Meu primo Zhong Han era juiz no condado de Jin. Nessa época, um tigre tinha matado vários caçadores na região e ninguém conseguia pegá-lo. As pessoas foram então procurar meu tio para que ele contratasse Tang, o caçador, para prender esse tigre, achando que ninguém mais seria capaz de fazer esse serviço.
De acordo com Daí Dongyuan, de Xiuning, a história desses Tang vinha desde a Dinastia Ming, quando existiu um caçador chamado Tang, que foi morto por um tigre logo depois de se casar. Sua mulher, grávida, deu à luz um menino e fez uma promessa:
“Se não conseguir matar tigre, nunca vai ser meu filho e todos os seus filhos e filhos de seus filhos que não conseguirem, também não serão meus descendentes”.
Devido a isso, todos os Tang, do sexo masculino, são especialistas em matar tigres.
Zhong Han sabia disso e enviou então alguém para chamar um Tang, separando uma boa quantia de dinheiro para pagá-lo depois do serviço feito.
Na sua volta, esses homens disseram que eles tinham contratado os melhores dos Tang e que eles chegariam a qualquer momento. Chegaram, mas era um era um velho com a barba e o cabelo brancos, que tossia e fungava a cada instante e um ajudante de 16 anos.
O juiz ficou muito desapontado com o que viu. Mas ordenou que a primeira coisa a ser feita era alimentar esses homens. Percebendo que o juiz parecia desapontado, o velho ajoelhou com um só joelho e disse:
“Estou ouvindo esse tigre por perto, no máximo a 5 li* do povoado. Melhor a gente ir logo. A gente pega o tigre e depois come alguma coisa”.
O juiz mandou então que um de seus homens servisse de guia e eles partiram.
Chegando na boca de uma ravina, os homens não seguiram adiante. Maso velho sorriu:
“Comigo aqui, como podem estar com medo?”
Quando eles já tinham quase descido o barranco, o velho olhou para o rapaz e disse:
“Parece que esse tigre está dormindo. Vai lá e dá um jeito dele acordar”.
O rapaz então urrou como um tigre e num instante o tigre veio de entre as árvores na direção deles e pulou sobre o velho. O velho permaneceu firme, levantando um pequeno machado, de oito cun** de cumprimento e quatro de largura. Quando o tigre estava para esmagá-lo, ele afastou-se de lado, e tigre pulou, caindo no chão todo ensanguentado. As pessoas reuniram-se em volta e descobriram que o tigre tinha sido cortado do queixo até a ponta do rabo, ao tocar no machado.
O juiz então recompensou com generosidade os caçadores Tang, agradecendo-os por sua ajuda.
O velho contou então que que tinha treinado seus braços e olhos por mais de dez anos. Ele conseguia encarar um tigre sem piscar, mesmo quando seus olhos estavam com um cisco. E os seus braços eram tão fortes que mesmo o homem mais forte não conseguia movê-los um centímetro.
Zhuangzi, o antigo filósofo chinês, disse uma vez:
“O que é feito com prática é sempre convincente. Uma pessoa que nasce hábil nunca pode ultrapassar quem pratica constantemente”
Isso deve ser verdade. Um homem chamado Shi Sibiao podia escrever no escuro de uma forma tão perfeita como se estivesse usando uma luz de vela. Eu ouvi falar também de Sua Excelência, Li Wnke (1628-1703), de Jing Hai, que separava 100 pedaços de papel e escrevia um caracter em cada um. Punha todos em pilha contra a luz e os 100 caracteres ficavam exatamente um em cima do outro, formando um único caracter, e isso não é mágica.
Notas
*1 li = ½ quilómetro
**1 cun = 3,3 centímetros
Fonte:
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