Era uma vez um menino que se chamava Téo. Ele, igual a tantos meninos do mundo, gostava de bola, de gente e de emoção. Morava com seu pai, com sua mãe e seus dois irmãos menores no subúrbio de uma velha cidade do interior. A vida seguia calma, com as manhãs na escola, as tardes na rua e as noites em casa, com a família e com seu cachorro Toddy.
O pai de Téo era um jovem caminhoneiro, mas corria como ninguém nas estradas que o menino só veria pelos mapas que a "fessora" lhe ensinasse. Vez por outra, lá de longe, o pai trazia algum "produto" local, feito o crânio de boi que repousava no meio da sala, vindo de um Nordeste que ainda clama por água e se retira para o Sul. As velhas "vidas secas".
Certa noite, a família do menino estava só. O pai saíra em viagem fazia um mês. A noite ventava como se a lua quisesse cair. Caíram no sono, Téo e seus irmãos, mas a mãe estava inquieta. Bateram na porta. Dois policiais. A mãe de Téo soltou um grito. O pai não voltaria para casa com nenhum crânio de boi, nenhuma carranca do Rio São Francisco, nenhuma concha.
Após a "sorte" do pai, a mãe, que já lavava para fora, intensificou o serviço e, como se fosse um decreto, conseguiu com a vizinha uma velha caixa de pinho, madeira ainda boa, e, gastando uns trocos na venda, mandou o filho ir à luta. "Vai, Téo, ser gauche na vida!". E Téo foi. Foi ser engraxate. A praça o esperava. Era o destino. Chorou. Cadê o seu pai? A saudade.
Por um bom tempo, a mãe de Téo tentou manter os estudos de que tanto gostava seu filho. Mas a praça mais próxima estava fraca em movimento. A do Centro era melhor. O pobre largou a escola. Téo teve festa de despedida e tudo. A história se passa num tempo em que, em muitos casos, era certo largar a escola e ganhar a vida. O maior sonho de Téo era estudar. Não pôde.
Passado um tempo, já moço, passou a fazer viagens de caminhão com um certo tio que queria lhe ensinar o ofício. Gostava da estrada. Nela, quem sabe, encontraria seu pai. Não, jamais o encontraria. Mas sonhava com o "velho". E era bom sonhar com ele, com seu riso sempre ali, à moda de quem sabe que a vida é curta e não vale a pena chorar. Seu pai estava com eles.
A família de Téo comemorava o casório. O jovem se casara com a filha de um nobre pastor. O caminhão ficaria para trás. Téo conseguiu emprego na fábrica do sogro. Sabia que, mesmo que fosse caminhoneiro a vida inteira, o pai dele jamais voltaria para casa. A casa de Téo seria a cidade em que nascera, os braços da esposa e, quem diria, a escola, o supletivo, onde encararia a dura missão de, após tanto tempo, voltar aos estudos. Seu maior sonho estava a toda de novo! Seu coração, de estudante, rondava os volumes da séria Barsa, do austero Aurélio, e rodava, rodava, rodava, em silêncio.
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