não merece nem mesmo ser chamada de ideia.
A verdade pura e simples é raramente pura e nunca simples.
Não há outro jeito de livrar-se de uma tentação à não ser sucumbindo a ela.
Se você resistir, a sua alma adoecerá desejando aquelas coisas que lhe foram recusadas.
As mulheres estragam qualquer romance, com essa mania de querer que eles durem para sempre.


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